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Destaque
Sites de apostas ilegais driblam governo com suas artimanhas tecnológicas
14/11/2024Governo
CVM, Susep e Previc podem virar uma super agência reguladora
6/11/2024Análise
Uma segunda-feira de alto risco para o governo Lula
4/11/2024Destaque
Operação casada de bets e crédito consignado é a nova dor de cabeça para o governo
23/10/2024O governo não para de descobrir brechas em relação às bets esportivas. No Ministério da Fazenda, há uma preocupação com a possibilidade de operações combinadas de crédito consignado e apostas eletrônicas. Ou seja: praticamente uma venda casada, com a oferta de empréstimos com desconto em folha atrelados a gastos em plataformas de bets.
A Lei no 14.790, que dispõe sobre as chamadas apostas de quota fixa, tentou criar travas contra essa dobradinha. Em seu Artigo 29, por exemplo, veda ao agente operador das bets “firmar parceria, convênio, contrato ou qualquer outra forma de arranjo ou ajuste negocial para viabilizar ou facilitar o acesso a crédito ou a operação de fomento mercantil por parte de apostador” ou “instalar ou permitir que se instale em seu estabelecimento físico qualquer agência, escritório ou representação de pessoa jurídica ou física que conceda crédito ou realize operação de fomento mercantil a apostadores.” Mas, como se sabe, o mercado é criativo e rapidamente engendra suas próprias soluções.
Não há na lei qualquer proibição a que sócios de casas de apostas tenham também participação acionária em instituições financeiras – o único impeditivo expresso é para “participação, direta ou indireta, em Sociedade Anônima do Futebol ou organização esportiva profissional” ou para atuação “como dirigente de equipe desportiva brasileira”. Significa dizer que qualquer investidor com um pé em cada canoa pode ser um ponto de interseção entre sites de apostas e financeiras, abrindo caminho para as mais diversas e inventivas engenharias capazes de viabilizar o “consignado das bets”.
Como evitar, por exemplo, que uma instituição de crédito tenha acesso ao banco de dados de uma determinada plataforma de bets e bombardeie os apostadores cadastrados com ofertas de empréstimo?
No governo, há uma apreensão ainda maior em relação aos beneficiários do Bolsa Família. É dinheiro na veia para pobre, que está escorrendo da melhoria da qualidade de vida, do consumo e do pagamento de dívidas para apostar quem será o vencedor do clássico de domingo. O programa assistencial é um território dos mais férteis para a proliferação de bets esportivas e da oferta combinada de crédito consignado.
Tanto que, na semana passada, o ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Wellington Dias, anunciou a proibição para o uso do cartão do Bolsa Família em sites de apostas. É o que o governo pode fazer, nem que seja para constar. Mas, novamente, o mercado dispõe dos seus antídotos.
Têm chegado ao Ministério da Justiça informações de que um volume cada vez maior de cadastrados no Bolsa Família vem recorrendo a empréstimos informais. No governo, esse movimento é atribuído diretamente às bets. Na prática, os beneficiários do programa buscam antecipar recursos para fazer sua “fezinha”.
O empréstimo é cobrado, com os “devidos” juros, no mês seguinte, quando do recebimento dos recursos do Bolsa Família. É a velha prática da agiotagem, existente desde que o mundo é o mundo, a serviço do frisson quase neuro-hormonal provocado pelas apostas esportivas. Números divulgados recentemente pelo Banco Central mostram o tamanho desse frenesi. Segundo o BC, apenas em agosto os cadastrados no programa gastaram cerca de R$ 3 bilhões em apostas – a cifra representa 21% dos recursos distribuídos pelo Bolsa Família no referido mês.
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Destaque
O que falta para o governo Lula cumprir a promessa de retomada da indústria naval?
14/10/2024
“Vamos recuperar a indústria naval nesse país” (11/10/2022);
“A Petrobras vai ampliar a frota de navios e gerar emprego em nossos estaleiros” (10/04/2023);
“Alugar um navio lá fora não gera emprego aqui”, (02/04/2024).
“No meu primeiro governo, saímos de três mil para 86 mil trabalhadores da indústria naval. Vamos trazer esse setor de volta” (03/04/2024).
São inúmeras as vezes em que Lula afirmou e reafirmou que a indústria naval é uma prioridade do seu governo. Será que é mesmo? Praticamente dois anos de mandato já se passaram e quase nada aconteceu. É muita falação para pouco ou nenhum navio. Diferentes esferas de Poder – Casa Civil, Ministério da Fazenda, Ministério da Indústria, BNDES e a própria Petrobras – vêm batendo cabeça entre si na tarefa de elaborar uma política efetiva para a recuperação do setor.
O problema começa pela comunicação. Em um exercício de mea culpa, alguns colaboradores diretos do presidente Lula defendem interna corporis que o governo está perdendo esse jogo logo na saída, ao não conseguir desmontar o estigma que paira sobre o setor naval desde a Lava Lato. Como desarmar esse anátema se a gestão Lula é incapaz de explicar à opinião pública os benefícios econômicos e sociais que podem vir a ser obtidos com a construção de navios, sondas e plataformas no país?
Como sair da inércia se o governo não sabe mostrar à sociedade o valor adicionado da indústria naval, em termos de geração de emprego, reconstrução de toda uma cadeira produtiva, retenção de divisas, aumento da arrecadação fiscal, com reversão de recursos via gastos públicos ou programas sociais etc etc?
Esta é uma estranha fábula, a história de um negócio que, aparentemente, todo mundo quer, é bom para todas as partes diretamente envolvidas – trabalhadores, estaleiros, Petrobras, governo -, mas não avança um nó sequer. Em linhas gerais, o soerguimento do setor naval passa por três perguntas: onde montar os navios? quem vai investir? quem vai comprar? A primeira questão, a mais simples de ser resolvida, tem 48 respostas possíveis.
Este é o número de estaleiros existentes no Brasil, com capacidade para beneficiar mais de 550 mil toneladas de aço, segundo levantamento do Instituto Brasil do Petróleo (IBP). Nove deles estão ativos, mas sem demanda por novos projetos. É o caso do Atlântico Sul, em Pernambuco, e do Enseada, na Bahia. Juntos, podem processar cerca de 200 mil toneladas de aço por ano, o equivalente a 40% da capacidade instalada na indústria naval brasileira. Algo similar ocorre na cidade de Rio Grande (RS), que tinha tudo para ser um dos grandes polos do setor no Brasil. Lá estão os estaleiros QGI e Rio Grande. Ao lado, na vizinha São José do Norte, há ainda o EBR.
Este último é o mais “próspero”: recentemente, entregou cinco módulos para o FPSO P-79, contratada pela Saipem para a Petrobras. O Rio Grande tem feito serviços de manutenção. O QGI, embora ativo, não tem qualquer pedido. Ou seja: definitivamente, o problema do Brasil não é falta de estaleiro.
As duas outras variáveis – “Quem vai investir?” e “Quem vai comprar?” – estão indissociavelmente entrelaçadas e, em última instância, dependem do mesmo fator: vontade política.
Até o momento, a promessa do governo Lula de que a Petrobras seria o grande propulsor da retomada da indústria naval brasileira não passa de pirotecnia verbal. Qualquer projeto para a revitalização do setor passa obrigatoriamente por um grande programa de compra de embarcações, sondas e plataformas por parte da estatal, o que, por sua vez, passa por uma decisão do acionista controlador.
O Plano Estratégico 2024-2028 da companhia prevê a aquisição de quatro navios da classe Handy. Em abril, a Petrobras anunciou a intenção de contratar 200 embarcações de apoio no período, incluindo a construção de 38 novos equipamentos. A estatal sinaliza também a encomenda de 14 navios-plataformas, mas não dá detalhes do cronograma para os eventuais pedidos. Ressalte-se que nos últimos anos, possivelmente por pruridos criados pela Lava Jato, a empresa tem dado preferência ao afretamento e locação de plataformas, sondas e embarcações, em vez do aumento da sua frota própria.
Não se trata da melhor decisão corporativa. Estudo do Dieese aponta que o custo da Petrobras com a produção de petróleo em plataformas alugadas é mais alto do que nas plataformas de sua propriedade. Os gastos de produção nos equipamentos contratados são maiores em dois de três níveis de profundidade das áreas de exploração. No pré-sal, por exemplo, o custo de cada barril nas plataformas afretadas é de US$ 5,66, 52,15% superior ao das plataformas próprias (US$ 3,72). Já que o sócio majoritário não se mexe, os demais acionistas poderiam fazê-lo. Mas não se vê no mercado questionamentos mais agudos à estratégia da Petrobras de alugar equipamentos em vez de ampliar a sua frota.
Uma firme política de aquisição de plataformas, sondas e embarcações por parte da Petrobras abriria caminho para o retorno de antigos players ou a chegada de novos investidores na indústria naval. Se o próprio governo fizer um aceno e a estatal entrar com as encomendas, muito provavelmente grandes grupos da China, Coreia, Japão e Cingapura – responsáveis por quase 90% do setor em todo o mundo – embarcariam no negócio.
A presença da Petrobras na ponta compradora já seria, por si só, uma garantia financeira. No setor é voz corrente que se a companhia voltar ao game – e provavelmente isso ocorreria com a escolta do BNDES no financiamento de encomendas -, os players retornam junto. Hoje, o que se vê é justamente o contrário. Não há cliente e, portanto, não há vendedor, nem investimentos. Some-se a isso o fato de que este não é um segmento da economia qualquer.
Ao menos da forma como foi concebido na década passada, a indústria de construção naval e os principais sites estão majoritariamente nas mãos de grandes construtoras que foram varridas pela Lava Jato. O estaleiro Enseada pertence à Novonor, antiga Odebrecht; o Atlântico Sul, à Mover Participações, ex-Camargo Corrêa, e à Queiroz Galvão; esta última é dona também do QGI; já o Rio Grande é controlado pela Ecovix, leia-se a Nova Engevix.
Há, é verdade, algumas pontas soltas que ainda precisariam ser atadas para o rissorgimento da construção naval no Brasil. A debacle dos estaleiros levou de arrasto uma cadeia produtiva praticamente inteira. O Brasil tinha três fabricantes de motores para embarcações. Não tem mais nenhum. Em uma década, houve também uma obsolescência da mão de obra. São obstáculos a serem superados. No caso dos insumos, uma saída seria a flexibilização das atuais regras de conteúdo local. O que é melhor para alguns segmentos da indústria naval: ter 20% de um pacotão de encomendas ou ter 50% ou 60% de zero?
Economia
Legado de José Serra é uma âncora fiscal para o governo
8/10/2024Nunca dantes José Serra esteve tão circunspecto. O economista que mais defendeu o controle da dívida bruta interna – assunto que parece ter saído da agenda – anda ausente do debate público. Mas suas ideias são discutidas na equipe econômica do Ministério da Fazenda, dividindo uns e outros. O debate versa na necessidade de uma âncora fiscal além do arcabouço, que pensa na expansão da arrecadação e do gasto, no aumento do investimento e na geração de um resultado primário “meia bomba”, desde que não altere a percepção de solvência do país. Não vai acontecer, pois em todas as projeções existentes no país, o endividamento bruto aumenta. O nome de Serra é citado nessas tertúlias macroeconômicas, porque há quem ache que a parafernália do arcabouço mais o crescimento do PIB são insuficientes para manter ou reduzir o passivo da União. A tese é que o primário tímido não leva em consideração a taxa de juros real estrutural do país, que empurrará a dívida bruta em relação ao PIB inevitavelmente para cima. Ou seja, acabou se esquecendo do déficit nominal e de que os juros são o principal fator para a redução do passivo bruto interno, que precisa de uma âncora fiscal para descer do patamar de onde se encontra.
Serra entendeu isso perfeitamente quando atacou o teto de gastos. Considerava mais adequado atrelar as despesas sociais a contenção ou redução da dívida interna. Essa âncora teria de ser perseguida através do resultado primário, é claro, mas também com a contribuição da política monetária, que olha somente para a inflação e o “pleno emprego” (seria bom que se discutisse a incumprível meta de 3%). É esse ponto que se debate no governo: como qualificar o gasto bom e o gasto ruim para expô-los e rediscutir o orçamento. Haddad sabe que vai ter que cortar gastos. No fundo, José Serra olha os juros como o diabo na terra. É sócio de Lula quando o assunto é o custo dos empréstimos. Os juros altos machucam a economia por todos os lados. Quer seja pelo aumento do custo de carregamento das reservas cambiais – devido ao diferencial das taxas internas e externas; quer seja porque, volta e meia, retroalimentam a inflação; quer seja porque jogam a economia para baixo; quer seja porque dificultam a própria rolagem da dívida bruta, pois aumentam o custo de refinanciamento; finalmente, quer seja porque acabam atrapalhando o fiscal.
O então senador José Serra deixou uma PEC prontinha, a 31/2022, levando em consideração que a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) já estaria à disposição para receber os limites de endividamento propostos pelo Poder Executivo, com válvulas de escape, gatilhos para ajustes de contas e mecanismos de controle pelo Tribunal de Contas da União. Parafraseando o nosso fiscalista, a PEC colocaria a LRF num modo de operação completo. Até hoje não foram aprovados os limites de endividamento que ancoram o regime fiscal nela regulamentado. E mais: os gastos sociais, segundo Serra, poderiam aumentar na medida em que as reservas fossem mantidas ou diminuídas. Por enquanto, só temos uma boa recordação no que diz respeito à performance do endividamento interno. Foi no governo Lula 1 e 2, quando o passivo da União – no caso a dívida líquida – caiu de 60% do PIB, em 2002, para 38% do PIB, em 2010. Aquele Lula parecia entender mais a importância da percepção de solvência e os ganhos multiplicados do controle do endividamento. Por enquanto, que se deixe a equipe da Fazenda pensar no assunto e no seu aspecto promissor.
Destaque
Mercado de apostas esportivas já tem seus primeiros milionários no Brasil
27/09/2024Em meio a suspeições e seguidos escândalos – de manipulação de resultados a crimes financeiros -, o mercado de apostas esportivas no Brasil está na iminência de um frenético processo de consolidação. Um movimento sob medida para aumentar a fortuna dos primeiros grandes milionários do jogo no país. É o caso, por exemplo, de Ernildo Junior, da Paraíba, e Darwin Henrique da Silva Filho, de Pernambuco, fundadores, respectivamente, da PixBet e da Esportes da Sorte.
As duas plataformas de bets made in Brazil vêm sendo assediadas por grandes grupos internacionais. O mesmo se aplica à Lampions Bet, que concentra suas operações no Nordeste – como sugere a inusitada homenagem a Virgulino Ferreira. Do outro lado da mesa, segundo o RR apurou, estão a Entain, sediada na Irlanda e dona da bwin; o Betsson Group, de Malta, controlador, entre outros negócios, da Bet365 e NetBet; e a 888 Holdings, que reúne um vasto portfólio de cassinos online e sites de apostas, como o 888sport, comandados a partir do seu quartel-general em Gibraltar.
Todos são movidos por um duplo objetivo: ganhar market share rapidamente por meio de aquisições e tirar de circulação plataformas locais, que, mesmo com a chegada de grandes players internacionais ao Brasil, conseguem abocanhar uma fatia considerável do bolo. Um bolo, diga-se de passagem, cheio de fermento. Entre janeiro e agosto deste ano, os brasileiros gastaram cerca de R$ 20 bilhões com apostas esportivas, contabilizando-se apenas as transferências via PIX – segundo estimativa anunciada pelo Banco Central nesta semana. O RR fez contato com PixBet, Esportes da Sorte e Lampions Bet, mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria.
O jogo da consolidação já começou. Há cerca de duas semanas, a Flutter, também com sede na Irlanda, anunciou a compra da brasileira NSX e a consequente fusão da Betnacional com a Betfair, que já era sua controlada. A operação deu origem a uma empresa da ordem de US$ 1 bilhão, por ora o maior M&A realizado no ainda incipiente mercado de bets esportivas no país. O que se diz à boca miúda no setor é que há outras duas negociações já engatilhadas envolvendo plataformas brasileiras, que deverão ser fechadas ainda neste ano.
Trata-se de um inexorável processo de seleção natural. Os sites estrangeiros chegam ao Brasil com uma montanha de dinheiro para “eliminar” a concorrência local. Há até quem diga que os sites brasileiros foram criados para isso mesmo: serem engolidos pelos gigantes internacionais e encher o bolso dos seus criadores. Uma aposta, ao que parece, certeira. Este é o momento de aproveitar o boom no preço dos ativos, decorrente da regulamentação das apostas no Brasil.
A questão é que este não é um setor qualquer da economia. Trata-se de um segmento repleto de peculiaridades, mais afeito ao noticiário policial do que ao de negócios. A onda de aquisições que se anuncia traz um desafio extra ao Ministério da Fazenda, ao qual está vinculada a Secretaria de Prêmios e Apostas, aos órgãos de controle financeiro e à própria Justiça. Como evitar que a transferência de ativos sirva de biombo para encobrir operações pouco ortodoxas?
Isso tratando-se de um setor sabidamente caracterizado por baixíssima transparência societária, com um elevado nível de ocultação dos reais investidores por trás das plataformas, empresas sediadas em paraísos fiscais, sonegação de impostos e suspeitas de fraudes, lavagem de dinheiro, apostas ilegais, envolvimento com esquemas de pirâmide etc. Algumas das maiores plataformas brasileiras são alvo, neste momento, de investigações e pesadas acusações.
A própria Esportes da Sorte está no olho do furacão. Darwin Henrique da Silva Filho ficou preso entre 5 e 19 de setembro. Investigado no âmbito da Operação Integration, da Polícia Civil de Pernambuco, ele é acusado de integrar um esquema de lavagem de dinheiro. Trata-se da mesma suspeita que pesa sobre o casal José André da Rocha Neto e Aislia Henriques Rocha, donos de outro site de apostas brasileiro, o Vai de Bet, e sobre o cantor Gusttavo Lima, acusado pela polícia pernambucana de ser sócio oculto da empresa.
Destaque
Fazenda já mira crescimento do PIB em torno de 3,4%
4/09/2024Segundo o RR apurou, o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello, levou a Lula e a Fernando Haddad uma das melhores notícias do ano: o aumento do PIB em 2024 deverá superar o patamar de 3%. E com alguma folga. Os cálculos apresentados ao presidente e ao ministro da Fazenda indicam que o índice pode bater na casa dos 3,5%. Significa dizer que, uma vez confirmada a projeção, o governo do petista alcançará um crescimento médio de 3,2% em seus dois primeiros anos – em 2023, a alta do PIB foi de 2,9%. Trata-se de um índice não muito distante da média alcançada nos dois primeiros anos do Lula I, de 3,45%. Ainda que confrontar dois anos com quatro anos não seja exatamente a comparação mais adequada, se for considerado o mandato integral dos mais recentes presidentes da República, Lula só perde para Lula. Em seu primeiro governo, o PIB subiu, em média, 3,51% por ano. No segundo, a mediana chegou a 4,64%.
Economia
Alguém sabe dizer qual é o tamanho da carga tributária no Brasil?
22/07/2024Recomenda-se que o IPEA, o IBGE, a Receita Federal, o Tesouro Nacional, o Ministério do Planejamento e quem mais for do ramo se reúnam e cheguem à conclusão da verdadeira carga tributária do Brasil. E ela é alta, sem dúvida. Mas quanto? Os minimalistas dizem que ela é de 30% do PIB. O Tesouro Nacional anunciou que a carga tributária caiu de 33,07% para 32,44% do PIB, ou seja, uma diferença de 0,63 ponto percentual. O mercado, por sua vez, trabalha com um índice de 34%. Pode ser que esse percentual seja por aproximação, ou haja mesmo rigor nesse cálculo. Mas o Impostômetro, constituído por entidades patronais, principalmente a Fiesp, já bateu em 35%. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, considera provável que em 2024 o impacto do total dos impostos desça a 32%. A ver. O fato é que o tamanho da carga tributária no Brasil talvez seja um desses enigmas da economia que ninguém consegue decifrar. A única certeza é de que ela é muito alta.
Economia
Minas Gerais corre contra o tempo para aderir ao Regime de Recuperação Fiscal
20/06/2024Economia
André Lara e Pérsio Arida ressurgem na bolsa de apostas para o Banco Central
19/06/2024Governo
Centrais sindicais dublam a voz de Lula em protesto contra pautas econômicas
18/06/2024Parafraseando Jorge Benjor, os sindicatos estão voltando; estão voltando os sindicatos. O protesto realizado hoje pela manhã em frente ao prédio do Banco Central na Avenida Paulista foi apenas uma avant-première do que está por vir. Há informações de que as grandes centrais sindicais do país, à exemplo da CUT, da Força Sindical e da CGT, preparam uma agenda de manifestações contra pautas econômicas contrárias aos interesses dos trabalhadores. Um dos atos que estaria sendo organizado – pasmem – seria um protesto em frente ao Ministério da Fazenda, em Brasília.
Se, na porta do BC, os megafones bradaram pela queda dos juros, a mobilização na Pasta da Fazenda teria como alvo as discussões sobre possíveis mudanças nas regras do salário-mínimo e a desindexação do mínimo da Previdência e dos benefícios sociais. Mas que ninguém pense que o protesto seria um sinal de fissura entre o governo Lula e o sindicalismo, a principal base histórica do petismo. Tampouco seria uma manifestação personalizada, como no caso do BC – essa, sim, concebida para ser a malhação do “Judas” Campos Neto. Seria, sim, um ato contra eventuais medidas danosas aos interesses dos trabalhadores. Ou seja, uma conveniente mobilização, com a regência tácita de Lula, que se opõe a qualquer discussão sobre a revisão das regras de vinculação das aposentadorias e benefícios sociais ao salário-mínimo.
Destaque
Expurgo da tragédia gaúcha do IPCA seria a justificativa perfeita para a queda da Selic
17/06/2024O Ministério da Fazenda, o Banco Central e o IBGE têm mantido discussões sobre a possibilidade de se expurgar os efeitos da tragédia do Rio Grande do Sul do cálculo do IPCA. Esse “acordão” seria uma forma de conter, na “fonte”, uma pressão inflacionária desmedida e – por que não dizer? – artificial, provocada por uma excepcionalidade, uma catástrofe climática de graves proporções. O expurgo, enquanto mecanismo de freio para evitar uma alta descalibrada do IPCA, seria um importante fator de influência sobre a política monetária e a decisão do Copom nas próximas reuniões.
A medida daria uma justificativa técnica para o Comitê eventualmente seguir com o ciclo de redução da Selic. Antes que alguém pense que a Fazenda estaria tirando um coelho da cartola para manipular a inflação e consequentemente pressionar o Banco Central, cabe lembrar que o expediente do expurgo já foi utilizado algumas vezes no país. Em 1983, por exemplo, as secas no Sul afetaram duramente a safra de trigo.
Naquele mesmo ano, a Fazenda havia retirado subsídios que barateavam os preços do próprio cereal e derivados de petróleo. Essa combinação fez os preços do trigo dispararem. Durante três meses, a FGV, então responsável pela medição oficial da inflação, publicou dois resultados, um deles chamada de “índice ajustado”, que eliminava a commodity do cálculo. Para além de uma medida circunstancial, já houve quem defendesse que o expurgo se tornasse algo permanente.
Diferentes espectros ideológicos tangenciaram essa possibilidade. Em 1999, o então ministro Pedro Malan chegou a flertar com a ideia de retirar do cálculo inflacionário preços de grande volatilidade, como combustíveis e alimentos hortifrutigranjeiros. Em 2010, o ministro da vez, Guido Mantega, também propôs a criação de um índice que excluísse, por exemplo, alimentos e energia.
Por ora, as tratativas entre Fazenda, BC e IBGE são conduzidas com cautela.
E trazem a reboque uma série de indagações, que poderão ou não ser respondidas nos próximos dias: o tema será discutido na reunião do Copom que começa amanhã? A ata dessa reunião trará o assunto à baila? Nos hieróglifos que costuma divulgar, o Copom dará algum indício de que, eventualmente, o IPCA expurgado poderia vir a ser adotado já na reunião seguinte, de 30 e 31 de julho? Há muitas implicações para a adoção desse novo cálculo, seja de ordem política, ou econômica.
O próprio Banco Central já tratou do tema, por meio, por exemplo, de artigo assinado pelo economista Ricardo Braule Pinto, ex-chefe do Departamento de Índices de Preços do próprio IBGE. No ensaio, o economista levanta o que chama de “questões insolúveis” em relação à matéria, a saber: “Os produtos serão retirados definitivamente ou somente enquanto durar a ´variação atípica´, fruto da ´acidentalidade´?”; “Como identificar uma variação atípica?
A variação atípica teria de ser definida a partir análise da série histórica de cada produto, o que é inviável.”; “Idealmente o índice deveria se resguardar de ´acidentes´… seria possível identificar, antecipadamente, esses candidatos a ´acidentados´?; “Qual a representatividade de um indicador do qual são retirados todos os acidentados potenciais, além dos sazonais? Como ponderar os produtos restantes?”
De toda a forma, independentemente da adoção ou não de um mecanismo de expurgo, a incógnita em relação ao cálculo de inflação desponta como mais um exemplo da bagunça que a catástrofe gaúcha está causando nas contas públicas. O Congresso já aprovou a retirada dos gastos com a reconstrução do Rio Grande do Sul da meta fiscal.
Ainda assim, “caso as receitas sejam inferiores neste exercício, o primário válido para aferição do déficit zero será afetado”, diz um estudo da Warren Rena, publicado pelo Valor Econômico no último dia 11. E o que viria a ser o “primário válido”? Trata-se de uma nova nomenclatura ou um reforço da metodologia atual? Ou seria uma ambiguidade? Afinal, se ele será afetado, como diz o estudo, automaticamente o “primário válido” deixaria de ser “válido” para ser “adequado”, “ajustado”, ou algo que valha.
Destaque
Governo ainda tem cartas para colocar sobre a mesa do ajuste fiscal
13/06/2024A histeria com que o mercado financeiro vem tratando as dificuldades para o fechamento das contas públicas – com previsões de déficits primários de 0,7%, em 2024, e 0,6%, em 2025, frente às projeções de 0% do Ministério da Fazenda para os dois anos – parece despropositada. É claro que o fiscal influencia todas as principais variáveis macroeconômicas e os números das nossas contas não são nenhuma maravilha. Mas a vociferação em uníssono dos analistas está alguns tons acima do diapasão.
Segundo industriais ouvidos pelo RR, pelo menos quatro em cinco fontes – a publicação não consultou instituições financeiras porque todas já dizem o que pensam no Boletim Focus -, consideram que ainda há margem de manobra para zerar o déficit nas contas do governo. Se sair da meta, será por poucas casinhas decimais: 0,3% ou 0,4%, respectivamente em 2024 e 2025, seriam hipóteses razoáveis. Vale ressalvar que, quando se trata dos grandes números, um pequeno percentual faz diferença. Mas essa premissa, que está levando o fiscal como matriz de todos os problemas da República, é, no mínimo, exagerada.
Primeiro o PIB pode – e deve – crescer mais do que a projeção quase inercial do Boletim Focus do início da semana (2,5%, em 2024; 2%, em 2025; e os mesmos 2% em 2026), pois o deflator do Produto, mesmo que menor do que no ano passado, aumentará um pouquinho o índice. E ainda há espaço para crescimento, como mostrou a alta de 0,8% do PIB no primeiro trimestre, acima do que previa o mercado. E o aumento da renda e do consumo, que estão puxando o Produto Interno Bruto, não cai de uma hora para outra. Um PIB maior não obrigatoriamente leva a um resultado primário mais favorável. Mas é uma excelente sinalização. Há também um desdém em relação à margem de manobra dos ministros Fernando Haddad e Simone Tebet. Esta última trabalha calada, mas em pautas delicadas que poderiam levar a soluções estruturais para o desafio de reduzir os desequilíbrios fiscais recorrentes.
Haddad toca de ouvido com a ministra do Planejamento. São as seguintes as propostas de Tebet: mudança na regra do salário-mínimo; desindexar as contas públicas do salário-mínimo, notadamente as da Previdência (60% do orçamento comprometidos); e flexibilização do piso constitucional das transferências do orçamento para as áreas de saúde e educação. Mexer no cálculo de correção do mínimo em ano eleitoral parece suicídio político. Sobram as outras duas medidas, que certamente estarão na pauta do segundo semestre. Mas exigirão que se mexa em uma PEC e se aprove outra. Vai sair caro o aval do Congresso.
Outra iniciativa provável é que o governo use o contingenciamento para excluir despesas do orçamento federal. Novamente a medida colide com o ano eleitoral. Menos dinheiro para o governo investir em um calendário eleitoral crucial e reduzir a sua posição de refém político. Contudo, está dado que o corte de despesas é uma profecia autorrealizável. Existem ainda R$ 520 bilhões intactos em benefícios fiscais. Desse total, R$ 200 bilhões estão “voando”, ou seja, o fisco não sabe quais empresas foram beneficiadas. Na declaração do Imposto de Renda da pessoa jurídica deste ano, todas as empresas serão obrigadas a informar suas vantagens tributárias. O governo também teria R$ 89 bilhões em ativos imobiliários – Paulo Guedes dizia que superavam R$ 1 trilhão; vai ver colocou a Petrobras na conta. Não se sabe se as praias, que alguns parlamentares consideram privatizáveis, também estão no montante. Mas existem ainda recursos potenciais a serem levantados.
A Câmara dos Deputados aprovou há sete dias o projeto de lei complementar que regulamenta a securitização da dívida da União, estados, Distrito Federal e municípios. A securitização envolve a venda com deságio dos direitos de receber dívidas, sejam elas tributárias ou não. Entretanto, é capaz do governo, a exemplo dos benefícios fiscais, não saber bem quem são os devedores. De qualquer forma, desse montante, R$ 46 bilhões já estão previstos para reforçar o caixa da União. Os números chegam a ser extravagantes. Existem previsões que alcançam os R$ 5,7 trilhões para serem repartidos entre os entes da Federação. Um percentual de 50% do valor aferido, seja ele qual for, será destinado à Previdência, o que para a União não é parte do problema, mas da solução.
Achar que a Fazenda não tem mais cartas para trazer o déficit primário para próximo da meta, quiçá dentro dela, é subestimar em demasia a musculatura do governo quando se trata de arrecadar mais. Ou mesmo se o instinto de sobrevivência do governo o levará a fazer contingenciamento de crédito, o que era considerado um estigma no início da gestão Lula. No escurinho, no escurinho dos escritórios da Faria Lima, nem os financistas acreditam que o buraco orçamentário não pode ser tapado em 2024/25.
Destaque
Governo “convoca” construtoras para anabolizar o Minha Casa, Minha Vida no Sul
22/05/2024Em meio às inúmeras propostas em discussão para a recuperação do Rio Grande do Sul, o governo estuda medidas para engajar incorporadoras imobiliárias no esforço de construção de residências no estado. A ideia é conceder benefícios adicionais às empresas no âmbito do Minha Casa, Minha Vida (MCMV) para acelerar a entrega de moradias aos mais de 700 mil desabrigados pelas enchentes. No entendimento do governo, além das companhias que historicamente já participam mais ativamente do MCMV – como MRV, Plano & Plano, Direcional e Tenda – será necessário atrair outras construtoras para essa “operação de guerra”.
O Ministério das Cidades, a Casa Civil e a Fazenda já estariam rascunhando as contrapartidas a serem oferecidas às incorporadoras. As possibilidades cogitadas vão de linhas especiais de financiamento para a compra de matéria-prima à renegociação dos prazos de pagamento de empréstimos contraídos pelas construtoras junto a bancos públicos. Os benefícios poderiam obedecer uma escala gradativa, proporcional ao número de imóveis entregues pelas incorporadoras no Rio Grande do Sul.
O chamamento às construtoras se somaria a medidas já anunciadas para impulsionar o Minha Casa, Minha Vida no Rio Grande do Sul. O governo suspendeu por seis meses a cobrança das parcelas do programa habitacional às famílias gaúchas atingidas pela tragédia. Os desabrigados que perderam suas casas e se encaixam nas faixas 1 e 2 do MCMV terão imóveis 100% garantidos com recursos públicos. Além disso, o governo vai também comprar imóveis no estado para serem entregues às vítimas das chuvas. Segundo o RR apurou, a equipe do ministro das Cidades, Jader Barbalho Filho, já está fazendo um levantamento de prédios e terrenos abandonados em parceria com o governo do Rio Grande do Sul e Prefeituras locais.
Economia
Não seria o caso de expurgar a catástrofe climática da inflação?
16/05/2024O dinheiro gasto na recuperação do Rio Grande do Sul já deixou de ser um problema fiscal, pelo menos de ordem contábil. Assim como os gastos extraordinários com a tragédia climática serão aparteados do cálculo da meta fiscal, outras flexibilizações similares povoam discussões no governo. Uma medida igualmente compreensível para a circunstância seria expurgar da inflação os efeitos da catástrofe. Trata-se de uma situação absolutamente extraordinária e como tal deveria ser tratada, para conter um efeito cascata negativo sobre reajustes indexados à inflação. O IPCA deságua diretamente no salário mínimo, na Previdência e nos contratos de aluguel, por exemplo. Há ainda a hipótese do Ministério da Fazenda aumentar os subsídios para além dos já definidos em relação à cesta básica. A queda da inflação no mês passado foi anterior à catástrofe no Rio Grande do Sul. Portanto, não leva em consideração as consequências do cataclismo no choque de oferta – que deverá forçar a uma importação de alimentos ainda não planejada – e redução expressiva dos itens produzidos pela indústria gaúcha. Há ainda o fator percepção da população, que impacta diretamente na visão sobre a alta de preços. É como se os preços até caíssem em função das medidas emergenciais do governo, e os consumidores, influenciados pelo cenário, não reconhecessem a queda.
Essa é uma variável que não pode ser desprezada de forma alguma. A percepção é algo fundamental. Ela rivaliza com a própria realidade, vide a mais recente pesquisa da Quaest. Na amostragem consultada, 43% disseram acreditar que a taxa de desemprego subiu, o que, sabe-se bem, não é verdade – pelo contrário, o emprego subiu razoavelmente. Mas vai dizer a essas pessoas que elas estão erradas. Bem, é uma outra volta no parafuso. Vai e vem, voltamos à questão da comunicação do governo. Se ela não for indutiva e bem-feita, estão dadas as condições para a oposição incendiar as redes sociais.
Destaque
Procuradores do Brasil e do Paraguai disputam cada centavo da “herança” de Dario Messer
23/04/2024A “herança” de Dario Messer está provocando uma queda de braço entre Brasil e Paraguai. Em jogo, a partilha de um patrimônio estimado em US$ 150 milhões – segundo as investigações, fruto das atividades criminosas do “doleiro dos doleiros”. O RR teve a informação de que o Ministério Público paraguaio quer desfazer o acordo de cooperação firmado com o Ministério Público Federal e a Advocacia Geral da União. O trato inicial previa a divisão meio a meio dos recursos obtidos com o leilão dos bens de Messer no país vizinho, confiscados pela Justiça local – imóveis, fazendas, aeronave, veículos, milhares de cabeças de gado e participações societárias em empresas.
No entanto, o Ministério Público do Paraguai está forçando uma renegociação dos termos a seu favor. De acordo com uma fonte do MPF brasileiro, seu congênere paraguaio exige uma fração maior do que os 50% combinados anteriormente sob a alegação de que conduziu as investigações e o rastreamento das riquezas de Messer do lado de lá da fronteira. Outra justificativa é que o esquema montado pelo doleiro para encobrir a posse de bens, a partir de uma rede de “laranjas”, causou maior prejuízo ao erário do Paraguai – como se uma parcela expressiva dessas divisas não tivesse saído ilegalmente do Brasil.
Do lado de cá, o assunto tem sido conduzido diretamente pela Procuradoria Geral da República, que ainda busca um acordo para a manutenção do acordo original. Ressalte-se que o butim de Dario Messer pode ser ainda maior. As investigações ainda estão em curso e há suspeitas de que o patrimônio oculto do doleiro no Paraguai vá além dos bens já confiscados.
Nesse caso, o desacordo envolve as próprias autoridades do país vizinho, em um episódio envolto em brumas. No MPF brasileiro, circulam informações de que integrantes da Secretaria de Prevenção à Lavagem de Dinheiro e Bens do Paraguai teriam sido, digamos assim, lenientes na varredura dos bens de Messer no país.
Destaque
Governo discute alforria para os investimentos de fundos de pensão em imóveis
19/04/2024Os fundos de pensão estão perto de desatar uma amarra regulatória. O RR apurou que o Ministério da Fazenda discute a flexibilização ou mesmo a derrubada da proibição às entidades de previdência privada investirem diretamente em ativos imobiliários. De acordo com informações filtradas da Pasta da Fazenda, já existem conversas avançadas nesse sentido entre Fernando Haddad e seus assessores e a ministra Simone Tebet. Na equipe econômica, há informações de que mudanças na regra podem ser anunciadas até junho. A decisão passa pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), ou seja, pelo triunvirato composto por Haddad, Tebet e também pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Uma vez confirmada a alteração, o governo Lula derrubaria uma restrição que leva a assinatura da gestão Michel Temer e, mais especificamente, do então ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Em 2018, o CMN aprovou a Resolução nº 4.661, modificando substancialmente as aplicações dos fundos de pensão em real estate. Pela norma em vigor, as fundações têm até 2030 para vender integralmente seus imóveis ou transformar suas carteiras em fundos imobiliários, com cotas distribuídas a terceiros. Há, no entanto, uma forte pressão das instituições de previdência privada para que o governo derrube a proibição.
A mobilização começa “dentro de casa”, leia-se a tríade dos maiores fundos de pensão do país, todos ligados a estatais: Previ, Petros e Funcef. A diretoria das três fundações – à frente, respectivamente, João Luiz Fukunaga, Henrique Jäger e Ricardo Pontes – tem feito gestões diretas junto ao ministro Fernando Haddad pela revisão da Resolução 4.661. Não faltam argumentos nesse sentido. O cumprimento dessa regra significará o desmonte de aproximadamente R$ 32 bilhões, valor total das carteiras imobiliárias das fundações. Só a Previ responde por quase R$ 13 bilhões. Há ainda um risco atrelado a essa desconstrução, que aumenta a disposição do governo de rever a proibição. As aplicações em imóveis têm sido importantes para o reequilíbrio atuarial dos fundos e a recente onda de superávits. No caso da Previ, por exemplo, o portfólio de imóveis teve rentabilidade de 20,2% em 2023. A Funcef, por sua vez, ampliou sua carteira imobiliária de R$ 488 milhões para R$ 1,2 bilhão no ano passado – e poderia ser mais, não fosse a venda de R$ 179 milhões em ativos.
Destaque
Revisão da meta fiscal cria ranhuras entre ala política e equipe econômica
18/04/2024A mudança da meta fiscal de 2025 custou ao ministro Fernando Haddad não apenas o abalo da sua credibilidade junto ao mercado, mas também um desgaste na relação com a ala política do Palácio do Planalto. As discussões em torno do tema provocaram fissuras entre as duas partes. Auxiliares diretos do presidente Lula, como o ministro da Casa Civil, Rui Costa, defenderam que o Ministério da Fazenda não divulgasse, desde já, a revisão da meta de 2025. A alegação é que o governo criaria um fato consumado, com sérias implicações políticas e econômicas, por preciosismo e um “excesso de transparência”. Para a banda política do governo, Haddad deveria ter feito como todos os seus antecessores: deixar o assunto em banho-maria até o fim de 2025 e perseguir um melhor resultado no decorrer do próximo ano. O anúncio do descumprimento da meta se daria somente quando fosse irreversível, e não ao sabor das previsões dos analistas do mercado, evitando uma antecipação hiperbólica da quebra do compromisso fiscal. No entanto, Haddad e seus assessores ganharam a queda de braço intramuros. E cometeram seu “sincericídio”. O câmbio não perdoou as boas, mas ingênuas, intenções de Haddad.
Destaque
Pode apostar: disputa entre União e estados pelas bets esportivas tem tudo para acabar na Justiça
15/04/2024A disputa pelo mercado de apostas eletrônicas está empurrando o governo para um contencioso federativo de razoáveis proporções. Segundo o RR apurou, o embate entre o Ministério da Fazenda e o Rio de Janeiro não é caso isolado. A exemplo da gestão Claudio Castro, os governos de Tarcísio Freitas, em São Paulo, e de Romeu Zema, em Minas Gerais, já sinalizaram à Fazenda a disposição de entrar na Justiça para garantir o direito de operarem suas próprias plataformas de bets esportivas. O Rio Grande do Sul, de Eduardo Leite, também deve ir pelo mesmo caminho. Estes estados – os quatro maiores PIBs do país – se amparam na decisão proferida pelo STF em 2020, quebrando o monopólio da União na gestão de loterias. A interpretação é que a sentença da Suprema Corte permite às unidades da federação lançarem sistemas de apostas esportivas com atuação em todo o Brasil. Não é o entendimento da Fazenda. O Ministério evoca o princípio da territorialidade, alegando que plataformas de apostas criadas pelos estados só podem ofertar serviços a residentes dentro da própria unidade da federação. De acordo com a mesma fonte, a Fazenda solicitou à AGU um parecer referendando essa amarra geográfica. O Rio de Janeiro já fez um movimento contundente na mão contrária. Conforme o Estado de S. Paulo informou na edição de 5 de abril, a Loterj, a estatal de loterias do Rio, enviou um documento à Pasta da Fazenda recusando-se a limitar sua operação de bets ao território do estado. Uma boa aposta? Vai tudo parar no STF.
União e governadores disputam o direito de tirar uma casquinha em um mercado que já movimenta mais de R$ 100 bilhões por ano no país. Há duas possibilidades do governo federal e dos estados fazerem receita com os seus sistemas de bets: com a concessão de licenças para investidores privados ou assumindo diretamente a operacionalização das apostas – inclusive em parceria com empresas do setor, como é o projeto já anunciado pela Caixa Econômica. No entanto, a queda de braço federativa reflete a barafunda regulatória em torno das apostas eletrônicas. O governo do Rio, por exemplo, entende que a operação de bets da Loterj foi criado antes da Medida Provisória que trata das apostas esportivas, editada em julho do ano passado. Portanto, não deve se enquadrar em qualquer restrição de ordem territorial. Igual critério se aplicaria à Lotominas.bet. Mesmo no caso de São Paulo e Rio Grande do Sul, cujo projetos de loterias estatais ainda estão no papel, os respectivos governos pregam que a MP é dúbia quanto à área de atuação das plataformas de aposta dos estados. O governo federal tem culpa no cartório. Até hoje, não há regulamentação específica para as bets esportivas. A Fazenda promete publicar 11 portarias até junho. No entanto, a recém-criada Secretaria de Apostas, a quem cabe a regulamentação do setor, sequer tem um nome escolhido para comandá-la.
Destaque
Subsídio ao seguro rural vira antídoto contra risco de quebradeira no agronegócio
10/04/2024O governo está quebrando a cabeça e fazendo conta atrás de conta para aumentar os subsídios ao prêmio do seguro rural. O entendimento é que, sem essa medida, será muito difícil conter a onda de inadimplência no agronegócio e a consequente disparada dos pedidos de recuperação judicial no setor – o número de casos cresceu 535% em 2023. A iniciativa exigirá um contorcionismo fiscal. O orçamento do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) para este ano é de aproximadamente R$ 1 bilhão. Cálculos preliminares do Ministério da Agricultura indicam a necessidade de, no mínimo, se triplicar esse valor. Um dos mecanismos em estudo, que tem o apoio do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, seria a transfusão de R$ 2 bilhões em recursos do Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro). Outra ideia discutida é despir parte de um santo para cobrir o outro, tirando o dinheiro do Plano Safra 2024/2025, que deverá ser anunciado até junho.
O mundo caminha inexoravelmente nessa direção. Tanto a Europa quanto, sobretudo, os Estados Unidos têm ampliado significativamente a subvenção ao seguro rural, já prevendo uma maior recorrência de extremos climáticos e o aumento do impacto sobre a produção agrícola. No Brasil, o cenário é saárico. Os subsídios públicos são ínfimos, assim como o próprio mercado de seguro rural. Nos Estados Unidos, na média, mais de 90% da produção agrícola estão cobertos por algum instrumento de securitização. No Brasil, estima-se que apenas 18% da safra de soja – a commodity de maior peso na balança comercial do agro – tenham seguro rural. No setor cafeeiro, esse índice não chega a 1%. Ou seja: dos 55 milhões de sacas produzidas por safra, apenas 550 mil estão protegidas de secas, inundações, pragas ou qualquer outro fenômeno que impeça o cafeicultor de entregar a mercadoria contratada. Haja fé em São Pedro e nos herbicidas!
Há uma série de circunstâncias cruzadas que aumenta a preocupação do governo – e a pressão dos produtores rurais por recursos públicos. Na década passada, o setor saiu de uma crise circular para um período de opulência e de oferta quase desmedida de crédito privado. No ano passado, o patrimônio do Fiagro (Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais) atingiu a marca de R$ 21,3 bilhões, um salto de 103% em relação a 2022 – conforme o Valor Econômico informou na edição do último dia 2 de abril. Os mecanismos de financiamento correram em velocidade muito maior do que os de garantia e proteção. As mudanças climáticas e a frustração de safra, notadamente no Sul, pegaram o setor em um momento de elevada alavancagem. No governo, o temor é que o aumento da inadimplência nos contratos de financiamento tenha um efeito dominó na cadeia do agronegócio e leve a uma espiral de contenciosos no setor. Há uma preocupação específica com o tamanho da contaminação dos Fiagros. O sinal de alerta veio com os recentes pedidos de recuperação judicial do Grupo Elisa Agro e da Agropecuária Três Irmãos Begarmasco e com o consequente risco de as duas empresas não honrarem o pagamento de seus respectivos CRAs (Certificados de Recebíveis Agrícolas), títulos que compõem a carteira de Fiagros.
As discussões dentro do Ministério da Agricultura levam em consideração outras variáveis preocupantes. Existem sinais no mercado de que gestoras de investimento administradoras de Fiagro já se movimentam para executar os contratos de crédito. Muitos desses financiamentos têm como garantia primária a entrega de produto físico e/ou terras. Com a quebra de safras, o risco de instituições financeiras tomarem propriedades rurais em troca da quitação da dívida aumenta. Este é um campo extremamente sensível. A começar pelo impacto simbólico. O agro no Brasil sempre trabalhou com a tese de que não perderia terras em caso de inadimplência. Até porque boa parte do crédito agrícola sempre esteve pendurada no Banco do Brasil e não faria sentido um agente público sair executando garantias e tomando plantações de agricultores, muitos deles de pequeno porte. Com o Fiagro, essencialmente nas mãos de instituições financeiras privadas, esse tabu tende a cair por terra. Literalmente. O que o governo teme é um efeito cascata, com bancos e gestoras de recursos assumindo propriedades rurais. Essa pode ser a semente de uma safra de litígios, com agricultores entrando na Justiça para evitar a perda de suas terras. Haveria ainda outros desdobramentos jurídicos. Por exemplo: a quem caberia o pagamento de dívidas trabalhistas de uma fazenda? Outra consequência é a ameaça de depreciação desses ativos. O que as instituições financeiras fariam com hectares e mais hectares de terras em suas mãos? Essas propriedades teriam liquidez imediata? Uma fazenda abandonada vira pó, no máximo, em dois anos. No mercado, a proporção do valor de uma terra preparada (ou seja, pronta para o plantio) e de terra nua é de cinco para um.
LEIA AINDA HOJE: Recuperações judiciais acirram fricção entre governo e agronegócio
Governo
Rui Costa, um head hunter no Palácio do Planalto
8/04/2024O espaçoso ministro da Casa Civil, Rui Costa, tem criado alguns embaraços dentro do governo por ‘invadir” territórios alheios. Costa vem tentando influenciar na indicação de cargos para estatais e autarquias federais na Bahia. As investidas do ministro são transversais. Estão na sua mira postos no Banco do Brasil e na Caixa, vinculados ao Ministério da Fazenda, na Codevasf, ligada ao Ministério do Desenvolvimento Regional, e na Codeba (Companhia das Docas do Estado da Bahia), que pertence à jurisdição do Ministério de Portos e Aeroportos.
Política
Guilherme Mello surge como candidato à presidência do BNDES
5/04/2024Agora no fim da tarde, surgiu um bochicho em Brasília na esteira da eventual ida de Aloizio Mercadante para a presidência da Petrobras. O nome que desponta para substitui-lo no comando do BNDES é o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello. Ele seria para o banco no governo Lula o que Gustavo Montezano representou na gestão Bolsonaro, com sinais trocados. Ambos são jovens e com excelente formação. Mello é também primo de um influente consultor histórico do PT e de Lula, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo. Há, no entanto, um pequeno senão, que poderia dificultar sua transferência para o BNDES, uma razão prosaica: Mello carrega o piano para Fernando Haddad na Fazenda. Com a saída de Gabriel Galípolo da Secretaria Executiva da Pasta para o Banco Central, acabou ganhando ainda mais importância na estrutura do Ministério. Abrir mão desse auxiliar deixaria Haddad ainda mais assoberbado.
Governo
Lira quer takeoverizar Secretaria de Apostas
25/03/2024A recém-criada Secretaria de Prêmios e Apostas virou objeto de uma intensa jogatina política. Arthur Lira dobrou o cacife: além da indicação do titular do cargo, quer tirar o órgão do Ministério da Fazenda e transplantá-lo para o Ministério dos Esportes, de André Fufuca, também do PP. Difícil imaginar que Fernando Haddad perca totalmente essa parada. Porque parcialmente, ele já perdeu: não conseguiu emplacar no posto o seu nome preferido, José Francisco Manssur, que liderou a regulamentação das apostas esportivas. Manssur deixou a função de assessor da Fazenda em fevereiro. Enquanto isso, as casas de apostas trabalham pela efetivação da advogada Simone Aparecida Vicentini, que ocupa o cargo provisoriamente. O que está em jogo é o poder sobre um setor que já movimenta mais de R$ 100 bilhões por ano no país.
Economia
Afago à classe média vai custar um sacrifício nas contas públicas
25/03/2024O chamado “pacote da classe média” vai exigir, provavelmente, o contingenciamento de recursos e algumas casas decimais acima do 0% de déficit fiscal ainda projetado pelo Ministério da Fazenda. Lula viu, Lula disse, Lula entendeu – e sem modéstia, o RR tinha cantado a pedra. O presidente não está falando nem governando para a classe média, que tem ficado fora dos seus principais projetos, voltados quase todos para o seu público eleitoral, um contingente de baixa renda e concentrado nas regiões Norte e Nordeste.
Entre as medidas que podem agradar o miolo do eleitorado estão a gradação do IR da pessoa física – que poderia comportar até uma queda da alíquota, descontando o benefício do IR dos super ricos -, concursos públicos (BC, CVM, INSS, Ministério da Saúde, entre outros, já colocaram a língua de fora em relação à falta de funcionários), cortes nos juros no crédito para aquisição de automóveis, ajustes no consignado, redução dos preços administrados etc. Todas essas medidas atingem o público-alvo.
Mas custam muita grana. Lembrando que o governo, quase inevitavelmente, terá de consignar recursos neste ano, e em valor bem superior em 2025. É dinheiro que vai comer gastos discricionários, e, portanto, que vai faltar para despesas cruciais da gestão Lula. Isso para não falar da renegociação da dívida dos estados, que vai tomar tempo e pode roubar algum recurso do orçamento.
Política
Tarcísio quer transformar renegociação da dívida dos estados em crédito eleitoral
19/03/2024O “pseudo acordo” entre o Ministério da Fazenda e os governos estaduais para renegociação das dívidas, publicado na edição de hoje do Globo, ainda tem muita água para correr ainda em direção ao mar. A negociação será complicada porque o governo propõe a indexação pelo IPCA mais juros de 4% ou a Selic integral. São percentuais maiores do que os pleiteados pelos estados do Sul e do Sudeste, da ordem de 3%. As dívidas mais altas em ordem decrescente são as do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. A negociação faz parte do jogo político. Mas o que chama atenção é o oportunismo do governador de São Paulo, Tarcísio Freitas, que não tem seu débito sequer classificado entre os 10 maiores do país. O comandante da paulicéia tem se aproveitado da circunstância para fazer uma barulhão em favor do escalonamento da dívida do seu estado. “Farinha de sobra, meu pirão primeiro”, é o lema de Freitas.
Ocorre que o governador enxerga na frente. Como o débito de São Paulo é, proporcionalmente, o maior em relação ao PIB, Tarcísio Freitas poderá dizer, quando do seu interesse, que aumentou a renda per capita do cidadão bandeirante. Os paulistas, assim, ainda que contabilmente, ficariam mais ricos durante seu governo. Freitas é um dos principais candidatos à herança eleitoral do capitão Jair Bolsonaro. E tem mais: São Paulo é um dos estados que têm condições de dar as melhores garantias, afetando menos o balanço da União. A renegociação das dívidas estaduais meio que atinge as contas públicas. Na verdade, o resultado é quase um empate, já que, por um lado, amplia o passivo da dívida pública, e, por outro, assegura o crédito junto aos estados. Outro diferencial é a qualidade das garantias. Freitas não vai dar de barato essa renegociação, que, ainda que tratada com discrição, tem por objetivo a eleição presidencial de 2026.
Destaque
Governo articula megafusão entre Gol, Azul e Latam
19/03/2024O governo está costurando o que talvez seja a fusão mais difícil já realizada no Brasil. Trata-se de reunir as três grandes empresas aéreas do país: Latam, Azul e Gol. O assunto mobiliza os principais gabinetes da República, envolvendo, em maior ou menor medida, o Ministério do Desenvolvimento e Indústria, a Fazenda, a Casa Civil e a própria Presidência. As discussões em torno da tríplice associação partem da premissa de que o programa de apoio às companhias aéreas em formatação no governo – que sequer se sabe muito bem do que se trata – não passará de um dedo no dique.
Não será com concessão de crédito, subsídios, benefícios fiscais, investimentos públicos em estrutura aeroportuária e outros velhos remédios do gênero que a grave crise do setor será equacionada. Trata-se de uma questão sistêmica, que, como tal, exigiria uma solução sistêmica, por meio de consolidação. A partir de conversas travadas dentro do governo, conforme o RR apurou, é possível inferir que essa seria uma operação para desaguar no BNDES, a quem caberia dar o suporte financeiro necessário para a fusão.
A União teria ao menos um assento no Conselho da companhia. Entre os tantos óbices à operação, um está dentro da própria estrutura da máquina pública: o Cade. A eventual associação entre Gol, Latam e Azul praticamente colocaria toda a aviação comercial brasileira sob o mesmo teto. No ano passado, o trio concentrou 99,5% de market share dos voos domésticos.
Não seria fácil dobrar a resistência do órgão antitruste. Mas já existe, digamos assim, alguma “jurisprudência”. A Vale, por exemplo, é praticamente um monopólio. Some-se a isso o fato de que o Cade seria instado a analisar o caso de uma maneira muito particular. Não seria uma operação de M&A qualquer, mas uma questão de interesse nacional.
Todas as três companhias, de certa forma, estão com a língua de fora – umas mais, outras menos. Do trio, a que atravessa o melhor momento é a Latam, que saiu da recuperação judicial com uma estrutura de capital mais sólida, uma operação mais enxuta e praticamente sem dívida. Outro dado a favor da empresa é a diluição da participação dos irmãos Cueto, do Chile, que controlavam a Latam.
É atribuída à dupla uma boa parcela das enfermidades da companhia. Por sua vez, Gol e Azul vivem uma situação menos saudável. A primeira entrou em recuperação judicial, com um passivo de R$ 20 bilhões. A segunda, por sua vez, atravessou no ano passado uma duríssima negociação com os credores, que envolveu a transferência de até 17% das preferenciais, além da emissão de US$ 370,5 milhões em títulos de dívida com vencimento em 2030.
Além disso, ambas estão exageradamente alavancadas. A Azul fechou o terceiro trimestre do ano passado, último balanço disponível, com uma relação dívida líquida/Ebitda de quatro vezes. No caso da Gol, o cenário é ainda mais preocupante. Em setembro de 2023, a companhia carregava uma relação dívida líquida/Ebitda de 5,5 vezes. E já foi pior: no terceiro trimestre de 2022, esse índice havia chegado a insuportáveis 9,2 vezes.
A Gol tem mais de 50 mil credores. Ressalte-se que o segundo maior da extensa lista é a Aeronáutica. São cerca de US$ 220 milhões em passivos com o Decea (Departamento de. Controle do Espaço Aéreo) relativos a atrasos no pagamento de taxas de voo. Ou seja: o próprio Estado é um dos grandes credores da Gol. Trata-se de um detalhe que pode fazer bastante diferença.
O governo não estaria entrando nesse voo apenas como governo, como se isso já não fosse suficiente. A posição de credor automaticamente empurra o Estado para a mesa de negociações. A gestão Lula teria passaporte para costurar por dentro uma eventual conversão de debt em equity atrelada à fusão da Gol com Latam e Azul.
Além das fortes turbulências financeiras do setor, outro óbice à costura da possível tríplice fusão é o enrosco societário das companhias aéreas. É muito investidor para se negociar. A Gol é controlada pela ABRA Holding, criada a partir da sua associação com a Avianca. Nessa empresa-casca estão o salvadorenho Roberto Kriete, que ficou com a companhia colombiana após ejetar German Efromovich do negócio, e a família Constantino.
A presença do clã, por sinal, traz um histórico de controvérsias e até mesmo crime. O patriarca, Nenê Constantino, chegou a ser condenado como mandante do assassinato de duas pessoas que participaram da ocupação de um terreno da família, em 2011. Posteriormente, as condenações foram anuladas pelo STJ.
Quem também tem assento no capital da Gol é a American Airlines, com 6,5% das preferenciais. No caso da Latam, além da família Cueto, a Qatar Airlines e a norte-americana Delta também detêm posições acionárias relevantes. Na Azul, há uma clareza maior com quem o governo deveria se sentar para articular a megafusão. O empresário David Neeleman controla 67% das ordinárias.
Ainda assim tem a seu lado o Grupo Caprioli (33% das ordinárias), antigo controlador da Trip Linhas Aéreas, adquirida pela Azul em 2012. E há ainda a United, com 5,3% das ações preferenciais.
Para que a eventual fusão decole, as três companhias teriam também de superar antigas animosidades de parte a parte. Segundo uma fonte do setor, a maior bronca tem como alvo David Neeleman. A Azul é tida como quem mais faz marola para piorar o ambiente competitivo. Neeleman é apontado como useiro e vezeiro em lançar balões de ensaio com objetivos difamatórios.
No início deste mês, antes do noticiário sobre a possível associação entre ambas eclodir, a Azul alimentou informações de que poderia comprar a Gol. Em 2021, a companhia soltou no ar o interesse de adquirir a Latam. Nos dois casos, um modus operandi semelhante de se antecipar aos fatos e colar nas concorrentes uma percepção maior de fragilidade. A Gol também não fica muitas milhas distantes no que diz respeito ao tensionamento do setor.
A empresa acionou a Justiça dos Estados Unidos pedindo a abertura de uma investigação contra a Latam. A acusação é que a companhia chilena estaria se aproveitando do pedido de recuperação judicial da Gol para “roubar” suas aeronaves, contratar pilotos e desencorajar agentes de viagem a reservar voos da companhia.
Consumo
Reajuste dos remédios deve ficar em 4,5%
13/03/2024O RR apurou que o reajuste dos preços de medicamentos será da ordem de 4,5%, segundo fonte do Ministério da Fazenda. O índice entrará em vigor no próximo dia 1º de abril. Trata-se de um percentual inferior ao fixado pelo governo no ano passado – 5,6%. Será também o segundo menor reajuste da última década, atrás apenas dos 2,84% de 2018. Ainda assim, o consumidor está longe de ter um alívio, ao menos nos dez estados, mais o Distrito Federal, que anunciaram em janeiro um aumento da alíquota do ICMS sobre remédios. Ou seja: na prática, os preços dos medicamentos sofrerão dois reajustes nessas localidades.
Cabe ressaltar que a indústria farmacêutica reivindica do governo o fim dos preços controlados. O setor alega que, na média, o aumento dos remédios é sempre inferior ao índice fixado. Usam também como argumento o valor dos remédios que não estão sujeitos à regulação, como analgésicos e fitoterápicos, cujos reajustes ficariam sempre abaixo da inflação. Até agora, no entanto, os estudos e tabelas enviados quase que mensalmente pelos laboratórios estão longe de sensibilizar o Ministério da Fazenda.
Destaque
Seguidas invasões de terra ameaçam investimentos da Suzano em biotecnologia
7/03/2024A Suzano tem cobrado do governo federal ações mais rigorosas contra as recorrentes invasões do MST a fazendas de sua propriedade. A mesa de negociações criada no ano passado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário, com representantes do Incra e do próprio MST, para mediar conflitos fundiários em terras da companhia na Bahia e no Espírito Santo, mostrou-se um placebo. As gestões da Suzano junto ao governo envolvem não apenas autoridades da área de segurança, sobretudo o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski e a direção da Polícia Federal, mas também outros órgãos de Estado diretamente envolvidos com a questão.
É o caso da CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança). Segundo o RR apurou, a empresa vai apresentar na reunião de hoje da CTNBio, em Brasília, um relatório do impacto negativo das ocupações sobre suas atividades de pesquisa e desenvolvimento de eucalipto transgênico, notadamente na Fazenda São Bento, em Açailândia (MA). A Comissão é um lócus estratégico. A Suzano vai à CTNBio com o peso de ser um dos maiores investidores em biotecnologia do país: a empresa desembolsa cerca de 1% do seu faturamento anual, ou seja, o equivalente a R$ 5 bilhões, em pesquisa, desenvolvimento e inovação. As repetidas invasões a fazendas da companhia, com a consequente interrupção das atividades, têm sido um fator de ameaça à manutenção desses investimentos.
Além disso, ao levar a questão para a CTNBio, a Suzano pretende mobilizar as autoridades multiministeriais que compõem a Comissão e estão diretamente envolvidos com a biossegurança no país, entre os quais a Pasta da Defesa. Procurada pelo RR, a empresa não quis se manifestar.
A Suzano é uma das grandes proprietárias de terras do Brasil, com quase três milhões de hectares. A empresa responde por quase um quarto de toda a área de cultivo de eucalipto no país, com aproximadamente 1,7 milhão de hectares de plantação. Acabou se tornando um alvo recorrente do MST, ou de “invasores profissionais”, termo que os advogados da companhia costumam usar. Além da São Bento, outras cinco fazendas da Suzano no Maranhão têm sido objeto de sucessivas ocupações por sem-terra. No ano passado, o MST invadiu também outras três propriedades da fabricante de celulose no sul da Bahia.
Governo
André Fufuca quer indicar o “dono” do caixa das apostas esportivas
6/03/2024O ministro dos Esportes, André Fufuca, trabalha para indicar o futuro secretário de Prêmios e Apostas, órgão vinculado ao Ministério da Fazenda. Fufuca já ganhou o primeiro tempo dessa partida. O que se diz em Brasília é que o ministro foi o principal responsável pela saída do governo do assessor especial da Fazenda José Francisco Manssur, tido como o preferido de Fernando Haddad para o cargo.
Destaque
Governo Lula flerta com um PIB médio de 3%
4/03/2024Mesmo que a implicância com o presidente da República seja a mesma, já existe na Faria Lima quem esteja comemorando a gestão da política econômica de Fernando Haddad até o final do governo Lula. As pitonisas consultadas pelo RR consideram que está cada vez mais provável a mediana do crescimento do PIB até 2026 superar os 3%. Trata-se de um percentual que vem sendo considerado uma fronteira inatingível pela maioria dos analistas de mercado.
Ele estaria pelo menos 1 p.p acima do PIB potencial do Brasil calculado pelas instituições financeiras – entre 1,5% e 2%. O Ministério da Fazenda aumenta a aposta e estima que o PIB potencial é de 2,5%. Entenda-se como PIB potencial o patamar de crescimento da economia que não pressiona a inflação.
O Boletim Focus, em sua última rodada (23 de fevereiro), projeta um PIB de 1,75% para 2024. Parece baixo, mas, tratando-se do conservadorismo dos analistas, é um bom piso para o início do ano. Vale recordar que, em 2023, a previsão para o crescimento do PIB, nesse mesmo período, era de apenas 0,5%. No fim das contas, a economia cresceu 2,9% no ano passado, ou seja, quase seis vezes o índice esperado pelos analistas.
É provável que um erro tão grande do Focus não ocorra neste ano, mas os números do primeiro mês de 2024 foram bastante positivos e interpretados como um indicador de que a economia está andando dentro da pista, com baixa possibilidade de descarrilhar. Até 2026, o Boletim projeta uma mediana do PIB de 2%. Vale o registro de que o Focus estima o mesmo PIB de 2% para 2025 há 11 semanas e para 2026 há 29 semanas.
Arrisca até uma previsão dos mesmos 2% até 2027 – depois, portanto, do atual mandato presidencial – há 31 semanas.
Como foi dito antes, esses 2% podem ser considerados um piso. Com a confirmação desses índices, o resultado primário ficaria dentro da meta sem pirotecnias fiscais, quase que por inércia. A arrecadação deve garantir o cumprimento do arcabouço fiscal.
As projeções que fundamentam o otimismo são a combinação de uma atividade produtiva aquecida – com o aumento da renda e do consumo -, PIB em alta e inflação em baixa, e mais e mais investimentos públicos e privados. Antes que se esqueça, há ainda o fator Haddad, talvez a maior âncora atual da economia e o novo querido da Faria Lima.
A manutenção de um PIB mediano na casa dos 3% reposiciona o Brasil no patamar do crescimento global da economia – as estimativas para a alta do PIB mundial em 2024 vão de 2,4% (Banco Mundial) a 3,1% (FMI). Na última década, o país passou longe do Planeta Terra. Entre 2013 e 2022 (os dados gerais de 2023 ainda não estão consolidados), o PIB global subiu, em média, 2,74% por ano. No mesmo período, a economia brasileira cresceu (se é que o termo pode ser usado) ao ritmo de 0,46% ao ano.
Portanto, em relação à base de comparação, a mediana de 3% ao ano que se anuncia para o governo Lula soa como alvissareira. Mas, quando a referência são as necessidades do país, esse índice ainda é muito baixo. O Brasil precisaria crescer, ao menos, 5% ao ano para fazer frente às demandas em infraestrutura, saúde, educação, segurança etc, algo que hoje ainda não é possível devido às restrições do PIB potencial.
Além disso, não é só uma questão de aumentar o tamanho do bolo, mas também a forma como ele é dividido. O crescimento do PIB terá de vir acompanhado de uma alocação correta dos recursos, mesmo porque se espera uma presença maior do Estado em investimentos estruturantes cruciais.
Justiça
O “doleiro dos doleiros” está precisando de verdinhas
28/02/2024O RR apurou que a defesa de Dario Messer vem tentando junto à Justiça do Paraguai desbloquear alguns bens do “doleiro dos doleiros” no país. Alega que o próprio Messer e herdeiros estariam enfrentando dificuldades financeiras e que parte do patrimônio, notadamente fazendas, teria sido adquirida de forma lícita. Seu patrimônio no Paraguai é estimado em mais de US$ 150 milhões. Messer, não custa lembrar, fechou acordo de colaboração premiada com o Ministério Público Federal, que toca as investigações junto com a Justiça paraguaia.
RR Destaques
RR Destaques – 05/02/2024
5/02/2024Para além do discurso
Na reabertura dos trabalhos do Congresso o presidente da Câmara, Arthur Lira, finalmente mandou o recado que vinha sendo “costurado” nos bastidores. E adotou o tom mais duro desde o início de 2023, quando quase “derrubou” o novo desenho dos ministérios montado no início do governo Lula.
Não se pode subestimar o movimento de Lira, ainda mais somado à reafirmação, por Rodrigo Pacheco, das pautas voltadas ao STF, que não interessam ao governo.
Ao mesmo tempo, é preciso dar tempo para uma leitura mais precisa do que está em jogo. Lira quis gerar incômodo, claro. No entanto:
1) Precisava dar uma resposta às cobranças de deputados em função do corte no valor de emendas pelo governo e pela narrativa que vem sendo defendida, com certo sucesso, pelo PT e, bem mais discretamente, a própria Fazenda, que apontam excessos e usurpação de competência;
2) Foi esse o sentido essencial do recado, e não uma posição contrária a projetos quaisquer do Planalto. Assim como é esse o sentido de se vazar, seguidamente, pedidos pela “cabeça” de Alexandre Padilha.
Trata-se de uma disputa que vem sendo travada desde o início do governo e em relação a qual os dois lados disputam mais um round para ver qual o equilíbrio possível. Cada um puxando para o seu lado.
Há, nesse sentido, dois cabos de guerra paralelos: pelo varejo e pelas prerrogativas de cada Poder. Lira, por convicção e para se cacifar no ano em que sairá do cargo, tem que mostrar que não aceita que o Legislativo perca poder. E indicar que continuará ser ele o interlocutor, ainda que a corrida pela sua sucessão comece a ganhar corpo. Já Lula busca – e tem conseguido – restaurar ao menos parte da centralidade orçamentária que o Executivo vinha perdendo nos últimos anos.
Embute-se aí um sinal – forte – de risco para o governo, que tem uma longa agenda de projetos já no primeiro semestre? Sim. Mas, também, de que os pontos de atrito estão longe de serem tantos assim e que há margem de manobra.
Fora que a reação já era esperada e veio dentro do que o Planalto imaginava – e calculava. Com a vantagem, até, de não ter como alvo, de cara, algum projeto específico para Haddad, o que pode acontecer em uma segunda etapa. Além de – pelo menos até o momento – ter incluído mensagens leves, quase protocolares, em relação ao STF, diante da cobrança da oposição quanto à operações recentes da PF.
Agora é observar para onde o Planalto se moverá e como se darão as primeiras ações concretas no Parlamento. Há lenha para gastar (seja recompondo emendas, seja usando “contrabandos” nas próprias obras do PAC como moeda de troca).
Os recados…do BC
Enquanto isso, o governo espera mais boas notícias com a divulgação da Ata do Copom, amanhã. Não que vá haver qualquer sinalização de corte mais rápido nos juros, mas a expectativa é de posições favoráveis ao trabalho fiscal do governo e ao menos alguma boa vontade quanto ao potencial de crescimento em 2024, que enfrenta bastante ceticismo do mercado diante de números pouco animadores para o fim de 2023.
Indicadores
Saem amanhã as Estatísticas Monetárias e de Crédito de dezembro (BC) e o IGP-DI de janeiro (FGV).
Justiça
A onipresença de Messer nas falcatruas nas Américas
22/01/2024O Ministério Público Federal pretende firmar acordo de cooperação jurídica internacional com o Uruguai, no rastro do tratado com o Paraguai anunciado no final de 2023, envolvendo o rastreio e confisco de bens em nome de Dario Messer. Ele responde a sete ações penais na Justiça Federal do Rio, depois de fechar acordo de delação premiada com o órgão. O doleiro tinha valioso patrimônio no Paraguai, que inclui fazendas e aviões. Suspeita-se que Messer possua propriedades em bom número no Uruguai, onde também fazia inúmeros negócios. O que for localizado será leiloado para ressarcimento dos cofres públicos. Uma fonte do RR garante que a operação Dario Messer, concluída a etapa América do Sul, deve se estender para a América Central. Há suspeitas de que Messer seja até dono de um hotel no Caribe.
Destaque
Ministério da Fazenda flerta com a extinção da regra de ouro
22/01/2024O Ministério da Fazenda vem “tateando” a ideia de extinguir a regra de ouro. A regra nasceu na Constituição de 1988 com a prerrogativa de ser o principal mecanismo de equilíbrio das contas públicas do Governo Federal. Ocorre que raramente ela é seguida à risca pelos governantes. E invariavelmente seu descumprimento é tratado no Congresso como algo comum.
Suas normas proíbem a emissão de dívidas para o pagamento das chamadas despesas correntes da administração pública, os gastos de custeio. A emissão de dívida pública somente seria permitida para os gastos com capital (investimentos). Em teoria, a regra existe para evitar o endividamento do Estado com sua própria máquina, mas, na prática, ela acaba sendo contornável.
A regra funciona de forma complementar ao teto de gastos/arcabouço fiscal (existem ainda o resultado primário e a Lei da Responsabilidade Fiscal como mecanismos para o controle das contas públicas). Só que as sanções previstas na regra de ouro são mais severas. O seu descumprimento configura crime de responsabilidade fiscal e pode levar até à destituição do presidente da República.
Em relatório divulgado em dezembro, a OCDE classificou a regra de ouro como um instrumento que “fez pouco para preservar o investimento público no passado”. Isso porque nas inúmeras violações do ditame constitucional o Legislativo aquiesceu, aprovando dotações orçamentárias e perdoando o presidente e seus ministros da área econômica. No começo de 2018, foi divulgado que o Governo Temer estudava uma possível flexibilização da regra de ouro, tornando- a similar ao teto de gastos (ou seja, passível de ser ajustada automaticamente e sem nenhum tipo de punição ao governante). À época, o governo havia pedido ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) a devolução de R$ 180 bilhões ao Tesouro, em uma tentativa de “solucionar” o endividamento com custeio.
A aprovação da Lei de Diretrizes Orçamentárias para 2019 oficializou o não cumprimento da regra por parte da gestão Temer. O governo anunciou que a norma não conseguiria ser cumprida, necessitando do aval do Congresso para a emissão de mais títulos. Bolsonaro, com a alegação de motivos variados, pediu arrego por três vezes. Paulo Guedes dizia que a regra de ouro era uma peça de antiquário. No entanto, continua em vigor e fincada na Constituição.
Justiça
Ministério Público do Trabalho mira no agronegócio no Rio Grande do Sul
22/01/2024O MPT (Ministério Público do Trabalho) vai acompanhar com redobrada atenção o serviço de quase uma centena de indígenas da etnia Chupapou, do Paraguai, contratados por produtores de maçã do Rio Grande do Sul, para colher a fruta nos próximos três meses, em fazendas produtoras. Eles chegam com a fama de serem bons trabalhadores. O olhar atento do MPT vem depois que dezenas de agricultores baianos foram explorados por produtores gaúchos de vinho na Região da Serra, no ano passado, resultando em multas e um TAC de boa conduta com os promotores.
Investimento
Dinheiro do New Development Bank chega antes do Carnaval
19/01/2024O governo federal espera concluir até o fim de fevereiro os trâmites para a primeira operação de financiamento do New Development Bank com o Brasil, no governo Lula 3. Os cerca de US$ 500 milhões que estão sendo negociados irão capitalizar fundos de desenvolvimento nacionais. O Ministério da Fazenda exigirá o uso de recursos em obras diversas relacionadas com o segmento de infraestrutura.
Destaque
Fazenda e BC discutem mudança no cálculo da dívida pública
8/01/2024O Ministério da Fazenda e o próprio Banco Central, tradicionalmente mais resistente à mudança do conceito, estão trabalhando para alterar a referência maior da relação dívida bruta/PIB por dívida líquida/PIB. O melhor medidor do passivo, do ponto de vista técnico, é uma discussão eterna. Trata-se de uma opção do condutor das políticas econômicas do governo – já que o mundo usa os dois critérios –, e nem o FMI nem o BIS, que adotam a dívida bruta/PIB, consideram que as nossas contas foram postas em algum liquidificador, misturando os ativos do BC e do Tesouro Nacional. Mas por uma questão um tanto quanto óbvia, a dívida líquida aparenta ser o critério mais correto, pois incorpora as reservas cambiais. No critério da dívida bruta, é como se as reservas não existissem. Ou seja: se o país enriquece com as vendas do comércio exterior, do ponto de vista da dívida bruta, ele continua piorando. Ainda mais se o crescimento dos juros for acima da expansão do PIB – caso brasileiro a perder de vista.
As autoridades do governo pretendem, portanto, mudar a comunicação formal dos dados. Trata-se quase de um trabalho de alterar hábitos linguísticos, porque ambos os indicadores servem para a medição da qualidade fiscal do país. A diferença é que a relação dívida bruta/PIB, por ignorar o ativo cambial do governo, assim como outros ativos menores junto ao sistema bancário, joga o indicador lá para cima, permitindo a manipulação sobre a política fiscal. Assim, o problema da dívida bruta/PIB se torna quase eterno, porque, para alterá-lo significativamente, seria preciso um Brasil com juros bem baixos, PIB bem alto e um superavit primário permanente. No mercado financeiro, essa atrofia é usada permanentemente para piorar o quadro das contas públicas. É o grupo que vê uma insolvência potencial permanente do Brasil. A medição do Prisma Fiscal – espécie de Boletim Focus alternativo do Ministério da Fazenda – vai ter que mudar. O Instituto Financeiro Independente (IFI) – órgão do Congresso Nacional – também alterará a relevância do indicador.
O mercado, curiosamente, leia-se Boletim Focus, já usa o conceito de dívida líquida/PIB. Pois bem, há dois Brasis conforme a forma de avaliação das contas públicas. Há o Brasil da dívida líquida, cujo passivo estaria sobre um controle maior e nós teríamos um maior alinhamento com o mundo. De acordo com o Focus da última terça-feira, a projeção para a dívida líquida do setor público passou de 61,20% para 61,05% do PIB em 2023, enquanto a de 2024 foi de para 64,50% para 64,45% do PIB. Nos anos subsequentes, ela permanece praticamente estável, porque o governo leva em consideração avanços modestos na área fiscal, um aumento de reservas bastante tímido e um PIB na faixa de 3%.
Já a dívida bruta do governo geral subiu para 73,8% do PIB (Produto Interno Bruto) em novembro de 2023, alcançando R$ 8 trilhões. Em comparação ao mês anterior, houve um aumento de 0,1 p.p., quando atingiu 73,7%. Já é um indicador mais alarmante. A dívida bruta do governo geral inclui a União, Previdência e governos estaduais e municipais. Algumas instituições mais desinibidas, a exemplo do IFI, chegaram a prever uma dívida bruta da ordem de 100% do PIB antes de 2026. O fato é que toda a contabilidade deveria, pelo menos em tese, levar em consideração ativos e passivos. No Brasil não é bem assim.
Destaque
Mudança da meta de inflação volta à pauta no Ministério da Fazenda
5/01/2024“A meta vinha cantando alegremente…” Que nada! O secretário de Política Econômica, Guilherme Mello, reabriu os trabalhos para fundamentar um novo ataque aos 3% da meta de inflação. Mello encomendou papers a economistas acadêmicos e matemáticos para proporem um sistema de metas que não seja draconiano e tenha alguma cientificidade. Por incrível que pareça, o argumento para o target de 3% parece ser só justificado por ser próximo da média dos países desenvolvidos, do G7, da América Latina, seja que amostragem for. É claro que ela é balizada em algum ponto pela política monetária, nível da inflação, atividade econômica etc. Hoje, o próprio Roberto Campos Neto considera que o target foi um “pouquinho” maior do que o necessário.
O fato é que os esquálidos 3% poderão manter a taxa de juros na faixa mínima de 7% a 8% o governo Lula inteiro. O mercado, aliás, já precificou isso. A escolha da meta pelo BC às vezes parece ser puramente idiossincrática. Alargar a meta em meio ponto ou um ponto percentual permitirá que ela seja cumprida sem as já banalizadas cartas de justificativas da autoridade monetária ao Congresso Nacional ou a invenção de alguma PEC para embutir um casuísmo qualquer. Na Fazenda, a crítica é que, para os analistas, parece existir somente o resultado primário. O resto não interessa. É como se a relação dívida/PIB não fosse um indicador de custo relevante e sujeito a qualquer poeira de aumento nos juros; ou que lidar com choques de oferta, cada vez mais frequentes no mundo, fosse uma atividade pueril e não puxasse ainda mais para cima taxas já altas. Manter os juros lá no alto para buscar um percentual insustentável de inflação, nesses quatro anos, vai comer quatro ou cinco p.p. do PIB, pelo menos no acumulado até 2026. Vai atrapalhar o propósito de estabilização, quiçá redução, da relação dívida/PIB, já que o resultado primário tende sempre a ficar aquém do projetado.
Embora o Ministério da Fazenda não queira comentar oficialmente a medida, na conversa que o RR teve com fonte da Pasta, tudo indica que o assunto voltará ao CMN quando os resultados da política econômica estiverem mais robustos e a mudança não pareça mais uma confissão de fracasso do que um aperfeiçoamento. Uma boa aposta é que isso ocorra em meados do ano que vem. Essa mudança terá, com toda certeza, o apoio declarado do presidente da República. Tomara. Esse meio pontinho de redução da meta vai fazer uma diferença nada desprezível no futuro, evitando elevações desnecessárias da Selic. Questionado, o Ministério não quis comentar oficialmente a medida.
Governo
Ciência e Tecnologia corre o risco de mais um talho em seu orçamento
11/12/2023No fim da tarde da última sexta-feira, circulava nos gabinetes do Ministério da Ciência e da Tecnologia a informação de que a Pasta poderá sofrer mais um bloqueio em seu orçamento no apagar das luzes de 2023. O contingenciamento seria da ordem de R$ 100 milhões. O número supera o corte de R$ 79 milhões anunciado no último 30 de novembro, quando o Ministério da Fazenda e do Planejamento bloquearam R$ 1,1 bilhão em recursos de 14 Ministérios.
Saúde
Uma vacina a mais na caderneta de Nísia Trindade
3/11/2023Há um empenho no Ministério da Saúde com o objetivo de acelerar os trâmites para que a Bio-Manguinhos inicie a produção de vacina contra a dengue em 2024. O ressurgimento do soro tipo 3 do vírus, que há 15 anos não causa epidemias no país, acendeu um sinal de alerta na Pasta – a cepa foi identificada em um estudo coordenado pela Fiocruz Amazônia e pelo Instituto Oswaldo Cruz. O Ministério da Saúde já solicitou o apoio da Fazenda no sentido de reduzir as exigências burocráticas para a importação de insumos para a produção do imunizante. É parte do esforço da ministra Nísia Trindade para aumentar a taxa de vacinação no país.
Finanças
Governo pode colocar um “intruso” para decidir os juros do consignado do INSS
27/10/2023O governo discute uma mudança na composição do Conselho Nacional de Previdência Social (CNPS). A ideia é incluir um representante do Ministério da Fazenda no colegiado. A medida está diretamente associada às recentes divergências com instituições financeiras em torno do teto dos juros do crédito consignado a aposentados e pensionistas. Os bancos têm contestado os critérios usados pelo Conselho para a fixação das taxas. Centram bateria, sobretudo, no ministro da Previdência Social, Carlos Lupi. Em recente nota, as instituições financeiras afirmaram que o Ministério “insiste em diminuir, de forma artificial e arbitrária, o teto de juros do consignado do INSS, sem levar em conta qualquer critério técnico e a estrutura de custos”. A indicação de um representante da Fazenda seria, a um só tempo, uma forma de aumentar as discussões técnicas dentro do Conselho e uma tentativa do governo em aparar as arestas com os bancos. A proposta, no entanto, enfrenta resistências dentro do governo, a começar pelo próprio Lupi, que, em certa medida, perderia poder decisório no colegiado. Todos os seis representantes do governo federal no CNPS são do Ministério da Previdência Social – o próprio Lupi e mais cinco colaboradores na Pasta.
Destaque
G20 aumenta a tensão do governo com o crime no Rio de Janeiro
26/10/2023As discussões no governo federal sobre os ataques criminosos no Rio de Janeiro não estão circunscritas às áreas da Justiça e Segurança e de Defesa. O tema transbordou para o âmbito da Comissão Nacional para a Coordenação da Presidência do G20, comandada pelos ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e das Relações Exteriores, Mauro Vieira – da qual fazem parte ainda diversos outros ministros e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Há dois níveis de apreensão.
No aspecto reputacional, o que preocupa é a repercussão internacional da onda de violência no Rio a pouco mais de um ano do encontro do G20 na capital fluminense, em novembro de 2024. Existe o receio de uma repetição dos ataques no curto prazo, o que desmoralizaria o aparelho de segurança do Brasil, seja na esfera estadual ou federal. Ao mesmo tempo, os graves episódios da última segunda-feira, quando 35 ônibus e um trem foram queimados por criminosos, aumentam a tensão em torno do esquema de segurança que será montado para os sucessivos eventos oficiais do G20 programados para o ano que vem.
O momento crucial é a reunião de cúpula, com a presença na cidade dos chefes de Estado das 19 maiores economias do mundo e de altas autoridades da União Europeia. O temor é que o crime organizado aproveite as circunstâncias e a visibilidade global para dar uma demonstração de poder, com atos de violência no Rio durante o encontro dos líderes mundiais.
O governo dispõe de dados que permitem medir um pouco da temperatura no exterior em relação aos atos criminosos no Rio de Janeiro. A Secom vem monitorando o impacto que a violência na cidade tem na mídia internacional. Levantamento realizado a partir de uma base com mais de 614 mil veículos estrangeiros apontou, entre a noite da última segunda-feira e o início da tarde de hoje, 1.252 menções vinculando o Rio de Janeiro à criminalidade.
Os termos mais utilizados foram “mortes” e “homicídios” (427 registros), milícias (295) e violência (207). Ressalte-se que este é um recorte inferior a 48 horas. O mesmo trabalho de mineração traz outros indicadores ainda mais expressivos.
Considerando-se a mesma base, ao longo deste ano os veículos internacionais já publicaram 48.023 citações sobre o Rio associadas ao crime. Para se ter uma melhor noção do que representa, esse número corresponde a 39,8% da soma de todas as menções às outras 26 capitais do Brasil relacionadas à segurança pública (120.448). Destrinchando-se o mapeamento é possível observar as expressões mais associadas ao Rio.
Desde janeiro, são 25.418 referências vinculadas aos termos “homicídios” e “assassinatos”. Há 12.183 menções com a expressão “violência”. Além de 3.623 registros alusivos a “crime organizado” e “milícias”.
Em meio às conversas transversais entre diferentes áreas do governo, Lula adota manobras diversionistas, tentando ganhar tempo até encontrar medidas mais efetivas contra à crise na segurança pública. O primeiro movimento foi o envio de uma segunda leva de integrantes da Força Nacional de Segurança (FNS), uma solução que nada soluciona. No total, são 300 agentes, ou seja, na média um único homem para cada 25 quilômetros quadrados da Região Metropolitana do Rio. Outro balão de ensaio, que de tão usado por seus antecessores mal sai do chão, é o ressurgimento da proposta de criação do Ministério da Segurança Pública – ideia que já passou pelas gestões de Michel Temer, de Jair Bolsonaro e pela campanha eleitoral do próprio Lula.
Não passa de mais um truque de prestidigitação retórica para desviar o foco da plateia. Difícil achar uma saída que não passe por um movimento mais radical: muito provavelmente, a questão vai cair, mais uma vez, no colo dos militares.
Entre auxiliares próximos a Lula, existem vozes que defendem a intervenção federal como única medida possível para o enfrentamento do crime organizado no Rio de Janeiro. Há, inclusive, quem pondere que o envio de tropas das Forças Armadas para o Rio deveria ser feito logo agora, o mais longe possível de novembro de 2024, de forma a descolar a ação militar da reunião do G20. No entanto, independentemente do timing, Lula rechaça a ideia. Na última terça-feira, em entrevista, negou a intenção de decretar intervenção no Rio.
A recusa se deve a motivos óbvios: o presidente resiste a repetir Michel Temer e levar para dentro do Palácio do Planalto a responsabilidade pela crise na segurança pública, em última instância algo que compete aos governos estaduais.
Do ponto de vista político, os riscos são muito maiores do que o ganho potencial. Que o diga o próprio Temer. Durante a intervenção federal de 2018 no Rio, muitos dos índices de criminalidade regrediram. Mas os efeitos benéficos duraram pouco. Alguns meses após os militares se retirarem das ruas, os números voltaram ao patamar antigo.
É mais um motivo que pesa na balança e contribui para a resistência de Lula. Se 2018 deixou uma lição é que os oito meses de intervenção federal do governo Temer no Rio serviram apenas para varrer um pouco da poeira na superfície. Para ter de fato um impacto profundo, o Exército teria de permanecer um longo tempo à frente da segurança pública no Rio.
Em meio a pressões da opinião pública, assessores políticos do presidente Lula já monitoram também cobranças políticas, notadamente do Congresso, para a adoção de medidas mais duras e de caráter estrutural. Além de ações para a área de segurança stricto sensu, os ataques criminosos do início da semana fizeram recrudescer entre os parlamentares discussões em torno da proposta de que o Rio de Janeiro volte a ter o status de capital federal, coexistindo com Brasília. Em 2020, o então deputado federal bolsonarista Daniel Silveira chegou a divulgar a minuta de uma PEC sobre o tema. Mas o projeto não foi protocolado na Câmara. Diante das circunstâncias, o tema reaparece, mais atual e premente do que nunca. Seria uma medida de efeito reparador, na tentativa de fechar as chagas abertas com a transferência da capital. Foi um ato de violência do qual o Rio jamais se recuperou.
Negócios
Casa da Moeda entra na disputa por passaporte da Colômbia
25/10/2023O processo de internacionalização da Casa da Moeda avança na América do Sul. Após as sucessivas encomendas para a produção de cédulas de peso argentino, a empresa está cotada para assumir a impressão dos passaportes da Colômbia. Segundo o RR apurou, autoridades colombianas já consultaram informalmente o governo brasileiro, notadamente o Ministério da Fazenda, sobre a disponibilidade da estatal atender à demanda. O que está sobre a mesa é a possibilidade de um contrato da ordem de US$ 140 milhões. Consultada pelo RR, a Casa da Moeda informou que “ainda não houve negociação direta com a Colômbia, mas que está nos planos estratégicos da empresa ampliar a contratação de seus produtos internacionalmente”.
O acordo com a Colômbia atenderia a duas premissas da estratégia do governo Lula para a Casa da Moeda. A primeira delas é ampliar o escopo de serviços da estatal, reduzindo sua dependência em relação à produção de cédulas, um negócio cadente em todo o mundo – conforme o RR já informou. Há também uma preocupação em aumentar as receitas da Casa da Moeda em dólar. A empresa tem um expressivo descasamento cambial. Atualmente, as vendas para o exterior representam menos de 15% do seu faturamento total. Em contrapartida, os custos em moeda estrangeira correspondem a mais de 40% dos gastos com fornecedores.
Em tempo: a contratação da Casa da Moeda do Brasil seria uma solução, digamos assim, neutra e, sob certo aspecto, cleaner para o governo da Colômbia. A licitação para a produção dos novos passaportes tornou-se um escândalo no país vizinho, eivada de suspeições. A concorrência estava marcada para o último dia 13 de setembro, mas as autoridades colombianas decidiram suspender a operação pressionadas por denúncias de irregularidades e favorecimento à “eterna” Thomas Greg & Sons. A companhia é responsável pela impressão dos documentos há 17 anos. Originalmente, diversas outras empresas entraram na disputa, como Thales Colombia, Cadena, Consorcio STC e Veridos México. No entanto, um a um, os demais concorrentes foram se retirando da licitação devido às condições impostas no edital. No fim, apenas um candidato atendia a todas as exigências e se manteve na licitação: a Thomas Greg & Sons. Nada muito diferente de suspeições que pairam sobre o grupo também no Brasil. A Thomas Greg & Sons faz parte de uma lista de sete empresas investigadas pelo Cade por suposta formação de cartel no mercado de impressões gráficas em contratos públicos. Outro caso rumoroso ocorreu no Amazonas. Em janeiro deste ano, o TJ-AM suspendeu uma concorrência vencida pela companhia para a produção de carteiras de identidade. A Corte identificou “indícios de fraude” e “possível dano ao erário” na licitação.
Governo
Juros do consignado: Governo avalia suspender reunião do Conselho de Previdência
10/10/2023Circula desde o início da tarde em Brasília a informação de que o governo poderá suspender a reunião do Conselho Nacional de Previdência Social (CNPS) marcada para amanhã. A pauta é a polêmica definição do novo teto de juros para os empréstimos consignados a aposentados e pensionistas do INSS. A proposta de adiamento teria partido do Ministério da Fazenda. A ideia é que o encontro ocorra apenas na primeira semana de novembro. Com isso, o teto dos juros do consignado permaneceria congelado até a próxima reunião do Copom, em 31 de outubro, como querem as instituições financeiras. A possibilidade de suspensão da reunião de amanhã provoca divisões no governo. O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, é contra. Lupi, como se sabe, prega a redução dos juros do consignado de 1,91% para 1,84%.
Governo
Ministro da Agricultura faz “cashback” para o Congresso
11/09/2023O ministro da Fazenda, Carlos Fávaro, não só levou um puxão de orelhas do Palácio do Planalto como será obrigado a fazer uma pirueta orçamentária para aplacar a insatisfação do Centrão. Nos próximos dias, Fávaro terá de transferir para a Câmara dos Deputado cerca de R$ 127 milhões. O dinheiro sairá da cota à que o Congresso tem direito sobre o orçamento de cada Ministério. É o preço que Fávaro terá de pagar, fora o constrangimento e desgaste político, por mexer em um dinheiro que não era seu.
O ministro da Agricultura avançou sobre emendas parlamentares da Pasta no afã de transferir recursos a sete municípios do Mato Grosso, seu latifúndio eleitoral. Dos R$ 127 milhões, mais de um terço (R$ 47 milhões) foi destinado às cidades de Canarana e Campo Verde, não por coincidência áreas onde estão fazendas de propriedade de Eraí Maggi, padrinho político de Fávaro.
Governo
Receita Federal e PF disputam com o Centrão “comando” das apostas esportivas
6/09/2023Como se não bastasse o apetite do Centrão pelo cargo, a escolha do futuro “xerife” das apostas esportivas tornou-se objeto de disputa entre dois dos mais influentes grupos de poder do aparelho de Estado. De um lado, a Receita; do outro, a Polícia Federal. As duas categorias têm se movimentado dentro do governo com o intuito de “comandar” a nova Secretaria Nacional de Prêmios e Apostas, que será criada pelo Ministério da Fazenda para fiscalizar e regular o sistema de “bets” no país.
Por meio do Sindifisco, auditores fiscais já teriam encaminhado ao ministro Fernando Haddad duas indicações para o posto: Dão Real Pereira dos Santos, Kleber Cabral, funcionários de carreira da Receita. A categoria alega que a Secretaria não apenas ficará debaixo da Fazenda como será um órgão correlato ao próprio Fisco, o que justificaria a presença de um auditor em sua chefia. Por sua vez, delegados da Polícia Federal têm feito gestões junto ao ministro da Justiça, Flavio Dino, para que ele interceda e trabalhe pela indicação de um representante da corporação.
A PF puxa a brasa para a sua sardinha, usando como argumento que o principal papel da Secretaria será o combate a crimes financeiros e lavagem de dinheiro por meio de apostas, em conjunto com a corporação. A categoria faz campanha pela indicação do delegado Sergio Busato, que tem atuado junto ao Congresso na CPI das Apostas Esportivas.
Receita e Polícia Federal entraram em uma disputa inglória, como é qualquer confronto com o Centrão. O PP, de Arthur Lira, quer jogar a futura Secretaria Nacional de Prêmios e Apostas no caldeirão da reforma ministerial, tirando o novo órgão do Ministério da Fazenda e levando-o para a Pasta dos Esportes. O próprio ministro Fernando Haddad resiste ao assédio do Centrão e tenta manter a Secretaria sob a sua alçada.
Política
Claudio Castro e governo federal acertam os ponteiros da recuperação fiscal
1/09/2023Nem os nove anos do acordo original e nem os 15 anos que chegaram a ser colocados sobre a mesa de negociação: o governador Claudio Castro e o Ministério da Fazenda estão prestes a fechar questão e esticar para 12 anos o prazo para o estado do Rio de Janeiro sair do Regime de Recuperação Fiscal (RRF). O acordo está em linha com as mudanças que a equipe econômica pretende fazer nas regras do RRF, ampliando o tempo de permanência no programa especial. A dívida pública do Rio gira em torno dos R$ 180 bilhões.
Em contato com o RR, a Secretaria de Fazenda do Rio confirmou que o “o Governo do Estado e o Ministério da Fazenda estão em tratativas para rever pontos do RRF”. Perguntada especificamente sobre o prazo do acordo, a Secretaria não se manifestou. Segundo dados oficiais, “desde a homologação do novo RRF, em junho de 2022, até o final de junho de 2023, o Rio pagou R$ 3,6 bilhões de dívida e foi compensado em R$ 421,98 milhões, decorrente das perdas de arrecadação motivadas pela redução do ICMS prevista nas Leis Complementares 192/2022 e 194/2022.” Ainda de acordo com a Secretaria de Fazenda, “até o fim deste ano, a previsão é que o Estado pague mais R$ 1,3 bilhão”.
Governo
Paulo Caffarelli é o nome novo na disputa pela presidência da Caixa
28/08/2023Há uma nova carta para embaralhar ainda mais a disputa pela Caixa Econômica: nos últimos dias, o nome de Paulo Caffarelli circula no Palácio do Planalto como um forte candidato a assumir o comando do banco. Caffarelli, funcionário de carreira do Banco do Brasil, tem apoios dentro do PT e do MDB, partidos nos quais sempre circulou com desenvoltura. No primeiro mandato de Dilma Rousseff, ocupou a secretaria executiva do Ministério da Fazenda durante a gestão de Guido Mantega; no governo Temer, foi presidente do BB. Por sinal, línguas ferinas no PT dizem que o próprio Mantega seria o maior interessado em emplacar o ex-colaborador na Caixa Econômica, no lugar de Rita Serrano. Recentemente, o nome do Caffarelli chegou a ser cogitado em Brasília para a presidência da Vale, cargo cobiçado pelo próprio Mantega.
Destaque
Governo Lula já vislumbra que o “Desenrola Brasil” veio para ficar
4/08/2023O “Desenrola Brasil” é o novo Bolsa Família. De acordo com discussões já travadas no Ministério da Fazenda, a ideia do governo Lula é transformar o programa de renegociação de dívidas em uma iniciativa “permanente”, e não somente em uma medida de tiro curto. Mesmo porque há um entendimento de que o próprio “Desenrola” vai gerar uma espécie de moto contínuo, a ser administrado no tempo. A “desnegativação” do nome sujo na praça permitirá que o beneficiado volte a ter crédito e retome seu poder de compra, o que, automaticamente, à medida que mais pessoas forem favorecidas, trará a reboque o risco de um repique na inadimplência.
Trata-se de um efeito colateral quase inexorável, na visão da equipe econômica um “custo marginal” vis-à-vis o impacto positivo do programa sobre o consumo, notadamente de bens duráveis, e o fomento da economia. É justamente a principal motivação para que o “Desenrola” passe a ser “permanente”, dado o seu caráter pró-cíclico e contracíclico. O governo poderá gerir o intervalo entre esses ciclos de aumento do consumo e eventual crescimento dos índices de inadimplência, inclusive com a possibilidade de dosar o alcance do benefício. Na primeira fase, por exemplo, o “Desenrola” mirou naqueles com dívida de até R$ 100 em 31 de dezembro do ano passado.
A comparação com o Bolsa Família, que aparece nas próprias conversas internas na Fazenda e no Palácio do Planalto, é alimentada pelo peso político do “Desenrola”. Os futuros governos estarão quase que algemados à iniciativa. A exemplo do Bolsa Família, a leitura é que dificilmente um presidente, seja quem for, assumirá o custo de acabar com o programa de renegociação de débitos. Some-se a isso o fato de que o “Desenrola” é um presente para a banca e para o varejo. Em sua largada, mais de seis milhões de dívidas foram “desnegativadas”. É gente que gradativamente vai voltar ao mercado de crédito e aos balcões do varejo.
Destaque
Bons ventos da economia levam Haddad até Nova York
3/08/2023Fernando Haddad já arrefeceu a desconfiança da Faria Lima. Agora, terá a oportunidade de fazer o mesmo com Wall Street. De acordo com informações provindas do Ministério da Fazenda, investidores estão organizando uma agenda de encontros de Haddad em Nova York. A ida aos Estados Unidos deverá se dar após a votação do arcabouço fiscal na Câmara, prevista para ocorrer até a segunda semana de agosto. Trata-se de um movimento eivado de simbolismo. Seria a primeira viagem internacional do ministro da Fazenda após a recente elevação do rating do país pela Fitch – informação antecipada com exclusividade pelo RR. Não poderia haver momento mais propício para o tête-à-tête. Além da melhora da nota de crédito do Brasil, Haddad terá a chance de capitalizar também outras importantes conquistas do governo na área econômica, a exemplo da própria aprovação do arcabouço fiscal e da reforma tributária. Como se não bastasse, o ministro chegará a Nova York embalado pelo aumento das projeções para o PIB. O FMI já elevou sua estimativa de 1,2% para 2,1%, além de elogiar a política econômica brasileira.
Fernando Haddad deverá aproveitar a viagem para mitigar dúvidas que ainda persistem em relação à economia brasileira. A reforma tributária em suas duas fases – a atual, sobre o consumo, e a próxima etapa, focada na renda – ainda enseja interrogações. Apesar dos inequívocos sinais de melhora e do avanço em medidas estruturantes nos sete primeiros meses do governo Lula, os indicadores mostram que os investidores estrangeiros ainda mantêm alguma dose de receio. De acordo com o Banco Central, o IDP (investimento direto no país) somou US$ 31,6 bilhões no primeiro semestre deste ano, ou seja, uma queda nominal (sem correção pela inflação) de 26,7% em comparação ao mesmo intervalo em 2022. De qualquer forma, Haddad passa a ser o primeiro-ministro da Fazenda celebrado pela banca estrangeira com 200 dias no governo.
Economia
CEBDS pede desenvolvimento sustentável em cima dos gastos do governo
31/07/2023Há uma contradição ou trade off quando se trata da relação dos empresários com o governo em relação à ladainha do corte de gastos. Na última quinta-feira, a presidente do CEBDS, Marina Grossi, se reuniu com Fernando Haddad para apresentar uma série de propostas a serem incluídas no “pacote verde”, o plano do Ministério da Fazenda para estimular o desenvolvimento sustentável. Sim, agora todos têm um plano verde: o Ministério do Meio Ambiente e Mudança de Clima, o Planejamento e Orçamento, as Minas e Energia, Agricultura e Pecuária, e outros. Marina pede apoio ao governo em um tema que não envolve gastos públicos: regulação do mercado de carbono e definição da taxionomia verde. Matérias, aliás, em que o CEBDS já deveria ter feito o dever de casa, levando minutas detalhadas do que pretende das regulamentações. Mas o ponto não é esse. No restante, pede criação de programas de pagamentos por serviços ambientais; investimentos em inovações verdes; recursos para infraestrutura verde e saneamento e apoio creditício de toda ordem. Vá lá que o meio ambiente é transversal a todos os setores da economia. Mas Marina Grossi repetiu o que 10 em 10 representantes das associações do empresariado fazem quando vão à Fazenda: pedem mais recursos para suas áreas de interesse. A equação entre redução do déficit público e o pantagruelismo empresarial pelo dinheiro do governo não fecha.
Economia
Relatório da CNI alimenta o coro do governo pela queda dos juros
31/07/2023A Confederação Nacional da Indústria (CNI) acabou de soltar uma sondagem fresquinha sobre a performance da indústria da construção no mês de junho. O relatório foi direto para o staff dos ministros da Fazenda e da Indústria e Comércio, respectivamente, Fernando Haddad e Geraldo Alckmin, os mais sensíveis à principal causa apontada pelos empresários para a estagnação do setor: a elevada taxa de juros, que, em ambiente de crédito restritivo, atinge a saúde financeira das empresas. Em segundo lugar, mas relativamente bem abaixo, estão a elevada carga tributária e a burocracia excessiva, ambas com caráter mais estrutural e sem prazo de solução. Os relatórios da CNI são enviados sempre para as equipes dos ministérios. Pelo menos na Fazenda, o paper normalmente é visto como uma commodity. Desta vez, no entanto, o RR ouviu que o documento foi considerado o subsídio da hora.
A sondagem revela que as expectativas dos industriais da construção civil melhora para o próximo trimestre. Mas não diz quanto. A Selic poderia cair 0,7 pp ou 1 pp. O governo quer bem mais. O documento serve como mais um argumento para Haddad soltar alguns murros no Copom, que tem reunião nesta semana, e para Alckmin, com seus apelos suaves, dar alguns piparotes no colegiado do Comitê. Eventualmente, o próprio Lula deve dar uma cacetada daquelas no seu melhor estilo. Se a construção puder subir um pouquinho, são grandes as possibilidades de o desemprego romper a barreira dos 8% – um índice já excepcional, considerando os últimos quatro anos – e ingressar na faixa dos 7%
Destaque
Casa da Moeda terá um novo valor no governo Lula
31/07/2023No que depender do arco de propostas em estudo no Ministério da Fazenda para alargar o raio de atuação da Casa da Moeda, a estatal pode voltar a ser o potentado que já foi um dia. Um dos projetos sobre a mesa soa como uma maviosa canção para Lula e Marina Silva. Trata-se da criação de uma espécie de certificado de sustentabilidade, um selo a ser aplicado em embalagens de produtos de consumo, atestando o cumprimento das melhores práticas ao longo de toda a cadeia de produção. No entendimento do governo, além da tecnologia própria, a Casa da Moeda teria autoridade suficiente para ser essa certificadora. Para não falar da notória qualificação do seu corpo técnico.
As discussões travadas no Ministério da Fazenda passam também por ampliar os serviços da estatal em rastreabilidade. Na Pasta, há quem vislumbre, inclusive, um entroncamento entre o upgrade da Casa da Moeda e a reforma tributária. Com a iminente criação do chamado “imposto do pecado”, a estatal pode vir a ser uma valiosa parceira da Receita Federal para rastrear bebidas alcoólicas e cigarros, itens que muito provavelmente estarão entre os atingidos pelo novo tributo. Ressalte-se que, no passado recente, a Casa da Moeda foi a responsável pelo Sicobe, uma ferramenta de acompanhamento da produção de bebidas. O serviço vigorou entre 2008 e 2016. No governo Temer, foi suspenso pela Receita Federal sem muita explicação. Na ocasião, a Casa da Moeda acenou com o lançamento de uma tecnologia substituta, o que nunca ocorreu. Ressalte-se que o Sicobe deixou saudade na estatal: em determinado momento, o serviço chegou a ser responsável por mais de 60% da receita da empresa – em 2015, rendeu mais de R$ 1,5 bilhão em faturamento.
A ideia do governo é que a Casa da Moeda passe a ter um papel transversal dentro da estrutura de Estado, participando de projetos estratégicos em diversas esferas do governo, alguns dos quais já em curso. É o caso do Real Digital, a versão tokenizada da moeda brasileira, cujo projeto-piloto está sendo tocado pelo Banco Central em parceria com 16 instituições financeiras. No governo, há o entendimento também de que a Casa da Moeda deve ser uma peça-chave na implantação da nova Carteira de Identidade Nacional (CIN), a cargo do Ministério da Gestão e Inovação. Nesse caso, a proposta é que a estatal forme consórcios com empresas privadas com o objetivo de disputar contratos para a produção do documento – as licitações são de competência dos governos estaduais. A medida teria o efeito de corrigir uma estranha herança deixada pela gestão Bolsonaro. No fim do ano passado, a Câmara Executiva Federal de Identificação do Cidadão (Cefic), então subordinada à Secretaria Geral da Presidência, proibiu a formação de consórcios para a elaboração da CIN. Pelas regras, as empresas responsáveis pela confecção da nova identidade teriam de dominar todas as etapas de produção. As normas causaram perplexidade dentro do próprio governo, uma vez que alijavam a Casa da Moeda da operação. Além disso, há apenas duas companhias privadas no país que seriam capazes de atender a todos os requisitos.
Os estudos para a repaginação da Casa da Moeda partem da premissa de que a estatal tende a ser uma espécie em extinção caso permaneça majoritariamente concentrada na impressão de cédulas. A decadência desse setor é inexorável, por dois motivos principais: a brutal queda da circulação de dinheiro em espécie e a maior durabilidade das notas, por conta dos novos materiais e tecnologias empregados. Um exemplo didático do definhamento desse negócio vem daquela que é considerada a maior “Casa da Moeda” do mundo. A britânica De La Rue, que é responsável pela impressão das notas de libra e esterlina e mantém parceria com governos e bancos centrais de mais de 140 países, vem reportando seguidas quedas de rentabilidade. Em recente comunicado ao mercado, o grupo informou que a demanda por cédulas está nos níveis mais baixos em mais de 20 anos.
A Casa da Moeda do Brasil vai em uma toada ainda pior. Nos últimos anos, a estatal tornou-se uma linha de montagem de prejuízos. Entre 2017 e 2020, as perdas somadas chegaram a R$ 545 milhões. A empresa voltou a ter lucro em 2021 e 2022, mas os ganhos foram modestos – respectivamente R$ 30 milhões e R$ 23 milhões. No ano passado, o faturamento da Casa da Moeda subiu 15%, chegando a R$ 1,3 bilhão – muito em função das encomendas do governo argentino para a produção de cédulas de pesos. Ainda assim, olhando-se para um período mais longo, as receitas da Casa da Moeda são cadentes. Em 2016, a estatal chegou a faturar mais de R$ 2,6 bilhões.
Política
Haddad precisa resistir à repetição do velho “clubinho” unicampinense
27/07/2023Fernando Haddad, que é um dos maiores achados para o Ministério da Fazenda desde Antônio Palocci – Paulo Guedes, apesar do excesso de convicção e histrionismos, também teve seus bons momentos, vide a reforma da Previdência – corre o risco de repetir o governo Dilma e formar na sua equipe econômica um “clubinho” de economistas deserdados. Deserdados porque todos erraram nos diagnósticos e recomendaram e/ou implementaram medidas fundamentadas nos seus próprios equívocos de interpretação. Por isso, foram colocados ao relento das funções executivas e perderam o pouco prestígio que tinham na academia. A ratificação do economista Marcio Pochmann na presidência do IBGE por Fernando Haddad denota uma rachadura na intocável performance do ministro até agora. Se havia dúvidas em relação à formação do “clubinho”, elas estão sendo dissipadas.
Pochmann, que não tem nada a ver com estatísticas e apresenta um viés ideológico bastante acentuado, corre o risco de desacreditar o órgão, noves fora a fortíssima probabilidade de aparelhá-lo. Ele foi aluno de Luíz Gonzaga Belluzzo, primo de Guilherme Mello , secretário executivo de Política Econômica de Haddad e amigo de Gabriel Galípolo, que escreveu um livro a quatro mãos com Belluzzo, que participa da articulação (com Gleisi Hoffmann) para achar um lugar para Guido Mantega em algum órgão da Fazenda ou cercanias; Mantega, por sua vez, tem relações de afetividade com Ricardo Carneiro – um esquecido colaborador, professor titular da Universidade de Campinas -, que participou de vários comitês de campanha de Lula para montagem dos programas econômicos. Todos, por outro lado, têm estima e carinho pela economista Laura Carvalho, professora da FEA-USP queridíssima, uma menina, com seus 39 anos, em meio aos macróbios barões unicampinenses. Laura ainda não encontrou o seu lugar nessa dança das cadeiras onde todos terminam sentados. Mas vai encontrar.
E daí volta para a matriz do “clubinho”, ou seja, o universal Belluzzo, uma espécie de xamã unicampinense que Lula já quis por várias vezes tornar presidente do BC e é responsável pela aproximação do secretário do Tesouro, Rogerio Ceron, de Fernando Haddad. Ceron escreveu três livros em parceria com Belluzzo. É um círculo vicioso carcomido por profissionais condenados, no mínimo, pela conivência com Febeapá econômico que assolou o país. Velhos hábitos são difíceis de serem mudados.
Para não cometer injustiças, vale lembrar que muita gente dos dois lados das fronteiras ideológicas, de fora do “clubinho”, também bateu cabeça na política econômica. No momento, é importante blindar Haddad dessa ofensiva de velhos amigos, dissuadi-lo dessa lealdade infeliz ou mesmo convencê-lo de que remontar o “clubinho” é um chute no próprio pé. Já está de bom tamanho. Se quiser trazer mais técnicos à esquerda para seu Ministério que o faça. Mas traga gente nova, arejada, de fora da pauliceia, evitando abrir espaço para um grupo um tanto obscurantista, que deixou uma herança de desacertos nas diversas incursões feitas pela política econômica. Como dizia o velho Eliezer Batista, “Às vezes eles até pensam bem, derivam com criatividade, mas, como erram a gestalt, o que se vê é a repetição das mesmas ideias adornadas com bijuterias intelectuais desconformes”.
De tudo o que foi dito, o RR tem uma informação firme em relação ao “clubinho”: está sendo procurado rapidamente um cargo para Guido Mantega, que pode ser até o IPEA, motivo de rusga da ministra Simone Tebet, com o ministro da Casa Civil, Rui Costa, e o próprio Haddad. Ou ainda a Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos. Mas o vacilo maior foi de Tebet. A ministra levou a presidenta do Ipea, Luciana Servo, a dar um tiro na reforma tributária quase aprovada, dizendo que teremos o maior IVA do mundo (https://relatorioreservado.com.br/noticias/rui-costa-nao-engole-o-gol-contra-de-simone-tebet/). Ainda bem que o tiro passou de raspão. Mas, com o disparo, Mantega tem mais chance de se aboletar no Ipea.
Negócios
Fantasy game é a nova aposta de investidores internacionais no Brasil
24/07/2023A iminente regulamentação das apostas eletrônicas no Brasil começa a atrair negócios paralelos, com razoável potencial de aumentar um pouco mais a arrecadação fiscal, como tanto quer a equipe econômica. A SCCG Management, sediada em Las Vegas, estaria desembarcando no Brasil para investir em projetos conjuntos com casas de apostas. Um dos alvos é o desenvolvimento de fantasy games, segmento que também está prestes a ser regulamentado pelo Ministério da Fazenda. A SCCG já tem negócios na área por meio de um de seus fundos, SCCG Venture Fund I. Há pelo menos 25 empresas de fantasy games no Brasil, a maioria startup. Trata-se de um mercado que movimentou mais de US$ 1,5 bilhão na América Latina no ano passado.
Política
Tarcísio inicia road show pré-eleitoral no exterior bem ao estilo de Lula
7/07/2023Tarcísio de Freitas iniciou sua campanha à Presidência da República. O vídeo em que aparece sob vaias de “bolsonaristas” em uma reunião do PL, na última quinta-feira, representa simbolicamente o lançamento da sua candidatura. A cena mimetiza os movimentos políticos que vêm sendo cuidadosamente feitos pelo governador de São Paulo. De forma pragmática, Tarcísio tem se distanciado do radicalismo de Jair Bolsonaro, em um processo de higienização que o credencia a ser a segunda via na eleição de 2026. O ex-ministro da Infraestrutura está pavimentando o caminho para ser o candidato capaz de amalgamar o centro e a dita direta civilizada, além de alguns “fanáticos ma non troppo” ainda vinculados a Bolsonaro. E a construção da candidatura mira, desde já, tanto o front interno quanto externo. Tarcísio confidenciou a assessores a intenção de iniciar, no ano que vem, um giro de viagens internacionais. Vai correr o mundo com o chapéu de governante responsável pelo segundo maior PIB do Brasil, com o discurso para boi dormir que vai passar o pires junto aos gringos para trazer investimentos diretos para São Paulo.
Há um aspecto importante a ser considerado do ponto de vista, digamos assim, geopolítico: o fortalecimento do nome de Tarcísio Freitas puxa quase que definitivamente a disputa presidencial de 2026 para dentro de São Paulo. Lula chegará à disputa eleitoral às vésperas de completar 81 anos. Sempre haverá a tentação de poder e a hipótese de o presidente entrar em 2026 com expressivos índices de popularidade. Hoje, no entanto, o mais provável é que ele use esse cacife para fazer seu sucessor. E os dois principais candidatos a candidatos estão também na Paulicéia, cada qual com seus respectivos handicaps. Fernando Haddad está algumas jardas à frente de todos. Além da condição de petista raiz, é o cara do momento. A aprovação da reforma tributária e do novo arcabouço fiscal o colocarão em um patamar mais alto, inclusive junto à Faria Lima, que, de primeira, torceu o nariz para a sua nomeação como ministro. Um PIB médio em torno de 3% – e as mais recentes projeções mostram que essa é uma hipótese exequível – e o apoio de Lula transformariam Haddad em um supercandidato. Por outro lado, a inevitável indexação à economia pode cobrar seu preço, se algo der errado pelo caminho. Na atual circunstância, Haddad tem que andar na sombra das eleições de 2026. Primeiramente para não melindrar Lula, o orixá do seu partido, e segundo porque está preso à algema de ouro do Ministério da Fazenda, que pode, dependendo da sua performance, ser um grande, senão o seu maior cabo eleitoral.
O outro nome que eventualmente pode vir a enfrentar Tarcísio Freitas em 2026 com o apoio de Lula é Geraldo Alckmin, que tem capitalizado cada vez mais sua dupla jornada de trabalho no governo. O vice-presidente e ministro já recebeu a indústria como capitania hereditária, o que, na prática, significa ser o “donatário” do empresariado paulista. Alckmin afagou as montadoras com carinhos e subsídios para a venda de carros populares. E ontem anunciou um pacote de mais de R$ 100 bilhões para o setor industrial, boa parte dos recursos vinculados a investimentos em inovação e transição energética. Se o gabinete de Tarcísio está a 9,7 km da Fiesp, Alckmin está a um telefonema do BNDES.
E Jair Bolsonaro? O ex-presidente, agora inelegível, é quem parece estar mais disposto a antecipar a disputa eleitoral de 2026, como se fosse possível fazer dela o terceiro turno de 2022. Bolsonaro tem como principal ativo político um contingente mais extremado do eleitorado. A parcela menos radical tende a migrar para Tarcísio de Freitas, que vai disputar o eleitorado do centro e lulistas de ocasião, leia-se aqueles que votaram no petista em 2022 para apear Bolsonaro da Presidência. Com a hipótese Tarcísio já escorrendo entre os dedos, Michelle Bolsonaro desponta como a carta mais valiosa nas mãos do ex-presidente. Enquanto o PL tenta inflar a possível candidatura Michelle, restaria a Bolsonaro torcer para que Lula faça um governo desastroso ou esperar por algum fato novo e grave, algo que não aparece em qualquer previsão meteorológica.
Governo
O nome da Fazenda para as apostas eletrônicas
7/07/2023José Francisco Manssur, assessor especial de Fernando Haddad, é o nome mais cotado no Ministério da Fazenda para assumir a futura Secretaria de Jogos e Loterias. O órgão será responsável por regular e fiscalizar a atuação das plataformas de apostas esportivas no país. Será uma função de razoável importância em relação ao esforço do governo para aumentar a arrecadação fiscal. Na equipe de Haddad, a estimativa é que o setor de apostas eletrônicas gere uma receita tributária de até R$ 6 bilhões já no primeiro ano. O que se diz no setor é que Manssur é também o candidato preferido dos próprios sites. O assessor de Haddad tem conduzido as negociações em torno da regulamentação das apostas no Brasil.
Destaque
A comédia de Lula com o BC de comédia não tem nada
7/07/2023O presidente Lula, por desígnios do destino, mais fortuna do que virtù, pode faturar dobrado a mudança do horizonte de aferição da meta de inflação, a queda da taxa de juros e, finalmente, um IPCA mais comportado e dentro da margem de tolerância (4,75%), no final do ano. Os juros devem cair, mesmo que pouco. O Focus dessa semana prevê uma Selic de 12% em dezembro, mas já há instituições financeiras projetando uma taxa de 11%. É um índice extremamente alto, mas de serventia na arena política. O suficiente para o presidente provavelmente dizer que venceu o braço de ferro com Campos Neto. A guerra pelo aumento da meta de inflação Lula não ganhou, mas mudou a temporalidade, o que permite, com jeitinho, dizer que teve mais uma vitória contra o “BC do Bolsonaro”. Se der o samba que promete, o presidente vai tirar uma onda porque conseguiu o que seu antecessor tentou e não teve êxito – apesar dos méritos pelos atuais feitos, na maior parte, pertencerem à política monetária efetuada na gestão do ex-presidente.
O terceiro ato tem muito mais ressonância: é a inflação ficar dentro da meta em dezembro deste ano. A conquista é positiva por si só, mas ela soma em dobro, pois tem efeito simbólico de forte impacto político: a redução da carestia. Lula vai dizer que domou o monstro remarcador de preços. É uma inverdade, mas vai dizer. No quesito inflação, Bolsonaro e Campos Neto entrarão juntos na roda. Ambos receberão cocorotes em dosagem correspondente à importância que têm no jogo da política. O presidente do BC teve de assinar duas cartas de desculpas ao Congresso pelo não cumprimento da meta de inflação, todas, é claro, no governo Bolsonaro. Ou seja: precisou pedir arrego ao Parlamento nos atípicos anos de 2021 e 2022, período da pandemia. Mas Lula sempre poderá dizer que Bolsonaro somente cumpriu as outras duas metas, nos anos de 2019 e 2020, devido às margens de tolerância mais altas, respectivamente, 5,75% e 5,5%. E poderá dizer também que ele ficou com os ossos de bandas superiores das metas de 4,75%, neste ano, e 4,50%, em 2024.
Ainda existe a possibilidade de a fatura de Lula ser acrescida de um imprevisto crescimento do PIB de 3%, em 2023, conforme a expectativa do secretário de política econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello. No início do ano, a previsão era de um aumento de apenas 0,8%. Depois a estimativa foi corrigida um pouquinho, para 1,2%. Agora o BC subiu o sarrafo para 2%. O diretor do FGV Ibre, Luiz Schymura, acha factível ser maior. Por que não? Ele lembra, conforme artigo publicado na última terça-feira no Valor Econômico, que, em 2022, a projeção inicial de elevação do PIB era de pífio 0,3%, e o crescimento verificado fechou em notáveis 2,9%. Previsão do PIB é um exercício de grande imprevisibilidade. Mas o show do agrobusiness e a gastança do governo ajudam a acreditar que os 3% do PIB estão na caçapa neste final de ano.
Se o crescimento da economia for nesse patamar, o que cada vez mais parece que vai acontecer, Lula fatura também em duas variáveis bastante vinculadas à política monetária: a dívida bruta pública interna e o resultado primário das contas públicas. Na lei orçamentária, o governo tinha previsto um déficit primário de 2,2% em relação a um PIB 2,5%. O que se dizia na ocasião é que seria no mínimo improvável alcançar essa projeção de crescimento da economia contida no PLOA. Hoje, no mercado se considera que chegar ao percentual de 2,5% não é nada demais. O Ministério da Fazenda já revisou sua projeção de déficit primário para 1% neste ano e não conta nessa alteração com os benefícios de uma reforma tributária e da aprovação do arcabouço fiscal. Se o PIB subir para 3% ou até um tiquinho mais, também, em grande parte, devido à sorte do presidente – e ao fato de Bolsonaro ter contribuído com a parte dura da tarefa – o déficit primário pode ficar próximo de zero, em dezembro. Fernando Haddad promete, formalmente, zerar o déficit só em 2024. Mas um número tão baixo, neste ano, não estava no radar do mercado.
A dívida bruta do Brasil vai subir para o equivalente a 73,63% do Produto Interno Bruto (PIB), conforme dados divulgados pelo Banco Central na última sexta-feira. Mas também deve ficar abaixo desta previsão. O crescimento do PIB estimado pelo BC é de 2%. Portanto, é razoavelmente provável que, com o PIB subindo mais, a relação dívida bruta/PIB caia mais neste ano, até porque terá ainda uma ajuda da redução da taxa de juros, que impacta diretamente o custo do passivo interno.
Neste ponto da história em que estamos, o ex-secretário executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, teve sua nomeação como diretor de Política Monetária aprovada na última terça-feira pelo Senado Federal, e além de manda chuva da área, já está sendo empoderado, informalmente, como substituto de Campos Neto em dezembro de 2024, quando termina o mandato do atual presidente do BC. Lula nomeou também o diretor de fiscalização, Ailton Aquino dos Santos. Em 2024, com as mudanças já acertadas e as quatro alterações programadas, o presidente não terá ainda a maioria absoluta da diretoria colegiada do BC, que somente será conquistada em 2025, mas conseguirá a maioria simples. Por mais que todos os diretores tenham sido indicados devido sua competência técnica, o BC independente ficará, no mínimo, levemente inclinado em favor do governo. A elevação da meta de inflação de 3% seria algo para 2025. Isso se o cenário não mudar muito. É muito provável até que daqui para frente o presidente alivie Campos Neto das suas bordoadas. Afinal, está tudo dominado, como se diz na linguagem do funk. Essa é a comédia por trás da política monetária, que de comédia não tem nada.
Destaque
Governo pretende escancarar a “caixa preta” dos incentivos fiscais
20/06/2023A equipe econômica deu um deadline para si própria: vai anunciar quem perderá seus incentivos fiscais no máximo até outubro. Antes, deverá divulgar uma “listona” dos atuais favorecidos, com o nome das empresas, seu CNPJ e o valor do “bombom” recebido do governo em 2022. Somente depois de abrir essas informações será apresentada a relação de cortes, contratos e prazos necessários, conforme companhias/setores para adequação à nova realidade fiscal. Existirão os benefícios suspensos já para 2024, cuja receita entrará no caixa no próximo exercício – o incentivo é um imposto ao contrário. Espera-se que nesse grupo esteja a maioria dos que serão alvejados. Há outro contingente de setores e empresas, em que os incentivos já estavam programados com diferimento no tempo devido às suas peculiaridades – há renúncias, por exemplo, vinculadas a investimentos cuja supressão das vantagens já previstas no budget das empresas levaria a desequilíbrio econômico e financeiro.
O governo quer evitar ao máximo a judicialização dos cortes. Decidido está é que todas as empresas ou setores escolhidos serão enquadrados em um regime tributário com menos desigualdade, zerando ou reduzindo ou incentivos, até o fim do mandato de Lula. O Ministério da Fazenda acredita que o disclosure da “iniciativa privada que come o orçamento federal pela beirada” é um movimento estratégico. Sua função é minar a resistência dos lobbies e do próprio Congresso Nacional. Constranger primeiro para cortar depois, com os critérios mais técnicos possíveis – sabe-se que a questão tem imenso componente político – é o que está fechado até agora. A ver o quanto o governo consegue colocar no bolso.
No empresariado não falta quem desacredite da firmeza dessa decisão, pelo menos em um horizonte tão curto. À exceção da gestão Sarney, todos os governos, com maior ou menor ênfase, tocaram na questão dos incentivos e subsídios, e, paralelamente, o montante das benesses somente foi aumentando. Segundo o líder de uma associação de classe que será afetada, “o Ministério da Fazenda ainda está beliscando o assunto”. Em primeiro lugar, não sabe muito bem nem o estoque nem quem efetivamente recebe os incentivos e subsídios – tal qual o Bolsa Família, há muitas fraudes e favorecimentos indevidos. É preciso apurar o grupo dos incentivados de araque. Há mais dúvidas. Em entrevista concedida em 23 de abril, Fernando Haddad afirmou que o governo estava abrindo mão de R$ 486 bilhões em perdas tributárias; em 29 de abril, esse número passou para R$ 568 bilhões; e, em 31 de maio, a informação é que as renúncias alcançariam R$ 641 bilhões. Isto significa que em 38 dias o valor variou R$ 155 bilhões. Ou seja: o Ministério da Fazenda não sabe o número exato da maior “caixa preta” das contas públicas.
A fonte do RR diz que Lula quer fazer os cortes, mas tem uma pulga atrás da orelha. Se preocupa com a politização excessiva da iniciativa, que a medida seja encarada como um “plano do nós contra eles” ou uma “cruzada contra os ricos”. Um prato cheio para a oposição mais conservadora. Há também a narrativa de que a divulgação da identidade das empresas aquinhoadas pode ser interpretada como uma invasão de privacidade, ou seja, colocadas as imensas diferenças, seria como se o governo estivesse divulgando o número da conta bancária do cidadão e o valor disponível, o que é proibido. Haddad sensibiliza o presidente com o argumento de que o governo corre um risco ao não se proteger na comunicação: ao não dar nome aos bois e aos seus respectivos CNPJs, está ameaçado de deixar a condição de mocinho para se tornar vilão, mesmo junto a parcela dos seus aliados. E não cortar os incentivos ainda inviabilizaria todo o planejamento na área fiscal, a começar pelo arcabouço. O presidente pode ter todos os defeitos, mas não lhe falta intuição. O assunto certamente será ideologizado.
Alguns cuidados já foram acertados: não serão divulgados nomes de pessoas físicas e haverá toda a discrição possível no trato da questão, após a divulgação dos CNPJs e da lista de cortes. Mas a verdade é que há muitos aspectos a serem resolvidos. Serão divulgados os CNPJs de todas as empresas que recebem incentivos fiscais? As companhias dos setores que continuarão recebendo benefícios – a exemplo da Zona Franca de Manaus e grande parte do setor agrícola – serão colocadas nesse mesmo balaio? Vale divulgar as informações das médias empresas? As pequenas serão poupadas, por motivos políticos e econômicos óbvios? Da mesma forma, empresas ou instituições ligadas a ações sociais serão incluídas na lista?
Sabe-se que o governo quer jogar para debaixo do tapete os subsídios creditícios, até porque pretende utilizar esse expediente durante todo o mandato de Lula. De uma certa forma, o incentivo caracterizaria o lado ruim do sistema e o subsídio, o bom. Se for isso, o governo já começou a desfiar seu enredo de forma equivocada. O incentivo à fabricação de carros populares foi a maior mancada de fato – declarações fora de hora e tom e bravatas foram várias – desses pouco mais de 100 dias do governo Lula.
Empresa
Mais um gigante asiático do e-commerce chega ao Brasil
29/05/2023Mais uma grande plataforma asiática de e-commerce prepara sua entrada no Brasil. No rastro da Shein, Shopee e Aliexpress, a chinesa Banggood fez chegar a autoridades brasileiras o interesse de montar uma operação no país. Calejada pela recente crise entre suas concorrentes e o governo, a companhia já iniciou, inclusive, um trabalho de aproximação diplomática com o Ministério da Fazenda, acenando com investimentos. A Banggood fala em montar, na partida, dois grandes centros de distribuição no país. A companhia já vende para clientes brasileiros desde 2014, valendo-se do mesmo expediente por todas as grandes plataformas do setor: milhões de pacotes enviados da China que surfam na incapacidade da Receita Federal de monitorar e fiscalizar essa torrente de encomendas.
Além de afagar o governo, com promessas de investimentos, o desembarque presencial da Banggood no Brasil talvez tenha de ser acompanhado também de ações para melhorar seu capital reputacional entre os próprios clientes. No site Reclame Aqui, por exemplo, a empresa tem uma avaliação de apenas 4,2 (de uma escala que vai de um a dez) e soma somente 31% das queixas resolvidas. Para efeito de comparação, a Shein tem um índice de solução de 68% e um rating de 5,9 entre os consumidores.
Destaque
Simone Tebet planeja lançar sua versão do Plano Nacional de Desenvolvimento
18/05/2023A ministra do Planejamento, Simone Tebet, tem projetos mais ambiciosos do que ficar apenas tocando o cotidiano da Pasta. Tebet vem tentando convencer o presidente Lula a lançar uma espécie de Plano Nacional de Desenvolvimento (PND). A iniciativa permitiria à ministra enfeixar sob a sua regência projetos hoje dispersos em outros ministérios e órgãos da administração federal. Ou seja: ao centralizar a gestão de uma miríade de propostas e programas, Tebet passaria a deter o poder de criar o mapa sobre o futuro da Nação. Hoje, o governo é apoiado pelo IPEA, IBGE, BNDES, as secretarias da Fazenda – e do próprio Planejamento – e a Receita Federal. Ainda tem o comitê estratégico do BNDES, o Conselhão, a Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos, para não falar do projeto de criação do Conselho Superior de Economia da Presidência. Mesmo com toda essa traquitanda, o governo não tem plano, não tem projeto, não tem um horizonte mais bem definido para coisa alguma que não seja a sua quermesse com o Centrão. Tebet quer trazer para si a missão de realizar esse plano.
Simone Tebet era uma menina quando o então ministro do Planejamento, João Paulo dos Reis Velloso, juntou o melhor da Inteligência brasileira no início dos anos 70 para construir a muitas mãos o primeiro Plano Nacional de Desenvolvimento (PND). No Ipea, onde se discutiam as ações, não havia crivo de ideologia, mas de competência. Isso, ressalte-se, na fase mais implacável da ditadura. Contudo, Reis Velloso, com seu jeito meio de monge, segurava o rojão. Os dois PNDs, concordando ou não com o teor, marcaram uma década de investimentos em infraestrutura e reformas profundas, e deram um horizonte ao país. Tebet parece ter intuído que falta algo similar no atual governo.
Para levar seu projeto adiante, Simone Tebet poderia convocar especialistas de várias áreas do poder público, além de nomes da academia, técnicos do setor privado e militares. Tebet juntaria esse povo todo no seu “Projeto Manhattan” do crescimento econômico – alusão ao programa de pesquisa e desenvolvimento que produziu os primeiros artefatos nucleares na Segunda Guerra Mundial. No caso do Brasil, seria uma bomba atômica em relação ao planejamento existente no país. Simone Tebet quer abrir picadas para os novos investimentos, com a redução da insegurança e uma relação de prioridades.
A iniciativa da ministra do Planejamento é pretensiosa. Ela deixaria nas mãos de Lula o que poderia ser o mais próximo de um roteiro de estadista. É compreensível que Simone Tebet queira um upgrade na sua Pasta. Afinal, ela é a ministra do Planejamento sem o planejamento. A despeito das futuras ambições políticas da ministra, seria muito bom a Nação poder não só enxergar suas mazelas, mas qualificar e quantificar seus problemas centrais e buscar uma saída no tempo. É parte expressiva do que o investidor precisa: um guia para alinhar suas expectativas com o futuro de longo prazo que que deveria estar sendo desenhado e avalizado pelo governo.
Economia
Governo já tem script para mudança no BC e queda dos juros
9/05/2023O roteiro para a redução da taxa de juros – não um tiquinho de 0,5 ou 1 ponto percentual, mas algo em torno de dois pontos – ainda neste ano já está escrito. Lula quer essa queda da taxa básica de qualquer forma; o PT está impregnado com essa obsessão; e o próprio Fernando Haddad, mesmo com toda a sua parcimônia, já não esconde que ingressou no bloco da política monetária “dovish”. Todos acima acreditam que o arcabouço fiscal vai funcionar, sem o que os juros “fora do lugar” seriam um suicídio da política econômica no médio prazo. O arcabouço, hoje, é representado por duas bandas: a do governo, que já está dada, conforme visto acima; e a do mercado, que faz cálculos e mais cálculos para demonstrar sua inexequibilidade e explora dúvidas de ordem política para carregar ainda mais nas dúvidas. Essa é a casca do problema. Mas a ordem de encaminhamento dessa redução na marra já tem um script, iniciado, ontem, com a indicação do Secretário Executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, para a diretoria de política monetária do Banco Central. O caminho que o RR identificou, e o seu passo a passo, é o seguinte:
- Galípolo vai para a diretoria de política monetária como abre-alas: entra para criar espaço e pressionar a política monetária por dentro do BC – não esquecer que, contando com ele, até o final do ano serão quatro o número de indicados por Lula para um colegiado de nove diretores:
- Galípolo tem a admiração e confiança de Haddad, e, portanto, caso Campos Neto jogue a toalha, seria um nome forte para a presidência do BC. Mas há uma alternativa, na qual o RR vem martelando, que seria formar um colegiado em sintonia com a política econômica da Fazenda. Galípolo pode ter proeminência nessa diretoria, mas não precisaria ser necessariamente o presidente da autoridade monetária.
- O nome de preferência de Lula, e do PT, conforme o RR já disse e repisou, é do economista André Lara Resende, que, inclusive, é uma espécie de mentor de Galípolo no que diz respeito à política monetária. Lula adoraria ter um projeto heterodoxo que virasse a ortodoxia dos juros pelo avesso. Um “Plano Real” para chamar de seu. De certa forma, o arcabouço fiscal é uma perna do “Plano Real” lulista. A outra está no BC.
- Daqui para frente, de acordo com o RR, vai ser pau puro em cima de Campos Neto, que não sinaliza disposição de jogar a toalha, mas pode muito bem mudar de ideia em junho, quando se reúne o Conselho Monetário Nacional (CMN). Na ocasião será discutida a meta de inflação. O governo tem maioria no CMN. Nove entre 10 integrantes do alto escalão do governo apostam que a meta será alterada e transformada em um alvo de mais longo prazo. Entre eles, há um consenso: não é o aumento da meta que fará a redução dos juros agora; mas é a atual meta estreita que, uma vez mantida, não permitirá a redução dos juros no próximo ano, por exemplo.
- A presidência do BC está apalavrada com André Lara Resende, mas não há nada que impeça um troca-troca entre ele e Galípolo, formando uma siderúrgica dobradinha na instituição. Lara Resende, como se sabe, já foi diretor influente do BC, teve um banco e é um nome vinculado à academia. Atualmente, sua cruzada contra a teoria econômica ortodoxa pode contar muitos pontos no encantamento de Lula, um personagem que sempre remou contra a maré. Mas o principal motivo é que é o único economista com uma racionalização estruturada sobre um novo constructo monetário capaz de fazer os juros “caírem”.
- Há quem aposte que Galípolo entrará no BC para fazer mais do mesmo. O RR duvida, até porque teria de se desdizer em vários pontos das suas declarações recentes. Até pode ser, mas Haddad estaria trocando seis por meia dúzia. Não é impossível. Mas é muito difícil.
Destaque
Haddad quer para ontem nova regulamentação sobre o uso de precatórios
2/05/2023Em um movimento de vai e volta, o Ministério da Fazenda está pressionando a Advocacia-Geral da União para que corra com o prazo de 120 dias previsto para a revisão da Portaria Normativa AGU n°73/2022. Trata-se da instrução que regulamenta a utilização de precatórios na compra de imóveis, quitação de dívidas e pagamento de outorgas. Inicialmente, o governo atual não queria que os precatórios fossem utilizados como moeda para o pagamento do preço de outorga, uma iniciativa praticamente sancionada pelo ex-ministro da Economia, Paulo Guedes. Voltou atrás. O incomodo da Fazenda é com a enorme burocracia que atrasa os processos. Com certeza, o prazo para a regulamentação não ficará nos 120 dias previstos. Um grupo de trabalho formado por representantes dos principais órgãos de direção da AGU será responsável por apresentar ao advogado-geral da União, Jorge Messias, a proposta de nova portaria para regulamentar o assunto no âmbito das instituições. O texto deverá ser compatível não só com a nova estrutura organizacional da AGU, mas também com normas e procedimentos adotados pelo Conselho Nacional de Justiça, bem como refletir outras previsões já adotadas pela Procuradoria Geral da Fazenda Nacional (PGFN), e, eventualmente, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ). As agências reguladoras também querem palpitar no assunto. Enfim, o tema pode virar um rolo difícil de desenrolar.
Na verdade, a regulamentação do uso dos precatórios como pagamento de privatizações, concessões e participação nas PPPs já estava pronta, mas a AGU voltou atrás. Segundo a própria instituição, foi verificado que a “Portaria Normativa AGU nº 73/2022 não oferece densidade normativa suficiente para disciplinar de forma adequada os procedimentos e trâmites internos entre os órgãos da Advocacia-Geral da União e entre órgãos vinculados, uma vez que enfatiza mais as obrigações que o administrado deve observar para utilizar os precatórios como pagamento. A norma não reflete, por exemplo, a atual estrutura interna da AGU, estabelecida pelo Decreto nº 11.328, de 1º de janeiro de 2023, que está vigente desde o dia 24 de janeiro. É aquela história: quem pariu Mateus que o embale. Ou desembale, que é o caso do governo Lula.
Com parcela expressiva correspondente à herança deixada por Paulo Guedes, a dívida com precatórios para este ano vai passar de R$ 74 bilhões, com uma previsão de pagamento de apenas R$ 17,1 bilhões. Não se sabe muito bem o que levou ao governo vetar o uso dos precatórios em pagamentos diretamente à União para a parceria em serviços públicos ou aquisição de ativos. Talvez uma certa implicância ideológica. Primeiro, a atual gestão considerou inadequado o uso de precatórios para o pagamento da prorrogação de concessões. Depois afirmou que os precatórios seriam somente pagos em projetos de curto prazo. A seguir definiu que somente os projetos prioritários (?) poderiam ser amortizados com as dívidas do Estado junto a cidadãos ou empresas por conta de decisão judicial definitiva. Depois acabou vetando tudo. O saldo é que voltou tudo para o colo da AGU.
Com a liberação dos precatórios para pagamento junto a órgãos federais, haveria mais espaço para a redução da dívida pública e menos pressão sobre as contas públicas. Hoje já existe um mercado secundário de precatórios, vitaminado recentemente em função da expectativa de quitação dos negócios com os negócios, digamos assim, junto ao governo. O seu uso permitiria a aceleração de muitas concessões e PPPs – as privatizações estão meio fora do radar do governo Lula. Vale lembrar uma historieta. Foram os chamados títulos podres – os “precatórios” dos anos 90 – que viabilizaram a Embraer, o nosso maior orgulho industrial e tecnológico. O artífice da operação e comprador da empresa, cuja saúde era questionada àquela época, foi o banqueiro Júlio Bozano, um dos responsáveis pela definitiva decolagem da companhia. Bozano ficou podre de rico com a privatização, melhor dizer ficou podrérrimo de rico – bilionário ele já era. Mas isso é um outro capítulo.
Política
Vai ter salário-mínimo no 1º de maio?
20/04/2023Vale do Anhangabaú, dia 1º de maio. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, tem trabalhado junto a Lula a ideia de que esses seriam o cenário e a data ideais para o anúncio da nova política de reajuste do salário-mínimo. O presidente estaria entre os seus: a boa nova seria divulgada durante os eventos em celebração do Dia do Trabalhador, que estão sendo organizados conjuntamente por diversas de centrais sindicais – entre as quais CUT, Força Sindical, e CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadores do Brasil). A questão é ter o que apresentar. O governo corre contra o relógio para formatar uma proposta. Na semana passada, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, disse que o Ministério da Fazenda estuda usar a variação do PIB como indexador do mínimo.
Economia
Fazenda já projeta alta do PIB superior à do governo Bolsonaro
11/04/2023Em conversa antes da reunião de Lula com todos os ministros, ontem, Fernando Haddad animou o presidente com projeções do Ministério da Fazenda sobre a grande probabilidade de o PIB crescer, em 2023, acima da média de 1,5% do governo Bolsonaro. Todos os ministérios estão convocados para a realização de projetos e medidas que impactem positivamente o PIB sem arranhar o fiscal. As iniciativas serão consolidadas pela Fazenda e servirão de guia para projeções consolidadas das ações governamentais em relação ao PIB. Lula quer bater não só Bolsonaro, mas iniciar o primeiro ano de governo respondendo à “herança maldita” do Capitão, com um PIB superior à média dos últimos 20 anos, de 2,2%. A meta para valer, não dita, é superar os 2,9% de crescimento do Produto no último ano de gestão do ex-presidente.
Há cerca de quatro meses essa missão parecia impossível. Falava-se, inclusive, em uma pequena recessão técnica para 2023. Com o arcabouço fiscal e a decisão de que os recursos extraordinários – não previstos no orçamento – serão dirigidos para investimentos, a percepção em relação ao PIB tem gradualmente mudado para melhor. Isso para não falar da temporada de concessões, que deverá se iniciar antes do primeiro semestre. O Focus, cuja mudança das estimativas anda a passos de cágado – essa é a dinâmica natural do Boletim – subiu pela terceira vez a previsão do PIB para este ano. Atualmente está em 0,9%. Levando-se em consideração somente as 39 respostas nos últimos cinco dias úteis, a projeção para o PIB, em 2023, sobe para 1,0%. É devagar, devagarinho, como diz a canção de Martinho da Vila. O FMI também melhorou a estimativa para o crescimento do Brasil: 1,2%, frente a 1% da previsão anterior. O Banco Central seguiu na mesma direção, elevando a projeção do PIB, de 2023, de 1% para 1,2%. O IPEA foi além, e manteve sua estimativa de 1,4%.
Os cenários futuros indicam que as projeções positivas do Ministério da Fazenda para o PIB não são improváveis. Há uma combinação de fatores favoráveis, a saber: sinalização de crescimento da economia global; início do ciclo de queda de juros nos países centrais; apreciação do real; aumento do fluxo cambial para o Brasil; superávits recordes da balança comercial; início do plano de concessões com ênfase nos estados e municípios; envio da reforma tributária ao Congresso; apresentação do programa Desenrola; ações de fomento do BNDES; redução, ainda que paulatina, do índice de preços; e colocação na prática da cesta de projetos do governo voltados para o aumento da renda e do emprego. Falta o BC reduzir os juros. Mas isso vai acontecer de qualquer maneira, logo à frente.
Economia
Belluzzo está com um pé na soleira do Banco Central
11/04/2023Algumas mesas de operação de instituições financeiras de São Paulo abriram os trabalhos nessa terça-feira disparando pelo mercado que o novo diretor de Política Monetária do BC será o economista Luiz Gonzaga Belluzzo. Ele assumiria a vaga de Bruno Serra Fernandes, exonerado pela presidente Lula um mês antes do vencimento do mandato, a seu pedido. Caso se confirme a indicação do economista da Unicamp, o mercado sofrerá um faniquito. A sua eventual nomeação é vista como uma intervenção direta de Lula na autoridade monetária, passando por cima, inclusive, do próprio ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Não que Haddad se sinta melindrado: ele e Belluzzo trocam figurinhas há muito tempo. Ocorre que a opção do ministro para a diretoria de Política Monetária seria o economista Rodolfo Fróes – ex-executivo do Bank of America. Fróes também é o preferido do influente secretário executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo – este último igualmente candidato ao cargo, no que seria um rito de passagem para posteriormente assumir o lugar de Roberto Campos Neto. De preferência antes do fim de 2024, quando expira o primeiro mandato do atual presidente do BC. Com Belluzzo, Galípolo, Guilherme Mello – secretário de Política Econômica do Ministério, que, “por coincidência”, é primo do professor da Unicamp -, juntamente com o secretário do Tesouro, Rogério Ceron, seria constituído o núcleo duríssimo da política econômica.
Fato é que Lula quer há muito tempo o professor Luiz Gonzaga Belluzzo na diretoria do Banco Central. Belluzzo, mesmo com seu jeito de monge, pressionaria Roberto Campos Neto por dentro do BC. Sabe-se que o diretor de Política Monetária é o segundo cargo na hierarquia, abaixo apenas do presidente do Banco Central. Belluzzo politizaria o ambiente inevitavelmente. Ele esteve à frente, entre outras ações, do manifesto dos economistas defendendo a redução imediata da taxa de juros.
Não é de hoje que o seu nome é citado como alternativa para assumir o próprio posto principal da autoridade monetária. No primeiro governo Lula, sempre esteve ali, aguardando na porta de entrada do Banco Central o lugar almejado de presidente da autoridade monetária. Só não foi imposto para o lugar de Henrique Meirelles por um triz. As recentes declarações de Lula de que considera desnecessária a experiência em mercado financeiro para o cargo de diretor do BC, “podendo muito bem ser alguém com sólida formação acadêmica”, têm direção certa. A notícia foi o suficiente para que uns e outros alterassem sua posição nos mercados futuros. Belluzzo faz o maior sentido nessa equação. É parente de primeiro grau da “família da Fazenda”. Mas existe ainda a variável Andre Lara Resende, que também caiu nas graças do presidente. Lara Resende, conforme apurou o RR, já teria sido, inclusive, convidado para a presidência do BC. No momento, Lula é a Dona Flor com seus dois candidatos. Em qualquer dessas hipóteses, o mercado reagirá incomodado. Mesmo ganhando fortunas apostando no fracasso das gestões. Como se sabe o mercado chia, mas nunca perde.
Destaque
Fundo da Marinha Mercante vira entrave à revitalização do setor naval
10/04/2023Os planos do governo Lula de retomar os investimentos na indústria naval enfrentam um obstáculo logo na partida. O Ministério dos Portos e Aeroportos e a Fazenda têm quebrado a cabeça para recompor o orçamento do Fundo da Marinha Mercante (FMM). Ao longo dos últimos anos, o FMM sofreu seguidas mordidas, que dependem de complexas negociações políticas, notadamente com o Congresso, para serem revertidas. A PEC 187/2019, por exemplo, permitiu ao governo federal usar o dinheiro retido nos fundos infraconstitucionais e vinculado a áreas específicas para outras finalidades que não a destinação original. Por sua vez, a mudança na Lei 10.893 reduziu de 25% para 8% o Adicional ao Frente para a Renovação da Marinha Mercante, a fonte básica de recursos para Fundo. Some-se a isso a estratégia do ex-ministro Paulo Guedes de usar o FMM para gerar resultado fiscal – somente em 2021 cerca de R$ 14 bilhões foram transferidos para o Tesouro Nacional. Resultado: a maré baixou como há muito não se via. O saldo disponível do Fundo para empréstimos gira atualmente em torno dos R$ 6 bilhões. Há cerca de quatro anos, essa cifra era de R$ 25 bilhões.
O governo Lula pode até reclamar da herança recebida de seu antecessor. No entanto, parte da paralisia do Fundo da Marinha Mercante se deve também a problemas que já levam a assinatura da atual gestão. Ajudaria, e muito, se o governo conseguisse resolver a acefalia de quadros no Conselho Diretor do Fundo da Marinha Mercante, instância responsável por analisar os pedidos de empréstimo ao FMM. A reunião do colegiado que estava marcada para 23 de março não ocorreu. A princípio, o encontro seria reagendado para abril, mas o que se diz no setor é que antes de maio nada acontecerá. A Medida Provisória que transferiu o CFMM da Pasta da Infraestrutura para o recém-criado Ministério de Portos e Aeroportos simplesmente ignorou o conjunto de servidores. Do contingente de aproximadamente cem funcionários do Departamento de Navegação e Hidrovias, apenas quatro foram transferidos para o novo Ministério. Entre outras atribuições, o órgão é responsável pela formulação e execução das políticas do Fundo da Marinha Mercante. Ou seja: por onde se olha, o FMM está travado. Sequer lembra o Fundo que contribuiu, ao longo da história, para a construção de mais de 600 embarcações e equipamentos no país. Muitas delas na primeira passagem de Lula pela Presidência, quando a indústria naval viveu um duplo apogeu: de investimentos e escândalos de corrupção.
Economia
Governo monitora o humor do mercado em relação ao arcabouço fiscal
4/04/2023O governo está medindo diariamente a temperatura do mercado em relação ao anúncio do novo arcabouço fiscal. É como se tivesse criado o seu próprio Boletim Focus. A equipe econômica tem feito sondagens junto a bancos e grandes assets com o objetivo de aferir a receptividade às medidas divulgadas na semana passada. Os resultados até o momento revelam que as novas regras ainda não foram digeridas pelo mercado. A percepção é que a leitura dos agentes financeiros é eivada de ressalvas e desconfiança. A preocupação do governo pode ser resumida numa frase – segundo o RR apurou – dita pelo secretário executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galipolo, em conversa com outros membros da equipe econômica: “Teremos de explicar mais, mais e mais”. Ressalte-se que Galipolo é egresso do mercado. Ele foi presidente do Banco Fator. Entre os assessores de Haddad, talvez seja aquele com maior capacidade de decodificar as mensagens e humores da Faria Lima.
A preocupação de Fernando Haddad e de seus quadros é amainar o pé atras do mercado antes do anúncio das mordidas tributárias. Não se sabe onde exatamente o governo vai cravar seus caninos; mas está dado que isso acontecerá. As propostas de gravame anunciadas até agora não dão nem para a saída. Por exemplo: segundo estimativas da própria Fazenda, a tributação do e-commerce e das apostas eletrônicas vão gerar uma arrecadação de até R$ 23 bilhões por ano, ou seja, não mais do que 15% dos R$ 150 bilhões em receita extra que o governo terá de arrumar para cumprir a nova regra fiscal.
As percepções captadas pela equipe econômica se refletem na cobertura jornalística. Por meio de uma ferramenta de busca, o RR verificou o sentimento expresso na mídia, que, na prática, em grande medida reproduz o discurso dos agentes financeiros. Entre quinta-feira e ontem, às 20h35, os 30 maiores veículos do êxito Rio, São Paulo e Brasília haviam publicado 1.372 citações ao novo arcabouço fiscal. Termos como “pessimismo”, “preocupação”, “incerteza”, “temor” e “desconfiança” apareceram em 21,1% das citações. Por sua vez, expressões como “otimismo”, “confiança” e “reação positiva” foram identificadas em apenas 15,2% das matérias. Trata-se de uma análise de sentimento absolutamente em cima de números, sem rigor científico. De toda a forma, sugere que o governo terá que gastar mais saliva para convencer o mercado.
Política
Geraldo Alckmin quer ser o “embaixador” da Zona Franca de Manaus
20/03/2023O RR apurou que Geraldo Alckmin, ministro do Desenvolvimento e da Indústria, vai participar da reunião do Conselho de Administração da Suframa, no próximo dia 24 de março. Alckmin quer aproveitar a data para apresentar à indústria local os planos do governo Lula para a Zona Franca de Manaus. O vice-presidente tem se apresentado como uma espécie de embaixador da Zona Franca junto ao Ministério da Fazenda, comprometendo-se a interceder para que não haja uma grande mordida nos benefícios fiscais da região.
Em tempo: uma coincidência de agendas, ressalte-se, pode dar um caráter ainda mais relevante à presença de Alckmin. A viagem de Lula para a China está programada exatamente para o dia 24. Ou seja: Alckmin deve chegar a Manaus como presidente da República em exercício.
Empresa
Um nome de risco na diretoria da Petrobras
10/03/2023A indicação da economista Clarice Coppetti para a diretoria executiva de Relacionamento Institucional e Sustentabilidade da Petrobras já provoca desconforto entre os futuros conselheiros da estatal, a quem caberá referendar ou não a escolha. O nome de Clarice, funcionária de carreira da Caixa Econômica, remete a um passado nebuloso e a um dos maiores escândalos dos governos do PT, o “mensalão”. Em 2005, no primeiro mandato de Lula, surgiram denúncias de participação da economista em um suposto esquema de arrecadação de recursos para o partido montado dentro da Caixa. À época, um relatório da Gerência Nacional de Segurança da própria CEF apontou a existência de fraudes na área de tecnologia que teriam como objetivo encobrir desvios de recursos da instituição. No ano seguinte, quando já ocupava a Vice-Presidência de Tecnologia da Caixa, Clarice teve seu nome envolvido em outro episódio rumoroso. A economista foi acusada de participar da quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Santos Costa, testemunha central do caso do “Mensalão”, notadamente das investigações contra o ex-ministro da Fazenda, Antonio Palocci. As suspeitas jamais foram comprovadas. Ainda assim, pelo currículo de Clarice e por todas as lembranças que a Petrobras evoca, a indicação da economista tem tudo para ser um prato cheio para a oposição.
A área de Relacionamento Institucional e Sustentabilidade é a mais política das diretorias da Petrobras. Lado a lado com o próprio gabinete da presidência da companhia, é responsável direta pela interlocução com autoridades e parlamentares. Clarice Coppetti é um nome de confiança do PT. Além dos cargos que ocupou na Caixa em governos do PT, é casada com Cezar Alvarez, que foi assessor da presidência da República no primeiro mandato de Lula e secretário executivo do Ministério das Comunicações na gestão de Dilma Rousseff. Mais recentemente, Alvarez integrou o Comitê de Transição de Lula exatamente na área de comunicações.
Sob certo aspecto a indicação de um nome tão enraizado no PT como o de Clarice Coppetti representa uma espécie de choque térmico na diretoria de Relacionamento Institucional e Sustentabilidade da Petrobras. Atualmente, a área é comandada por Rafael Chaves, considerado dentro da própria estatal o mais bolsonarista entre todos os diretores da companhia. Chaves se notabilizou pelo vazamento de um vídeo em janeiro de 2022. Em um evento interno da Petrobras, o diretor fez um discurso inflamado sobre a corrupção na empresa “nos tempos do PT”.
Economia
Lula mobiliza todo o governo para ter um PIB superior ao de Bolsonaro
3/03/2023Lula está obsessivo com a obtenção de um crescimento mínimo do PIB, em 2023, de 2,9%, ou seja, o índice alcançado por Jair Bolsonaro, em 2022, logo após dois anos de pandemia. A marca é difícil, mas factível, como se verá a seguir. O presidente sente o cheiro de Jair Bolsonaro pelos cantos do Palácio do Planalto. O capitão estaria guardando a munição dos seus acertos para retomar a “campanha eleitoral”, que, na verdade, nunca findou. O fato é que, com artificialismos ou não, Bolsonaro conseguiu bons números em quase todos os quesitos macroeconômicos mesmo com a pandemia, queda da atividade chinesa, explosão dos preços do petróleo e a guerra entre Rússia e Ucrânia, o que não é pouca coisa. Para sair do corner imposto pelo antecessor em relação ao crescimento da economia, Lula quer engajar o governo inteiro. Pediu à ministra do Planejamento, Simone Tebet, que faça uma espécie de planilha de todas as Pastas. O objetivo é que cada ministério saiba o impacto das suas atividades no PIB, de forma que os ministros tenham como ponderar seus gastos mirando prioritariamente o crescimento econômico. Entre uma despesa que tenha maior impacto na atividade produtiva ou não, que se realize a primeira.
A meta de inflação será alterada, provavelmente na reunião do Conselho Monetário de junho. Há dúvida se ela será expandida para 4% ou 4,5%, ou se permanecerá nos 3%, que seriam diferidos para o fim do atual governo. Lula, então, teria quase quatro anos para alcançar o atual target por ora na corda bamba. Não haveria, portanto, meta de inflação anual. Seria o sinal para que o BC baixasse os juros. E Roberto Campos Neto jogasse a toalha – está tudo acertado para que André Lara Resende assuma a presidência do BC.
Bem antes disso, entre março e abril, o novo arcabouço fiscal seria apresentado, visando uma meta de redução da dívida/PIB para um patamar inferior aos 73% obtidos por Bolsonaro. Neste ano, o resultado da relação dívida/PIB já foi perdido, devendo caminhar para a faixa de 80%. A reforma tributária também seria posta na mesa, ainda que na sua fase preliminar. Mas Lula tem outras balas na agulha. Uma das mais aguardadas é o programa Desenrola, que está sendo estudado no Ministério da Fazenda de forma a conseguir o maior alcance possível. De preferência, zerando a inadimplência dos consumidores até dois salários-mínimos. A medida teria impacto relevante junto aos bancos, desobstruindo o canal de crédito e, principalmente, o comércio, segmento mais intensivo em mão de obra da economia. As últimas previsões para esse setor são de queda prolongada.
O presidente acredita também que trará recursos em função da sua intensa ofensiva diplomática. No Planalto, há quem arrisque números ambiciosos de investimentos entre R$ 30 bilhões e R$ 50 bilhões. Difícil? Sim. Improvável? Não. Ao contrário de Bolsonaro, Lula vai brandir a bandeira de proteção da Amazônia pelos quatro cantos do mundo. Falta a Petrobras no pacote, que, junto com o BNDES, estará encarregada em sacudir a formação bruta de capital fixo, um setor que andou de lado no governo Bolsonaro.É para isso que a petrolífera guardará uma parcela maior dos dividendos, como já deixou escapar o presidente da estatal Jean Paul Prates. O que Lula deseja não é necessariamente o que acontecerá, principalmente porque o carnaval de resultados obtidos por Bolsonaro no seu último ano de governo foi às custas do comprometimento desse primeiro ano da gestão do petista. Pode não ter conseguido de todo. Mas, que atrapalhou um bocado, atrapalhou.
Análise
Lara Resende desponta como favorito para a presidência do BC
13/02/2023Há uma disposição ferrenha do presidente Lula para levar André Lara Resende à presidência do Banco Central. Não há ninguém entre os colaboradores do governo que diga com tanta maviosidade o que Lula quer ouvir: taxa de juros, mudança da meta e, nas entrelinhas, uma autoridade monetária que toque o barco de forma afinada com a Presidência. Mas, sendo a versão válida, para que a substituição ocorra é preciso que Roberto Campos Neto jogue a toalha no chão. A blitzkrieg de Lula contra Campos Neto seria parte da operação para antecipar sua saída, prevista para ocorrer somente em dezembro de 2024, quando vence seu primeiro mandato, ou ainda em 2028, se ele decidir pela sua recondução. Pelo estatuto do Banco Central Independente, Campos Neto tem direito a oito anos de permanência no cargo, que somente podem ser abortados por desistência do titular do BC ou uma mudança sancionada pelo Congresso Nacional. Esta última hipótese é mais difícil: sondagens revelam a falta de apoio congressista à alteração da Lei Complementar n°179, de 2021, que sancionou a independência da autoridade monetária.
Lula, que se sente mais emponderado que nunca, adotou, ao que tudo indica, a tática de throwing in the towel, ou seja, de levar o regulador a pedir demissão com uma massa de críticas permanente a política da autoridade monetária. Trata-se de uma estratégia sistematizada por analistas políticos norte-americanos. Mario Shapiro, professor da FGV Direito SP, em artigo publicado no Valor Econômico em sua edição de hoje, avança na argumentação da malhação do judas no BC. Segundo ele, “diante das restrições impostas pelo BC, é típica a atribuição de culpa a autoridade monetária pelos infortúnios do governo (blame-shifting)”. Lula comprou a fórmula integral para retirar Campos Neto do cargo. É pau puro na política monetária inteira.
Do outro lado, Lara Resende tem sido tratado como um príncipe por Lula, Fernando Haddad e o comando do partido. Apoiou o presidente na primeira hora de campanha, participou do grupo de transição do governo na área de economia, integra o comitê de aconselhamento do BNDES, foi cogitado para ministro da Fazenda – quando chegou a se imaginar que Fernando Haddad poderia ser uma candidatura competitiva ao governo de São Paulo – e é nome cotado para um Conselho de Economistas para o Assessoramento Econômico da Presidência. Em tempo: nem Haddad, nem Simone Tebet, e aparentemente Geraldo Alckmin – que não dá um pio nessa discussão –, tem simpatia pelo tal Conselho.
Durante todo o período da campanha eleitoral à posse de Lula, Lara Resende foi um cruzado pela redução de taxas de juros, uma meta de inflação equilibrada, uma menor preocupação com a dívida pública e um diferimento maior da meta de inflação no tempo para avaliação da eficácia no cumprimento da política monetária. Tudo que Lara Resende diz é música para Lula. O presidente não suporta essa relação fria, equidistante, sem uma prestação de contas mais intima, que Campos Neto imprimiu à gestão do BC independente. Na verdade Campos Neto reza por uma cartilha única, sem improvisações. Lula detesta essa “autonomia” sem beija mão. É como se o presidente do BC fosse um cluster no seu governo. Quanto aos juros, são realmente inaceitáveis.
As fontes do RR arriscam a dizer que Lula quer romper com as algemas da ortodoxia. Gostaria de ter o seu “Plano Real monetário”. Para isso, teria de comprar a independência do BC, sem a qual Lara Resende não toparia a missão. Mas iriam de mãos dadas para a empreitada, já que um estaria mais ou menos sabendo como o outro se comportaria.
O BC precisa ser blindado
Em tese, um BC protegido constitucionalmente de interferências não é bom nem mau; apenas defende a autoridade monetária de virar um joguete dos interesses políticos dos governos. Quando o Banco Central eleva as taxas de juros, busca cumprir em sintonia fina sua tripla missão: controlar a inflação, perseguir o pleno emprego e zelar pela estabilidade do sistema financeiro. O sistema de metas de inflação procurou criar uma forma de definir e alcançar a carestia “razoável”. O Banco Central estabelece uma meta para a inflação e passa a persegui-la. É forçar a barra dizer que o BC ignora completamente o “pleno” emprego nos seus cenários, resultantes de centenas de variáveis que rodam nos seus modelos econométricos. A atual taxa de juros siderais está razoavelmente alinhada com uma subida do emprego formal e redução expressiva do desemprego – a taxa caiu de 14% para cerca de 8%. A percepção coletiva é que a autoridade monetária coloca o emprego no fim da fila, e a inflação à frente. Não há target para o nível “desejável” de desemprego.
Antes da criação do hoje anatematizado Banco Central independente, a autoridade monetária era instada a tomar decisões motivadas ou estimuladas por uma hierarquia de poder superior, ou seja, o Ministério da Fazenda e, em um andar ainda mais alto, a Presidência da República. O resultado, não raras vezes, eram medidas inconsistentes ou enviesadas, que, mesmo atingindo positivamente alguns dos seus objetivos – inflação mais baixa e/ou “pleno” emprego –, careciam de sustentabilidade. As decisões eram políticas e não técnicas, não obstante haver algum componente político em qualquer poeira do universo, quanto mais em uma gestão técnica do BC.
O assunto é complexo no mundo inteiro. Nem todas as coisas boas, contudo, estão condicionadas aos cânones da política econômica. Muitas vezes uma mudança na correlação de variáveis na lógica monetária e macroeconômica surpreende a todos com uma solução inesperada. Foi o caso do Plano Real, que, durante o seu período de formulação técnica, só tinha uma referência de efetiva operacionalização em Israel. Os jovens gênios da PUC, Persio Arida e o festejado André Lara Resende, trouxeram a ideia de inflação inercial para o campo de batalha da carestia e inventaram URV (Unidade Real de Valor). A sacada deu certo. A URV, planejada para ser transitória, teve como objetivo equilibrar preços relativos e remuneração de ativos. Ela funcionou como um transplante para adoção do real como moeda oficial do Brasil.
Não há nada mais óbvio do que afirmar que juros dependem do movimento de várias placas tectónicas da economia. Para tomar decisão sobre o a elevação, manutenção ou redução da Selic várias camadas do BC são acionadas. Um conjunto de técnicos altamente qualificados analisa previamente um oceano de dados, que serão rodados em modelos econométricos sofisticados, gerando os cenários variados para que o presidente do BC independente, juntamente com sua diretoria – todos indicados pelo presidente da República e aprovados pelo Congresso Nacional – batam o martelo. Todos esses atributos constam do “estatuto do BC independente”, que tanto incomoda Lula no presente.
Lembrai-vos de Henrique Meirelles
O presidente Lula é um animal político da estirpe mais elevada da sua espécie. Deve ter razões, certas ou erradas, que não são sua idade elevada e a irritação decorrente dos muitos anos já vividos – versão Faria Lima –, nem o poder superlativo concedido pelo 8 de janeiro, para bater de frente, publicamente, com Roberto Campos Neto. A impressão é que ele atira no pé do próprio governo. Lula insiste, com todos os exageros de retórica, o que o BC tem de fazer ou não. Parece não saber que suas declarações mais pressionam a taxa de juros de longo prazo, que é a que importa, do que resultam em um aumento de meio ponto da Selic.
No seu primeiro mandato, do qual se jacta de ter tido um BC autônomo e não independente, o presidente buscou intervir nas decisões do então titular da autoridade monetária, Henrique Meirelles. A literatura mais recente daquele período revela que Lula fritou Meirelles, ameaçou demiti-lo, mandou recados irritados, tinha até um candidato na manga do colete – o economista Luiz Gonzaga Belluzzo – tudo em função da taxa de juros. Achava que o elevado custo da moeda detonaria com a sua reeleição. Na época, não usou a estratégia do fazer barulho nas mídias: encomendou a Antônio Palocci que desse um jeito de rifar Meirelles sem as suas digitais. Mas a inflação começou a cair e os juros também. E, quando perguntado nas internas se o tempo de Meirelles já tinha se esgotado, respondeu: “Não me fale mais desse assunto, agora está dando tudo certo”. Essa era a “autonomia” do BC que Lula considerava adequada, sujeita ao vai e vem da circunstância e da sua visão política.
Lula piorou em relação ao passado ou está enxergando algo que ninguém viu, esbravejando diariamente contra a taxa de juros, o BC independente e a meta de inflação. A novidade é considerar o BC um bunker de Jair Bolsonaro porque o comandante da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, teria sido indicado pelo ex-presidente. Bobagem. Como demonstra o cientista político Alberto Almeida, Campos Neto poderia não ter elevado a taxa de juros pelo menos seis vezes no período relevante de campanha, mas fez o contrário, aumentando recorrentemente a Selic.
O presidente terá direito a indicar neste ano dois diretores do BC, nas áreas de Fiscalização e Política Monetária – este último talvez o cargo mais importante do colegiado, depois do comandante da instituição. Nem por isso, os técnicos serão espiões do presidente, ou muito menos seus paus mandados. Lula até pode acertar no atacado com a cantilena dos juros altos, mas erra na forma. Todos os seus incômodos na área monetária – juros e meta de inflação – são legítimos e, alguns, até comprováveis empiricamente por acadêmicos. São o caso dos juros, cuja taxa real da Selic, batendo já os 8,5%, e meta de inflação, fixada em 3%, podem, sim, ser chamadas “politicamente” de inaceitáveis ou inviáveis.
A Selic é a mais alta do mundo. A taxa de real de 8,5% é o dobro do segundo maior índice real do planeta. Olhando de fora do BC, o nível dos juros não faz o menor sentido. Quanto à meta de inflação, ela parece ser construída para que o Brasil tenha uma taxa de juros nas alturas permanentemente. Como se sabe, o nível de juros no modelo de inflation target é o principal instrumento para levar o índice de preços permanentemente para dentro da meta: em 2024, o centro está fixado em 3%, com uma banda superior de 4,5%. A meta ambiciosa faz com que os juros sejam pouco flexíveis, na medida em que qualquer choquezinho de oferta ou pressão atípica sobre o fiscal, forçam as taxas a saírem de dentro da casca. Um exemplo: no governo Bolsonaro a meta de inflação nunca foi cumprida.
No caso, curiosamente, Lula estaria alinhado com a discussão atual dos Bancos Centrais europeus, que deliberam sobre a redução do centro da meta para 4% a 4,5%, tendo em vista as previsões de que a inflação estrutural irá aumentar nos próximos anos. Ou seja: o mesmo percentual que o presidente defende para essas bandas.
Mais “indemissível” do que um general
A questão central é que Lula está misturando vários elementos ao mesmo tempo, repetindo esbravejando em praça pública contra seus novos inimigos figadais: Banco Central independente, meta de inflação, taxa de juros, Roberto Campos Neto, etc. Cabe dar ao presidente, um velho atirador de facas, o benefício de ter visto o que ninguém viu. Nesse caso, estaria mesmo precipitando uma eventual decisão de Campos Neto de não renovar seu mandato no BC, no fim de 2024. Lula quer que ele saia antes. De preferência, já! Deseja um experimento, melhor um invento de política monetária para chamar de seu. Um Plano Real do Banco Central. Mas, parece às vezes, que o presidente está carregando demais na estratégia do throwing in the towel.
Com a apresentação do pacote fiscal pelo ministro da Fazenda, os impactos do efeito inercial dos juros já se manifestando nas expectativas do aumento de preços, e o inevitável reequilíbrio das cadeias de produção mais fragilizadas pela pandemia, a Selic vai baixar, com Campos Neto ou Lara Resende. No caso, Lula poderá ficar enroscado no mesmo enredo da gestão Meirelles: demorou para sacar o seu presidente do BC “autônomo” e foi obrigado a mantê-lo porque os resultados prometidos surgiram, conforme relata Maria Cristina Fernandes, colunista política do Valor Econômico.
A mesma jornalista chama a atenção de que arrancar de forma autoritária Campos Neto do cargo que constitucionalmente ocupa pode ser mais difícil do que demitir oficiais de alta patente, a exemplo do que Lula fez com o comandante do Exército, general Júlio Cesar de Arruda. Campos Neto tem a claque do mercado financeiro, passagem entre os congressistas, respaldo na Lei e apoio corporativo.
Lula detesta quem não preste contas. Um bom exemplo do que arrepia o presidente da República é um tecnocrata com a autoridade do professor Octávio Gouvea de Bulhões, presidente da Superintendência de Moeda e Crédito (Sumoc) – o BC dos anos 60 – e titular do Ministério da Fazenda no governo do general Castello Branco. Consta que, durante a fase mais dura do ajuste econômico do primeiro ano do golpe de 1964, Bulhões recebeu uma visita do então maior empreiteiro do país, Sebastião Camargo. O empresário relatou as queixas e mais queixas dos dirigentes do setor privado em relação ao arrocho monetário. Bulhões, que tinha fama de não se alterar jamais, ouviu calado, com sua expressão de monge. Camargo, então, carregou nas tintas. Disse que dezenas de grandes empresas iriam quebrar, a economia iria pifar e os empresários iriam se jogar pela janela, como aconteceu no período do crash da bolsa de Nova York. Ao que Bulhões respondeu, serenamente: “A janela está logo ali”. Lara Resende, caso ungido, jamais teria uma atitude igual sem conversar com seu ministro ou o presidente. O economista tem o jogo de cintura, aprimorado por passagem bem mais agitada pelo governo no que diz respeito à adoção de teorias monetárias fora da caixa.
De qualquer forma, um sinal da disposição mudancista do presidente é quando ele lança mão do discurso do “nós contra eles”. Se Lula escalar, não é improvável que ele misture bolsonarismo, militarismo e “independentismo” do BC. O bordão da hora é “Autonomia, já, independência, nunca mais!” O presidente não quer só o cargo de Campos Neto ou juros mais baixos, mas um inventor na política do Banco Central que possa marcar sua gestão. A medida parece estar encomendada.
Aguardemos o embate político entre os dois candidatos. André Lara Resende expôs suas ideias há menos de 24 horas, no Programa Canal Livre, da Bandeirantes. Teve espaço para dar uma aula e argumentar, com sua teoria monetária alternativa, que é possível atender tudo o que Lula almeja, mudando o arcabouço do pensamento econômico que hoje rege as decisões do BC. Para Lula deve ter sido uma ópera.
Hoje, daqui a aproximadamente seis horas, Roberto Campos Neto dará entrevista no ao programa Roda Viva, da TV Cultura. É como se o curto intervalo de tempo tivesse sido combinado pelas partes. Vai servir de verificação da maior ou menor flexibilidade do presidente do BC. Sabe-se que Campos Neto já acena com uma meta menor – ainda que o seu menor seja residual, isto é, a manutenção da taxa de 3,25% deste ano para o ano que vem, contra os 3% fixados pelo Conselho Monetário Nacional. Pode ser que Campos modere o tom e acene com um tempo político mais razoável para a queda da inflação e dos juros. Pode ser. Mas os sinais vindos do entorno de Lula indicam que a preferência por Lara Resende é firme. Se não for agora, 2024 promete.
Análise
Lula precisa reduzir o spread das suas bravatas
9/02/2023Lula não tem que falar sobre política monetária. Se quer influenciar no assunto, que aja em silêncio, através dos seus ministros do setor, sem tumultuar o mercado. Simplesmente faça. Sem usar a opinião pública para politizar assuntos técnicos. Todas essas considerações já foram pontuadas pelo RR e também por economistas de diversas correntes e matizes ideológicos. Mas Lula não mentiu quando se referiu a um tempo em que industriais se amotinaram contra bancos, cindindo as partes mais dinâmicas da economia à época – hoje o agronegócio assumiu um protagonismo que não tinha. O bunker dos industriais era o Instituto Brasileiro do Mercado de Capitais (Ibmec), à ocasião um instituto de pesquisas vinculado às bolsas de valores do Rio e São Paulo, que aprimorava o argumento dos empresários. Vivia-se os idos do final dos anos 70. Eram tempos curiosos em que as entidades e instituições do mercado de valores mobiliários confrontavam os bancos comerciais. O presidente do Ibmec era o ex-diretor do Brasil no FMI Herculano Borges da Fonseca, antecessor das gestões de Roberto Castello Branco e Paulo Guedes, respectivamente. Apesar da predominância da tecnocracia liberal no comando da entidade, a instituição seguia um modelo ideologicamente plural, a exemplo do Ipea, liderado por João Paulo dos Reis Velloso.
Pois bem, foi nesse período que empresários paulistas encomendaram ao Ibmec uma pesquisa sobre a visão dos industriais em relação ao papel dos bancos na economia. Por trás da demanda estavam ícones da indústria manufatureira e de bens de capital, todos de capital nacional, tais como Paulo Vellinho, José Mindlin, Paulo Francini, Paulo Villares, Cláudio Bardella e Antonio Ermírio de Moraes. Lula não mentiu quando disse que Antônio Ermírio esculachava os bancos em função das taxas de juros elevadas. Aliás, todos os industrialistas de proa esculachavam.
A pesquisa, coordenada pelo cientista político José Luiz de Mello, era caudalosa. E o Ibmec divulgava as conclusões do trabalho aos poucos. A cada rodada – e elas duraram meses – Antônio Ermírio ia aos jornais e deitava falação contra a taxa de juros, acompanhado pelos seus pares da indústria. O embate com os bancos foi enorme. O país vivia o auge da ditadura, e esses empresários brigões enfrentavam diariamente os generais do regime militar. Tudo isso aconteceu há muito tempo.
Lula parece ter estacionado nessas priscas eras, quando a indústria representava mais de 30% do PIB, e Antônio Ermírio era o leão da economia nacional. Na época, o BC era apêndice do Ministério da Fazenda, com um papel coadjuvante como autoridade monetária. A roda girou e o país evoluiu para regulamentação de um BC independente, despolitizando um órgão que tem de ser de Estado e eminentemente técnico. Lula, assim como “Dom” Antônio no passado, estão certos quando se incomodam com o nível das taxas de juros. Afinal, há algo de demasiadamente estranho no ar quando o custo do dinheiro está entre os maiores do mundo durante décadas e décadas. Mas os dois miravam alvos diferentes com o mesmo objetivo.
Lula quer responsabilizar uma das grandes conquistas institucionais do país, a independência do BC, como detentora de uma perversão na área monetária: a disposição de manter a Selic nas alturas mesmo sem necessidade. Antônio Ermírio, quase que obsessivamente, batia firme no spread bancário, sua bête noire. Difícil imaginar Lula arrumando animosidade com a banca. O que diferencia o empresário e o velho político é uma certa dose de oportunismo. O presidente trouxe à baila a memória do antigo leão do Grupo Votorantim para engrossar seu proselitismo contra os juros altos. Mas evitou dizer que seus inimigos eram diferentes. “Dom” Antônio batia nos spreads absurdos do sistema bancário. O presidente quer associar o BC independente a Bolsonaro, não obstante uma coisa não ter nada a ver com outra. A briga de Lula é bravateira e serve tão somente para manter aceso o seu palanque permanente.
Economia
Inflation target abaixo do razoável tem seus dias contados
19/01/2023Cada coisa na sua hora, e em seu devido lugar. Assim será com a meta de inflação de 2024. Uma fonte do RR, posicionada no ventre da equipe econômica, garantiu que a deliberação sobre a mudança do target da inflação do próximo ano já foi tomada. Lula emitiu um primeiro sinal na entrevista de ontem. A meta vai ser subir dos 3% fixados no governo Bolsonaro para 4% ou até 4,5% ( a meta deste ano está definida em 3,25% ), com intervalo mantido em 1,5% – o RR apoia a medida desde meados do ano retrasado, quando o ex-diretor do BC, Sergio Werlang, implementador do sistema de metas no Brasil passou a defender a ampliação do target. A ideia é que a mudança seja feita em reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), nos meses de junho, julho ou agosto.
A escolha do final do primeiro semestre tem relação direta com o timing considerado para apresentação da segunda fase do plano de melhoria do resultado primário, apresentação do novo arcabouço fiscal – com o substituto do teto de gastos – e votação da primeira rodada da reforma tributária. Os ministros da área econômica, Fernando Haddad e Simone Tebet, estão de acordo sobre a necessidade de uma demonstração firme de que o governo vai perseguir o equilíbrio das contas públicas para que a meta seja então alterada. A área econômica do governo estaria agindo em consonância com o Banco Central, que, em todas as suas atas de reunião do Copom, chama a atenção para o impacto do desajuste fiscal na resiliência inflacionária.
A mudança da meta reduziria a pressão sobre a política monetária, permitindo o BC praticar uma taxa Selic mais baixa e reduzindo a curva da taxa de juros futura. Na verdade, mexer na meta é uma forma dos Ministérios da Fazenda e Planejamento influenciarem na política monetária, a despeito da independência do BC. Se a Selic é fixada de forma a que a meta de inflação seja atingida, um target mais alto, em tese, permitiria juros mais baixos. Para que eles não venham acompanhados da manutenção ou alta da carestia, a receita é um “fiscal mais responsável, sinalizando um superavit estrutural”. Juros mais baixos são o insumo número 1 para reduzir a dívida pública, reaquecer a economia e obter o tão almejado crescimento sustentável.
A história da mudança da meta é tão antiga quanto cowboy que dá 100 tiros de uma vez. Até Paulo Guedes balançou com relação ao aliviar o arrocho do target. O economista Aloísio Araujo, do Impa e da FGV, uma espécie de sumidade unânime nos assuntos da área monetária e em microeconomia, já está cantando essa pedra há tempos. Roberto Campos Neto empacou com uma meta de inflação no nível dos países desenvolvidos. Ora, países desenvolvidos tem uma melhor distribuição de renda, economia robusta, menos desempregados e até mesmo bomba atômica. Noves fora o chiste, a equiparação com o nosso target não parece razoável. Campos Neto seria voto vencido em uma reunião do CMN com a atual composição. Além dele, lá estão Fernando Haddad e o secretário de Política Econômica, Guilherme Mello. Muito provavelmente a composição do CMN será alterada para o ingresso de Tebet. Mas os exageros em relação ao inflation target têm seus dias contados.
Política
Bancada do PT no Centro-Oeste quer cargo na Educação
30/12/2022A bancada do PT no Centro-Oeste tem feito pressão para que a deputada federal Rosa Neide (MT-PT) assuma um cargo no Ministério da Educação. A professora chegou a estar cotada para comandar a gestão do cobiçado Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), que tem um orçamento superior a R$ 60 bilhões. No entanto, a indicação teria sido rechaçada pelo próprio ministro Camilo Santana, que designou para o posto a atual secretária de Fazenda do Ceará, Fernanda Pacobahyba.
Política
Um pedacinho de Henrique Meirelles no BNDES
26/12/2022A indicação de Alexandre Abreu para uma das diretorias do BNDES deve ser creditada na conta de Henrique Meirelles. Ambos são próximos desde o governo Temer. Foi Meirelles, ex-presidente do Conselho de Administração da J&F Investimentos, quem levou Abreu para ocupar o cargo de CEO do Banco Original, braço financeiro dos irmãos Batista. Antes, quando assumiu o Ministério da Fazenda, Meirelles trabalhou pela permanência do executivo na presidência do Banco do Brasil. Mas, na ocasião, acabou sendo voto vencido: Temer optou pela nomeação de Paulo Rogerio Caffarelli.
Política
Vem mais conselho pela frente no governo Lula
21/12/2022A “conselhite” tradicional do PT, como não poderia deixar de ser, foi incorporada pelo governo Lula. Na área econômica, estão previstos dois conselhos: o primeiro, já anunciado pelo próprio presidente, será para assessorá-lo diretamente; o segundo será criado por Fernando Haddad com a missão de auxiliá-lo no Ministério da Fazenda. Especula-se que a conta dos Conselhos aumentará com a indicação do Ministério do Planejamento.
Política
Mais um colaborador de Guedes deve aterrissar no governo de Tarcisio Freitas
21/12/2022Na impossibilidade de contar com o próprio Paulo Guedes em sua equipe, Tarcísio Freitas segue garimpando nomes na equipe do ministro. Após a indicação de Samuel Kinoshita, ex-assessor de Guedes, para a Secretaria de Fazenda de São Paulo, o novo alvo é Pedro Capeluppi, atual secretário Especial de Desestatização, Desinvestimento e Mercados do Ministério da Economia. Capeluppi teria um chapéu semelhante no governo de Freitas, cuidando das privatizações no estado, a começar pela Sabesp.
Política
Alckmin está “exilado” na vice-presidência
15/12/2022Há uma sensação de desencanto no grupo de políticos do PSB e de antigos companheiros do PSDB que apoiaram a participação de Geraldo Alckmin no governo do PT. O sentimento é de que o vice-presidente foi escanteado. Alckmin entrou cotado para acumular o Ministério da Fazenda. Não aconteceu. Ficou, então, de indicar o ministro. Não indicou. Restou colaborar na montagem da equipe econômica, mas, até agora, nenhum nome anunciado entra na sua cota. Antes, Alckmin havia sido cogitado também para ministro da Defesa. Bulhufas. Ainda há vários ministérios a serem preenchidos. Mas, tirando Planejamento, Saúde, Educação ou alguma grande estatal, o resto é xepa. Vai acabar sobrando para o vice o papel de poste. Pois bem, em que pesem as diferenças entre ambos, lembrai-vos de Michel Temer: vice-presidente maltratado nunca dá certo.
Economia
Uma boa notícia para a indústria nacional: Abdib retorna ao palco do Poder
14/12/2022Política
Bernard Appy vai ou não para a equipe econômica?
12/12/2022Na medida em que o domingo ia se derretendo, ontem, às 21:19, o ex-secretário do Ministério da Fazenda e diretor do Centro de Cidadania Fiscal (CCiF), Bernard Appy, dizia em um grupo de economistas que não foi convidado para um cargo junto à Fernando Haddad. “Se for convidado, aceitarei se o projeto for bom. Ou poderei também colaborar através do Centro de Cidadania Fiscal”. Appy é considerado o nome mais provável entre todos os cogitados para fazer parte da equipe econômica. É o responsável da já emblemática PEC 45, da reforma tributária, que roda que nem um pião no Congresso, sem sair do mesmo lugar. É uma daquelas “unanimidades” que ninguém quer chamar de sua. Na pauliceia, diz-se que Appy está para a PEC 45 como Marcos Cintra, ex-secretário da Receita Federal, está para o “imposto único” ou Eduardo Suplicy para a “renda mínima”. São projetos de uma vida. Mas parece que Haddad comprou o projeto. A ver. Sem Appy, não haverá a PEC 45, e sem a PEC 45 não haverá Appy.
Política
Lara Resende e Pérsio Arida preparam nova âncora fiscal
7/12/2022O novo arcabouço fiscal será anunciado em fatias, com as primeiras regras podendo ser apresentadas ainda durante a Copa do Mundo. A arquitetura final para substituição do teto junto com a rearrumação da Lei de Responsabilidade Fiscal e da Regra de Ouro – criando um marco regulatório fiscal – tem o prazo de conclusão até o segundo semestre de 2024. A engenharia é de André Lara Resende e Pérsio Árida, ambos principais colaboradores na construção de uma nova âncora para o equilíbrio das contas públicas. Os dois economistas, que participam do grupo de transição na área econômica, não pretendem ter cargos no governo, mas aceitaram continuar colaborando na equação do imbróglio fiscal a partir uma instância não executiva, a exemplo do Conselho Econômico que o presidente Lula pretende criar. Lara Resende e Arida pertencem à cota de Alckmin. Ambos foram chamados devido a sua originalidade para encontrar soluções fora da curva na área econômica, vide o Plano Real, além do apoio de primeira hora à candidatura de Lula. O prazo mais largo para a divulgação da nova arquitetura fiscal tornou-se bem mais acessível devido à PEC da Transição. Ela garantirá durante um biênio os gastos de um Bolsa Família vitaminado com alguns programas sociais, liberando espaço no orçamento e facilitando a arrumação dos números do governo. Serão ao menos dois anos de waiver que permitirão aos economistas entregarem sua encomenda com consistência, após uma verdadeira auditoria das contas públicas. Pérsio Arida, que chegou a colocar um pé no Ministério da Fazenda, abdicou de um eventual convite devido às resistências ao seu nome pelo PT. Ser ministro da Fazenda de uma gestão cujo partido tem rejeição ao seu nome logo na primeira hora não é uma boa condição de governança.
Já Lara Rezende provoca um certo frisson no mercado devido às suas conceituações acadêmicas a respeito das novas teorias que relativizam a importância do crescimento e risco de solvência da dívida pública interna. O economista, contudo, conforme apurou o RR, não vai misturar suas concepções teóricas com as medidas monetárias e fiscais. Lara Resende manja das paúras do mercado. No momento, ele está debruçado em engendrar uma solução para fazer com que o passivo interno sirva de âncora fiscal em paralelo com um Banco Central independente. Como se sabe o principal componente do crescimento dívida interna são os juros. Se a Selic sobe um ponto percentual, por exemplo, já faz um estrago no endividamento interno, forçando a um aumento de um resultado primário bem maior.
Uma das decisões já tomadas será a adoção da dívida interna líquida como indicador no lugar da dívida bruta. A medida é tecnicamente defensável. Ela reduz o tamanho do passivo da União, na medida em que, entre outros critérios de contabilidade, desconta as reservas cambiais de mais de R$ 1,6 trilhão cálculo do endividamento. Os economistas mais ortodoxos dirão que a iniciativa é mera prestidigitação. Afinal, muda-se a métrica, mas a dívida no fundo permanece a mesma. Os economistas tucano-petistas, enquanto estudam novas fórmulas, vão discutindo de onde tirar recursos para tapar buracos fiscais em consonância com receitas para o aumento de investimentos. Uma das ideias é propor uma reforma tributária antes de apresentar a nova fórmula que substituirá o teto de gastos – a priori o teto seria mantido durante os dois primeiros anos de governo.
Outra proposta é subtrair dos incentivos fiscais um montante generoso para rearrumação do orçamento. Já existem algumas contas que preveem recursos adicionais de mais de R$ 1 trilhão, em quatro anos, somente com a redução de 30% dos incentivos, retorno ao regime anterior do ICMS de combustíveis e energia e a mudança da estrutura tributária. Com concessões, o cálculo é que os recursos já compromissados pelo governo Bolsonaro e os pretendidos pelo futuro governo Lula cheguem próximos a R$ 1,5 trilhão. Em compensação, irão secar as verbas oriundas das privatizações. Há muito mais receitas a serem capturadas. Na equipe de transição, existe quem aposte que esses trilhões de reais podem aumentar ainda bastante, dependendo do crescimento do PIB e aumento da arrecadação. Na pauta está ainda uma fórmula para desmobilização dos ativos imobiliários da União, medida que Paulo Guedes namorou durante a gestão Bolsonaro inteira, mas não conseguiu levar a frente. Mas vem mais por aí, bem mais. Aguardemos a porção criativa da dupla André Lara Resende e Pérsio Arida.
Política
Paulo Guedes “apoia” Nelson Barbosa no próximo governo
25/11/2022O ministro Paulo Guedes, seja qual for sua intenção, tem dito a diversos interlocutores que o ex-ministro Nelson Barbosa, pertencente aos quadros da FGV e hoje integrando o comitê de transição, será ministro de alguma Pasta da Economia no governo Lula. Guedes se encontrou com Barbosa para as primeiras conversas voltadas à transferência de todas as informações consideradas relevantes pelo comitê de transição. O papo entre ambos foi descontraído e afável. Guedes colocou o Ministério da Economia inteiramente à disposição para colaborar em todas as demandas. Guedes considera Barbosa o economista mais bem equipado entre os que estão disputando o rally do Ministério da Fazenda e, em segundo lugar, o do Planejamento. Com relação a Fernando Haddad, acha um despropósito a comparação de que o ex-ministro da Educação poderia ter um papel similar ao de Fernando Henrique Cardoso no Ministério da Fazenda. “Há uma diferença abissal entre ambos”, teria dito.
Guedes acha que Haddad conhece somente os rudimentos da economia e não tem a dimensão pública de FHC. Quanto a Persio Árida, o ministro da Economia o detesta, como também detesta o economista André Lara Resende. Ele acha ambos despreparados, desatualizados e com formação acadêmica insuficiente. A recíproca também é verdadeira. A “campanha soft” de Guedes pró-Barbosa é o tipo de apoio que ninguém quer. Imagine só, nas atuais circunstâncias, receber a pecha de ser o candidato do “Beato Salu”.
Política
O mercado não dá brecha para Haddad
25/11/2022Não foi ainda dessa vez. A bênção à eventual indicação de Fernando Haddad ao Ministério da Fazenda que deveria ser dada com o almoço de hoje na Febraban não aconteceu. Não que os mercados tenham esfarelado, mas as primeiras reações não foram das mais favoráveis: neste momento, o Ibovespa cai 2,8% e o dólar chegou a R$ 5,39. Ainda assim, até o início da tarde, diversas casas do setor bancário cravavam Haddad para o cargo de ministro da Fazenda do futuro governo Lula. Ele não viria sozinho, mas em duo para condução da política econômica na qual estaria incluso o economista Pérsio Arida, assumindo o Ministério do Planejamento. Se o Planejamento não for empoderado, parece pouco para Arida. A divisão de poder e trabalho terá de ser construída em sintonia fina. Fala-se por exemplo que o BNDES e demais bancos de fomento estariam vinculados a Arida. Ele teria um papel importante na alocação mais eficiente dos recursos públicos. A ver.
Em tempo: um dos assessores mais previsíveis de Fernando Haddad, caso assuma a Fazenda, seria o economista Marcos Lisboa, que já foi secretário de Política Econômica no primeiro mandato de Lula. Ao que consta, no entanto, Lisboa já anunciou que passa essa. Não topa a missão. Queria voos mais altos. O atual secretário da Fazenda do governo de São Paulo, Felipe Salto, seria uma pule de dez para a secretaria do Tesouro. Só que, nesse caso, Salto não está sozinho na disputa. Outro nome no páreo é o de Bernard Appy, economista tributarista autor da PEC 45, que apresenta as diretrizes para a reforma tributária e está mofando no Congresso. Appy, ressalte-se, teve passagem importante pelo governo Lula, quando ocupou a Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda e a Secretaria Extraordinária de Reformas Econômico-Fiscais. A competentíssima economista Vilma Pinto, diretoria da IFI (Instituição Fiscal Independente), também está cotada para a Secretaria do Tesouro.
Finalmente, teria uma posição de destaque na equipe o professor da Unicamp Guilherme Mello, 33 anos. Mello é uma estrela em ascensão e impressiona pela conjugação de preparo técnico e juventude. Lula acha a maior graça no menino.
Negócios
Secretário baiano é forte candidato ao comando do Banco do Nordeste
17/11/2022O atual secretário de Fazenda da Bahia, Manoel Vitório, está muito bem cotado para a presidência do Banco do Nordeste. Vitório tem dois cabos eleitorais de alto calibre: o ex e o atual governador da Bahia, respectivamente Jaques Wagner e Rui Costa – este último, inclusive, já teve seu nome cogitado para o próprio Ministério da Fazenda. Ressalte-se que hoje o Banco do Nordeste é uma sesmaria de Valdemar da Costa Neto, presidente do PL, partido de Jair Bolsonaro.
Política
O que falta a Fernando Haddad para ser digerido pelo mercado?
8/11/2022Causa estranheza o mau humor do mercado com a possível indicação do ex-prefeito Fernando Haddad para o Ministério da Fazenda. Haddad tem mestrado em economia, experiência em gestão pública e foi professor do Insper, celeiro de economistas como Marcos Lisboa e Samuel Pessôa. Haddad seria uma espécie de Fernando Henrique de Lula, feitas as devidas ressalvas em relação à excepcionalidade do citado. Ontem, o dólar subiu 2,2%, com a alta bastante atribuída às especulações em torno do nome de Haddad para o cargo. Hoje, até o início da tarde, declinava em 0,5%. Pode sempre ser um ajuste de posições, pois existe uma série de variáveis influenciando no momento nas cotações – eleição norte-americana, guerra entre Rússia e Ucrânia, variação do preço das commodities, situação institucional do país e mesmo as dúvidas em relação a formação da própria equipe econômica. O Ibovespa, ontem, parece ter combinado sua variação com o câmbio: caiu pouco mais de 2%. Hoje, já sobe 1,29%, com a alta explicada pelas boas notícias vindas da Vale. Os índices e cotações de hoje foram registrados no horário de 14h23.
O RR fez um exercício para identificar o espaço de Fernando Haddad na mídia, em citações positivas e negativas, cobrindo 30 mil veículos entre impressos, onlines e TVs, no intervalo de 11 de maio até hoje. Haddad disparou na curva, com 113.350 menções, mais do que o dobro do segundo colocado, o ex-governador da Bahia, Rui Costa, com 51.720 citações. Sim, é isso mesmo: Rui Costa é o segundo da lista. Outra visão é que o mercado não é um ente tão intangível e estaria trabalhando colegiadamente para um outro nome para a Fazenda. Detonar Haddad seria uma forma de influir a indicação, não esquecendo que o personagem que está na língua dos agentes financeiros é Persio Arida.
Arida parece o mais talhado para o cargo de ministro da Fazenda. O economista, um dos pais do Plano Real, tem uma excelente formação acadêmica no Brasil e no exterior, passagem pela presidência do BNDES, foi conselheiro formal e informal em toda a gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso, foi banqueiro – há quem diga que banqueiro, assim como general, padre e juiz, mesmo deixando a função jamais perde o nome de tratamento. Tanto participou de reuniões do comitê econômico da campanha de Lula como está escalado para o comitê de transição do governo Bolsonaro para o do presidente eleito.
Há quem diga que Pérsio Arida não é o que se chama de “operacional”. Mas, nos últimos tempos, o que conta é a equipe econômica do ministro, o que virá em um segundo tempo da partida. Outra curiosidade: a pesquisa do RR revela que a indicação de Pérsio Arida não é um sentimento geral – ele está no fim da fila entre os ministeriáveis especulados para o comando da economia, com apenas 8.181 citações no mesmo período supracitado. Portanto, somente competência pretérita e salamaleques, na prática, não são necessariamente os atributos que contam para a indicação do ministro.
Outros nomes têm sido insistentemente citados para a gestão da política econômica do país. São eles: Henrique Meirelles, Wellington Dias, Alexandre Padilha, Rui Costa e Camilo Santana, não necessariamente nessa ordem de presença constante na mídia. Meirelles dispensa apresentações, mas vamos lá: banqueiro, presidente do Banco Central e ministro da Fazenda. Outra curiosidade: Meirelles, com 18.992 citações, está, em um para lá de inesperado, terceiro lugar no fim da fila, sentado somente na cadeira da frente de Pérsio Arida e atrás de Alexandre Padilha, com 10.787 menções. Wellington Dias, ex-governador do Piauí, assina seu currículo de forma suscinta: bancário, político e escritor. É quem mais dá declarações sobre a futura política econômica do governo Lula. Alexandre Padilha tem em comum com o ex-ministro Antônio Palocci o fato de ser médico. Foi ministro de Relações Institucionais no governo Lula e ministro da Saúde na gestão Dilma Rousseff. Sabe tudo de política. É o terceiro colocado na pesquisa do RR para o cargo de ministro, com 22.771 citações na sondagem.
O “segundão do ranking”, Rui Costa é graduado em economia, trabalhou como consultor de projetos na petroquímica e é um político” PT de raiz”. Ao que indica a pesquisa, pode já estar com um pé na Fazenda. Finalmente Camilo Santana, que segue no último lugar da fila. Santana tem características especiais para o cargo em um momento que o meio ambiente e as commodities parecem ser um quesito importante para qualquer função. É engenheiro agrônomo, professor, foi secretário de desenvolvimento agrário e posteriormente formou-se como mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente, além é claro o posto de governador do Ceará. Santana ficou na fila do meio na sondagem, com 17.555 citações.
O que pode se depreender da análise é que os nomes para a Fazenda que estão na “boca do povo”, aliás, na boca da mídia, têm forte trajetória política e não são os medalhões do mercado financeiro. De qualquer forma Lula e Alckmin tem a palavra final.
Destaque
Lula embaralha as cartas do seu Ministério
7/11/2022Lula pode “quebrar” as casas de apostas. Nos cenários traçados para a montagem do seu futuro gabinete surge a possibilidade de um Ministério de ponta cabeça, uma análise combinatória diferente do que vem sendo especulado até o momento. Em todas as listas de candidato à Fazenda, Henrique Meirelles assumiria o Ministério das Relações Exteriores. Caberia a ele comandar as grandes negociações no exterior, voltadas à captação de recursos internacionais. O ex-ministro e ex-presidente do Banco Central cuidaria também da pauta ambiental, cada vez mais geminada com a agenda econômica. Meirelles teria a missão de destravar, por exemplo, os investimentos de fundos soberanos para grandes projetos vinculados à Amazônia – dinheiro esse que sumiu do mapa devido à, literalmente, devastadora gestão de Bolsonaro no meio ambiente. Os governos da Alemanha e da Noruega já anunciaram a intenção de retomar os aportes no Fundo Amazônia. Ou seja: sob certo ângulo, Meirelles teria um pé na economia, ainda que da fronteira para fora do Brasil. Não custa lembrar que não seria a primeira vez que um banqueiro ocuparia o cargo. O “Barão” do Banco Itaú, Olavo Setúbal, também exerceu a função de ministro das Relações Exteriores, durante o governo Sarney.
A ida de Henrique Meirelles para o Itamaraty traz a reboque uma espécie de efeito dominó para a montagem novo Ministério, impactando diretamente em outras escolhas. Segundo um graduado assessor de Lula, nesse cenário crescem as probabilidades de Fernando Haddad assumir o Ministério da Fazenda. Sua nomeação atenderia o perfil idealizado por Lula, desde sempre, para o cargo: ter um político à frente da Pasta. Além disso, registre-se que Haddad não é um neófito no tema: o ex-ministro é mestre em Economia pela USP.
Por sua vez, com a indicação de Meirelles para as Relações Exteriores, Celso Amorim iria para o Palácio do Planalto. De acordo com a fonte do RR, seu nome é especulado dentro do próprio PT para ser um secretário especial de Lula ou até mesmo assumir a Casa Civil. Ainda que a maior expertise de Amorim não seja exatamente a articulação política, o presidente eleito tem profunda confiança em seu ex-chanceler. Mas ressalte-se que são apenas especulações colhidas em meio às feéricas discussões ocorridas no seio do PT.
Economia
Governo Lula terá conselho consultivo para a economia
7/11/2022Lula vai governar com um verdadeiro batalhão. O futuro presidente já deu a pista quando anunciou que se reunirá com todos os governadores e prefeitos para discutir decisões referentes às unidades federativas e aos municípios. É só a ponta do iceberg. A novidade maior é que Lula criará um órgão consultivo da Presidência. Será um colegiado constituído nos moldes do norte-americano Council of Economic Advisers (CEA), vinculado diretamente à Casa Branca e responsável por assessorar o presidente dos Estados Unidos na formulação da sua política econômica. O futuro conselho será composto por economistas, empresários, entre outros. O economista Pérsio Arida é dado como nome certo – caso, claro, não assuma o Ministério da Fazenda, cargo para o qual está cotado. O mesmo se aplica ao economista Guilherme Mello, que se destacou nas contribuições para a preparação do programa econômico de Lula. Vale também para Elena Landau, que fez o programa de Simone Tebet, e Arminio Fraga, que apoiou todo mundo, menos Jair Bolsonaro e sua família.
O que se depreende dessa democratização das decisões presidenciais é que o petista buscará em aconselhamentos mais largos uma proteção maior para o seu mandato. Ou seja: falará em nome de muitos. É mais um indício de que pretende fazer um governo de amplos diálogos. Não só com o objetivo de acertar mais, mas também para se proteger, uma vez que as decisões compartilhadas terão o escudo dessa múltipla participação.
Destaque
Há um Bolsonaro vs. Lula na eleição do Banco Interamericano
19/10/2022Ilan Goldfajn não é o único brasileiro no páreo para assumir a presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Segundo o RR apurou, há uma articulação em torno do nome do também economista Luiz Awazu Pereira da Silva, atualmente diretor-geral adjunto do BIS (Banco de Compensações Internacionais) – uma espécie de Banco Central dos Bancos Centrais. Sua candidatura ganha corpo de fora para dentro do Brasil. De acordo com a fonte do RR, Awazu conta com o apoio de países de peso, como Estados Unidos e Canadá.
A eleição está marcada para 20 de novembro – os candidatos devem ser indicados até 11 de novembro. O colégio eleitoral é composto pelos próprios diretores do BID, com peso proporcional à representatividade dos respectivos países. O governo norte-americano responde, sozinho, por 30% dos votos. O sistema para a eleição do presidente do BID estimula ou, mais do que isso, exige uma ampla articulação diplomática.
O Brasil, por exemplo, tem junto com o Suriname 11,4% de poder de voto. A representante do país na diretoria do BID é Martha Seillier, ex-secretária de PPI do governo Bolsonaro. Sob um determinado ângulo, não seria exagero dizer que a eventual disputa entre Ilan Goldfajn e Luiz Awazu reproduz o embate eleitoral entre Jair Bolsonaro e Lula. Goldfajn é o candidato da gestão Bolsonaro. Tem o apoio explícito de Paulo Guedes, que levou o nome do economista a Nova York na semana passada.
Ressalte-se que Bolsonaro quer fazer o presidente do BID mesmo que não venha a ser reeleito. Ou seja: no intervalo entre o segundo turno e a eleição no banco, vai seguir trabalhando pela candidatura de Goldfajn. Awazu, por sua vez, tem uma trajetória interligada aos governos do PT. Comandou a Secretaria de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda no primeiro mandato de Lula. Posteriormente ocupou o cargo de diretor de Política Econômica e Assuntos Internacionais do Banco Central no primeiro governo Dilma.
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Lula vai soltar algum spoiler na economia?
5/10/2022O comitê da campanha petista pressiona Lula a antecipar nomes da sua equipe econômica e anunciar propostas concretas, tudo o que o candidato não fez até o momento. Essa mobilização é um reconhecimento de um equívoco. Sob certo aspecto, Lula desdenhou da realidade eleitoral ao não assumir riscos e não dar pistas de sua política econômica na disputa do primeiro turno. Não são discussões em linha reta. Dentro do PT, há estratégias e propostas distintas, defendidas pelas diferentes correntes de pensamento econômico que foram se aninhando na campanha de Lula. A eminência parda da área econômica no partido, Aloizio Mercadante, defende que o candidato anuncie medidas mais afeitas ao ideário histórico do PT. Entrariam nesse rol o aumento do salário-mínimo, a promessa de correção da remuneração do funcionalismo público e a garantia de constitucionalização do Bolsa Família, que Lula promete recriar no lugar do Auxílio Brasil. Ou seja: o benefício passaria a ser uma ação de Estado e não do governo da ocasião. Mercadante entende, inclusive, que Lula deve explorar ao máximo essas propostas nos debates eleitorais do segundo turno. A premissa é que são medidas que Jair Bolsonaro não seria capaz de “bidar”. Ou seja: seriam ativos quase exclusivos do candidato do PT.
Por sua vez, Geraldo Alckmin defende um discurso mais ameno, voltado a crescimento, linha que encontra eco em Andre Lara Resende e Pérsio Arida, colaboradores na formulação do programa econômico petista. O duo “Larida” seria da opinião que Lula deve esmiuçar propostas para estimular investimentos, especialmente na área de infraestrutura, e fomentar a criação de frentes de trabalho.
Lula sempre foi da opinião que nome de ministro e política econômica só se anuncia depois da eleição. Foi o que fez em seu primeiro mandato, divulgando a nomeação de Antonio Palocci somente no dia 12 de dezembro de 2002, portanto um mês e meio após a vitória nas urnas. No entanto, a redução da diferença para Jair Bolsonaro no primeiro turno – bem inferior à apontada pelas pesquisas – joga um fator de pressão para que o petista antecipe fatos. Até como forma de conter especulações que, a essa altura, levam mais tensão à campanha petista. Nos últimos dias, surgiram rumores no mercado de que Lula estaria propenso a indicar um economista “puro-sangue” do PT para o Ministério da Fazenda. Nesse caso, o futuro ministro sairia da “lista tríplice” formada por Aloizio Mercadante, Guilherme Mello e Gabriel Galípolo.
Mercadante é uma espécie de decano dos economistas do PT, colaborador histórico de Lula e, por isso mesmo, talvez o nome com maior suporte político dentro do partido. Mello e Galípolo, por sua vez, são estrelas em ascensão. Com a mesma idade, 39 anos, ambos se destacaram durante a campanha como dois dos principais formuladores do programa econômico de Lula. Mello, da Unicamp, já disse que o governo Lula pretende revogar o teto de gastos e criar um novo arcabouço fiscal. O que isso significa? Pouco ou nada se sabe, o que só ajuda a alimentar tensões no mercado.
Já Galípolo tem uma trajetória, digamos assim, menos convencional para o perfil dos economistas historicamente próximos ao PT – ainda que seja um colaborador de Mercadante há mais de dez anos. Formado pela PUC, foi CEO do Fator, o que, em tese, talvez o coloque em uma situação de vantagem, como um nome um pouco menos rascante para o mercado. Galípolo também é próximo de Luciano Coutinho, o que em parte explicaria as especulações do seu nome para um BNDES vitaminado – ver RR de 5 de setembro.
Em conversas com assessores próximos a Lula, o RR apurou que, apesar de eventuais pressões do partido, Lula pende para a saída mais desejável pelo mercado, leia-se um Ministério “PTucano”. Na prática, a construção desse staff já vem surgindo aos poucos, de forma gradativa – em uma combinação antecipada pelo RR ao longo dos últimos meses. Geraldo Alckmin segue como forte candidato ao Ministério da Fazenda – como informou a newsletter no dia 19 de setembro. Dentro do próprio PT, ressalte-se, há focos de resistência ao nome de Geraldo Alckmin – e, consequentemente à “tucanização” da economia. Um dos argumentos é que o vice-presidente da República não seria um ministro demissível. Tudo tem seu jeito. Alckmin pode até não ser “demissível”, mas seria perfeitamente “deslocável”, caso assim fosse necessário. Por essa linha, Lula formalizaria também a presença de André Lara Resende e Pérsio Arida em sua equipe econômica. É outro movimento que não vem de hoje. Em março de 2021, mais precisamente na edição do dia 16, o RR foi o primeiro veículo a noticiar a aproximação de Lara Resende e Lula e a possibilidade do ex-tucano integrar um eventual governo petista.
O RR não acredita que Lara Resende seja o escolhido para o cargo de ministro. O mercado financeiro se ressentiria da escolha, em razão das suas “novidadeiras” teorias monetárias. Mas ele será um importante colaborador de Lula na formulação da política econômica, o que já foi endossado pelo próprio petista. O mesmo se aplica a Pérsio Arida, outro nome egresso do ninho tucano, que também confirmou sua colaboração com o comitê responsável pelo programa econômico e igualmente se achegou a Lula pelas mãos de Alckmin. A presença de Lara Resende e Arida traz para o governo petista o ativo da maior revolução monetária do país, com o fim da hiperinflação. Ou seja: Lula pode capitalizar o fato de que arregimentou das antigas fileiras tucanas a dobradinha que ajudou a idealizar o Plano Real e a resolver o maior problema do povo: a carestia. Mesmo que o petista não tenha apoiado o Real na sua origem.
O regra três da área econômica de Lula é, como sempre foi, seu ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Seu apoio a Lula não teria sido uma decisão destituída de qualquer acordo ou interesse. Meirelles é quindim do mercado. A newsletter aposta que seu nome está guardado para a saída de Roberto Campos Neto da presidente do BC daqui há dois anos – ver RR de 9 de setembro. Campos Neto já afirmou que não se recandidatará, o que também é o desejo do PT. Meirelles estaria sentado no Conselho da controversa corretora de criptomoedas Binance, aguardando a convocação. Será, então, o mais longevo presidente do BC e joia rara dos três governos Lula. Mas Meirelles não é papo para a campanha eleitoral. Os atores agora são outros.
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Quanto vale um ministro na mesa das eleições?
30/08/2022A entrevista ao Jornal Nacional e o debate do último domingo deram um gás à terceira via. A candidata Simone Tebet pretende queimar a largada e anunciar nos próximos dias nome chaves que participarão de seu eventual governo. Tebet parte de duas premissas. Como franco atiradora, tem menos a perder do que seus adversários com a imediata divulgação de seus colaboradores. Além disso, é quem mais tem garrafa vazia para vender, ou seja, nomes capazes de fazer diferença na corrida eleitoral. Tebet deverá confirmar Elena Landau como sua ministra da Economia. Não chega a ser exatamente uma grande revelação, já que Elena é coordenadora do programa econômico da candidata.
O fator “novidade” ficaria por conta do anúncio de Armínio Fraga. Tebet teria planos de criar um cargo sob medida para Fraga, uma espécie de ministro da “desconcentração de renda”, que açambarcaria a agenda ESG, na qual o ex-presidente do BC está submerso. No núcleo duro de campanha, comenta-se também uma possível volta de Edmar Bacha ao BNDES. Ele jogaria de tabelinha com Claudio Frischtak, que seria o preferido de Tebet para tocar o Ministério da Infraestrutura. Seria o dueto responsável por tocar o plano de concessões e um programa de retomada de obras públicas.
Por sinal, no que depender de Simone Tebet, o “tucanato” vai aterrissar em peso no seu governo. Outros nomes pretendidos pela candidata são Gustavo Franco, Samuel Pessôa e Rubens Barbosa. Ao anunciar sua “equipe de governo”, Simone Tebet aposta que esse gesto forçará seus adversários a fazer o mesmo, tirando-os de uma confortável zona de silêncio. Até agora, os candidatos mais têm escondido do que revelado seus colaboradores mais próximos. É o caso de Lula: o líder das pesquisas guarda a sete chaves os nomes de potenciais ocupantes de cargos em seu governo. A única informação que o PT deixa vazar é a presença de Aloizio Mercadante como coordenador econômico da campanha.
Não há, no entanto, qualquer garantia de que Mercadante terá alguma função em um eventual mandato de Lula. No entorno do petista, surgem alguns possíveis candidatos para o Ministério da Fazenda, que Lula pretende recriar: os mais notórios são Fernando Haddad e Persio Arida. Haddad só ganha se perder, ou seja, só assumirá a Fazenda se for derrotado nas eleições para o governo de São Paulo, o que hoje parece difícil. Arida, por sua vez, viria na conta de Geraldo Alckmin. Nas hostes petistas, há ainda um terceiro nome que tem sido citado para comandar a Fazenda: o próprio Alckmin. Guardadas as devidas proporções, seria o “FHC de Lula”. O fato é que praticamente todas as especulações sobre o ministro da Fazenda empurram o petista para o centro ou o centro-direita, afastando-o da suas bases eleitorais, o que, de certa forma, explica a sua resistência radical em dar pistas sobre os futuros colaboradores.
A estratégia de Simone Tebet de antecipar parte da sua Esplanada dos Ministérios mira também em Ciro Gomes. Nesse quesito, Ciro talvez esteja mais ao relento do que Lula. O pedetista conta com dois colaboradores na área econômica que estão com ele há mais tempo, Nelson Marconi e Mauro Benevides Filho. Mas não são exatamente nomes que funcionem como ativos eleitorais. Ciro já não tem mais a seu lado personagens como José Alexandre Scheinkman e Marcos Lisboa. Devido às circunstâncias eleitorais, dificilmente voltará a ter. Mesmo Roberto Mangabeira Unger, historicamente ligado ao pedetista, não está tão ativo na campanha como outrora. No caso de Jair Bolsonaro, a expectativa pelos colaboradores em um segundo mandato é compreensivelmente menor. Tudo indica que o eventual Bolsonaro II será um replay do Bolsonaro I, ao menos em cargos chave. Dois exemplos: Paulo Guedes permaneceria onde está; e Tarcísio Freitas tem uma cadeira a sua espera. Segundo fonte da campanha de Bolsonaro, ele voltará ao Ministério da Infraestrutura caso perca as eleições ao governo de São Paulo.
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Uma semente que não brota no Plano Nacional de Fertilizantes
29/08/2022Entraves de ordem ambiental têm impedido a Galvani e a INB (Indústrias Nucleares do Brasil) de tirar do papel o Projeto Santa Quitéria, no Ceará – um dos principais investimentos previstos no Plano Nacional de Fertilizantes. Nos próximos dias, o empreendimento de R$ 2,5 bilhões enfrentará uma etapa decisiva. Segundo o RR apurou, no fim desta semana uma missão do Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) vai fazer uma inspeção técnica na Fazenda Itaiaia, onde repousa a maior mina de urânio associado a fosfato do Brasil.
O CNDH produzirá um relatório, a cargo do advogado Guilherme Zagallo, que será enviado ao Ministério do Meio Ambiente e ao Ibama. A “blitzkrieg” é motivo de apreensão para os executivos da Galvani e do INB. A julgar pelo trackrecords do projeto, o parecer do Conselho surge como uma nova ameaça à execução do investimento no curto prazo. Em junho, o CNDH recomendou ao Ibama o cancelamento de audiências públicas e a suspensão do licenciamento ambiental do Projeto Santa Quitéria. Três meses antes, o Instituto tinha dado o aceite ao EIA Rima (Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental).
Há uma preocupação do CNDH com a gestão dos resíduos de urânio e com o impacto do projeto sobre o abastecimento de água para a região – a extração dos minerais vai consumir algo em torno de 855m3 do insumo por hora. Além da trava dos processos no Ibama, há resistências da comunidade local ao empreendimento. Procurado, o consórcio Santa Quitéria não quis se manifestar. Santa Quitéria é um projeto antigo da Galvani. A empresa ganhou a concorrência para explorar a mina de Itatiaia em 2008. Desde então, o empreendimento foi adiado algumas vezes, a despeito do aumento do déficit de fertilizantes no país. A jazida tem reservas estimadas de 8,9 milhões de toneladas de óxido de fósforo de 80 mil toneladas de urânio – o porquê da presença da Indústrias Nucleares do Brasil no consórcio.
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O hedge cruzado do “Plano Landarida”
9/08/2022Há uma divisão entre cônjuges, aliás, ex-cônjuges, nessa fase pré-eleitoral de discussão dos programas dos candidatos. A economista Elena Landau, ex-Arida, é a manda-chuva na construção do programa econômico da candidata Simone Tebet, do MDB. Elena é pule de 10 para ser ministra da Economia em um eventual, porém distante, governo Tebet. Já Arida, ex-Landau, tem colaborado com o grupo do PT responsável pela elaboração do programa econômico do partido. Arida é top five para se tornar o ministro da Fazenda de Lula. Diga-se Fazenda porque Lula gosta do bom e velho Ministério do Planejamento – portanto, seriam dois ministérios na área econômica. Elena Landau e Persio Arida seriam o elo descoberto entre os dois virtuais governos. E hedge cruzado não dói.
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A dura costura fiscal do Rio
25/05/2022O senador Flavio Bolsonaro mergulhou de cabeça no processo de adesão do Rio de Janeiro ao Regime de Recuperação Fiscal. De um lado, trabalha junto a Paulo Guedes e equipe para aparar arestas nas negociações; do outro, tem feito gestões junto à Alerj, sua antiga Casa. Exigências feitas pelo Ministério da Economia – como o novo teto de gastos no estado e ajustes nas regras do triênio, leia-se o adicional pago a cada três anos aos servidores públicos – precisam ser aprovadas pela Assembleia Legislativa. A dívida do Rio junto à União beira os R$ 100 bilhões.
…
O economista Paulo Rabello de Castro, coordenador do plano de governo de Claudio Castro, é forte candidato a assumir a Secretaria de Fazenda do Rio em caso de reeleição. No cargo há apenas um mês, o atual secretário, Leonardo Lobo, já virou fósforo queimado, desgastado pela dificuldade na condução das negociações com o Ministério da Economia.
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Haddad é a carta na manga para o Ministério da Economia
12/05/2022Se não emplacar na eleição para o governo de São Paulo, Fernando Haddad é candidataço ao posto de ministro da Economia caso Lula venha a ser eleito. A expectativa criada pelo ex-presidente em relação ao programa econômico e ao nome do seu ministro da Fazenda – Lula disse que só anunciará ambos “depois que ganhar as eleições” – é compreendida nas internas como “Operação Esperando Haddad”. O ex-ministro de Lula, e quem sabe futuro, não é o Godot da peça de Samuel Beckett.
Está com meio pé na missão. Haddad é entrosado com a turma do Insper, notadamente o presidente, Marcos Lisboa, que perfilou como secretário de política econômica no governo Lula. Já tem staff para a eventual missão. Haddad circula na área empresarial, tem uma pegada acadêmica e é tido como um negociador político plácido e conciliador.
É quase um liberal, um “mini FHC”. Ah, mas diria o mercado, em uma imaginária peça de Beckett: esperar Haddad tanto tempo é uma eternidade. Talvez não. Lembrais-vos do anúncio de Henrique Meirelles para o Banco Central. Lula só confirmou a escolha no dia 12 de dezembro de 2002, ou seja, apenas 20 dias antes de assumir a Presidência. Em tempo: o petista já tem seu presidente do BC, que atende por Roberto Campos Neto. Mas, para Haddad assumir o comando da política econômica, o PT terá de perder São Paulo, o maior PIB do Brasil.
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Operação “abafa motim”
3/03/2022O novo chefe da Consultoria Jurídica (Conjur) da Pasta da Educação, o procurador da Fazenda Davy Jones Menezes, recebeu do ministro Milton Ribeiro a determinação de promover uma dança das cadeiras no órgão. A ordem é “higienizar” a Conjur, o que, na prática, funcionaria como um recado a outras áreas do Ministério. Os servidores da Consultoria estão em pé de guerra com Ribeiro. Há cerca de duas semanas, 11 funcionários em posto de chefia entregaram seus cargos por supostas interferências do ministro. Ribeiro não tolerou o “motim”.
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O infindável Messer
21/02/2022Segundo uma fonte do Ministério Público, a Justiça do Paraguai identificou novas fazendas naquele país que, segundo as investigações, pertencem a Dario Messer e estavam em nome de “laranjas”. São bens “não declarados” no acordo de delação firmado pelo “doleiro dos doleiros.
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Fechado para balanço
18/02/2022Após tantas emendas e gambiarras, o senador Roberto Rocha (PSDB-MA), relator da reforma tributária, lavou as mãos. A quem lhe chega com uma proposta de alteração no texto do projeto, Rocha tem recomendado que bata à porta do Ministério da Economia ou do Comsefaz (Comitê Nacional dos Secretários de Fazenda dos Estados e do Distrito Federal).
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Brasil e Índia encerram longo impasse genético
4/02/2022A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, está perto de equacionar um imbróglio bilateral no agronegócio que se arrasta há mais uma década. Tereza e sua equipe acertam os últimos detalhes com autoridades da Índia para a liberação de exatos 3.659 embriões bovinos pertencentes a pecuaristas brasileiros que estão retidos naquele país desde 2012. O Directorate General of Foreign Trade (DGFT), agência do Ministério do Comércio e da Indústria indiano, já deu o sinal verde para a exportação do material ao Brasil.
Será um ponto final no impasse que cerca um dos maiores projetos já realizados para o melhoramento genético do rebanho brasileiro. Em 1998, um grupo de grandes produtores de gado nelore, gir e guzerá comprou uma fazenda na Índia onde foi montado um centro de desenvolvimento de embriões. À época, os dois países discutiam um acordo para regular o comércio de biogenéticos. No entanto, dos cinco mil embriões, apenas duas mil amostras chegaram aos pecuaristas brasileiros, em 2009 – os descendentes, diga-se, de passagem já estão em sua sexta geração.
Pouco depois as autoridades indianas travaram o envio do material por questões de ordem sanitária e religiosa. As negociações com o governo da Índia se arrastavam desde 2012. Nesse período, seis ministros passaram pela Pasta da Agricultura sem qualquer avanço significativo nas tratativas. Em contato com o RR, o Ministério da Agricultura confirmou que “recebeu relato do Ministério das Relações Exteriores de que o DGFT concedeu autorização para a exportação do material”. A Pasta informou ainda que “para concluir a venda, são necessários, agora, requerimento do exportador ao DGFT e emissão do Certificado Sanitário, requisitos normais para qualquer exportação agropecuária” A expectativa é que “o envio do lote ao Brasil possa ocorrer nas próximas semanas”.
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Segunda tentativa
18/01/2022O coronel da reserva Ricardo Célio Chagas Bezerra está cotado para assumir um cargo no Ministério do Desenvolvimento Regional. Filiado ao PSL, leia-se União Brasil, Bezerra protagonizou um episódio sui generis em setembro de 2019. Dono de uma fazenda de exploração de madeira em Altamira (PA), foi nomeado para a superintendência do Ibama no Ceará e permaneceu no cargo por apenas 24 horas.
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Uma frente ampla para o Ministério da Economia
3/01/2022O economista Arminio Fraga acende uma vela a Deus e outra ao diabo. Diz que está pronto a colaborar – ser ministro da Economia – de um governo que adote suas ideias. Por aderência natural migraria para a candidatura Sérgio Moro. Mas o candidato lavajatista já tem o seu ministro – o professor Affonso Celso Pastore – e reduzidas chances de vitória. Com Bolsonaro, Fraga não tem nem conversa. De Lula recebeu acenos, mas teria recusado. Não é bem verdade. Teria, sim, postergado. Fraga aguarda a indicação de Geraldo Alckmin à vice-presidência de Lula. Seria a forma tortuosa de abrir um canal de diálogo com o líder das pesquisas eleitorais.
O controlador da Gávea Investimentos espera que Fernando Henrique Cardoso, Tasso Jereissati e José Serra, entre outros “tucanos de cabelos brancos”, venham a aderir à chapa Lula-Alckmin para se juntar aos apoiadores pessedebista da coligação lulista. Ou seja: esse PSDB informal e depurado de nomes como o de Aécio Neves, só para dar o exemplo mais gritante. Fraga se perfila entre os tucanos de boa cepa, mas no fundo tem um lado pessoal que lembra Paulo Guedes: quer obsessivamente ser ministro há anos e anos, amém. Sabe que Lula caminhará para a centro direita.
E que muitas das suas ideias serão incorporadas em um futuro governa lulista. A chave de entrada seria a formalização de Alckmin na vice-presidência. A tropa de choque lulista não descarta um convite a Fraga, mas ele não lidera a lista dos mais bem quistos potenciais futuros ministros da Economia. Lula preferiria um perfil político, mais próximo de estilo Antônio Palocci, titular da Pasta no seu primeiro governo. Dois nomes se sobressaem nessa lista: o do governador do Maranhão e professor de Direito Constitucional da Universidade do Maranhão, Flávio Dino; e do ex-vereador por Teresina, deputado estadual, federal, senador e quatro vezes governador do Piauí – inclusive exercendo o atual mandato -, Wellington Dias. Ressalte-se que os dois compareceram ao jantar oferecido por um grupo de advogados paulistas para aproximar Lula ainda mais de Geraldo Alckmin.
Apetece também ao ex-presidente a escolha de um empresário do setor real da economia. Há diversos papeizinhos com nomes nesse pote: Josué Gomes da Silva, filho do ex-vice de Lula, José de Alencar, e presidente da Fiesp; Pedro Passos, um dos controladores da Natura, que daria um toque ESG à política econômica; Pedro Wongtschowski, industrialista e presidente do Conselho do Grupo Ultra; Benjamin Steinbruch, presidente da CSN (ver RR de 22 de dezembro de 2021) e amigo pessoal do assessor de Lula, Aloizio Mercadante – seja lá o peso que isso tenha na escolha; e até mesmo o octogenário Abilio Diniz, que voltou à cena, expondo suas ideias na mídia como se quisesse ser lembrado. Correndo por fora do setor real viria o tecnocrata financeiro multi-partidário Henrique Meirelles – presidente do BC de Lula, ministro da Fazenda de Michel Temer e secretário da Fazenda de João Doria.
Meirelles não está na pole position da indicação para o Ministério da Economia, mas reúne três pontos a favor: se dá bem com Lula, conta com o aval do mercado e teria um bom entendimento com o presidente do BC, Roberto Campos Neto, que estará à frente da autoridade monetária, seja lá quem for o futuro presidente. Meirelles, contudo, tem um ponto avantajado contra ele: a atual relação estreita com Doria, que fará uma campanha eleitoral fustigando Lula. Nesse contexto, Fraga seria o candidato natural do mercado. Recentemente, passou a namorar a centro-esquerda. E atrairia pessedebistas ainda recalcitrantes em relação ao apoio a Lula. Um senhor ponto contra é que é detestado por segmentos influentes do PT. Candidatos a ministro da Economia, portanto, ainda pululam aos montes. De certo mesmo, somente é que todos serão “subministros”. O “titular da Pasta” de fato será o próprio Lula, que, se eleito, pretende que a política econômica seja realizada com dosimetria política. O inverso de Jair Bolsonaro. O que não deixa de ser uma boa notícia.
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Governo estuda um “Bolsa Semente”
23/08/2021Vem aí o “auxílio emergencial do campo”. O governo está costurando um projeto para a renegociação de dívidas do agronegócio junto aos bancos públicos, sobretudo o Banco do Brasil. Os estudos vêm sendo conduzidos dentro da Casa Civil, com a participação do Ministério da Agricultura. A medida beneficiaria notadamente pequenos produtores rurais, contemplando passivos contraídos ao longo dos últimos 12 meses. Estima-se que o estoque de dívidas seja da ordem de R$ 10 bilhões. São mais de três milhões de agricultores. É gente que planta. E, principalmente, que vota. O alvo da proposta é certeiro: os compromissos em questão não estão cobertos pelo programa lançado pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional no ano passado para a renegociação de débitos de agricultores familiares inscritos na Dívida Ativa da União. Procurada pelo RR, a Casa Civil não quis se manifestar.
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PF segue as pegadas do gado contrabandeado
8/07/2021A Polícia Federal estaria investigando um grande esquema de contrabando de gado para o Brasil com a participação de pecuaristas do Centro-Oeste. Segundo o RR apurou, a principal rota de entrada ilegal de animais no país seria pela fronteira entre o Paraguai e o Mato Grosso do Sul. O gado clandestino estaria abastecendo também fazendas do Mato Grosso e de Goiás.
Nos últimos dois anos, houve um aumento dos casos de apreensão de bois vivos na região – em uma das maiores operações, em outubro de 2020, foram capturados 120 bezerros em Ponta Porã (MS). No entanto, de acordo com a mesma fonte, as investigações mostram um crescimento desenfreado da atividade criminosa desde janeiro, na esteira da disparada dos custos de produção na pecuária, notadamente com a compra de ração. O gado paraguaio chega ao Brasil a um preço razoavelmente inferior, o que permite aos pecuaristas aumentar suas margens nas vendas aos frigoríficos.
A situação acendeu um sinal de alerta no Ministério da Agricultura. Para além da esfera criminal, há um grave problema de ordem fitossanitária: o risco de entrada no Brasil de animais com febre aftosa, entre outras enfermidades, o que pode provocar um estrago nas exportações de carne bovina. Era só o que faltava em um dos países “campeões” da Covid. Por esta razão, grandes frigoríficos do país têm feito pressão sobre as autoridades para combater o contrabando de bois vivos e aumentar a fiscalização sanitária, especialmente na fronteira com o Paraguai.
Procurada pelo RR, a Polícia Federal não se pronunciou. Já o Ministério da Agricultura confirmou que o “ingresso irregular de gado no país pode representar risco, pois o animais estariam entrando sem garantia de sanidade”. O órgão diz ainda que “está em contato com entidades locais para avaliar possíveis ações”.
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República de Salles
25/05/2021O MPF tem recebido uma série de denúncias de uso ilegal de agrotóxicos na Região Amazônica. Parcela expressiva dos casos se concentra em fazendas de soja no norte do Mato Grosso. O problema, no entanto, vem se alastrando por outras áreas. Recentemente, por exemplo, o Ministério Público do Acre flagrou a pulverização de agrotóxicos no Acre em uma propriedade próxima à reserva Chico Mendes.
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Haddad é candidato… Ao Ministério da Fazenda
17/05/2021Enquanto o programa de governo de Lula não vem, as pesquisas eleitorais favoráveis ao petista estão precipitando as articulações em torno do que realmente interessa: quem vai assumir o Ministério da Fazenda. Dentro do partido, Fernando Haddad começa a despontar como um nome para comandar a “nova velha” Pasta, que deverá ser recriada no lugar do “super” Ministério da Economia – solução on demand para Paulo Guedes. Seria uma forma de contemplar Haddad com um cargo à altura da sua importância no PT, na hipótese dele não ser candidato ao governo de São Paulo – algo cada vez mais provável. Para quem não sabe, o ex-prefeito de São Paulo fez mestrado em economia. Ocorre que, dentro do próprio PT, há sérias dúvidas em relação à indicação de Fernando Haddad para o Ministério da Fazenda, a começar pelo próprio Lula. O ex -presidente fica dividido em relação a um nome pró mercado, que acalmasse as previsíveis tensões no meio financeiro. Haddad já teria um antídoto para esse questionamento: levaria para o governo a turma do Insper, leia-se Marcos Lisboa et caterva. Na verdade, a turma da qual o próprio petista fez parte até bem pouco tempo atrás: em 31 de março deste ano, Haddad se desligou do Insper, onde lecionou durante quatro anos. Como se não bastasse esse “pequeno” conflito de interesses, ainda que formalmente o ex-prefeito tenha se desvinculado do corpo docente, a instituição e o próprio Lisboa não passam pela goela de alguns dos principais dirigentes do PT. Ou seja: Fernando Haddad, provavelmente, terá de encontrar outra âncora para asserenar os mercados.
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Escondidinho no Ministério
4/05/2021A nomeação do ex-secretário especial de Fazenda Waldery Rodrigues como assessor de Paulo Guedes foi o arranjo encontrado pelo ministro e por Rodrigo Pacheco para evitar seu constrangedor retorno ao Senado, onde é funcionário de carreira. Pacheco cogitou indicar Rodrigues como conselheiro da presidência do Senado para assuntos econômicos, mas a hipótese foi rechaçada pelos próprios parlamentares. O ex-secretário gerou atritos em demasia nas negociações para a aprovação do Orçamento.
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Penúria dos estados vira arma contra o lockdown
14/04/2021Há “maquiáveis” de plantão no Ministério da Economia. Segundo uma fonte pertencente à Secretaria de Fazenda de um grande estado, o governo estaria propondo uma espécie de toma lá dá cá para barrar o lockdown e, ao mesmo tempo, criar condições para acelerar a retomada econômica. A operação consiste em uma chantagem bem ao estilo do ministro Paulo Guedes: o “bom comportamento” na gestão da pandemia seria premiado com condições favoráveis de refinanciamento da dívida. Ou seja: os estados que flexibilizarem as regras de isolamento teriam facilidades para a sua recuperação fiscal. Como se faz isso, fora conversas de pé de ouvido, é difícil de entender. O argumento central é retirar o entrave à recuperação da atividade produtiva e, consequentemente, um potencial gerador de mais desemprego, o que exigirá a extensão do auxílio emergencial. A situação de penúria da maior parte dos entes federativos aumenta o poder de pressão do governo federal.
Este é um jogo de dados. O timing da retomada econômica depende fundamentalmente do ritmo de imunização da população. Não por acaso, nos últimos dias Guedes desandou a falar compulsivamente de vacinação. Esse ritmo é uma incógnita: há milhões de imunizantes que estão nas contas do Ministério da Saúde e podem não chegar ao Brasil no prazo previsto ou sequer chegar, caso da indiana Covaxin, ainda não aprovada pela Anvisa. Essa interrogação joga o país em um círculo vicioso: menos vacina potencializa a possibilidade do lockdown, que, por sua vez, é gerador de baixa atividade econômica, mais desempregados e um tempo bem mais longo para a recuperação da curva de crescimento. Nesse cenário, a única moeda de troca – ou de pressão – de Guedes e do governo junto aos estados seria o regime de recuperação fiscal contra o lockdown. As duas palavras até rimam. A questão é saber se fazem sentido politicamente.
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Estilhaços da intervenção de Bolsonaro na Petrobras
23/02/2021- Até o fechamento desta edição (ontem, às 20h) Paulo Guedes completou 72 horas sem se pronunciar sobre a demissão de Roberto Castello Branco. Muy amigo…
- Depois do que fez na Petrobras, Jair Bolsonaro não deve estar mais querendo a aprovação da autonomia do Banco Central. Seria a única instância da República em que ele não poderia demitir o subordinado.
- Ontem, circulou a informação de que Jair Bolsonaro está consultando seu conselho militar em busca do nome de um oficial para a Eletrobras. Não é difícil de entender que a privatização foi para a o espaço.
- Também ontem, correu no mercado a informação de uma substituição da substituição na BR. Wilson Ferreira Junior, que deixou a Eletrobras e ganhou como prêmio de consolação a presidência da distribuidora, não assumiria mais o cargo. O novo indicado seria o ministro Bento Albuquerque. Sua missão seria tocar uma “nova BR”, com a reestatização da empresa. Segundo informação que circulou em uma grande corretora, a Petrobras compraria, até junho, 15% das ações da distribuidora que pertencem a fundos e bancos internacionais, reassumindo o controle.
- A possível indicação do almirante Bento Albuquerque para a BR enseja ainda duas interpretações. A primeira é que Bolsonaro quer colocar alguém seu na empresa para fazer política de preços e tarifas dos combustíveis. A segunda é que o presidente pretende abrir espaço no Ministério de Minas e Energia para o Centrão.
- A explosão de Jair Bolsonaro deverá atingir, ainda que de leve, a cota de Paulo Guedes. O secretário especial da Fazenda, Waldery Rodrigues Junior, está na linha de tiro do presidente.
- O presidente do Banco do Brasil, André Brandão, já está espanando a cadeira. Sabe que sua demissão pode não ser agora. Mas será mais à frente, conforme já sinalizou Bolsonaro.
- Ontem era tido como certo no mercado que o programa de privatização do governo vai ficar restrito à xepa das estatais. A insegurança jurídica alimentada por Bolsonaro é um repelente para os investidores.
- O que se considerava, ontem, em Brasília é até que ponto a aprovação da PEC Emergencial será suficiente para mitigar o estrago feito com as mexidas conduzidas por Bolsonaro. Tá tudo dominado, mas não por Paulo Guedes…
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Vida de gado
8/10/2020O Ministério da Justiça vai leiloar cerca de 400 cabeças de gado. O rebanho, assim como fazendas e imóveis também apreendidos pela Justiça, pertenciam ao “empresário” João Arcanjo Ribeiro, conhecido como “Comendador”. Arcanjo é acusado de liderar um esquema de lavagem de dinheiro no Mato Grosso, valendo-se da proximidade com políticos locais. É suspeito ainda de ter comandado o crime organizado no estado até o fim dos anos 90.
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Programa de índio
4/09/2020Procuradores da República em Mato Grosso do Sul estão intensificando as ações junto à 1ª Vara Federal de Dourados e de Ponta Porã para desapropriar as fazendas Nossa Senhora Aparecida e Água Branca, nos municípios de Caarapó e Aral Moreira. Segundo o Ministério Público, as duas propriedades estão instaladas ilegalmente na reserva indígena dos guaranis-caiovás. O ministro Dias Toffoli já negou liminar pedida pelos advogados dos fazendeiros, manteve as etnias nas terras e determinou que as ações de reintegração de posse retornem para Dourados e Ponta Porã. Como o governo federal errou ao permitir a ocupação das terras nos anos 80, inclusive avalizando escrituras públicas, os fazendeiros serão indenizados pelas melhorias feitas
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“Lei Messer” regula a partilha do dinheiro do crime
1/09/2020O “testamento” do doleiro Dario Messer tornou-se a proxy para uma negociação bilateral ainda mais ampla. Os governos do Brasil e do Paraguai costuram um novo acordo de cooperação contra o crime organizado, com foco na partilha de bens oriundos de atividades ilegais. A iniciativa, já chamada informalmente no Ministério da Justiça de “Lei Messer”, é uma espécie de Parte 2 do convênio assinado no ano passado pelo então ministro Sergio Moro, quando os dois países criaram equipes conjuntas de investigação – as ECIs – para acelerar a apuração de crimes transnacionais.
O território paraguaio é reconhecidamente um (acolhedor) refúgio para traficantes, doleiros, contraventores e congêneres brasileiros, o que enseja um acordo bilateral para a partilha de recursos de criminosos com atividades nos dois países. O caso Messer é bastante representativo, pela sua complexidade. Do patrimônio total de R$ 1 bilhão que o doleiro entregará à Justiça brasileira, cerca de R$ 700 milhões dizem respeito a bens no Paraguai, entre os quais 81 imóveis, como fazendas e apartamentos.
O Ministério Público do Paraguai já comunicou ao seu congênere brasileiro que vai requisitar parte desses bens. A Justiça brasileira vai concordar com o pedágio. Até porque precisará do apoio das autoridades paraguaias para garantir a regularização e a posterior venda das propriedades de Messer no país vizinho, a maior parte delas em nome de “laranjas”
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Afinal, qual é a desoneração da folha de Paulo Guedes?
18/08/2020É preciso compreender melhor o que o ministro Paulo Guedes entende como desoneração da folha de trabalho. Uma coisa é desonerar os novos empregos, o que faz sentido em parte, pois o empregador pode trocar mão de obra “cara” por nova mão de obra barata ou “desonerada”. Outra coisa é desonerar os encargos na folha de salários dos trabalhadores de mais baixa renda, o que ajuda os mais pobres. Justo, justíssimo! Finalmente, uma terceira coisa é desonerar toda a folha de salário.
Trata-se de uma experiência já vivida no governo Dilma, um filme que não deu certo. De acordo com o Ipea, a desoneração da folha promovida pela Sra. Rousseff, de 2012 a 2015, não teve impacto no emprego. Já na margem de lucro das empresas a medida teve o efeito de um bombom de cereja com licor. Curioso é que um dos autores do estudo do Ipea que constatou a ineficiência da desoneração da folha foi Adolfo Sachsida, hoje secretário de Política Econômica do Ministério da Economia.
A política de Dilma Rousseff se deu pela substituição dos 20% da contribuição patronal ao regime de Previdência que incide na folha de pagamento por uma contribuição entre 1% e 2% sobre o faturamento das empresas. Para se ter uma ideia da disposição de Dilma em cortar os tributos, de 2011 até o fim do seu governo, em 2016, a tesourada nos gravames foi de cerca de R$ 458 bilhões, ou seja, metade da economia obtida com a reforma da previdência do governo Bolsonaro. Recentemente, Dilma fez um mea culpa e se penitenciou, contrita, pela insistência com a desoneração, uma medida “que não aumentou o investimento nem o emprego e somente contribuiu para encher o bolso dos empresários”.
Com Michel Temer assumindo a presidência, coube ao seu ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, reonerar vários setores da economia. Naqueles idos, Meirelles considerava que a desoneração somente colaborou para a deterioração da situação fiscal do país. Pois bem, estamos de volta para o passado. Mas talvez Paulo Guedes tenha a dosimetria certa para fazer com que esse veneno sob forma de bálsamo se transforme em um lenitivo eficaz para o desemprego no país.
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O pastor de Damares
12/08/2020O raio de influência do procurador da Fazenda e pastor evangélico Sergio Queiroz vai além do Ministério da Cidadania, onde ele ocupa a Secretaria Especial de Desenvolvimento Social. Ele foi o responsável pela recente indicação da advogada Emilly Coelho para o comando da Secretaria Nacional da Juventude, vinculada ao Ministério da Família. Está tudo em casa: durante sua formação religiosa, Queiroz foi discípulo da ministra Damares Alves.
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O alto custo da saúde
6/08/2020O Conselho Nacional de Política Fazendária já fez sua parte, autorizando os estados a zerar a alíquota de ICMS para o medicamento Zolgensma. Agora, vem a etapa mais dura: o Ministério da Saúde garantir junto à equipe econômica verba para a importação e a disponibilização do remédio no SUS. Usado no tratamento da atrofia muscular espinhal, que afeta um em cada 10 mil recém-nascidos no mundo, o Zolgensma é considerada a droga mais cara do mundo. Basta uma única dose para impedir a progressão da doença. Ao custo de US$ 2 milhões.
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Baú de memórias
13/07/2020Quem conhece de perto as práticas fiscais de Ricardo Nunes, fundador da Ricardo Eletro, é o ex-sócio e desafeto Luiz Carlos Batista. Foram muitas as divergências sobre o tema nos tempos de sociedade. Nunes foi preso na semana passada, acusado pelo Ministério Público e pela Fazenda de Minas Gerais de sonegar R$ 400 milhões em impostos.
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A ascensão sem fim de Paulo de Guedes
11/05/2020Circula em Brasília a informação de que Paulo Guedes está mudando o seu escritório de trabalho. O presidente Jair Bolsonaro teria oferecido ao ministro da Economia uma sala para que ele passe a despachar no Palácio do Planalto, pelo menos alguns dias por semana. Seria uma medida com alta dose de simbolismo, uma exibição de força do “Posto Ipiranga”. Nunca se viu antes um ministro da Fazenda, do Planejamento ou os dois conjugados dando expediente no Planalto.
Sua presença ao lado de Bolsonaro demonstraria proximidade não apenas com o presidente, mas também com os generais quatro estrelas do governo. Guedes teria a deferência de ser o ministro civil em meio aos ministros militares que coabitam o Palácio. A medida representa também uma espécie de fast track para ações do governo na crise da pandemia. Guedes teria maior facilidade para diversos despachos emergenciais, levando, na outra via, informações frescas ao presidente.
Por algum motivo parece que Bolsonaro decidiu receber dos seus ministros “operacionais” relatórios presenciais mais frequentes. Guedes é o principal “ministro operacional”. Em meio à pandemia, a convite de Bolsonaro, o ministro mudou-se do hotel onde morava em Brasília para a Granja do Torto, residência oficial da Presidência da República. Na última quinta-feira, Bolsonaro fez questão de reafirmar que segue a cartilha de Guedes na economia: “99% é o Paulo Guedes que decide; 1% sou eu”.
Tudo indica que está sendo criado um derivativo do semipresidencialismo, um híbrido onde o presidente está em campanha eleitoral permanente, inclusive contra seu próprio governo; e o ministro da Economia, que abarca metade dos ministérios do governo, administra freneticamente as contas em todas as áreas do setor público. O que sobra de gestão da máquina fica sob os auspícios dos militares. Mas esses já se encontram amplamente representados no Palácio do Planalto.
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André Mendonça entra na luta contra o crime organizado
6/05/2020Em meio ao legado de Sergio Moro, o ministro da Justiça, André Mendonça, encontrou sobre a mesa um novo projeto para o combate ao crime organizado. O alvo é o narcotráfico entre a Bolívia e o Brasil, que movimentou cerca de US$ 800 milhões no ano passado. O plano prevê a instalação de um Centro Integrado de Operações de Fronteira (CIOF). A localização exata ainda é um dado guardado a sete chaves dentro do Ministério.
Segundo informações filtradas pelo RR junto à Pasta, a unidade deverá ficar nas proximidades de Corumbá (MS), uma das principais rotas do crime organizado entre os dois países. Consultado sobre o projeto, o Ministério disse “não confirmar a informação”. O CIOF é hoje uma das grandes apostas da Pasta da Justiça e da Segurança Pública para conter a atuação do crime organizado e a entrada de drogas no país. Trata-se de um hub de Inteligência e ações de campo, sob comando do Ministério. O primeiro foi instalado no fim do ano passado em Foz do Iguaçu.
O CIOF reúne três frentes: operações ostensivas, auxílio a investigações e uma divisão especial de combate às facções criminosas, com o uso combinado de agentes das forças de segurança federais e estaduais. O timing favorece uma ação mais aguda contra o narcotráfico entre a Bolívia e o Brasil. Recentemente, o crime organizado bilateral sofreu um duro golpe com a prisão de Gilberto Aparecido dos Santos, o “Fuminho”, um dos traficantes mais procurados pela PF. Foragido há quase 20 anos, “Fuminho” estava em Moçambique, de onde manteve o comando de seus negócios criminosos na Bolívia. O traficante controla algumas das principais fazendas de coca, além de pistas de pouso clandestinas no país vizinho.
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Produtores de camarão jogam a rede em busca de protecionismo
3/10/2019Os grandes produtores de camarão em cativeiro do país bateram à porta dos Ministérios da Agricultura e da Economia. Cobram do governo barreiras tarifárias mais rígidas para frear as crescentes importações do crustáceo e proteger um setor que fatura quase R$ 3 bilhões por ano e soma cerca de 100 mil empregos diretos e indiretos, grande parte no Nordeste, região onde a popularidade de Jair Bolsonaro segue abaixo do espelho d´água. O maior adversário é a Índia, principal produtor mundial.
Os indianos têm se aproveitado de brechas em um tratado bilateral assinado com o Brasil no governo Temer, com o objetivo de regular o comércio de pescado entre os dois países. Na prática, o acordo tem se revelado uma via de mão única, em razão do maior poder de fogo dos asiáticos. O principal interlocutor entre o setor e o governo é o empresário Cristiano Maia, maior produtor do Brasil. Em 2016, Maia comprou a Fazenda Potiporã do Grupo Queiroz Galvão, na qual já investiu mais de R$ 100 milhões.
Os criadores acusam os indianos de prática de dumping, com a venda de camarão a preços até 30% inferiores aos praticados no Brasil. Em um ano, a participação do camarão importado saiu de 25% para mais de 35% do mercado nacional. Esse aumento é ainda mais perverso para os criadores brasileiros por coincidir com um período de forte queda dos preços: de 2017 para cá, a redução acumulada é da ordem de 40%. Outro problema aflige os criadores brasileiros: a baixa rigidez da Índia com os padrões fitossanitários.
O receio é que camarões trazidos vivos e eventualmente infectados por vírus sejam colocados em tanques e contaminem reservatórios de produção e procriação do país. Na Índia, é comum o vírus da mancha branca, uma espécie de “vaca louca da água doce”. As consequências do último grande surto da doença no Brasil, em 2004, ainda estão vivas na memória dos carnicultores nacionais. A produtividade caiu de sete mil toneladas por hectare de lâmina d´água para 2,5 mil toneladas.
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Os “Neros da Amazônia”
10/09/2019Segundo investigações conduzidas pela Polícia Civil do Pará, entre os suspeitos pelo boom de queimadas no estado estaria uma dupla notória da região: os irmãos Marcelo Miranda e José Edmar Brito Miranda Junior. Ambos são sócios da Fazenda Ouro Verde, na região de São Félix do Xingu, onde o INPE já mapeou mais de 2,5 mil focos de incêndio. Os Miranda têm uma biografia pontuada enroscos com a Justiça. Marcelo carrega em sua biografia o feito de ser o único político brasileiro a ter sido judicialmente afastado do mesmo cargo, o governo de Tocantins, por duas vezes. Ele e José Edmar são réus no âmbito da Operação Reis do Gado, acusados de lavagem de dinheiro com a compra de terras e gado na região.
…
O Ministério Público do Acre vai colocar mais lenha na fogueira amazônica. Estudo técnico encomendado pelo MP constatou que os valores médios de fumaça no ar no estado entre os dias 6 e 16 de agosto alcançaram um nível cinco vezes superior ao limite estabelecido pela OMS. Os dados servirão de munição para ações que o MP pretende mover contra o Ibama e órgãos de controle ambiental do estado, acusados de não cumprir com o trabalho de fiscalização. O estudo técnico foi coordenado pelo cientista Foster Brown, da Universidade Federal do Acre, renomado pesquisador do bioma amazônico. Brown utilizou equipamentos com sensores, conhecidos como Purpleair, capazes de realizar monitoramentos de alta densidade em ambientes extremos.
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Brumadinho já é coisa do passado?
2/08/2019A Vale ganhou um fôlego de liquidez. Conseguiu o desbloqueio de R$ 5 bilhões que estavam em suas contas e foram imobilizados a pedido do Ministério Público de Minas Gerais. A decisão foi da Vara de Fazenda Pública de Belo Horizonte. Os recursos foram retidos para cobrir pagamentos de indenizações às famílias das vítimas e financiar projetos de recuperação ambiental decorrentes da tragédia de Brumadinho. Para todos os efeitos, a punição continua, mas a companhia dará à Justiça garantias via imóveis ou fiança bancária.
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Pacto dos Três Poderes tem uma única função: salvar o presidente Bolsonaro
31/05/2019O Pacto Social entre os Três Poderes deverá render seu primeiro dividendo na próxima segunda-feira, com a apresentação do parecer do deputado Hildo Rocha (MDB-BA), contendo a PEC para alteração no inciso III do art. 167 da Constituição de 1988, que regulamenta a chamada “regra de ouro”. Nesta mesma data terá início a blitzkrieg para que a emenda seja votada, na segunda semana de junho, com pedido de tramitação em regime de urgência urgentíssima. A “regra de ouro” veda que as operações de crédito excedam o montante das despesas de capital. Jair Bolsonaro e os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Supremo, Dias Toffoli, não fizeram o Pacto no vazio.
A meta de curto prazo – se é que há outro objetivo programático – é, em nome da ética da responsabilidade, aprovar o crédito extraordinário solicitado pelo governo, retirando o risco de impeachment resultante do descumprimento das obrigações fiscais. A possibilidade de afastamento do presidente, por menor que seja, tem potencial explosivo em uma conjuntura de derretimento da economia e busca pela aprovação de reformas estruturais impopulares. O estouro do orçamento, em 2019, já era dado como certo antes da eleição de Jair Bolsonaro. O presidente Michel Temer viveu, em parte, essa agonia. No dia 4 de janeiro de 2018, achando que teria de se ajoelhar como pedinte a um Congresso que ainda debulhava suas “parcerias pessoais público-privadas”, solicitou uma reunião de urgência para tratar do tema. Participaram das discussões Rodrigo Maia, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, o ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira e o ministro das Cidades, Alexandre Baldy.
Mesmo assim, os técnicos da Consultoria Legislativa e de Orçamento da Câmara trabalharam com afinco para a preparação de uma PEC (423/18) que tiraria Temer e Meirelles da linha de tiro. A proposta foi apresentada em junho do ano passado pelo deputado Pedro Paulo (DEM-RJ). Mas as transferências de recursos do BNDES equacionaram a iminente desobediência da “regra de ouro”. Na semana retrasada, o Ministério da Economia informou à Câmara dos Deputados a existência de um rombo de R$ 248 bilhões, que foi revisto, na última terça-feira, para R$ 110,6 bilhões, e, ontem, novamente corrigido, subindo para R$ 146 bilhões. O deputado Hildo Rocha, relator da PEC, defende o repasse em duas tranches, devido à falta de clareza quanto ao montante solicitado para o crédito adicional.
O ministro Paulo Guedes, entretanto, considera que, mesmo sem o valor definido com maior precisão, o crédito suplementar deveria ser aprovado em uma única parcela, ou seja, a estimativa mais alta apresentada pelo governo. Guedes diz se preocupar com as dificuldades de tramitação do crédito suplementar em dois tempos, mas sabe também que ter de pedir uma nova bênção lá na frente trará o assunto “impeachment” novamente à ribalta. O Legislativo, como diria Guimarães Rosa, participa da “pactância”, garantindo a aprovação do crédito suplementar e da PEC da “regra de ouro”, e, com ela, a governança e a ilibação fiscal do presidente e de seus ministros. O STF jogaria recuado como defensor da última linha, cobrindo a retaguarda contra liminares e outros expedientes de reclame jurídico, que certamente virão.
Unidos, os Poderes montariam uma barricada contra o veto ao pedido de recursos adicionais e a responsabilização criminal de Bolsonaro, Guedes e cia. Todos os cuidados são extremamente necessários, até porque a ameaça do governo de suspender o pagamento de despesas essenciais e obrigatórias (o ministro Paulo Guedes, conforme o seu livre arbítrrio, determinaria onde contingenciar os gastos, quer seja com saúde, educação, Bolsa-Família, Previdência e funcionalismo) não só é um haraquiri político como também não dissolve uma eventual interpretação sobre a permanência da criminalização do chefe de Estado mesmo em caso do governo estripar os gastos sociais e as despesas obrigatórias. Também não faz sentido proteger o presidente com uma lei somente compatível com a realeza.
“Suamajestade”, que já não é sujeita à condenação penal por atos ilícitos anteriores ao seu mandato, passaria a desfrutar de isenção absoluta contra as aberrações fiscais da sua gestão. Talvez faça mais sentido os autores da PEC manterem as exigências da “regra de ouro” – que desde 1988 é religiosamente cumprida – alterando o ditame de responsabilização criminal do presidente no seu primeiro ano de governo. Explica-se: o desequilíbrio fiscal na aurora da governança é sempre uma herança da gestão anterior. É comum a irresponsabilidade nas despesas no último ano de governo, quando os mandantes se esmeram em gastos com fins eleitorais. Essa “regra de platina”, de proteção contra o legado de estouro orçamentário, prazo de um ano para que o governo se aprume na área fiscal, e manutenção da punibilidade do mau gestor do orçamento do Estado, corrigiria uma responsabilidade injusta atribuída ao presidente na primeira hora sem que lhe seja concedida a graça da “inimputabilidade papal”, conforme vem sendo chamada a emenda que isenta Jair Bolsonaro para todo o seu mandato.
Como não é possível fazer uma criminalização retroativa de Michel Temer, Bolsonaro teria o waiver do excesso de gastos de custeio em 2019. Se a PEC da “regra de ouro” desonerar o presidente de qualquer responsabilidade fiscal, esse “habeas corpus permanente” representará um estímulo à lassidão nos gastos. Em 2022, a recauchutada proposta de “regra de ouro” estrearia o novo ditame, pelo qual Bolsonaro seria obrigado a entregar o equilíbrio das contas ao seu sucessor – ainda que ele próprio seja reeleito. Caso contrário, ele seria responsabilizado criminalmente pela herança transferida pelo seu governo, no último ano de mandato, para a gestão seguinte.
Certamente a premência de solução da “regra de ouro” coloca esta pauta na frente de todas as demais, inclusive da reforma da Previdência, agenda-mor do atual governo. Seria, contudo, altamente promissor se os pactantes, a começar pelo Executivo, também buscassem uma acomodação para três normas de incompatível convivência: a meta do resultado primário, a “regra de ouro” e a PEC do Teto. O governo, com tantos econometristas e matemáticos, criou a trindade impossível. Que os Poderes busquem blindar a Presidência nesse momento em que o país se decompõe é um ato de responsabilidade. Mas que também protejam os gastos sociais, na hipótese de descumprimento da “regra de ouro” e não aprovação do crédito adicional pelo Congresso. É recomendável que os pactantes coloquem uma racionalidade nos freios fiscais, que, até o presente, têm funcionado como contrafreios. Na atual circunstância, o conjunto da obra vai mal com Bolsonaro, mas o risco é ir péssimo sem ele. Se fosse com Dilma Rousseff, o assunto nem sequer chegava ao Congresso.
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As sístoles e diástoles do ministro Paulo Guedes
27/05/2019Assim como Pedro negou Jesus três vezes, Paulo ameaçou deixar Jair em três oportunidades. As duas primeiras foram bravatas, não para intimidar o presidente, por quem Paulo Guedes nutre sincera simpatia, mas para pressionar o Congresso e demais stakeholders. O desabafo para os jornalistas da revista Veja, divulgado na sexta-feira, contudo, tem outra conotação. O ministro da Economia disse que, se a reforma da Previdência não for aprovada, e com um piso de R$ 800 bilhões, pegará um avião e irá morar no exterior.
Não explicitou qual o deadline para a aprovação da reforma. E nem o seu grau de tolerância em relação a alguma queda nos R$ 800 bilhões. E menos ainda disse sobre a sua situação de desgaste físico. Guedes tem tido uma performance heróica nas batalhas campais pela mudança na Previdência. Elas têm provocado sequelas. O ministro está com tremores nas mãos. Dorme pouco. Nos 143 dias de governo, acentuou sua calvície e embranqueceu mais os cabelos já grisalhos.
Guedes tem sofrido a coação dos políticos e corporações. Mas a maior pressão é feita pela sua esposa, Maria Cristina, que tem visto o marido definhar. Ele não precisa do cargo para nada. “E já fiz o que tinha de ser feito”, segundo suas próprias palavras. Por Maria Cristina, Guedes estaria no Rio e em casa, caminhando no calçadão da praia do Leblon, como fazia todas as manhãs antes de assumir o Ministério. No dia 14 de março, na posse do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, o ministro ameaçou pela primeira vez pegar seu boné e voltar para o mercado financeiro.
Palavras de Guedes: “Se botarem menos de R$ 1 trilhão eu vou dizer assim: vou sair rápido, porque esse pessoal não é confiável. Se não ajudam nem os filhos; então, o que será que vão fazer comigo?” Desta última declaração para a mais recente, o ministro já deu um desconto de R$ 200 bilhões para a sua permanência. No dia 27 de março, avisou no Senado Federal: “Se a PEC da Previdência não vou aprovada, vou embora do governo. A bola está com o Congresso”. Com a afirmação da última semana, Guedes criou um fato político, forçando inclusive o presidente Jair Bolsonaro a se manifestar sobre a intenção manifesta. Pelas circunstâncias, Guedes talvez esteja sendo o mais corajoso dos ministros da Fazenda das últimas safras. Mas tem que se cuidar.
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Souza Cruz costura “PPP” com o governo para voltar à era dos grandes lucros
17/05/2019No biênio de 2016/2017 o lobby da indústria tabagista no Brasil chegou perto de R$ 150 milhões, segundo uma fonte do RR que pertenceu aos quadros da Souza Cruz, empresa responsável por 90% desses gastos. A companhia é uma máquina de lobby. Deixa a indústria armamentista, por exemplo, a ver navios. A decisão de partir para o jogo pesado foi tomada devido ao explosivo descontentamento da British American Tobacco (BAT) com o fechamento de capital da subsidiária brasileira, em 2015.
A direção da empresa no Brasil foi responsabilizada pelo equívoco. A Souza Cruz tinha lucros espetaculares. Em um ano, crescia 40%; no outro, 50%. Era a ação mais rentável do mercado brasileiro. Quase concomitantemente ao fechamento de capital, explodiu o contrabando de cigarros, combinado ao aumento da concorrência na praça de São Paulo e a mais e mais impostos – a recompra de ações se deu justamente em meio à escalada tributária, iniciada em 2013. Em 2017, a invasão do mercado brasileiro pelos cigarros paraguaios bateu recorde – pela primeira vez, o produto contrabandeado chegou a mais de 50% do mercado brasileiro. O fechamento de capital foi avalizado como injustificável pela matriz.
Para pagar o prejuízo somente por meio da parceria com o governo brasileiro. Um jogo ganhaganha. Na Souza Cruz montou-se uma operação internamente chamada “o cigarro é nosso”. O RR enviou uma série de perguntas à companhia, que não quis se pronunciar. Embaixadores dessa “cigarrolândia” foram despachados para convencimento das áreas fiscal, política, fazendária, policial etc. O então ministro da Agricultura, Blairo Maggi, foi atraído para o lobby, no segundo trimestre de 2016, tornando-se um dos principais interlocutores da empresa. Ações de divulgação e seminários foram realizados com o Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial, que tem a subsidiária da BAT como um dos principais financiadores.
O ministro do Desenvolvimento Social do governo Temer, Osmar Terra, foi atraído para palestra contra a legalização das drogas, patrocinada pela companhia. Um encontro liderado pela empresa com a senadora Ana Amelia e todas as entidades do setor – Ampro Tabaco, SindiTabaco, Abifumo, Afubras – reuniu diversos parlamentares para discutir o contrabando no mercado de cigarros. A Souza Cruz é apontada também como “campeã de contribuições ocultas” para o Instituto de Direito Público (IDP), que tem como sócio o ministro do STF Gilmar Mendes. O contrabando do cigarro tornouse um inimigo nacional.
O ministro da Justiça, Sérgio Moro, que agora analisa a criação de um grupo de estudos sobre a vantagem da redução dos impostos da indústria tabagista, esteve entre as autoridades cortejadas pela Souza Cruz. Se os números especulados sobre a redução tributária estiverem na direção certa, o setor veria de volta perdas da ordem de R$ 7,5 bilhões. Tomando-se como base a sua participação no mercado, na faixa de 80%, a “restituição” à Souza Cruz seria de aproximadamente R$ 6 bilhões, equivalente ao lucro líquido da empresa no último quadriênio. Nesta “Parceria Público Privada” com o objetivo de resgatar os polpudos lucros que ficaram no passado, a BAT responderia generosamente à decisão do governo anunciando a disposição de investir em uma fábrica de cigarros eletrônicos no Brasil, uma das suas apostas no mundo. O pleito ainda está em estudos na Anvisa. Provavelmente a empresa vai usar sua máquina de lobby para que esse investimento, tão benéfico à saúde do brasileiro, mereça incentivos fiscais. O fato é que muita fumaça ainda vai rolar.
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A “despedalada” e a fritura de Joaquim Levy
10/04/2019A pressão do Ministério da Economia para que o presidente do BNDES, Joaquim Levy, devolva à União, “para ontem”, recursos da ordem de R$ 126 bilhões está deixando de ser uma guerra fria para se tornar uma guerra suja. Paulo Guedes saiu do front para evitar o desgaste de prosseguir apertando Levy. Seus assessores assumiram a missão de quebrar a resistência da “despedalada” dos recursos, com o pagamento antecipado ao Tesouro Nacional dos empréstimos realizados no passado. O presidente do BNDES, por sua vez, pretende que a operação seja coberta de todas as garantias, de forma a evitar mais um constrangimento pessoal junto às autoridades fiscalizadoras.
Levy permanece arrolado em inquérito civil de improbidade administrativa que tramita na Procuradoria da República no Distrito Federal. Segundo o inquérito, ele teria realizado de modo disfarçado e ilícito “suposta operação de crédito entre o Tesouro e os bancos públicos”. Levy teria pedalado em 2015, melhorando artificialmente as contas do governo. Assessores de Paulo Guedes foram escalados como tropa de choque do ministro da Economia. À frente, Daniella Marques Consentino, chefe da Assessoria Especial de Assuntos Estratégicos da Pasta e uma espécie de “cão de guarda” de Guedes, acompanhada dos secretários da Fazenda, Waldery Rodrigues Júnior, e do Tesouro, Mansueto Almeida.
Os três colocam em xeque a permanência de Levy no cargo. Daniella ataca por todos os flancos. Waldery bate forte publicamente, dando declarações que diminuem o presidente do BNDES; Mansueto opera conversando com os jornalistas em off the records e criticando a falta de um compromisso firme em relação aos recursos solicitados. Levy, por sua vez, diz que o ressarcimento à União é uma prioridade, “mas que o retorno dos aportes deve estar atrelado ao pagamento dos financiamentos que a instituição concedeu com esses recursos, incluindo estados, municípios, Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil.”
Só para constar, são esses mesmos bancos que estão incluídos no inquérito contra o presidente do BNDES. Levy sabe que a operação é extremamente politizada. Há também o risco dela ser interpretada como um financiamento disfarçado do banco ao seu controlador. Por essa ótica, ele cairia nas garras da Lei de Responsabilidade Fiscal. A proposta implicaria redução de lucros e menos dividendos, impostos e contribuições. Ou seja: redução de receita primária para o Tesouro. Com relação às pedaladas de 2015, o presidente do BNDES diz que ocorreu exatamente o contrário. Ele não só conteve a prática como teria “despedalado” no final do ano fatídico. Por uma dessas travessuras do destino, Joaquim Levy experimenta no BNDES agruras parecidas com as vividas por Paulo Rabello de Castro, quando era presidente do banco. A diferença é que o ministro da Fazenda era Henrique Meirelles, uma verdadeira dama quando comparado ao obstinado Paulo Guedes e sua furiosa tropa de choque.
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Chama o Meirelles
14/02/2019A direção da GM no Brasil intensificou as conversas com Henrique Meirelles, secretário de Fazenda de São Paulo, na tentativa de antecipar créditos de ICMS das fábricas de São Caetano e São José dos Campos. Na narrativa dos norte-americanos, os recursos são fundamentais para a manutenção das duas unidades. Por ora, a GM tem encontrado a guarida que não teve no governo federal, vide a notória reunião com o secretário especial de Produtividade do Ministério da Economia, Carlos Costa, no início de janeiro. Ao ouvir dos norte-americanos que as fábricas poderiam ser fechadas por falta de incentivo fiscal, Costa mandou na lata: “Se precisar fechar, fecha”.
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“Lady Beth” faz um afago à área de Defesa
24/10/2018Elizabeth Guedes, irmã de Paulo Guedes e vice-presidente da Associação Nacional das Universidades Particulares (Anup) é uma estrategista, conforme informou o RR na edição de 15 de outubro. Parece que, antecipando a importância do estamento militar no governo, “Lady Beth” contratou a filha do ministro Raul Jungmann, Julia Jungmann, para a gerência de Responsabilidade Social da Anup. Antes mesmo da chegada do mano ao Ministério da Fazenda, começou a montar sua network em Brasília.
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Haddad busca seus pilares no governo Lula
5/10/2018Caso consiga brecar o avanço de Jair Bolsonaro e ganhar a eleição, Fernando Haddad poderá buscar na era Lula os alicerces para construir um núcleo duro de poder que, a priori, ele não tem. Ainda que em níveis distintos de participação, essa montagem se daria com a presença de Henrique Meirelles e de José Dirceu em seu eventual governo. Por ora, são apenas hipóteses que começaram a ser ventiladas no entorno da campanha petista após a visita de Haddad a Lula na última segunda-feira, em Curitiba.
São articulações que, assim como o magma, crepitam debaixo de terra, mas não se espere que entrem em erupção agora. Não é o momento de lançar nenhum dos dois nomes, em meio à reta final do primeiro turno e à preocupação petista com a subida de Bolsonaro nas pesquisas. O fato é que, cada qual ao seu jeito, tanto Dirceu quanto Henrique Meirelles estão em campanha – e, no caso deste último, não necessariamente para a Presidência da República. Ao fim do processo eleitoral, Meirelles terá desembolsado cerca de R$ 60 milhões em uma disputa que certamente não o levará ao Palácio do Planalto.
Na reta final da campanha, parece ter sido o preço pago por Meirelles para ser lembrado não como o ministro da Fazenda de Michel Temer, mas como o presidente do Banco Central em todos os 2.921 dias da Era Lula. Em seu programa eleitoral, o emedebista poupou o PT e o próprio ex-presidente durante quase todo o tempo. Além da autovalorização do seu trabalho como o grande condutor da economia nos oito anos do governo Lula – período em que o PIB cresceu, em média, 4% – Meirelles parece ter calculado cada frase, gesto ou filmete. O armistício deixa uma porta aberta para uma reaproximação com o PT.
Por que não? O apoio do ex-ministro seria um trunfo de Haddad na (agora incerta) disputa do segundo turno. Meirelles funcionaria como um avalista do compromisso do petista com o ajuste fiscal e as reformas estruturantes. Ao mesmo tempo, sua presença pavimentaria o caminho também para a continuidade de Ilan Goldfajn no comando do Banco Central. Com relação a José Dirceu, sua presença em um eventual governo Haddad exigiria uma configuração mais complexa.
Solto por uma liminar da Segunda Turma do STF, Dirceu já foi condenado a 30 anos e nove meses de prisão e ainda é réu em outros dois processos. Nas elucubrações petistas, o Comandante não assumiria formalmente um Ministério, até porque haveria entraves legais, mas teria o papel de assessor especial da Presidência da República, tornando-se uma espécie de Rasputin de Haddad. Sua presença no Palácio do Planalto dependeria, claro, da capacidade de Haddad de enfrentar ou não as pressões contrárias e o desgaste que a medida lhe traria logo na partida do seu mandato. Vencido isso, ele teria ao lado um estrategista político de primeira e um grande quadro partidário, com a base da militância na mão.
Embora nunca tenham representando o mesmo tipo de pensamento, Dirceu e Lula tocam de ouvido. O “Comandante” seria a representação do PT profundo no governo, algo que o próprio Haddad está longe de ser. O candidato sempre lidou com a base soft da legenda, correndo pelas raias da educação, da ciência política, da defesa de políticas identitárias etc. Dirceu também agregaria sua rede de contatos internacionais. Quem pensa na Bolívia, Venezuela ou Cuba, acertou menos de 50%. O principal capital político do “Comandante” são suas articulações com a tecnocracia e empresários conservadores norte -americano, tais como Dick Cheney e Sheldon Adelson. Meirelles sabe disso, porque presenciou a articulação de Dirceu com Mário Garnero e George Bush, que desaguou na sua indicação para ministro. É possível que “Zé” tenha mais caminhos para chegar a Trump do que o PT inteiro, incluindo o prisioneiro Lula, caso fosse solto. Mesmo com duas sentenças nas costas.
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Chineses juntam os fios da maior distribuidora de energia do Brasil
3/10/2018State Grid e Three Gorges estariam costurando uma negociação de alta voltagem, com expressivo impacto sobre o setor de energia no Brasil. A operação envolveria a fusão da CPFL, controlada pela primeira, com os ativos de distribuição da EDP, pertencente à segunda. Segundo o RR apurou, a State Grid ficaria com uma participação majoritária no capital, em razão da diferença de tamanho entre as respectivas controladas.
O acordo daria origem a um grupo com quase R$ 45 bilhões em receita, um Ebitda combinado superior a R$ 5 bilhões e quase 11 milhões de clientes, sendo mais de 80% em São Paulo. State Grid e Three Gorges passariam a controlar a maior distribuidora de energia do país, ultrapassando a Eletropaulo. Consultadas pelo RR, as duas companhias chinesas não quiseram comentar o assunto. A eventual fusão entre CPFL e EDP vale não apenas pelo seu peso per si, mas, sobretudo, pelo que ela aponta. Juntas, State Grid e Three Gorges passariam a ter um poder de fogo ainda maior no mercado brasileiro.
Somando-se os valores de parte a parte, as duas empresas já investiram mais de US$ 15 bilhões no país. A State Grid já anunciou que vai desembolsar o equivalente a R$ 140 bilhões no Brasil nos próximos cinco anos. Desde já, a dupla chinesa surge como forte candidata, por exemplo, à privatização da Eletrobras, pule de dez caso Paulo Guedes esteja no Ministério da Fazenda a partir de janeiro.
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Josué marcha na direção de Haddad
26/09/2018O empresário Josué Gomes da Silva entrou em rota de colisão com Valdemar Costa Neto, “dono” do PR. Amigo pessoal de Lula e especulado como um possível candidato ao Ministério da Fazenda no eventual governo Haddad, Josué trabalha para que o partido apoie o petista no segundo turno. Valdemar, no entanto, empurra o PR na direção de Jair Bolsonaro. Aliás, já no primeiro turno, abandonando o barco de Geraldo Alckmin antes do iminente naufrágio.
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Ministro novo na praça
25/09/2018Rolou neste fim de semana um novo nome para ministro da Fazenda em um eventual governo de Fernando Haddad. Trata-se do diretor executivo do Banco Mundial, Otaviano Canuto, que já tinha sido cotado para o cargo no governo Dilma Rousseff. Seria o Joaquim Levy de Fernando Haddad.
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Abílio Diniz é o ministro da Fazenda dos sonhos de Fernando Haddad (e de Lula)
19/09/2018Fernando Haddad já encontrou a pedra filosofal do seu governo. Abílio Diniz vem sendo sondado para assumir o Ministério da Fazenda na eventual gestão do petista. Como tudo que diz respeito à candidatura Haddad, o ex-presidente Lula tem papel determinante na escolha, da qual é o avalista-mor. As tratativas, ressalte-se, passam à margem do atual comando do PT. São conduzidas pelo núcleo central da articulação política de Haddad, em sua maioria assessores herdados do próprio Lula. Sob os mais diversos aspectos, a eventual indicação de Abílio para a Fazenda é tratada pelo entorno do candidato petista como um dos grandes achados de sua campanha – guardadas as devidas proporções, algo similar ao que a presença de Paulo Guedes representa para a candidatura de Jair Bolsonaro.
Procurados, Fernando Haddad e Abílio Diniz não quiseram se pronunciar. É bem verdade que outros nomes têm rodado o entorno de Fernando Haddad como potenciais comandantes da economia no governo petista, entre eles o de Marcos Lisboa, secretário executivo do Ministério da Fazenda no primeiro mandato de Lula. Lisboa, no entanto, é um peso-pena se colocado na balança ao lado de Abílio Diniz. O ex-Pão de Açúcar seria um ministro turn key, um combo completo. Ao escolhê-lo, Haddad levaria no mesmo pacote staff, interlocução com o empresariado, simpatia da mídia e, sobretudo, doses hectolítricas de credibilidade. A eventual “nomeação” de Abílio Diniz para a Fazenda antes das eleições – hipótese cogitada no QG de campanha de Haddad –, teria o condão de atrair a confiança do mercado, inclusive no exterior.
Abílio é um personagem do mundo, membro do board do Carrefour em Paris. Algo que os principais assessores econômicos do PT – como Guilherme Mello, Marcio Pochmann, Ricardo Carneiro e Luiz Gonzaga Belluzzo –, além do próprio Marcos Lisboa, estão longe de conseguir, sem qualquer demérito à trajetória de cada um. Abílio seria o avalista do compromisso do governo Haddad com o ajuste fiscal e a realização das reformas estruturantes. Além disso, o petista teria ao seu lado um empresário puro-sangue do setor real, em contraponto aos financistas que cercam os demais candidatos à Presidência. Ressalte-se ainda que a indicação de Abílio significaria a presença de um nome sem máculas na Pasta da Fazenda, algo que ganha ainda mais relevância em se tratando de um partido que tem dois ex-titulares do cargo fisgados pela Lava Jato – Antonio Palocci e Guido Mantega. Para Abílio Diniz, a nomeação para o Ministério da Fazenda seria a coroação de sua trajetória, a pedra preciosa que falta em sua cravejada biografia. Ressalte-se que Abílio, não é de hoje, flerta com a vida pública, notadamente na era petista.
Caso raro de empresário que nunca “tucanou”, esteve cotado para assumir a Fazenda no segundo mandato de Dilma Rousseff. Sua relação com Lula sempre foi a melhor possível. Em entrevista ao Estado de S. Paulo, em 2010, ele se declarou “fã de carteirinha” do então presidente da República. No fim de 2011, quando o petista esteve internado no Sírio-Libanês para tratar de um câncer, o ex-dono do Pão de Açúcar o visitou. Segundo testemunhas, foi um encontro repleto de mesuras de parte a parte. A idade não seria um obstáculo para Abílio Diniz assumir o manche da economia. Suas condições físicas são excelentes. Como ele próprio costuma dizer, desde os 29 anos ele se preparava para chegar aos 80. Abílio teria o vigor necessário para tourear o Congresso, negociar as reformas e, sempre que necessário, matar no peito e trazer para a sua responsabilidade agendas extremamente desgastantes. Um exemplo: ele já defendeu abertamente a elevação da carga tributária: “Se a atividade econômica cresce, aumenta a receita. Enquanto não cresce, tem de aumentar o imposto. Quem disser o contrário, é hipocrisia”.
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Últimas apostas
10/08/2018Representantes do Ministério da Fazenda e do Tribunal de Contas da União (TCU) se reunirão nos próximos dias para discutir mudanças no modelo de venda da Lotex, notadamente a autorização para a participação da Caixa Econômica no leilão. Até porque se depender de investidores privados…
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Pérsio Arida e André Lara Resende são os nomes ideais para futuro ministro da Fazenda
9/08/2018A dupla “Larida” saiu na frente para assumir o Ministério da Fazenda em 2019, ao menos na avaliação de 83 dirigentes empresariais consultados pelo Relatório Reservado, a partir de uma amostragem da sua base de assinantes. Pérsio Arida e André Lara Resende despontaram no levantamento como os nomes mais gabaritados para comandar a economia no próximo governo. O RR apresentou uma lista fechada com 13 candidatos, desde já, mais cotados para a Fazenda por estarem vinculados a partidos, envolvidos na coordenação de campanha dos presidenciáveis e, nesta condição, citados na mídia.
Os assinantes atribuíram notas de 1 a 10 a eles nos seguintes quesitos: capacitação técnica, articulação política e experiência na vida pública. Pérsio,coordenador do programa econômico de Geraldo Alckmin, e Lara Resende, mentor de Marina Silva, ficaram empatados no topo, cada um com média de 27,7 pontos, seguidos de Henrique Meirelles, Armínio Fraga e Gustavo Franco. Ressalte-se a baixa dispersão entre os integrantes do “dream team da Fazenda”. A diferença foi de apenas 2,3 pontos.
Pérsio, ex-presidente do BC e do BNDES, recebeu a maior nota entre todos na categoria experiência na vida pública, com média de 9,3. Somou ainda 9,2 pontos em capacitação técnica e em articulação política. Lara Resende, por sua vez, teve a nota mais alta da sondagem no quesito capacitação técnica: 9,7. Na categoria experiência na vida pública, ficou com 9,1. Na opinião dos assinantes, sua maior fragilidade é articulação política (8,9). Não obstante ser um presidenciável, Henrique Meirelles é nome obrigatório em qualquer lista de candidatos ao Ministério da Fazenda – até porque sua candidatura não deve sequer sair do chão. A maior média alcançada por ele foi no quesito articulação política (9,1).
Meirelles teve ainda 9 em experiência na vida pública. A pontuação mais baixa veio em capacitação técnica (8,2) – no total, ele ficou com 26,3 pontos. Aos olhos dos assinantes, não é esta a vulnerabilidade de Armínio Fraga, quarto lugar – com 25,8 pontos. Com 9,4, ele só foi superado em competência técnica por Lara Resende. Armínio – eterno candidato à Fazenda – teve média de 8,6 no quesito experiência na vida pública e de 7,8 em articulação política. Gustavo Franco, ex-tucano e hoje filiado ao Partido Novo, fechou o pelotão de frente, com 25,4 de média.
A maior nota veio em capacitação técnica (9,2), com 8,7 em experiência na vida pública e 7,5 em articulação política. O “segundo grupo” dos ministeriáveis, razoavelmente descolado da dianteira, é encabeçado por Paulo Guedes, o comandante em chefe do programa econômico do capitão Jair Bolsonaro. No total, Guedes recebeu 20,4 de nota. Seu maior atributo, segundo os assinantes, é a capacitação técnica (9,3). O economista, no entanto, deixa a desejar em articulação política (7,3) e, sobretudo, experiência na vida pública (3,8). Logo atrás de Paulo Guedes, surge Eduardo Giannetti, outro assessor de Marina, com média de 18,2. Sua capacidade de articulação política (5,2) e sua experiência na vida pública (4,9) são consideradas baixas.
A melhor nota veio do conhecimento técnico (8,1). Assessor de Lula, Luiz Gonzaga Belluzzo ficou em oitavo no levantamento, com média 18 – 5 em capacitação técnica, 6,8 em articulação política e 6,2 emexperiência em cargos públicos. A partir do nono colocado, surgem economistas vinculados a candidatos à Presidência que ainda soam como desconhecidos. Entre os entrevistados, 41 disseram não saber quem é Nelson Marconi, próximo de Ciro Gomes. Ricardo Carneiro, ligado a Lula, e Laura Carneiro, conselheira de Guilherme Boulos, são desconhecidos, respectivamente, para 23 e 19 dos consultados. Outros 14 assinantes disseram ignorar quem seja Marcio Pochmann, também vinculado a Lula. Nove entrevistados, por sua vez, não conhecem Yoshiaki Nakano, que assessora Alckmin. Os problemas de recall certamente turvaram a avaliação de cada um destes nomes. Nakano teve média de 13,9, seguido por Pochmann (13,7). Por fim, Laura Carneiro (12,9), Ricardo Carneiro (12,1) e Nelson Marconi (11,8).
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General Villas Bôas: “Cabe ao Judiciário evitar a formação de uma ‘bancada do crime’”
6/08/2018O General Eduardo Villas Bôas não deixa perguntas sem resposta, mesmo que, em alguns casos, tenha de ser naturalmente cuidadoso. Em entrevista exclusiva ao RR, publicada nesta edição especial de oito páginas, o mais influente Comandante do Exército Brasileiro em quase três décadas e meia demonstra toda a sua preocupação com a segurança pública – e nem poderia ser diferente, tratando-se de uma agenda que, nos últimos anos, tem sido gradativamente empurrada para a esfera das Forças Armadas. Neste ano, especificamente, esta questão ganha uma variável ainda mais delicada: a ameaça de interseção entre as eleições e o crime.
A menos de três meses do pleito de outubro, o General Villas Bôas não esconde sua apreensão com o risco de formação de uma “bancada do crime”, leia-se a “possível ocupação de cargos na esfera política brasileira por facções criminosas”. Neste caso, ressalta, a Justiça terá um papel ainda mais relevante no processo eleitoral: “Cabe ao Poder Judiciário proceder a verificação da idoneidade desses candidatos a fim de identificar possíveis ligações com organizações criminosas”. O Comandante chama a atenção também para o descaso das unidades da federação com a segurança pública.
“Há estados que nitidamente negligenciam essas preocupações e, nesse caso, o governo federal tem de intervir, usando as Forças Armadas e a Força Nacional de Segurança Pública.” O “quanto pior melhor”, ao contrário do que muitos pensam, está longe de ser a solução: “A questão é muito profunda e está claro que o simples emprego das Forças Armadas não tem capacidade, por si só, de solucionar os problemas de segurança pública que estamos vivenciando”. Sobre os anseios quetomam conta de uma parcela crescente da população, o General repete o que já se tornou uma espécie de mantra: “Uma intervenção militar seria um enorme retrocesso”. O Comandante Villas Bôas elenca ainda os motivos pelos quais inaugurou um novo estilo de comunicação, sem precedentes entre seus pares. “Como Comandante do Exército, sou o responsável por expressar o posicionamento institucional da Força e tenho me manifestado publicamente sobre os temas que considero relevantes. As redes sociais têm me ajudado a dar visibilidade ao EB e a aproximar o Comandante do Exército de seus subordinados”.
RR: Quando se fala em missões do Exército, de forma quase automática vêm à mente o patrulhamento das fronteiras e a proteção da Nação contra o inimigo externo. Mas, pensando-se também da porta para dentro, qual é o papel lato sensu do Exército e, de maneira extensiva, das Forças Armadas?
As missões das Forças Armadas, entre elas o Exército Brasileiro (EB), estão bem definidas no Art. 142 da Constituição Federal de 1988: Defesa da Pátria, Garantia dos Poderes Constitucionais e Garantia da Lei e da Ordem (GLO). Também trata do mesmo tema a Lei Complementar no 97, alterada pelas Leis Complementares no 136 e 117. Sobre a atuação nas fronteiras, destaco que nosso trabalho, entre outras atividades, consiste em garantir a integridade territorial e do patrimônio nacional; a manutenção da soberania; garantia da paz social; a promoção do progresso e desenvolvimento nacional; a preservação da democracia, e a atenção, também, das Estratégias Militares da Presença e da Dissuasão. O Exército está, ainda, legalmente autorizado a participar da proteção e segurança das fronteiras, atuando no combate às drogas, ao contrabando de armas e aos demais crimes transfronteiriços. Sobre a atuação em missões de GLO, tem me deixado preocupado o constante emprego das Forças Armadas em ações dessa natureza. Sobre o assunto, destaco dois aspectos preocupantes. O primeiro é a reincidência do emprego das Forças Armadas em função da degradação das condições de segurança pública no País. Isso significa que medidas preventivas e corretivas não estão sendo adotadas eficientemente. Outro, é que, mesmo após a atuação do Exército, em diferentes localidades, às vezes por um longo período, não se observam mudanças consideráveis, devido à falta de engajamento das agências das diversas esferas governamentais. Tenho plena convicção de que, complementarmente às ações de segurança, o combate ao crime organizado demanda uma atuação efetiva do Governo nas esferas econômica e psicossocial, de forma a diminuir a capacidade de atração do tráfico de drogas, em regiões onde grande parcela da população vive em um ambiente marcado pelo desemprego. Igualmente, há que se considerar a necessidade de uma na legislação criminal e de processo penal, além de aperfeiçoamentos no sistema prisional. Tais medidas não podem ser implementadas sem o engajamento e o desejo da sociedade e dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Saliento que as Forças Armadas são vocacionadas, por natureza, à defesa externa da Nação. O emprego emergencial do Exército Brasileiro gera, entre outras coisas, a necessidade de alocação e transferência de recursos financeiros importantes, além de banalizar o uso dos militares em atividades típicas das forças de segurança, como o policiamento ostensivo. No entanto, o Exército nunca se furtará a cumprir sua missão constitucional e está sempre pronto a contribuir, empregando todas as suas capacidades, junto aos órgãos de segurança pública.
RR: Mesmo em anos mais recentes, quando do ponto de vista do crescimento econômico, descolou-se significativamente de seus vizinhos, a percepção que se tem é que o Brasil não exerceu o papel que dele se espera como uma liderança geopolítica na América do Sul. É quase como se o Brasil tivesse se negado a praticar um “ato de ofício”, tamanha a sua liderança natural na região. Ao que o senhor atribui este lapso e como é possível reverter esta situação?
Liderança geopolítica não é algo que se concretize por decreto. A liderança brasileira na região é um processo que vem sendo construído há mais de um século. Temos um entorno estratégico marcado pela convivência pacífica com nossos vizinhos. Compare o mapa político da nossa região com qualquer outro continente do mundo e veja como nos mantemos estáveis. Esse é um grande capital geopolítico de que dispomos. É assim que a nossa liderança se expressa. Sabemos que há demandas que podem nos exigir uma participação mais ativa. A carência de infraestrutura viária, por exemplo, é uma delas. Por outro lado, temos consciência de nossas limitações econômicas e das vulnerabilidades sociais. Ainda sobre o papel de liderança do Brasil, não podemos esquecer que estamos comemorando 10 anos de criação do Conselho de Defesa Sul-Americano (CDS), um projeto idealizado pelo nosso Ministério da Defesa. Esse é um exemplo de que nossa liderança existe. Nesse campo da defesa, temos avançado, porém há que se ter prudência. A velocidade das questões de defesa não é a mesma das questões econômicas, por exemplo. Vide o caso da União Europeia: são mais de 50 anos de construção de uma arquitetura regional (bem-sucedida, diga-se de passagem), mas que ainda não avançou muito em questões de defesa. Por fim, gostaria de destacar, nesse campo, o papel desempenhado pela diplomacia militar na construção de mecanismos de confiança mútua entre os países da região. Essas atividades constituem-se em substrato fundamental para o avanço das atividades de cooperação. Podemos caracterizar que o Brasil adota, como modelo de liderança, o convívio pacífico entre nações da região.
RR: No ano passado, as Forças Armadas participaram de 507 operações com o emprego de mais de 130 mil militares. Entram neste rol o apoio a campanhas de vacinação, ações de combate à proliferação de epidemias, distribuição de água a mais de quatro milhões de brasileiros no Polígono das Secas, suporte a atividades de engenharia civil, como a construção de pontes e estradas. Comandante, na avaliação do senhor, a população brasileira tem a devida percepção e conhecimento do amplo arco de ações de interesse público conduzidas pelas Forças Armadas?
Acredito que sim! A população brasileira tem conhecimento e apoia esse amplo arco de ações de interesse público conduzidas pelo Exército Brasileiro. O reflexo desse conhecimento é sentido nos altos índices de aceitação das Forças Armadas nas diversas pesquisas realizadas junto ao público. Destaco que esse resultado é fruto da competência no cumprimento das missões subsidiárias levadas a cabo diuturnamente, como a condução de obras de infraestrutura, o atendimento às populações atingidas por calamidades públicas, o auxílio à defesa civil em regiões devastadas por catástrofes, a ajuda nas campanhas nacionais de erradicação do mosquito Aedes aegypti e a distribuição de água potável na Região Nordeste e no norte de Minas Gerais, com a Operação Pipa. Por tudo isso, essa confiança configura-se como um capital intangível que nos é muito caro. Demonstra que a maioria da população nos observa e nos avalia muito bem, mas, principalmente, nos tem como reserva moral e exemplo a ser seguido por outras instituições.
RR: A presunção da autoridade vem se fragmentando a passos céleres no Brasil. Isso se aplica de gestores públicos, agentes de segurança a uma professora na sala de aula. De que maneira é possível reconstituir a figura e poder da autoridade no País?
Somos um País carente de disciplina social e que prioriza os direitos individuais em relação ao coletivo e ao interesse social. Acredito e acho extremamente importante que o princípio da autoridade deve ser fortalecido e o sentido de disciplina social deve ser recuperado. Existe, hoje no Brasil, uma excessiva compreensão com “direitos” e uma enorme incompreensão com “deveres”. E um ambiente de pouca disciplina favorece a diluição das responsabilidades. Por isso, há certa resistência no saneamento das condutas individuais e coletivas. Por outro lado, estamos vivendo uma imposição do politicamente correto, vivendo uma verdadeira ditadura do relativismo e com uma tendência a que não se estabeleçam limites nas condutas. Isso vai numa onda e volta em um refluxo que atinge as pessoas e a sociedade como um todo. Isso está na raiz dos problemas, insisto, do politicamente correto; privilegia e atua reforçando, o seu caráter ideológico e não apresentando a solução dos problemas. Precisamos de muito mais educação e responsabilidade por parte de todos e cada um precisa cumprir efetivamente seu papel e assumir suas responsabilidades, até em relação à segurança.
RR: Surveys internacionais, como o Latin Barometer, apontam as Forças Armadas como a instituição mais confiável do País, na opinião dos brasileiros. Pesquisas mostram mais de 40% da sociedade pedindo uma intervenção militar. O Exército mantém algum levantamento interno ou dispõe de métricas próprias que lhe permitem aferir o grau de apoio da população?
Isso, na minha opinião, é um termômetro da gravidade do problema que estamos vivendo no País. Uma intervenção militar seria um enorme retrocesso. O apoio de mais de 40% da população à ideia de intervenção reflete a confiança desses setores da população nas Forças Armadas. Entendo que é uma identificação da sociedade com os valores que as Forças Armadas expressam, manifestam e representam, bem como pelo fato de sermos, também, considerados “guardiões da identidade nacional”, que está em um caminho de fragmentação. Volto a afirmar que nossas Forças Armadas, entre elas o Exército Brasileiro, moldam seu desempenho e trabalho para o cumprimento de sua missão constitucional e o atendimento do povo brasileiro. A Carta Magna, como já disse, define as missões das Forças Armadas em seu Art. 142.
RR: Pela força das circunstâncias, o Exército Brasileiro foi trazido para o epicentro da questão da segurança pública. Em pouco mais de 18 meses, foi chamado por três vezes a atuar no Rio Grande do Norte. Neste momento, está à frente do processo de intervenção federal na segurança do Rio de Janeiro. Ao mesmo tempo, a percepção que se tem é que os instrumentos utilizados até o momento para o combate à criminalidade se mostram ineficazes: o problema anda em ritmo mais célere do que as soluções adotadas. Na avaliação do Exército, qual é a fronteira, o limite de suportabilidade da escalada da violência no País, notadamente nos grandes centros urbanos?
Há excesso de diagnóstico e pouca ação efetiva e prática. As ações de segurança pública devem estabelecer metas e prioridades e ter a sinergia e integração de várias instituições, cada uma com sua destinação específica, como a Polícia Federal, – responsável primária pelas fronteiras; as Polícias Rodoviárias, que atuam nas rodovias; a Receita Federal; e as polícias civis e militares de cada estado. Observa-se, também, que tem havido negligência em relação à segurança pública no País. Há estados que nitidamente negligenciam essas preocupações e, nesse caso, o Governo Federal tem de intervir, usando as Forças Armadas e a Força Nacional de Segurança Pública. É preciso que se modifiquem os aspectos na conduta dos governos locais em relação à segurança pública. Por outro lado, creio que seja inevitável que o Governo Federal tenha de chamar para si a responsabilidade, pelo menos parcial, porque o crime extrapola as fronteiras, e o combate está sem integração. No entanto a questão da segurança é muito profunda e está claro que o simples emprego das Forças Armadas não tem capacidade, por si só, de solucionar os problemas de segurança pública que estamos vivenciando. Cabe lembrar que a segurança pública não é uma ação específica das FA; no entanto, o Exército não se furtará a apoiar as ações nesse campo. Acredito que não há um limite suportável para a escalada da violência. Quem regula, baliza e rege nossa convivência social são nossas leis em vigor, que devem ser seguidas por todos os brasileiros.
RR: No caso específico do Rio de Janeiro, há uma notória e manifesta apreensão da população com o gravíssimo quadro de entropia na segurança pública. A percepção é de que o Rio se tornou um estado criminalizado em suas mais diversas instâncias, com um crescente imbricamento entre facções criminosas e o Poder Público constituído. Em que medida, este tecido necrosado se torna um óbice para as Forças Armadas alcançarem resultados satisfatórios no processo de intervenção no estado? E o que as Forças Armadas vislumbram e consideram desde já como resultados satisfatórios para a sua atuação à frente da segurança pública do Rio de Janeiro?
Penso que o agravamento do quadro de segurança pública, não apenas na cidade do Rio de Janeiro, é resultante do não atendimento de demandas básicas da população durante décadas pelo Estado, que reverberam por meio da violência. A situação da segurança pública no Rio de Janeiro atingiu um patamar inaceitável e necessitava, com celeridade, de medidas mais contundentes. Nesse escopo o Presidente da República decidiu decretar uma Intervenção Federal em um segmento específico da administração pública do estado do Rio de Janeiro. A nomeação de um cidadão brasileiro fardado para exercer a função de interventor foi revestida de um simbolismo,
na medida em que evidenciou a confiança depositada nas Forças Armadas, baluarte dos valores éticos e morais tão importantes para a sociedade brasileira. Acredito que, para se alcançar os resultados esperados pela população carioca, os quais, com certeza, estão listados nos planejamentos elaborados pela equipe do General Braga Netto, deve haver uma união de esforços de todos os atores participantes da missão. Estão sendo planejadas e serão executadas ações que busquem realizações concretas, palpáveis, no sentido de colocar um fim na falta de segurança. Nesse contexto, está sendo estudada a restruturação das instituições policiais, particularmente visando atender às necessidades mais urgentes nas áreas de pessoal e material. Além disso, os problemas de corrupção e a necessidade de valorização da classe policial estão sendo tratados com prioridade. As corregedorias deverão agir com bastante rigidez, dentro dos parâmetros legais, punindo e, se preciso for, colocando para fora da instituição o mau policial. Dentro desse escopo, para chegarmos a bons termos, há necessidade de uma urgente e ampla reforma da legislação penal e um maior engajamento do Poder Judiciário. Uma solução perene para a questão da segurança pública dependerá do comprometimento das instituições governamentais, das entidades da sociedade organizada em todo o seu espectro e do apoio da população.
RR: Para além do Rio de Janeiro, outras regiões do País registram aumentos expressivos dos índices de criminalidade com episódios flagrantes de falência do sistema de segurança pública. Ao mesmo tempo, há um risco latente de convulsão em Roraima, atrelada à questão do fluxo de refugiados venezuelanos. Diante destes evidentes pontos de corrosão da segurança pública em diferentes regiões do País, o Exército trabalha com a hipótese de novas intervenções federais simultâneas à do Rio de Janeiro em outras unidades da Federação? Este potencial chamamento é um fator de preocupação para o Alto Comando do Exército?
Sempre vi a segurança pública, assim como a educação e a saúde, como demandas primordiais e básicas para a sociedade, que já eram prioritárias, passando, agora, a serem urgentes. Houve “negligência” em grande parte dos estados em relação à segurança pública. O uso das tropas federais não tem capacidade de solucionar os problemas. Penso que a gravidade do quadro da segurança pública no País, com número de mortes equivalente ao de guerras, é um problema que exige uma resposta firme e imediata e que envolva distintos atores da sociedade. Uma resposta direta e urgente à situação no estado do Rio de Janeiro foi a Intervenção Federal na segurança pública. Porém, destaco que o Exército Brasileiro já vinha atuando em apoio ao Plano Nacional de Segurança Pública, conforme previsto em decreto presidencial, participando em Operações de Garantia da Lei e da Ordem, no estado do Rio de Janeiro e em outros estados. O problema da segurança pública, em especial no Rio de Janeiro, tem ramificações nacionais e internacionais. Nesse sentido, toda a área do Comando Militar do Leste, que engloba os estados de Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro, bem como os Comandos Militares adjacentes, têm realizado planejamentos para apoiar a Intervenção Federal, caso sejam demandados. A Força Terrestre permanecerá apoiando e atendendo, dentro de suas capacidades, a todas as demandas em apoio à segurança pública em todas as unidades da Federação, quando convocada. Igualmente, há que se considerar a necessidade de uma reforma na legislação criminal e de processo penal, além de aperfeiçoamentos no sistema prisional. Tais medidas não podem ser implementadas sem o engajamento e o desejo da sociedade e dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.
RR: Há uma crescente infiltração do crime organizado nocenário político-eleitoral brasileiro. No Rio de Janeiro, por exemplo, existem estimativas de que cerca de 10% do eleitorado concentrem-se em áreas sob influência direta do tráfico de drogas ou de milícias. Dez anos após a CPI das Milícias, há indícios de que estes grupos sigam mantendo representantes na política. Em São Paulo, existem investigações sobre a eleição de representantes do PCC para o Legislativo. Como o Exército avalia esta crescente interseção entre facções criminosas e a política, com o processo de formação do que talvez já possa ser chamado de uma “bancada do crime”?
O crime organizado é um dos principais responsáveis pelos problemas de segurança pública nos grandes centros urbanos. As organizações criminosas têm o cerne de suas atividades fundamentado, principalmente, no tráfico de entorpecentes, mas, paulatinamente, vêm expandido suas ações criminosas para outras atividades, como o roubo de cargas, sequestro, assalto, descaminho e extorsão dos moradores das comunidades, até mesmo para setores políticos. Essas organizações têm ampliado a sua estrutura e suas ramificações, criando uma teia complexa de conexões que extrapolam as fronteiras brasileiras. As facções criminosas, especialmente do Rio de Janeiro e São Paulo, estendem-se para outros estados, produzindo filiais. Essa estruturação do crime, principalmente em relação ao narcotráfico e associações internacionais, aumenta em muito a capacidade de contaminação das instituições. Uma preocupação crescente, de toda a sociedade brasileira, é uma possível ocupação de cargos na esfera política brasileira por facções criminosas. Ao se eleger um membro dessas facções, ele adquire foro privilegiado e é responsável por formular e aprovar leis que podem favorecê-lo e comprometer a segurança da população. Assim, cabe ao Poder Judiciário, por meio de seus órgãos, proceder a verificação da idoneidade desses candidatos no momento da candidatura, a fim de identificar possíveis ligações com organizações criminosas e evitar a formação de uma “bancada do crime”. No entanto, as Forças Armadas estão atentas para fatos dessa natureza. Também estão atentas à dificuldade que os órgãos de segurança pública estão tendo para operar em certas regiões controladas por organizações criminosas, particularmente nos grandes centros. É inadmissível a existência de áreas dentro do território nacional onde o poder público não tenha acesso, caracterizando uma grave ameaça à soberania do País. Esses aspectos têm sido transmitidos ao atual Governo e certamente serão objeto de atenção da futura alta administração do País. O combate ao narcotráfico deve ser uma prioridade, em função dos reflexos diretos nos problemas de segurança pública, prevendo recursos suficientes e conduzindo um planejamento sistematizado. O esforço coordenado deve incluir os diversos ministérios que se relacionam direta ou indiretamente com o tema.
RR: Nos últimos anos, em função da grave crise fiscal no País, o orçamento das Forças Armadas sofreu seguidos cortes. Importantes projetos da área de Defesa foram paralisados ou tiveram atrasos expressivos em seus cronogramas, inclusive com a necessidade de renegociação de termos de pagamento com fornecedores. Agora, com a necessidade da participação do Exército na segurança pública, imagina-se que seja necessária uma readequação do orçamento das Forças Armadas. Como esta questão tem sido conduzida dentro do Governo Federal?
O Exército tem seguidamente apresentado ao Governo Federal as suas necessidades orçamentárias, tanto para as despesas chamadas discricionárias, destinadas para a manutenção da rotina diária dos quartéis, como para as despesas de investimentos, destinadas aos projetos estratégicos, tão necessários à transformação e modernização da Força. Esses pleitos são apresentados tanto diretamente ao Presidente da República quanto à equipe econômica do Governo, por intermédio do Ministério da Defesa, para fins de negociação junto ao Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão e Ministério da Fazenda. Com relação à participação do Exército na segurança pública, dentro do contexto de suas missões constitucionais, é importante destacar que as operações estão no rol das operações subsidiárias. Por ocasião dos diversos empregos do Exército nas Operações de Garantia da Lei e da Ordem, essas operações são custeadas pelo Governo Federal por intermédio de Destaques do Orçamento, ou seja, não impactam o orçamento do Exército. Destaca-se que, nos últimos três anos, a média de valores provenientes de Destaques ao Exército para operações subsidiárias foi da ordem de R$ 1,5 bilhão. Apesar de todo o cenário fiscal do Governo Federal sob a égide do Novo Regime Fiscal implantado pela Emenda Constitucional no 95 (Teto dos Gastos Públicos), o Exército adota diversas medidas de racionalização administrativa e priorização de recursos. Tais medidas têm permitido ao Exército atingir um índice superior a 99% de execução orçamentária e alocar, nos anos de 2017 e 2018, cerca de R$ 1 bilhão nos projetos estratégicos prioritários (somando-se tanto os que estão no Programa Avançar como os que não estão).
RR: As restrições orçamentárias da área de Defesa não se configuram um problema limitado às Forças Armadas. Trata-se de uma questão com impacto direto sobre a economia nacional. A área de Defesa responde por 3,7% do PIB e gera mais de 300 mil empregos diretos e indiretos. Ao mesmo tempo, não há Nação forte do ponto de vista geopolítico sem uma indústria de Defesa forte. Como as Forças Armadas podem estimular investimentos no setor e impulsionar o seu papel de indutora do desenvolvimento da Indústria Nacional de Defesa?
A Estratégia Nacional de Defesa (END), aprovada pelo Decreto no 6.703, de 18 de dezembro de 2008, apontou direções dentro do contexto da Era do Conhecimento. Nesse sentido, foram indicados novos caminhos para as Forças Armadas, entre os quais o de colaborar com “a reestruturação da indústria brasileira de material de defesa com o propósito de assegurar que o atendimento das necessidades de equipamento das Forças Armadas apoie-se em tecnologias sob domínio nacional”. O parágrafo 22 das Diretrizes determina a promoção de ações para “Capacitar a indústria nacional de material de defesa para que conquiste autonomia em tecnologias indispensáveis à defesa”. Nesse contexto, o Exército Brasileiro participa da defesa e segurança nacionais por intermédio do permanente estado de prontidão da Força Terrestre (F Ter). Para tal, assegura o preparo e o emprego da F Ter por intermédio da disponibilidade de recursos orçamentários oportunos e adequados, tudo com a finalidade de garantir o cumprimento das missões previstas na Carta Magna e na legislação infraconstitucional. O Comando do Exército, por intermédio do Portfólio Estratégico do Exército (Ptf EE), prioriza as obtenções de produtos de defesa e sistemas de defesa (PRODE/SD) junto às Empresas Estratégicas de Defesa (EED). Desta maneira, alinha-se aos dispositivos legais, estimulando e fortalecendo a Base Industrial de Defesa (BID), impulsionando e fortalecendo a indústria nacional, inclusive por intermédio do fomento à pesquisa, desenvolvimento e inovação. Cumpre destacar que, nas relações comerciais internacionais, a indústria de defesa caracteriza-se pela grande restrição de transferência de tecnologias sensíveis, tornando imprescindível desenvolver os PRODE/SD em território nacional. Outro aspecto a ser abordado é o Regime Especial Tributário para Indústria de Defesa (RETID). Na medida em que os Programas Estratégicos do Exército (Prg EE) assinam contratos com EED, estas passam a ter acesso a financiamentos com taxas diferenciadas, bem como têm diversos encargos desonerados. Portanto, têm seus custos reduzidos, passando a usufruir condições mais vantajosas para competir com empresas internacionais. Nesse mesmo diapasão, o Exército Brasileiro tem orientado as EED fornecedoras de PRODE/SD para os Prg EE a entrarem em contato com a Secretaria de Produtos de Defesa do Ministério da Defesa (SEPROD/MD), em busca de soluções ou alternativas viáveis de financiamento. Dessa forma, o Exército Brasileiro, por intermédio do seu Ptf EE, tem priorizado a contratação de EED em consonância com as diretrizes estabelecidas na END e documentos congêneres na área de defesa. Torna-se, assim, indutor do desenvolvimento e fortalecimento da BID, por meio da contratação de bens e serviços com conteúdo nacional e de alto valor agregado. Acrescenta-se, nesse contexto, o Sistema Defesa, Indústria e Academia (SisDIA). Por intermédio do Departamento de Ciência e Tecnologia (DCT) e com recursos do Ptf EE, o EB fomenta a PD&I, aproximando os atores dessas três áreas, potencializando as capacidades e reduzindo o hiato tecnológico do parque industrial brasileiro. O Ptf EE entrega benefícios à sociedade; assegura a defesa do País; colabora para o desenvolvimento nacional e a paz social; gera emprego e renda; contribui para a presença do Estado em todo o território brasileiro, integrando áreas remotas; promove a interoperabilidade entre órgãos e agentes da administração pública nos três níveis; participa de operações internacionais; estimula a exportação de PRODE/SD, projetando o País no concerto das nações; e fomenta a PD&I, especificamente em tecnologias sensíveis e com características de emprego dual.
RR: Manifestações públicas de um comandante das Forças Armadas são sempre cercadas de liturgia e, a priori, vocalizam um posicionamento ou sentimento da Instituição. As recentes manifestações do senhor,notadamente nas redes sociais, são compartilhadas pelo Exército ou exprimem, neste caso específico, opiniões pessoais? Comandante, qual foi o motivo que levou o senhor a postar as mensagens no Twitter?
Como Comandante do Exército, sou o responsável por expressar o posicionamento institucional da Força e tenho me manifestado publicamente sobre os temas que considero relevantes. As minhas palavras no Twitter deixaram claro a minha preocupação com o País, expressando ideias que venho abordando em diversas outras ocasiões. Destaco que essas palavras reforçam o compromisso do Exército Brasileiro para com a paz social e a democracia, sempre seguindo os ditames da Constituição Federal.
RR: O senhor inaugurou um estilo de comunicação com a sociedade sem precedentes na história das Forças Armadas, que se reflete no seu prestígio e na sua popularidade. Utiliza sistematicamente as redes sociais, tem concedido entrevistas a programas de TV com razoável recorrência, além da participação em eventos promovidos por entidades civis. Este estilo é consequência natural de um novo tempo e da modernização das estratégias de comunicação ou resultado de uma percepção de que as Forças Armadas estavam um tanto quanto divorciadas da sociedade?
O EB sempre tem buscado manter a população informada sobre suas atividades. A diferença para os dias de hoje é que esse contato ocorre por meio de uma quantidade e variedade maior de meios, alcançando uma parcela mais expressiva da população. Cada mídia tem um público diferente, com aproximação e alcance distintos. As mídias sociais, por exemplo, permitem alcançar a sociedade diretamente sem intermediários. No entanto, as mídias tradicionais ainda ocupam espaço importante e se manterão nessa situação por um bom período, apresentando um conteúdo mais aprofundado, ou seja, as mídias tradicionais são complementares e não concorrentes às mídias sociais. Assim, acho necessário o Exército Brasileiro se fazer presente em todos os momentos e espaços, transmitindo as ideias que norteiam a nossa Força. As redes sociais têm me ajudado a dar visibilidade ao Exército e a aproximar o Comandante de seus subordinados. Talvez esta tenha sido a principal mudança.•
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Meirelles quer fazer do governo Lula seu avalista eleitoral
20/07/2018O marqueteiro de Henrique Meirelles, Chico Mendez, já definiu uma linha para a campanha do candidato. A ideia é usar ao máximo possível a imagem de Lula, com o propósito de pegar carona na bonança econômica do seu governo e vinculá-la à gestão de Meirelles no Banco Central. Desta forma, o ex-ministro tentaria surfar nas boas lembranças da gestão do petista ainda resilientes na memória de um terço do eleitorado. O “Chame o Meirelles”, slogan bombardeado desde a semana passada na TV e nas redes sociais, ganharia, então, uma segunda linha: ao chamar Meirelles, o eleitor traria de volta a estabilidade econômica, distribuição de renda, emprego.
A iniciativa, é bom que se diga, tem prazo de duração: Lula não vai ficar calado até as eleições. Mas, ao menos, funcionaria como um ponto de partida para a campanha de Meirelles. No mundo paralelo concebido pelos publicitários do pré-candidato emedebista, o discurso implícito será na seguinte linha: o governo Lula só foi o que foi porque Meirelles fez parte dele durante cada um dos seus 2.921 dias. E os seus 694 dias à frente do Ministério da Fazenda de Michel Temer, com o desemprego na casa dos 13%? Será apenas um detalhe.
Não obstante o risco de soar como um cinismo escancarado, chega-se a dizer, entre os estrategistas de Meirelles, que ele poderia explorar sua saída da Fazenda, tratando-a como um sinal de discordância e oposição ao governo Temer. Conciliador como só ele, Meirelles teria adiado ao máximo seu desligamentdo Ministério para não aumentar a instabilidade política e institucional. A lógica é que a propaganda eleitoral suportaria o photoshop na realidade.
Segundo informações filtradas do comitê de campanha do emedebista, uma das peças de comunicação mais contundentes, que deverá ser veiculada antes da convenção do partido e da eventual homologação da cambaleante candidatura Meirelles, tem como base um discurso feito por Lula em 2010. A fala seu deu em Anápolis (GO), terra natal do ex-ministro da Fazenda. “Vocês já ouviram muitas pessoas falarem mal do Meirelles, porque os juros estão altos. Eu quero dizer ao povo de Anápolis que sou agradecido a este companheiro e à equipe econômica pela estabilidade e pelo respeito que o Brasil tem hoje no mundo”.
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Caixa é o banco dos interinos
27/06/2018Ao que tudo indica, a Caixa Econômica Federal caminhará até o fim do atual governo em parte com uma “diretoria-tampão” – no momento são quatro vice-presidentes interinos. No Ministério da Fazenda, para todos os efeitos responsável pelas nomeações, não se vê qualquer movimentação para o preenchimento dos cargos.
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Caminhoneiros atropelam GSI e aceleram aumento do efetivo da Abin
5/06/2018A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) não passou na prova da greve dos caminhoneiros, ainda que não necessariamente apenas por sua culpa. A incapacidade de antecipar um movimento de tamanha magnitude expôs as fragilidades da agência e acentuou sua enorme demanda reprimida pelo aumento do quadro de funcionários, insuficiente para fazer frente às suas responsabilidades e atribuições. Segundo fonte da própria Abin e colaboradora do RR, a agência trabalha atualmente com um déficit de pessoal estimado em aproximadamente 1,5 mil agentes.
Por hierarquia, a percepção da opinião pública de que a área de Inteligência do governo não cumpriu seu dever, independentemente dos motivos, vai para a conta do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Não por acaso, o ministro-chefe do GSI, general Sergio Etchegoyen, tem se empenhado pessoalmente para aumentar o efetivo da Abin, acelerando a contratação dos candidatos que passaram no recente concurso para o órgão. A intenção do ministro é que ao menos 60 dos 300 aprovados sejam admitidos ainda neste ano. Outras 120 vagas seriam preenchidas no prazo máximo de 12 meses.
Está longe de ser o ideal, tanto nos números, quanto nos prazos, mas é o possível diante dos trâmites que precisam ser percorridos. Todos os aprovados ainda terão de passar por exames médicos e físicos, além do curso preparatório, que dura de três a quatro meses. Procurado pelo RR, o GSI não se pronunciou até o fechamento desta edição. O maior receio do GSI é que o próximo governo, tamanho o número de prioridades que o aguarda, sente sobre a questão e não autorize todas as contratações previstas para a Abin. O risco seria o fechamento da porta que se abriu com o recente concurso, válido somente por dois anos, ou seja, até maio de 2020. O temor é mais do que justificado diante do processo de esvaziamento dos serviços de Inteligência ao longo de sucessivos governos.
Criada em 1999, no segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, a Abin é o órgão central, o músculo que bombeia o sangue para todo o Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin), que reúne as áreas de inteligência militares, das Polícias Federal e Rodoviária Federal, Banco Central, Ministério da Fazenda, Relações Exteriores e várias outras esferas de governo. No total, são 38 órgãos de 16 ministérios. No entanto, esse coração tem batido em ritmo cada vez mais fraco desde o governo Lula, quando teve início um gradativo processo de esvaziamento da Agência, acentuado durante a gestão de Dilma Rousseff.
Em 2015, no primeiro ano de seu segundo mandato, o desmonte do serviço de Inteligência teve o seu momento mais agudo, com a desativação do próprio GSI, reaberto pelo presidente Michel Temer. Não obstante a medida e os sucessivos gestos de aproximação das Forças Armadas feito pelo governo Temer, incluindo a própria nomeação do general Etche goyen para o comando do GSI e o aumento do orçamento militar, a Abin continuou recebendo menos do que o necessário. A manifestação dos caminhoneiros escancarou as limitações operacionais da Agência devido às restrições financeiras.
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Credores da Eletrobras cobram solução para dívida de R$ 15 bilhões
2/05/2018Grandes fundos internacionais detentores de direitos sobre empréstimos compulsórios do Sistema Eletrobras têm batido ponto no gabinete do ministro Moreira Franco. Os investidores cobram do governo regras claras em relação aos créditos em caso de privatização da companhia. Os fundos questionam como será o fluxo de pagamentos e, sobretudo, a quem caberá honrar essas dívidas após a eventual venda da estatal. São perguntas, por ora, sem resposta. O passivo de R$ 15 bilhões – fruto de cobranças a empresas do setor elétrico por quase três décadas – é alvo de uma longa disputa judicial entre a Eletrobras e a própria União no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Estima-se que cerca de R$ 5 bilhões desses créditos estejam nas mãos de fundos estrangeiros. A própria Petrobras também é credora e tem algo em torno de R$ 1,8 bilhão a receber. Em paralelo ao andamento do processo no STJ, o governo tem quebrado a cabeça em busca de possíveis soluções para o imbróglio. Segundo o RR apurou, pouco antes de deixar o Ministério da Fazenda, Henrique Meirelles chegou a se reunir com alguns dos detentores de títulos e discutir uma proposta inusitada. Ela passaria por uma cisão no balanço da Eletrobras, com um spin off das usinas nucleares de Angra e de Itaipu Binacional, que não entrariam no pacote da privatização. Todo o passivo, então, seria jogado em Itaipu. Meirelles só não teve tempo de explicar como se daria essa estranha engenharia contábil, uma vez que o Tratado Bilateral assinado com o governo do Paraguai veda esse tipo de operação.
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Privatização da Infraero perde altitude
30/04/2018A privatização da Infraero corre o risco de ser mais um dos tantos balões de ensaio do governo Temer que caem murchos pouco depois de serem lançados ao céu. A operação perdeu com fôlego com a saída de seu maior defensor do governo, o ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Os ministros Moreira Franco e Eliseu Padilha já teriam recomendado a Temer engavetar a proposta. Segundo o RR apurou, parte da equipe de trabalho montada para conduzir os estudos, composta por técnicos da Casa Civil e do Ministério dos Transportes, já teria sido desmobilizada. As primeiras sondagens junto a investidores do setor revelou a inapetência dos potenciais candidatos em relação ao modelo proposto, a venda de apenas 51% do capital. Além disso, a menos de seis meses das eleições, o governo não está disposto a enfrentar o desgaste de burilar a Infraero para a privatização, que, entre outras medidas, exigiria acelerar a redução do quadro de funcionários da estatal.
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Um coquetel molotov para as montadoras
20/04/2018Há um fato novo que deverá esquentar a temperatura da Operação Zelotes. O lobista Mauro Marcondes Machado teria retomado as negociações para um acordo de delação. As revelações de Marcondes somadas a uma eventual confissão de Antonio Palocci teriam o condão de colocar fogo na indústria automobilística. O lobista foi condenado a 11 anos e oito meses de prisão por participar de um esquema de corrupção para a venda de Medidas Provisórias que beneficiariam, notadamente, montadoras. O “toma lá dá cá”, segundo as investigações, se deu durante a gestão de Palocci no Ministério da Fazenda. Marcondes teria atuado, sobretudo, em favor do Grupo Caoa e da Mitsubishi. Dois executivos ligados a esta última já foram condenados no âmbito da Zelotes. Com 82 anos e cumprindo prisão domiciliar, Mauro Marcondes tem um bom motivo para abrir o capô das suas memórias. Ele e sua mulher, Cristina Mautoni Marcondes, também condenada, são réus em outra ação, que investiga tráfico de influência e lavagem de dinheiro na compra dos caças Gripen, da sueca Saab. No dia 21 de junho, ambos têm um depoimento marcado na 10ª Vara Federal de Brasília. Na ilustre companhia do ex-presidente Lula, réu no mesmo processo.
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Lava Jato testa os anticorpos de Walter Faria
16/04/2018O RR recebeu informações de que o Ministério Público Federal e a Polícia Federal estariam preparando uma nova investida sobre Walter Faria e a cervejaria Petrópolis. A ação seria um desdobramento das investigações contra o ex-governador Sergio Cabral e o presidente afastado da Alerj, Jorge Picciani. Segundo a fonte do RR, o caso teria relação com benefícios fiscais recebidos pela cervejeira no Rio de Janeiro durante o governo Cabral, da ordem de R$ 280 milhões. Como contrapartida, a empresa teria feito doações ilegais para candidatos aliados a Cabral em 2014.
Diante da gravidade das informações, a newsletter procurou ouvir os personagens envolvidos. A Polícia Federal disse que “não se manifesta sobre eventuais investigações em curso”. O RR fez seguidos contatos com a Petrópolis, que não quis se pronunciar sobre o assunto, assim como o Ministério Público. As suspeitas remetem ao relacionamento entre Faria e Picciani, que já é alvo da Operação Cadeia Velha, um derivativo da Lava Jato no Rio. Faria é sócio da Tamoio Mineradora, que tem o parlamentar com um de seus acionistas.
O dono da Petrópolis também seria comprador de gado nos leilões realizados pela família Picciani. Faria, no entanto, tem demonstrado uma resiliência que faz lembrar o Paulo Maluf dos bons tempos. Montou um esquadrão de advogados, instalou um bunker de acompanhamento e lobby no Congresso e vem driblando as seguidas denúncias criminais. A Petrópolis aparece na Operação Caixa 3. A Polícia Federal investiga empréstimos no total de R$ 827 milhões concedidos pelo Banco do Nordeste à empresa entre 2013 e 2014 para a construção de duas fábricas – uma na Bahia e outra em Pernambuco.
Faria está citado também na Operação Zelotes. Segundo investigações, a Petrópolis teria sido uma das empresas beneficiadas com o esquema de propinas dentro do Carf. Em outubro do ano passado, inclusive, o próprio Conselho anulou julgamento anterior que havia revertido uma autuação da Receita Federal contra a cervejeira no valor de R$ 8,6 milhões. O Fisco, aliás, é um caso à parte na trajetória da Petrópolis. Em 2005, Faria chegou a ser preso na Operação Cevada, sob a acusação de sonegação de tributos estaduais e federais.
Em 2012, a fábrica da empresa em Boituva (SP) foi alvo de uma operação de busca e apreensão. A cervejeira foi acusada pela Secretaria de Fazenda do estado de sonegar cerca de R$ 600 milhões em impostos entre 2006 e 2011. Em janeiro deste ano, o Conselho de Contribuintes do Estado do Rio de Janeiro confirmou multas da ordem de R$ 1 bilhão contra a companhia. Segundo o relator do processo, “a Petrópolis agiu com “dolo, fraude ou simulação” ao fazer operações triangulares para evitar o recolhimento do ICMS devido. Walter Faria, no entanto, parece imune a tudo e a todos. O próprio crescimento da Petrópolis – imprensada entre o “monopólio” da Ambev e o avanço da Heineken – é um sinal da sua capacidade de sobrevivência em condições adversas. Contra todas as apostas, que a classificavam como presa fácil, a companhia tem resistido ao processo de consolidação do setor cervejeiro. Faria é praticamente intocável.
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Coelho pula para longe do governo Temer
10/04/2018Fernando Coelho Filho, que até a semana passada ocupava o Ministério de Minas e Energia, rompeu com o governo Temer. O divórcio se consumou com a sua repentina decisão de se transferir do MDB para o DEM – segundo o RR apurou, acertada na madrugada de sábado após conversa com o deputado Rodrigo Maia. Coelho sentiu-se traído pelo Palácio do Planalto por conta da indicação de Moreira Franco para o Ministério. Havia um acordo tácito para que o então ministro fizesse o seu sucessor. Ele trabalhava por dois nomes, ambos integrantes da sua equipe no Ministério: o secretário de Energia Elétrica, Fabio Lopes Alves, e o secretário de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, Marcio Bezerra. Mas, como Fernando Coelho não é Henrique Meirelles, não teve a regalia de manter influência sobre a Pasta – o que ex-ministro da Fazenda conseguiu ao indicar o sucessor Eduardo Guardia.
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A superagência micou
6/04/2018Blairo Maggi não se ilude. Apesar de toda a mobilização da bancada ruralista, o projeto de criação de uma superagência de defesa agropecuária, que encamparia até mesmo funções da Receita Federal, não deverá passar pela barreira do Ministério da Fazenda. Mesmo com a saída de Henrique Meirelles, que sempre detonou a proposta. O sucessor e mímico de Meirelles, Eduardo Guardia, já sinalizou que também é contra o “Frankenstein regulatório”.
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“Ministro Laranja” já merece legislação específica
5/04/2018O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) deveria regulamentar o uso de títeres em cargos ministeriais com objetivo de burlar a desvinculação obrigatória do posto para disputa eleitoral. O caso de Henrique Meirelles é modelar. Plantou um laranja escancarado, mascarando a legislação. Ele combinou com o presidente Michel Temer que indicaria seu substituto no Ministério da Fazenda. O acordo fez parte de pacto entre ambos: quem dos dois estiver mais mal avaliado nas pesquisas, no mês de maio, abdicará do pleito em favor do “rival-parceiro”. Como não podia ser ministro e ao mesmo tempo concorrer à Presidência, Meirelles pré-definiu seu sucessor na Fazenda antes da Páscoa. Ganhou, assim, uma folga para articular com calma a transição até amanhã, data limite para a sua desincompatibilização do cargo. Meirelles não pensou duas vezes: olhou na direção do espelho e, pronto, estava criada a criatura. O novo ministro seria o seu preposto mais óbvio, o secretário executivo do Ministério da Fazenda, Eduardo Guardia. Considerado o faz tudo de Meirelles, Guardia é o segundo na hierarquia e seu braço direito. O sucessor ficou ainda com a recomendação de manter a equipe. E que nem um cinzeiro seja mudado de lugar. Só falta deixar a cadeira do “ministro de fato” vaga para quando Meirelles for na Fazenda dar suas instruções e baforar um bom charuto. Recomenda-se que o TSE regulamente logo esse laranjal, antes que a falsa desincompatibilização deixe de ser hilária e soe a patrimonialismo às claras, com parentes, sócios, advogados e outros personagens da “patota” sendo indicados para ser ministro fake em ano eleitoral.
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José Marcio Camargo surge como alternativa para que o BNDES não se torne o “Banco do Jucá”
29/03/2018Aparentemente está tudo certo na sucessão da equipe econômica. O secretário executivo da Fazenda, Eduardo Guardia, assumiria a Pasta. O secretario de Acompanhamento Econômico, Mansueto de Almeida, iria para o Ministério do Planejamento. E o atual titular do Planejamento, Dyogo de Oliveira, que ameaçava sair se não fosse nomeado ministro da Fazenda, iria para o BNDES. Uma solução ao contento do que desejava Henrique Meirelles.
Em Brasília, comenta-se que a dança do miudinho, ritmo nordestino em que as partes se sacolejam com passos curtos, tem sido praticada, dia sim, dia não, por Michel Temer e Meirelles. Na sucessão da equipe econômica, Temer prometeu a Meirelles que pedido feito seria pedido aprovado. Teve de contornar as demandas de parte do MDB. O partido pleiteava o cargo de ministro da Fazenda para Dyogo de Oliveira.
A carga contra Guardia e Mansueto, por sua vez, era porque ambos estariam mais identificados com o PSDB do que com o MDB. Seria um contrassenso entregar o filé da reforma ministerial ao inimigo em um ano eleitoral. Até ontem, o senador Romero Jucá – um dos articuladores da campanha contra os pupilos de Meirelles, chamando-os de quinta coluna a serviço dos tucanos – trabalhava nos bastidores para que seu apadrinhado Oliveira emplacasse na Fazenda. O BNDES, segundo ele, seria um prêmio de consolação. O problema de Oliveira é que, em qualquer dos cargos, ele carregará o DNA de Jucá e, portanto, a marca da Lava Jato como legado do seu protetor.
Com a virtual confirmação de Guardia na Fazenda, a presidência do BNDES virou motivo de comemoração entre os emedebistas. Em meio às intrigas da Corte, um nome surgiu ontem como tertius: o do economista José Marcio Camargo. Sua indicação para a presidência do BNDES repetiria o modelo adotado na escolha de Paulo Rabello de Castro. Ou seja: seria da cota pessoal do presidente Temer. A medida teria por objetivo blindar o banco neste período eleitoral, desassociando-o de nomes e fatos políticos.
Camargo tem serviços importantes prestados ao Palácio do Planalto e à presidência da Câmara dos Deputados. Esteve presente em todas as reuniões com empresários e parlamentares para explicar as reformas. O ex-professor da PUC-RJ tem bom relacionamento com o núcleo duro do governo e é afinadíssimo com Guardia e Mansueto. Atualmente é economista da gestora de recursos Opus. Trata-se de uma candidatura eminentemente técnica, sem mácula de qualquer ordem. Um predicado de valor inestimável para um presidente do BNDES.
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A troica de Rodrigo Maia na economia
9/03/2018O pré-candidato do DEM, Rodrigo Maia, vai anunciar nos próximos dias sua equipe econômica. Maia pretende trabalhar com um triunvirato, mas divulgará primeiramente apenas dois nomes: o presidente do Insper, Marcos Lisboa, e o economista do Ibre-FGV, Samuel Pessoa. O terceiro indicado é o atual secretário de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda, Mansueto Almeida. O economista cearense é um dos cotados para substituir Henrique Meirelles na Pasta. Portanto, seu nome será guardado. Os três se entendem por música. O economista José Marcio Camargo também deverá participar da equipe de Rodrigo Maia.
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Meirelles será ministro da Fazenda até o fim do governo
21/02/2018Se prevalecer o senso comum, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, não é mas pré-candidato à Presidência da República. É convicção desta newsletter que Meirelles anunciará a desistência por volta do mês de abril, data limite da desincompatibilização para as eleições, e comunicará sua disposição de permanecer no ministério até o fim do mandato do presidente Michel Temer. Pesam na decisão a pá de cal na reforma da Previdência, os números do desemprego, o fracasso na política do ajuste fiscal e o papelão de ter de anunciar um pacote de 15 medidas mofadas e desconjuntadas entre si como compensação pela derrocada da votação no Congresso.
O RR cercou o ministro através da opinião de colaboradores íntimos. Ninguém aposta um centavo no avanço da candidatura Meirelles. O consenso é de que sua gestão fracassou. O déficit primário acumulado na era Meirelles é de apocalípticos R$ 440 bilhões – já contabilizando – se a meta para este ano -, muitas vezes superior ao acumulado nas duas gestões de Lula e uma e meia de Dilma Rousseff. A Previdência foi para a lata do lixo. Sem ela, a PEC do Teto está ameaçada.
Quanto às medidas microeconômicas divulgadas como novidade, a média de tempo de existência dessas propostas é de 312 dias, ou seja, elas estão na estufa sem geminar faz muito tempo. O cadastro positivo detém o recorde e foi inventado pela primeira vez há 870 dias. Em relação ao desemprego, segundo pesquisa divulgada ontem pelo Serviço de Proteção ao Crédito pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas, o tempo médio de desocupação já chega a 14 meses.
No final de 2016, estava em 12 meses. Um contingente de 62% acredita que o desemprego irá aumentar ou permanecerá o mesmo. A resiliência é fortíssima. A taxa média de desemprego cai a conta-gotas – deve concluir este ano em 11,9% segundo as projeções, contra 12,7$ em 2017. Um dado doloroso: 28% dos desempregados tiveram algum conflito familiar. Meirelles não tem mais uma narrativa. Michel Temer, pelo menos tem a sua nova bandeira de segurança.
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Governo arma uma arapuca com as golden share
24/01/2018O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, pretende fazer o Congresso comer da farinha do engodo, constituída de pedacinhos da golden share. Essas ações de classe especial permitem ao governo intervir na gestão das empresas em casos de liquidação, modificação de objetos, das sedes e da denominação. A função mais enaltecida da golden share é a de que ela pode evitar a desnacionalização das companhias privatizadas. O governo tem uma penca dessas ações na Vale, na Embraer e no IRB. Quer socá-las todas no pilão de forma que cheguem a uma consistência tão fina que um simples sopro as empurre para o esquecimento.
A ideia é se desfazer delas todas, especialmente as que serão criadas com a futura venda da Eletrobras. O embuste do governo é usar as golden share para aprovar a privatização da Eletrobras no Congresso, enquanto, simultaneamente, se prepara para transformá-las em títulos negociáveis, reduzir o seu poder de interferência ou simplesmente sumir com elas. Há precisamente 94 dias, o governo encaminhou consulta ao Tribunal de Contas da União sobre a probabilidade de venda das ações ou até o extermínio delas. Consultado, o TCU informa que “não há, até o momento, deliberação em relação à consulta realizada pelo Ministério da Fazenda sobre a extinção dos direitos conferidos pelas golden share”. Esclarece ainda que “o processo recebeu instrução na unidade técnica incumbida e atualmente está em análise no âmbito do Ministério Público junto ao TCU”.
Neste caso, cabe ressaltar que as negociações entre a Embraer e a Boeing colocaram em banho-maria as tratativas entre o governo e o Tribunal de Contas. Outra questão, noves fora fator soberania, é o retorno financeiro da União, já que essa classe especial de ações possui prerrogativas que exigem uma valoração diferenciada. Desde a privatização da Vale, os diversos governos tentam exterminar as golden share, medida que lubrificaria a venda das estatais. Meirelles está levando ao Congresso um discurso que prevê a manutenção desta modalidade de ação. Para convencer os parlamentares de que a Eletrobras precisa ser privatizada com urgência, dá-se como garantia as ações especiais que mantêm o controle das decisões estratégicas nas mãos do Estado.
Nada contra a venda da Eletrobras, mas tudo contra o logro. São as golden share que garantem a ingerência sobre as companhias públicas desestatizadas, evitando que seu controle seja desnacionalizado e o seu centro de decisões, transferido para o exterior. A ação é um hedge do país contra um neocolonialismo. Mas, como se vê, também pode servir a um governo que tem a intenção prévia de inutilizá-la ao mesmo tempo que faz uso da sua existência para ludibriar o país e gerar caixa a qualquer custo.
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“Superagência” da discórdia
27/12/2017A proposta do ministro Blairo Maggi de transformar a Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA) em uma “superagência” está provocando fissuras no governo. A Fazenda trabalha, desde já, contra o projeto, que esvazia os poderes dos auditores fiscais federais agropecuários. Pela proposta, a SDA terá maior autonomia sobre a aplicação e a arrecadação de multas aplicadas a empresas agropecuárias. Outro ponto tão ou mais polêmico é o que prevê que mais da metade dos valores arrecadados com penalidades seja destinado ao próprio Ministério da Agricultura. Maggi quer que o projeto seja votado na Câmara ainda no primeiro trimestre de 2018. Mas, se for para comparar o seu poder de articulação e barganha junto ao Legislativo ao de Henrique Meirelles, não dá nem para saída.
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Venda de imóveis da União é um copo pela metade
26/12/2017A decisão do governo de editar uma Medida Provisória regulamentando a venda de imóveis da União é apenas a metade de um plano que gorou: a criação de um fundo soberano de securitização com um número maior de ativos, incluindo grandes lotes de terras e empresas que não fazem parte de programas de privatização e concessões. O governo colocaria no mesmo balaio um leque variado de negócios, que vão do Bondinho do Pão de Açúcar à Base Aérea de Santa Cruz. A concepção original é do ex-ministro José Serra, que a idealizou juntamente com a proposta de securitização da dívida ativa da União – ver RR edição de 27 de julho de 2016.
Estimou-se que a operação permitiria uma arrecadação para o governo da ordem de R$ 20 bilhões. De lá para cá, o projeto rodou no Ministério da Fazenda, Casa Civil e Secretaria de Patrimônio da União. Em favor da proposta estava o potencial de ampliar expressivamente a arrecadação, buscando, inclusive, a venda para fundos no estrangeiro, e agilizar a desmobilização – leilões individuais seriam mais morosos do que a comercialização das cotas -; contra, ganharam a parada a falta de liquidez de vários dos ativos cogitados e os riscos jurisdicionais na área fundiária, incluindo invasões, falsificações em cartório e usucapião das terras, além da dificuldade de formação de preço do “fundo Frankenstein”.
O atraso na regulamentação da venda de terras para o estrangeiro também ajudou a solar o bolo da securitização. Caso estivesse em vigor, o governo poderia carrear uma imensidão de hectares para a carteira do fundo, em condições de maior liquidez. Para simplificar as coisas, o governo decidiu simplesmente realizar a venda dos imóveis até R$ 5 milhões – chamados de “inservíveis” – a preços fixos e sem exigência de licitação. Compra quem chegar primeiro. Os prédios, casas e apartamentos acima do valor arbitrado vão a leilão. A ver se eles serão ortodoxos. Entram no pacote as ilhas de propriedade da Marinha e até praias particulares. A “immobiliari do Brasil”, contudo, deve render, na melhor das hipóteses, entre R$ 1 bilhão e R$ 2 bilhões. É pouco para quem entra em 2018 tateando um buraco de R$ 20 bilhões para cumprir a meta de R$ 159 bilhões do déficit das contas públicas. Mas compõe o figurino “cata milho” que deverá ser a tônica da política fiscal no ano novo.
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Quem dá mais pela candidatura de Henrique Meirelles?
15/12/2017Mesmo antes de decidir se será pré-candidato à presidência e por qual partido disputaria as eleições, Henrique Meirelles vem sendo cortejado por todos os principais concorrentes de direita e centro-direita. Em várias das vezes a sedução é para que Meirelles assuma os dois cargos ao mesmo tempo: vice-presidência e Ministério da Fazenda. O ex-banqueiro é multiuso. O presidente Michel Temer, com o ar de distanciamento brechtiano, tratou da sua hipotética candidatura sondando en passant seu ministro. Repetiriam a dobradinha, que tanto tem encantado o empresariado.
Meirelles continuaria com seu papel de âncora fiscal e inflacionária. Mas subiria um degrau: seria o vice-presidente. Tudo depende da aprovação da reforma da Previdência, é claro. O candidato Jair Bolsonaro, que está apalavrado com o economista Paulo Guedes para o Ministério da Fazenda, tem em Meirelles o seu ideal de vice-presidente. Com ele, atrairia eleitores do centro-direita que duvidam do preparo do candidato e seus quadros, assim como do seu comprometimento com um programa liberal. Meirelles opera como se fosse uma hidra, com seus tentáculos espalhados pelo mercado financeiro internacional, e empresta cosmopolitismo a candidatos suburbanos. Ele já tem sua base aliada no Congresso. E se preciso for tem interlocução até com a outra extrema, o PT.
Bolsonaro o usaria como garantia da sua agenda liberal. Meirelles assumiria a posição de uma espécie de chairman do Ministério da Fazenda. O governador Geraldo Alckmin, candidatíssimo à Presidência, por sua vez, faz suas conjecturas sobre Meirelles vir a comandar o Novo Plano Real, proposta símbolo da sua campanha- ver RR edição de 6 de dezembro. Não haveria restrições para que ele acumulasse a vice-presidência caso fosse essa a exigência. Mas, como se disse, por enquanto são só conjecturas. Finalmente, o deputado Rodrigo Maia, cuja candidatura é a mais encruada, vê em Henrique Meirelles alguém que agregue uma dimensão maior a sua pretensão política.
Por enquanto, Maia é candidato dele mesmo e da sua trupe no Congresso. Se o ministro da Fazenda topasse ser vice, a sua postulação ganharia peso político e a mensagem de um ideário nítido. Para tudo e para todos, é preciso que Meirelles abdique da sua intenção presidencial. O deadline é dia 6 de abril. O ministro só assume a candidatura se a economia estiver voando em céu de brigadeiro. Caso contrário, estará na prateleira à disposição para ofertas. Quem dá mais? Quem dá mais?
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Paulo Guedes monta Ministério à sua imagem e semelhança
29/11/2017O economista Paulo Guedes faz forfait quando afirma que ainda não respondeu ao convite para se tornar ministro da Fazenda em um eventual governo de Jair Bolsonaro. Guedes não só aceitou como já começou a montar sua equipe. Um dos escalados é o econometrista João Luiz Mascolo, que trabalhou com Guedes no Ibmec. Mascolo é sócio da SM Managed Futures, professor do Insper e ex-marido de Maria Silvia Bastos Marques.
Ele e o eventual futuro chefe formam a dupla mais radical de extrema direita entre os economistas do país. Bolsonaro estará bem acompanhado. Em um debate com a professora Maria da Conceição Tavares, na Anbid, nos idos da década de 80, o então jovem economista Paulo Guedes afirmou que, se fosse preciso colocar fogo nas favelas para obter o ajuste econômico, não hesitaria. Os favelados desceriam e a estabilidade os alocaria no mercado de trabalho. Ninguém morreria, é claro. Ou ficaria transtornado pela perda de detalhes tão insignificantes da sua vida. O mercado funciona. Por pouco, Conceição não mordeu sua jugular.
Paulo Guedes é assim mesmo; combina brilhantismo com disparates. É como se fosse um “Glauber Rocha de extrema direita entre os economistas”, com visões barrocas e alucinadas. Seu maior desejo sempre foi o de ter uma passagem pela vida pública. Quem o conhece sabe que ele trocaria os milhões de reais ganhos no mercado financeiro por essa experiência de manda-chuva da Fazenda. Passo a passo, o possível governo Bolsonaro vai se tornando uma antiobra assustadora.
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“Caldeirão do Huck” tem espaço de sobra para tucanos
13/11/2017A depender do resultado das eleições para a presidência do PSDB, uma fieira de tucanos poderá estrear no “Caldeirão do Huck”. Na última sexta-feira, o apresentador e quase pré-candidato já participava de conversas sobre os despojos da guerra do PSDB. Huck enfraqueceria ainda mais o partido, alistando quadros de prestígio em suas fileiras.
A visão dos “huckistas” é que, mesmo se surgir uma terceira via, entre o grupo de Tasso e o de Aécio, o senador cearense poderia caminhar com seus aliados em direção à candidatura de Huck. O eventual empecilho seria a lealdade com Geraldo Alckmin, que tem se mostrado firme na defesa de que os tucanos saiam do governo Michel Temer. Porém, se o governador de São Paulo continuar patinando nas pesquisas e a candidatura Lula se confirmar, Huck pode ser uma das poucas alternativas para evitar o que para os tucanos seria o maior de todos os desastres.
Alckmin, por sinal, está fazendo seu hedge: na última sexta-feira, esteve na Casa das Garças, no Rio, reduto dos pensadores tucanos que integram a legião pró-Tasso. Por uma dessas ironias do destino, Luciano Huck é um grande amigo de Aécio Neves. No entanto, verdade seja dita, se afastou um pouco do ex-parceiro de noitadas em função do seu envolvimento no noticiário da Lava Jato.
Huck, ainda na linha das curiosidades, costuma se consultar com o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, que era considerado nome certo para o Ministério da Fazenda se Aécio fosse parar na Presidência da República. Fraga ocupa o mesmo posto nos planos de Huck. O que liga a zona norte de Tasso com a zona sul do apresentador é uma miríade de economistas liberais identificados com Armínio Fraga. É a algaravia da política que segue seu rumo.
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Corretores de seguros fazem um “takeover” da Susep
7/11/2017A Susep está dominada por aqueles que deveria regular e fiscalizar. Os corretores de seguros tomaram a autarquia, colocando em xeque sua independência. Há uma concentração de representantes da área de corretagem nos postos de comando sem precedentes na trajetória do órgão regulador, a começar pelo superintendente, Joaquim Mendanha de Ataídes, presidente licenciado do Sindicato dos Corretores de Goiás. Ao seu lado, na diretoria de Administração, está Paulo dos Santos, que, até ser nomeado para o cargo, ocupava a presidência do Instituto Brasileiro de Autorregulação do Mercado de Corretagem de Seguros (Ibacor).
O trio de ferro dos corretores é completado por Marcelo Augusto Camacho Rocha, ex-assessor jurídico da Fenacor, que assumiu neste ano a diretoria de Organização do Sistema de Seguros Privados. Nos bastidores da entidade, é flagrante o mal-estar causado pela situação, notadamente junto à área técnica. O poder dos corretores na Susep tem criado situações de tensão entre agentes do mercado de seguros.
O caso mais ruidoso gerou uma crise dentro da própria estrutura de Estado, devido ao embate entre a entidade e a Caixa Econômica Federal, ambas subordinadas ao Ministério da Fazenda. A Susep negou o pedido da Youse – plataforma online de venda de apólices criada pela CEF – para atuar também como seguradora. A situação causou irritação na diretoria do banco, que enxergou a postura da Susep como uma represália ao canal de distribuição direta de seguros sem corretagem – um projeto no qual a Caixa Seguradora, leia-se a francesa CNP Assurances (52%) e CEF (48%), investiram mais de R$ 500 milhões.
Segundo o RR apurou, houve pressão em Brasília para a demissão de Joaquim Mendanha. Consta que quem segurou as pontas foi o deputado federal Lucas Vergílio (SD-GO), filho de Armando Vergílio, presidente da Fenacor. Procurada pelo RR, a Susep esclareceu que “só se manifesta formalmente em relação a fatos concretos, com origem confirmada, e não sobre boatos ou informações correntes em bastidores.”
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Operação desmonte
28/09/2017Se depender do Ministério da Fazenda, o BNDES fica só com o prédio da Av. Chile, uma parcela diminuta de funcionários para a manutenção e mesas, cadeiras e computadores. Além da devolução de R$ 180 bilhões em empréstimos do Tesouro Nacional, Meirelles estuda outras hipóteses para sangrar o banco: a venda de parte das carteiras do BNDESPar e de créditos bons junto a grandes empresas.
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Imposto sobre commodities ferve no tubo de ensaio de Temer
24/08/2017Há um balão de ensaio prestes a subir do Ministério da Fazenda na contramão da Pasta da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Trata-se de mais uma engenhosidade tributária com o objetivo salvacionista da pátria fiscal. A proposta de ativar alíquotas do imposto de exportação sobre commodities não chega a ser um ornitorrinco, mas consegue a façanha de unir ovíparos e lepidópteros. Exemplo: o casamento pontual das ideias de Henrique Meirelles e Luiz Carlos Bresser Pereira. O abraço entre os dois seria de tamanduá, é claro.
Meirelles topa qualquer parada para equacionar o fiscal ou, no mínimo, dar a dimensão da sua gravidade. Bresser tem um projeto de equidade fiscal e ênfase na reindustrialização. A mesma medida serviria a ambos com motivações distintas, mas levaria, muito provavelmente, o ministro Blairo Maggi a deixar o governo em pé de guerra. Maggi representa o setor na forma absoluta: ele mesmo é um enclave latifundiário na Esplanada dos Ministérios.
O agribusiness tem tido o melhor desempenho da economia, o que não é pouco em um cenário de queda da atividade produtiva e desemprego nas alturas. O seu gravame é baixo em relação aos demais segmentos. Diversos países que têm uma contribuição expressiva das exportações de produtos primários (minerais e agropecuários) utilizam esse expediente. E o argumento de que a competitividade das exportações cairia é considerado balela: as séries históricas demonstram que em longos períodos de preços em alta ou em queda, o volume das seis principais commodities comercializadas pelo Brasil (representam quase 50% do total das vendas ao estrangeiro) permaneceu sempre crescente.
Em um governo quase histérico com o eventual atraso da reforma da Previdência chama a atenção de que até agora a medida não tenha sido aventada, até porque é uma decisão administrativa e, portanto, muito distante das complexas negociações para a aprovação de uma PEC. Segundo a fonte do RR, a bandeira do imposto sobre exportação das commodities será desfraldada a qualquer momento. É só esperar. A dúvida é se quem vai levantá-la não pretende apenas o logro de uma “medida calção”, que serviria somente como ameaça ou justiceirismo bufo. Melhor seria a boa luta pelo fim das renúncias fiscais e subsídios que não favorecem os miseráveis e o fim da obrigatoriedade das despesas, que permitiria a alocação racional dos recursos. A privatização fall front the sky da Eletrobras e a bexiga inchada do imposto sobre commodities são arremedos de ajuste fiscal. Fuga para trás.
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Sugere-se um “fundo elétrico” para a Previdência
23/08/2017A título de sugestão, o Ministério da Fazenda poderia refletir sobre um modelo alternativo ao de descotização, feito a partir das unidades regionais (Eletronorte, Furnas e Eletrosul, com a redefinição do papel da Chesf). Por essa ótica, as ações da União deveriam ser transferidas integralmente para um fundo de recursos vinculados ao financiamento da Previdência, que após a reavaliação e reestruturação, serviriam para dar liquidez às obrigações com aposentadoria e pensões. Em um horizonte mais longo, o modelo poderia evoluir para a privatização setorial, com a venda de participações nas controladas e a transferência dos recursos arrecadados para o fundo. Nos dois casos, haveria um contrato de gestão, com a seleção de um administrador profissional. Com esse “fundo âncora” o fluxo de necessidade de recursos para a Previdência tende a diminuir, e por conseguinte, as transferências do Orçamento. O sistema Eletrobras, reestruturado e saneado, vale pelo fluxo de dividendos e valorização dos ativos no mínimo dez vezes mais do que os R$ 10 bilhões estimados no comunicado ao mercado do Ministério de Minas e Energia. Basta que seja feita a reavaliação dos ativos pelo real valor econômico (atualizado pelos índices de correção monetária de balanço sem o expurgo). Esse modelo incorporaria o trabalho sério de reestruturação que vem sendo feito pela diretoria da Eletrobras.
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A última bala de Meirelles
16/08/2017O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, rodou ontem o tambor da roleta russa fiscal. Bateu o pé em uma nova meta de R$ 159 bilhões de déficit primário enquanto a trupe do Planalto e os czares da base aliada defendiam R$ 170 bilhões. A folga era para zerar a possibilidade de modificar novamente a previsão de déficit neste ano. Meirelles fincou posição que um afrouxamento maior da meta acabaria por fomentar as resistências aos novos cortes. Curioso que em 2016 o ministro da Fazenda tenha pensado justamente o contrário: botou uma meta lá em cima para conseguir um resultado primário sem muito sufoco. Mas os dados estão jogados: se não cumprir o déficit ou buscar uma derrama para compensar um novo rombo fiscal, Meirelles destrói sua reputação. Vai para o lixo da Historia.
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Os “cavalos vencedores” de Picciani
15/08/2017Segundo fonte do Ministério Público, a força-tarefa da Operação Calicute investiga a denúncia de que a família Picciani teria uma participação, não revelada, na Investiplan Computadores. A companhia tem contratos com o governo do Rio que somam quase R$ 250 milhões. O herdeiro da Investiplan, Paulo Afonso Trindade Júnior, jamais
escondeu sua proximidade com os Picciani, notadamente na agropecuária.
No próprio site da Fazenda Nova Trindade, de sua propriedade, o empresário externa sua gratidão a Felipe Picciani – filho do presidente da Assembleia Legislativa, Jorge Picciani. Segundo a apresentação, foi Felipe que “orientou e deu suporte inicial” para a família Trindade ingressar na criação de gado Nelore. O clã aproveitou bem o conselho e a ajuda: hoje, a Nova Trindade tem cerca de mil cabeças de gado e é assídua participante dos concorridos leilões de Nelore promovidos pela Agrobilara, dos Picciani.
Procurado, Jorge Picciani negou ser sócio da Investiplan. Disse ainda que jamais interferiu em contratos com o estado, de “nenhuma natureza”. O RR fez seguidas tentativas de contato com a Investiplan e a Fazenda Nova Trindade, mas não obteve retorno. O MPF, por sua vez, informou que “não se manifesta sobre investigação em andamento, não confirmando nem negando se uma apuração está em curso.”
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Reforma tributária exige passagem
15/08/2017O governo está convencido de que tem que fazer a reforma tributária para ontem. Os filósofos do Ministério da Fazenda descobriram, antes tarde do que nunca, que, com o atual mix de impostos e distribuição do percentual de incidência, a arrecadação tributária continuará caindo em termos relativos, cresça a economia o que crescer. Há que se reformar para acompanhar a mudança estrutural na geração de renda entre os setores da economia. Engraçado é que o RR, do alto da sua insuficiência teórica, já tinha cantado essa pedra. A torcida agora é que o governo ignore o pato da Fiesp e construa um mosaico tributário com impostos mais progressivos sobre a renda. Uma chance em mil disso acontecer.
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“É alguém que me bate à porta de mansinho”
11/08/2017Há um corvo soprando com seu hálito álgido uma mensagem para Henrique Meirelles: Que fazes meu senhor, perdendo-te do teu destino nobre e tornando-te parceiro do infortúnio e do equívoco? A permanência no Ministério da Fazenda será teu sinete, com o qual assinará com o lacre da soberba um fracasso há tempos anunciado. E desde já tu serás aquele mais conhecido pelo que poderia ter feito do que pelo que fez.
A insistência na associação de tua imagem com o atual governo contamina o seu projeto político. Sabes, meu senhor, que não fostes acostumado a viver sem o incenso e a mirra dos aduladores. Não cabe nos teus anais a comédia de erros da elevação do imposto de renda. Terá sido o ápice do desencontro ou apenas mais um degrau da barafunda fiscal? Vossa Senhoria corre o risco de gerir o maior desastre das contas públicas do Brasil.
Aceitastes, meu senhor, a missão de reconstituir a economia em um governo sob suspeição porque confiavas na promessa de que terias o protagonismo absoluto. E assim o foi durante sete dias e sete noites. No despertar do oitavo dia, contudo, sua voz mal se ouvia em meio à cacofonia dos embusteiros. E o trinado do corvo emite com agudeza seu recado fatídico: deixai essa cadeira e buscai o teu trono.
Abandonai essa embaixada agora em que mais de 70% da população brasileira convivem com a menor inflação dos últimos 37 anos. É o teu trunfo, talvez o único. Lembrai que o sacerdócio das finanças públicas neste governo sempre foi um rito de passagem. Daqui em diante começarão a ver-te como culpado e não mais como a solução prometida.
Melhor sair com o pouco que restou, mas com a cruz da dignidade encrustada na testa, o que permitirá prosseguir em seus planos de poder ainda intactos. Epílogo: Enquanto isso, num castelo das finanças públicas, perto e longe de Brasília, um cavaleiro de indomável ambição já se encontra trajado com as vestes e as armas do Ministério da Fazenda. O corvo sopra o seu nome aos quatro ventos.
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Uma blitzkrieg publicitária para a reforma da Previdência
7/08/2017Os eflúvios de velhas ditaduras e movimentos revolucionários estão sendo vaporizados no Palácio do Planalto e no Ministério da Fazenda. O ex-maoísta Moreira Franco defende que o ministro-banqueiro Henrique Meirelles faça uma convocação do empresariado para que apoie abertamente a reforma da Previdência. A ideia é promover uma blitzkrieg nos próximos 30 a 60 dias, tempo que o governo considera necessário para organizar a votação e realizá-la até o fim de outubro.
Consultada, a assessoria do ministro Meirelles não se manifestou sobre o assunto, informando que “as campanhas do governo são coordenadas pela Secretaria Geral da Presidência”. Esta, por sua vez, não se pronunciou. A exemplo do Chile de Pinochet, onde os empresários tiveram papel relevante na dita “propaganda revolucionária”, a burguesia brasileira seria mobilizada no esforço de convencimento da população de que as perdas nos direitos previdenciários que ocorrerão no presente serão recompensadas no médio e longo prazos com mais empregos, investimentos na saúde, melhoria dos serviços públicos e outras dádivas mais; que os brasileiros precisam pensar no futuro dos seus filhos e do país; que, se a reforma não for feita, o país quebrará e não haverá recursos para pagar as necessidades básicas do povo. O projeto vai além das convencionais ações institucionais-corporativas do empresariado nos meios de comunicação, de eventos ou de manifestações coletivas e abaixo-assinados.
O que se pretende é a adoção do modelo de propaganda useiro e vezeiro nas ditaduras: publicidade no ambiente de trabalho, cartazes nos pátios de produção, nas ruas, distribuição de panfletos e uso da comunicação interna das empresas. A lógica da iniciativa é dividir a responsabilidade do governo na operação de sensibilização de massas com o empresariado, um dos principais beneficiados diretos e no curto prazo com a reforma. Do Congresso, o governo dá conta, com as emendas parlamentares às expensas da Viúva. O busílis do projeto será convencer Meirelles a ser o “ministro pidão” do engajamento dos empresários.
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Governo manda a conta do ajuste para as empresas de telefonia
31/07/2017Depois do PIS/Cofins sobre os combustíveis, o governo agora aponta seu canhão fiscal na direção das empresas de telefonia. Os estudos para o reajuste do Fundo de Fiscalização das Telecomunicações (Fistel) avançaram nas últimas semanas. De acordo com uma fonte da Fazenda, a Pasta e o Ministério do Planejamento já trabalham no projeto de lei para o aumento da contribuição cobrada das operadoras. Além da necessidade de elevar a arrecadação fiscal, a equipe econômica justifica o aumento pela defasagem nos valores do Fistel em relação à inflação, acima dos 200%.
O último reajuste se deu em 1998. O gravame é composto de dois tributos: a Taxa de Fiscalização de Instalação(TFI) e a Taxa de Fiscalização de Funcionamento (TFF), que incidem sobre cada “estação” ativada pelas empresas de telecomunicações, seja uma linha fixa, um aparelho celular ou mesmo um satélite. A TFI custa R$ 13,41, pagos anualmente; a TFF, R$ 26,83. A disposição da equipe econômica em elevar o Fistel já provoca escaramuças no governo. A Anatel queixa-se de ter sido alijada das discussões para o reajuste do imposto, não obstante ser a responsável pela arrecadação do tributo – e só a arrecadação, porque o dinheiro, hoje, vai quase todo direto para o Tesouro.
Talvez tenha sido colocada para escanteio porque Henrique Meirelles e Dyogo Oliveira já saibam, de antemão, o que vão ouvir. A agência reguladora, assim como o Ministério da Ciência e Tecnologia, é contrária à medida, pelo seu potencial efeito deletério sobre o volume de investimentos no setor. Utiliza como argumento a própria trajetória declinante da arrecadação do Fundo, que reflete a desaceleração do setor.
Entre 2014 e 2016, o valor recolhido caiu de R$ 8,7 bilhões para R$ 3,2 bilhões. Para este ano, a previsão é de não mais do que R$ 2,2 bilhões – a se confirmar, a menor cifra desde 2007. A Anatel defende, inclusive, a redução do Fistel para as operadoras de satélite. Hoje, elas pagam R$ 201,12 por antena. Sua proposta é aplicar a mesma cifra cobrada das operadoras de telefonia. A agência alega que a taxa atual é um entrave ao plano de banda larga satelital conduzido pela Telebras. Na visão da Anatel, caso o imposto seja reajustado, aí mesmo é que o projeto vai para o espaço.
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Ponto final
31/07/2017As seguintes empresas não se pronunciaram ou não comentaram o assunto: Ministério da Fazenda, Anatel, Petrobras, Kroton e Eleva.
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Reajuste dos militares opõe Jugmann e equipe econômica
19/07/2017Há um agastamento nas relações entre o ministro da Defesa, Raul Jungmann, e seus colegas da Fazenda, Henrique Meirelles, e do Planejamento, Dyogo Oliveira. O motivo é uma questão bastante delicada: o reajuste salarial das Forças Armadas. O assunto está parado na área econômica, onde enfrenta resistências. Meirelles, principalmente, tem a sensibilidade do todo, mas não abre mão da parte.
Na Fazenda, não se discute o mérito da questão e muito menos sua importância para o governo, sobretudo pelo seu valor intangível no atual cenário político e institucional. No entanto, Meirelles olha o orçamento com lupa e tem dificuldade em encontrar uma fresta para encaixar o reajuste salarial dos militares. Os estudos preliminares do Ministério da Defesa envolveriam um aumento médio de 15%. Tomando-se como base os gastos com pessoal e encargos sociais previstos no Orçamento das Forças Armadas para este ano, o reajuste implicará um custo adicional de R$ 10,5 bilhões por ano.
Na aritmética que mais sensibiliza Meirelles, essa cifra equivale a algo como 8% do déficit primário previsto para 2018 (R$ 131 bilhões). Consultado sobre o reajuste dos militares, o Ministério da Defesa confirmou que “tem atuado junto à Fazenda e ao Planejamento para que ocorra um nivelamento com as demais carreiras de estado”. Disse ainda que “não é possível afirmar quando os estudos estarão concluídos e qual o espaço fiscal a ser concedido.”
A Fazenda, por sua vez, não quis se pronunciar. A indefinição sobre o aumento dos salários dos militares pesa nas costas de Raul Jungmann. Há pouco mais de um mês, em entrevista ao programa Forças do Brasil, da Rádio Nacional, o ministro da Defesa garantiu o reajuste. Talvez estivesse trabalhando com a fotografia de uma cena anterior.
Segundo o RR apurou, as discussões sobre o tema haviam avançado razoavelmente em março e abril, na mesma época que o governo começou a esboçar propostas para a reforma da Previdência dos militares. Desde então, no entanto, a Fazenda e o Planejamento pisaram no breque. Há uma defasagem nos salários dos militares em relação a outras carreiras de Estado na área de segurança.
Um agente da Polícia Federal, por exemplo, recebe o mesmo do que um coronel das Forças Armadas, sem ter responsabilidade de comando. Como não poderia deixar de ser, o problema aperta, sobretudo, as patentes mais baixas. Não por acaso, de acordo com uma fonte do próprio Ministério da Defesa, o modelo delineado pela Pasta prevê justamente uma redução do gap salarial entre os diferentes níveis na hierarquia militar.
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Privatização da Cesp entra em curto circuito
21/06/2017O governador Geraldo Alckmin e sua equipe estão quebrando a cabeça para evitar um blecaute na privatização da Cesp. Segundo informações filtradas do Palácio Bandeirantes, o governo paulista estuda entrar na Justiça, no que seria uma última cartada para tentar a renovação antecipada da licença da usina de Porto Primavera, responsável por mais de 90% da capacidade de geração da empresa. Outra hipótese é o adiamento do leilão para o fim do ano, como forma de ganhar tempo para desatar o nó.
Consultado pelo RR, o governo de São Paulo garante que o processo de privatização será mantido e ocorrerá no prazo, ou seja, setembro. A Secretaria de Fazenda do Estado informou que “descarta a solicitação antecipada das concessões antes da privatização, com base na Lei 9.074.”. Entende-se a prudência do governo paulista ao tratar do assunto.
No entanto, a decisão do Ministério de Minas e Energia de não renovar a licença de Porto Primavera foi um duro golpe, vista no Palácio Bandeirantes como uma mudança nas regras do jogo com a bola rolando. Durante as negociações, subitamente o Ministério impôs uma série de exigências para estender a licença da hidrelétrica, como a cobrança de um outorga e o recolhimento de 2,5% da receita operacional da empresa. A Secretaria de Fazenda confirmou ao RR que as “condições apresentadas não atendem aos interesses do Estado”.
Sem a extensão da concessão de Porto Primavera, a licitação da Cesp corre o risco de ser um fracasso de bilheteria. A expectativa do próprio governo paulista é de uma arrecadação na casa dos R$ 3 bilhões, quase a metade dos R$ 5,5 bilhões estimados inicialmente. Segundo o RR apurou, nos últimos dias, três potenciais candidatos, a italiana Enel, a Equatorial e a chinesa Shanghai Electric Power Transmission and Distribution Engineering, sinalizaram ao governo de São Paulo que não vão participar do leilão.
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As cores e os tons dos (des) ajustes fiscais
12/06/2017Se o gato tirasse o óculos de sol e mirasse os resultados fiscais dos governos do PSDB, PT e PMDB, os respectivos déficits e superávits poderiam ser cinza, roxo, amarelo ou vermelho. O felino em questão é o astro do filme tcheco, de 1963, “Um dia, um gato” (“Az pprijde kocou”), de Vojtech Nasný. Ao recolher seus óculos escuros, ele identifica com cores o caráter das pessoas.
O gato olharia, então, para os números dos orçamentos fiscais dos diversos governos e todos eles se pintariam de roxo, cor dos mentirosos e hipócritas. Explica-se tanta metáfora: nos últimos anos houve apropriação e falseamento do bom e do mau comportamento da gestão das contas públicas. Os melhores números (os dos governos do PT) foram apresentados como extremamente negativos; indicadores medíocres (governo FHC), como um símbolo de equilíbrio e austeridade; e cifras tenebrosas (governo Temer), rotuladas como o esforço e a superação no ajuste fiscal. A cor desse engodo é o cinza, dos assaltantes da realidade.
Os verdadeiros resultados são contrários à percepção coletiva e ao discurso dominante. Os números da gestão FHC são positivos, mas modestos quando se leva em conta a soberba tucana: uma média de 1,76% de superávit primário em relação ao PIB nos dois mandatos. No governo FHC 1, verificou-se um déficit primário de 0,2% do PIB; e no FHC 2, o resultado fiscal foi positivo em 3,1% do PIB. Já o superávit fiscal acumulado no governos Lula 1 e Lula 2 alcança 3% do PIB (3,5% no primeiro mandato e 2,7% no segundo).
O governo Dilma 1, que foi considerado a preliminar da tragédia fiscal, realizou um superávit primário médio de 1,5% do PIB, não muito coisa abaixo dos 1,76% do PIB nos dois anos de FHC, mas bem acima do déficit de 0,2% do FHC 1. O segundo mandato da Sra. Rousseff não passou de um ano e quatro meses, mas já se desenhava em 2014 o desastre nas contas públicas, que assolaria 2015 e, vá lá, 2016 o, primeiro ano do governo Michel Temer. Vale o registro que, mesmo computando-se os seus piores resultados fiscais, o governo Dilma teve na média um superávit primário de 0,7% do PIB. Incrível!
Os cálculos feitos pelo RR tomaram como base os dados consolidados do Banco Central referentes ao setor público. A cor dos governos do PT, quando considerados como um todo, seria o amarelo, dos infiéis, pois seus dirigentes sempre deixaram que se acreditasse, com a anuência do próprio partido, que seus governos eram perdulários e despoupadores. Os governos do PT – e coloque-se Dilma na conta de Lula -, na realidade, economizaram bem mais do que os desajustes propalados. Em todos os anos dos governos Lula e no primeiro de Dilma Rousseff (à exceção de 2014), foram realizados superávits primários.
No último ano de gestão da Sra. Rousseff, o carro capotou na curva. Ele foi marcado pela paixão, cor é o vermelho sanguíneo. Paixão pelo equívoco, é bom que se ressalte. A gestão do presidente Michel Temer se inaugurou com a desqualificação da previsão de déficit do governo anterior (R$ 30 bilhões). Uma nova meta, de R$ 170 bilhões, foi anunciada. A cifra deixou folga para o cumprimento da previsão, e o governo do PMDB com alma de PSDB atingiu o déficit recorde de R$ 154 bilhões, em 2016, correspondente a 2,54% do PIB.
O número foi saudado como uma conquista. Neste ano, a meta anunciada é de R$ 139 bilhões, mas, se for computado o valor já contingenciado pelo Ministério da Fazenda, o rombo orçamentário chegará a R$ 170 bilhões, um novo recorde. Para 2018, a previsão é de um déficit de R$ 129 bilhões. Portanto, em três anos o saldo da gestão Temer será um buraco de R$ 461 bilhões (número passível de ajuste contábil). O superávit primário acumulado nos Lula 1 e Lula 2 foi de R$ 643 bilhões.; no Dilma 1, R$ 292 bilhões; os FHC 1 e FHC 2 somaram R$ 151 bilhão. Mantendo-se ou não na presidência, Michel Temer sairá imbatível do ponto de vista da desgovernança fiscal. Sua cor é o roxo.
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Novo regime automotivo causa um racha entre as montadoras
8/05/2017Às vésperas da publicação do Inovar – Auto 2, regime automotivo que deverá ser anunciado no início do segundo semestre, há um racha sendo disputado nos gabinetes de Brasília. As fabricantes de veículos de luxo, à frente Jaguar Land Rover, BMW e Audi, têm feito uma carreata nos Ministérios da Indústria e da Fazenda na inglória tentativa de sensibilizar o governo a afrouxar o torniquete fiscal. O objetivo é eliminar ou, ao menos, reduzir consideravelmente a alíquota extra de 30% cobrada sobre os veículos importados que excedem a cota à que cada montadora tem direito.
Por ainda terem uma produção incipiente, restrita a poucos modelos, estas empresas dependem mais das importações do que suas concorrentes. Na contramão, ouve-se o ronco dos motores de Volkswagen, GM, Ford e Fiat, que fazem o lobby pela manutenção e – se possível – aumento dos impostos sobre os importados. No setor, a aposta é que as “big four” vencem a disputa, não só pela força da sua representação política, mas pelas circunstâncias. Difícil convencer a Fazenda de que um imposto não faz sentido quando o “que não faz sentido” é um déficit primário de R$ 147 bilhões.
De toda a forma, as montadoras de luxo argumentam que o imposto extra perdeu sua razão de ser. A alíquota foi criada para frear as importações e punir as montadoras que não investiam em produção local. De 2011 para cá, Jaguar e BMW instalaram fábricas no Brasil; a Audi retomou a montagem de automóveis em São José dos Pinhais (PR) após um hiato de nove anos. As empresas, portanto, cobram a conta dos investimentos recentes no país. Procurada, a Jaguar informou que as tratativas da nova política automotiva estão sendo conduzidas pela Anfavea. Audi e BMW não quiseram comentar o assunto.
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Sara Joias paga seus pecados
21/03/2017A Sara Joias, uma das preferidas de Sérgio Cabral e Adriana Ancelmo, terá de acertar suas contas com o erário. O Ministério Público do Rio vai entrar com uma ação para que a joalheria devolva ao estado os recursos referentes aos incentivos fiscais recebidos indevidamente entre 2013 e 2016. Levantamento preliminar indica que os incentivos nesse período totalizaram aproximadamente R$ 21 milhões. Mas essa cifra ainda pode subir mais alguns quilates. Os procuradores estão debruçados sobre os autos de todos os processos administrativos contra a Sara Joias na Secretaria de Fazenda.
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Indústria nacional dá mais um passo em direção à africanização
3/03/2017Brasília, 9 de fevereiro, 17:30, horário de encerramento do encontro extraordinário entre representantes da indústria e do governo. O diretor titular do Departamento de Competitividade e Tecnologia da Fiesp, José Ricardo Roriz Coelho, lamenta, em silêncio, o golpe aplicado no empresariado nacional. O motivo de tantos acabrunhamentos somente viria a ser anunciado na quarta-feira pré-carnavalesca, dia 22, pelos Ministérios da Fazenda e da Indústria, Comércio Exterior e Serviços: o enterro das regras de primazia do conteúdo local na exploração de petróleo e gás.
A reunião do Programa de Estímulo à Competitividade da Cadeia Produtiva, ao Desenvolvimento e ao Aprimoramento de Fornecedores do Setor de Petróleo e Gás Natural (Pedefor) foi um destes eventos que se realizam somente para cumprir o protocolo. As notas técnicas e metodológicas dos Ministérios de Minas e Energia e da Indústria, igualmente rasas, só divergiam na intensidade do corte. Já estava antecipadamente condenada a participação decisória da empresa nacional na 14ª Rodada de Blocos. Vitória das companhias petroleiras. Se pudessem, comprariam tudo no exterior.
O conteúdo nacional não será mais um critério de pontuação nos leilões. A contrapartida do governo à indústria foi um gelatinoso final do “waiver” – anistia que vinha sendo concedida às empresas incapazes de atingir as exigências de conteúdo local. No mais, o percentual da obrigatoriedade cai em todas as áreas da exploração em terra e offshore. Está tudo dominado. Os argumentos da Fiesp pró-conteúdo local não se restringem às perdas nas áreas de geração de emprego, produção, arrecadação tributária e adensamento de cadeias. Eles mostram uma realidade distinta da encampada pelo governo.
O RR acha que eles merecem ser conhecidos: A retirada das atuais regras de conteúdo local reduz os impactos do investimento em exploração e desenvolvimento de petróleo e gás na economia: queda de 17 vezes na produção de bens e serviços e na arrecadação de tributos; redução de 13 vezes na geração de PIB e de 11 vezes na geração de emprego; A política de conteúdo local não influenciou negativamente nos resultados das rodadas de licitação. Pelo contrário: observa-se que a partir da 7ª Rodada (2005 a 2015), quando as regras eram ainda mais específicas, com adoção da cartilha e certificação de cerca de 90 itens, arrecadou-se mais valores em bônus, e mais áreas foram arrematadas percentualmente e em tamanho; O que influencia o resultado dos leilões é o preço internacional do petróleo e não o conteúdo local; Não há provas concretas de que os prazos e preços sejam comprometidos pelo conteúdo local. Ao contrário, esses problemas existem em grande medida nos produtos importados.
Segundo a consultoria EY, 78% das plataformas encomendadas em todo o mundo acabam atrasando e 53% têm algum estouro no orçamento original; O Brasil entregou nove plataformas dentro do prazo, enquanto 12 sondas importadas tiveram atraso médio de dois anos e ficaram 500% acima do orçamento; Na 13ª Rodada, além do preço do petróleo, seu resultado foi influenciado pela qualidade das áreas ofertadas, pela operação Lava Jato, e pelas dificuldades financeiras e de gestão da Petrobras, que não podia cumprir a legislação de participar com 30% em todas as áreas.
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BNDES asperge tristeza sobre um governo carente de contentamento
2/03/2017Um relatório sobre a geração de boas notícias na área econômica, com base em anotações de clipping, foi enviado para poderosas salas da Esplanada dos Ministérios. A conclusão não insinua qualquer dúvida: as notícias que emanam do BNDES são espartanas, rigorosas, sob medida para nutricionistas adeptos da dieta da inanição. O banco se vestiu de cinza quando o Ministério da Fazenda, do Dr. Meirelles e o Banco Central, do Dr. Ilan, baluartes do mau humor monetário, se esforçam para espremer do limão da ortodoxia uma limonada de medidas microeconômica e abençoar as reduções da taxa básica de juros.
O BNDES dinamitou sua ponte com o empresariado, talvez o grupo que mais decididamente tenha apoiado o presidente Michel Temer. Com a sensibilidade à flor da pele, Maria Sílvia Bastos Marques fez, na terça-feira pré-carnavalesca, uma tour de force em Brasília, com uma providencial reunião com Temer seguida de entrevista pré-combinada para divulgar o que foi dito no encontro. Os dirigentes privados, não é de hoje, reclamam que o crédito se tornou mais seletivo, burocrático e com custos mais altos, justamente quando os potenciais investidores ardem sedentos de liquidez.
A direção do banco diz que está aberta a bons projetos, mas o empresário, elevadamente endividado, operando com capacidade ociosa, com os pátios cheios de estoques e ainda com uma ponta de dúvida sobre as reformas, se ressente dos maus tratos nesse momento de calvário. Um não leva projetos porque não se sente acolhido; o outro não empresta porque não recebe projetos. Há bons argumentos para ambos os lados. O BNDES, sem dúvida, teve de limpar a casa do tsunami da gestão anterior. No entanto, parece que se empenha em demasia na cruzada contra o crédito direcionado, que precisa ser reduzido, mas sem fúria religiosa.
Caso o seu mais longevo presidente, Marcos Vianna, estivesse vivo, desempataria a questão: “Se o BNDES estiver com o caixa cheio significa que não cumpriu sua missão. Se tiver lucro maior, tem que trocar a gestão”. Não falta quem reclame que o banco, em vez de caçar empreendedores de boa cepa, preferiu adotar o discurso da opção pelo saneamento, que não cria empregos no curto prazo, só atrai empresas periféricas – que não agregam valor frente ao eleitorado – e do mesmo modo que os governantes de entes federativos vai ter de justificar a venda de ativos em condições pouco transparentes.
Talvez mais recomendável fosse a agência de fomento sair garimpando projetos de engenharia básica para congregar os empresários reclusos em torno deles. O BNDES tem R$ 100 bilhões parados em caixa, e está lá aguardando, funéreo, que algum endinheirado com um “bom projeto” o convide para empinar a pipa. Gente que normalmente não precisaria do BNDES. Maria Silvia Bastos é uma pessoa solar. Por onde passa, deixa fileiras de sorrisos. Imagina-se que ela seja detentora de segredos, que o seu timing seja diferente, que dentro das paredes envidraçados da instituição ela esteja ultimando uma reviravolta para sacudir esse banco melancólico e fomentador do desânimo. Definitivamente, não combina ver Maria Silvia comandando o órgão mais triste do país.
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Hora da verdade
20/02/2017O Ministério Público do Rio está fechando o cerco às empresas amigas de Sérgio Cabral. O MP criou uma força tarefa, com técnicos da Secretaria de Fazenda, para analisar todos os benefícios fiscais concedidos no governo Cabral. Em até dois meses, os procuradores esperam separar o joio do trigo e ter o mosaico das companhias que participaram do “toma lá, dá cá”.
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Sujeito oculto
10/02/2017A Secretaria de Fazenda do Rio ainda não entregou ao Ministério Público a tão aguardada lista das empresas enquadradas em regimes fiscais diferenciados – uma barafunda onde se aninharam muitos dos amigos de Sérgio Cabral. O dead line era 10 de fevereiro.
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A hora e a vez de Marcelo Caetano
30/01/2017Passada essa temporada na qual a prioridade do governo é equacionar a vacância do STF e a relatoria da Lava Jato, quem está escalado para protagonizar a próxima pauta da vez é o secretário de Previdência do Ministério da Fazenda, Marcelo Caetano. Tanto Michel Temer quanto Henrique Meirelles acham que ele tem um papel importante para desempenhar na batalha pela reforma da Previdência. Ou seja: quem vai para mídia é Caetano. O secretário é um dos maiores especialistas do país na matéria e foi colocado no cargo por Meirelles para dar uma clara sinalização da prioridade do tema para o governo. Portanto, com a palavra, Marcelo Caetano.
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O Dia D para os “amigos de Cabral”
12/01/2017O recesso do Judiciário foi providencial para a Secretaria Estadual de Fazenda do Rio. O órgão terá até 23 de janeiro para entregar ao Ministério Público a relação definitiva das empresas que receberam isenções fiscais no governo de Sérgio Cabral. O prazo inicial estava estipulado até 26 de dezembro, mas a Secretária não conseguiu remeter as informações a tempo pela dificuldade em mapear todos os incentivos concedidos – ver RR edição de 19 de dezembro.
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Austríaca RHI entra no radar da Lava Jato
28/12/2016A Lava Jato está triscando na austríaca RHI, que acaba de se unir à Magnesita para criar a maior fabricante de refratários do mundo. O Ministério Público do Rio, que colabora com a força tarefa de Curitiba nas investigações relacionadas a Sérgio Cabral, apura as circunstâncias dos benefícios tributários concedidos pelo governo do Rio à RHI Refratários Brasil Ltda. Segundo investigações preliminares, a empresa teria recebido 11 isenções fiscais desde agosto, quando a situação nas contas públicas do estado já era calamitosa.
Ressalte-se que o grupo austríaco não tem qualquer site de produção no Rio. Seu próprio centro de decisões no país está sediado em Belo Horizonte. Procurado pelo RR, o governo do Rio disse que não poderia revelar a “quantidade de incentivos” concedidos à RHI “em razão do sigilo fiscal”. A Secretaria de Fazenda informou que a RHI Refratários Brasil “encontra-se enquadrada no Tratamento Tributário Especial (TTE), criado para empresas tipicamente importadoras que utilizam os portos fluminenses”. A RHI, por sua vez, confirmou que possui “Regime Especial de diferimento parcial de ICMS na importação de produtos pelo Estado do Rio.”
Esse Regime Especial, segundo a companhia, “foi diferido em 29 de Julho de 2016 com base na Resolução SEFAZ no 726 de 19 de fevereiro de 2014”. A empresa negou, no entanto, que tenha recebido isenções fiscais do governo fluminense. A RHI disse ainda não ter conhecimento de qualquer investigação sobre seus negócios no Brasil no âmbito da Lava Jato. O fio da meada que o Ministério Público está desenrolando leva a 2011, quando as relações entre a RHI e autoridades do Rio se intensificaram.
Nesse ano, durante o governo de Sérgio Cabral, a empresa anunciou um investimento de 85 milhões de euros na construção de uma fábrica em Queimados, na Baixada Fluminense. A companhia chegou a comprar o terreno, por sinal outro trecho nebuloso na biografia dos austríacos no país. Conforme o RR publicou na edição de 14 de setembro de 2011, a RHI pagou à época R$ 11,7 milhões pela propriedade que, cinco dias antes, segundo registros em cartórios locais, havia sido negociada por apenas R$ 2,5 milhões. O empreendimento foi continuamente adiado.
Em 2012, segundo informação confirmada pela própria companhia ao RR, a RHI suspendeu a instalação da fábrica. Os procuradores têm motivos para acreditar que nem em um século o projeto sairia do papel. A percepção é que a fábrica da RHI nunca passou de um holograma.
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Rio é uma amostra da barafunda da renúncia fiscal
19/12/2016O Rio de Janeiro serve como proxy da algaravia de benefícios fiscais que se espalhou indiscriminadamente por todas as unidades da federação e pelo próprio governo federal. O Secretário de Fazenda do estado, Gustavo Barbosa, ainda não atendeu à solicitação do Ministério Público, que reivindicou os dados das empresas enquadradas em regimes tributários diferenciados. Não há nenhuma desobediência ou má vontade de sua parte.
Barbosa e sua equipe simplesmente não conseguem consolidar os números, fechar a lista de favorecidos e calcular o montante da renúncia fiscal. Uma das dificuldades é que o sistema é autodeclaratório, ou seja, as próprias empresas comunicam à Fazenda os benefícios a que têm direito. Este procedimento aumenta consideravelmente a chance de erros na contabilização da Fazenda. Surreal. A discrepância entre os números de parte a parte é mais uma prova da barafunda que cerca programas de desoneração fiscal. O MP estima que, entre 2009 e 2015, a Fazenda do Rio abriu mão de algo em torno de R$ 46,5 bilhões.
Pois bem, só que os dados lançados pelas próprias empresas no Documento de Utilização de Benefícios (DUB) da Secretaria de Fazenda somam, pasmem, um benefício de parcos R$ 138 milhões para o referido período. Ou seja: o equivalente a 0,29% da cifra apurada pelo Ministério Público. O objetivo do Ministério Público é confrontar os setores favorecidos por benefícios fiscais com a relação de empresas que contribuíram para as campanhas de Sergio Cabral ou que mantinham relações próximas com o ex-governador. O caso clássico é o das joalherias, que se esbaldaram em isenções tributárias 24 quilates à medida que enfeitavam mais e mais a ex-primeira dama Adriana Ancelmo.
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Um infeliz Natal para a AmBev e todo o lobby da indústria cervejeira
15/12/2016O Ministério da Fazenda e a Receita Federal estão embrulhando um presente de grego para a indústria de bebidas frias. A intenção é passar a sacola no setor, ampliando consideravelmente a carga tributária, leia-se IPI e PIS/Cofins. A proposta em estudo é criar um diferencial ainda maior entre os impostos cobrados sobre refrigerantes, isotônicos e afins e sobre cervejas. A iniciativa vai contra a expectativa dos próprios fabricantes, que contavam com uma trégua após o reajuste de maio do ano passado, quando os tributos sobre bebidas frias cresceram, em média, 10%.
A estimativa do Fisco é arrecadar até 2018 um adicional entre R$ 3,5 bilhões e R$ 5 bilhões sobre os valores projetados para 2016, ou seja, o equivalente a quase 10% do total de recursos que foram repatriados neste ano. A AmBev, com cerca de 67% de market share e R$ 26,3 bilhões de receita líquida no país, será inexoravelmente a mais atingida, contribuindo com algo em torno de dois terços da arrecadação tributária almejada. O aumento dos impostos deixa a líder do setor em uma sinuca de bico. Se não majorar o preço das cervejas e repassar o repique tributário para o consumidor, a AmBev perderá rentabilidade, que já é cadente. Se soltar os preços, perde mercado, uma vez que a concorrência tem corrigido seus valores em patamares inferiores.
O governo vem buscando à lupa os setores que têm possibilidade de aumentar sua participação no total de impostos. A indústria do tabaco, tradicionalmente gravada nessas circunstâncias em que é necessário reforço do caixa fiscal, deve escapar ilesa, ao menos por enquanto, devido à ineficácia do reajuste sobre a arrecadação. Explica-se: devido à confessa falência da Receita e da Polícia Federal em coibir o contrabando dos cigarros pela fronteira, a situação levou a um paradoxo, ou seja, quanto maior a mordida do Leão, maior o comércio ilegal e, consequentemente, menor o bolo tributário. Neste caso, o papel que a AmBev desempenha no setor cervejeiro é representado pela Souza Cruz, com sobras: a empresa tem 78% de participação nas vendas de cigarros. Se quisesse confrontar à vera o mais do que provável lobby das cervejeiras contra o aumento de impostos, o governo teria argumentos a granel.
A participação da cerveja nos índices de alcoolismo tem crescido exponencialmente. Entre 2000 e 2013, a população brasileira aumentou cerca de 30%, segundo dados do IBGE. Nesse período, a produção da bebida subiu 200%, passando de cinco bilhões para 15 bilhões de litros/ano. Os efeitos maléficos não ficam restritos ao fígado. O consumo de cerveja é o principal causador da Síndrome Alcoólica Fetal (SAF), que rivaliza com a microcefalia. A cada hora nascem no Brasil três crianças portadoras da enfermidade, ou 30 mil por ano. A SAF provoca déficit de crescimento, alterações faciais e atraso no desenvolvimento neuropsicomotor. É considerada a maior causa de déficit intelectual prevenível no mundo. E pensar que uma lata de cerveja no Brasil chega a custar mais barato do que um refrigerante.
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À sombra da imortalidade
13/12/2016O economista Edmar Bacha foi convidado para ocupar uma secretaria especial de desregulamentação e políticas microeconômicas. Está matutando, bem ao seu estilo. Bacha já esteve na Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda e nas presidências do BNDES e do IBGE. Foi o primeiro a abandonar o barco todas as vezes em que ele balançou. Um gaiato diz que Bacha só não vai deixar a ABL. Na Academia ele é imortal.
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Um pedido de Setubal tem força de decreto
2/12/2016O futuro ex-presidente do Banco Itaú, Roberto Setubal, está dedicando uma parte do seu tempo para exercitar a atividade de lobista. E parece que um pedido de Setubal cala fundo no Palácio do Planalto e no Ministério da Fazenda. O banqueiro clamou pela redução do recolhimento compulsório para que seja aumentado o crédito – e também para mitigar a progressiva perda da rentabilidade bancária com a queda dos juros, mas isso ninguém precisa saber. Não deu outra: o governo já está estudando a medida. O RR cantou essa pedra na edição de 25 de novembro, afirmando que a nova matriz econômica – noves fora as pedaladas e barbeiragens na gestão da banca do Estado – vai deixar muitas das vivandeiras da ortodoxia com saudades. Em tempo: Lula, por motivos diferentes, está defendendo a mesma medida.
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Temer ensaia um esbarrão de leve no topo da renda nacional
1/12/2016Com a popularidade em queda livre, o presidente Michel Temer tem se debruçado sobre conselhos até então inimagináveis, tudo para se livrar da pecha de “vampiro do social”. Nas salas mais fechadas do Planalto, são ponderadas todas as combinações possíveis assim como as perdas e ganhos do impacto sobre públicos essenciais de um imposto sobre fortunas e o aumento da taxação sobre heranças e doações. A medida, que era tratada como uma agenda intocável, tem sido discutida pelo staff presidencial e, ainda que com uma certa azia, pelo Ministério da Fazenda. Seria uma reação aos declinantes índices de aprovação da gestão Temer e ao insucesso predominante na comunicação do governo. A rigor, a mexida na alíquota do imposto sobre heranças e a criação do tributo sobre fortunas farão cócegas no andar de cima da renda nacional. Os gravames não chegarão a ter um efeito redistributivo para valer. Mas, no aspecto simbólico, seria uma maneira de o Planalto lançar um contraponto a medidas que, à primeira, segunda e terceira vistas, vão contra o social, notadamente a reforma da Previdência e a PEC do Teto. Seria também uma sinalização de que a conta do ajuste não ficará restrita a idosos, mulheres e, sobretudo, ao pé da pirâmide social. Temer daria uma demonstração de que também consegue ir contra a sua base de apoio e não tem receio de ser odiado por ninguém, conforme reza a cartilha de definição do verdadeiro estadista.
Ressalte-se que o imposto sobre fortunas é um dos sete tributos federais previstos na Constituição brasileira, mas nunca foi regulamentado. Especialistas em tributação estimam que uma taxação de 1% sobre patrimônios superiores a R$ 1 milhão poderia gerar uma arrecadação de até R$ 100 bilhões por ano. No caso do imposto sobre heranças, a alíquota atual é de 3,86%. Um aumento residual ainda manteria esta taxa longe dos patamares praticados, por exemplo, na França (32,5%), na Inglaterra (40%) ou mesmo no Chile (13%).
De todo o modo, a medida tem seus inconvenientes. Há quem diga que a tributação de fortunas e o imposto adicional sobre as heranças poderiam afetar o espírito animal do capital – espírito animal esse que não anda lá muito arisco. A combinação da medida com a presença de Henrique Meirelles na Fazenda também é complicada. Tratando-se de um ministro que representa os bancos no poder – ainda que ele jure de pés juntos o contrário –, seria como se Meirelles estivesse traindo a sua gente. Entre os prós e os contras, o prato da balança parece pesar um pouco mais para o segundo lado. Nem tanto pelos possíveis óbices à medida, mas pela natureza do governo. No que depender da vocação de Michel Temer para tomar medidas mais agudas com celeridade, o RR tem todos os motivos para acreditar que nada ocorrerá.
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Faltam poucos grãos para o Brasil importar café
4/11/2016O Brasil caminha para um “estado de sítio cafeeiro”. Os estoques públicos de café conilon, utilizado na fabricação do produto solúvel, estão praticamente esgotados: hoje, somam apenas 750 mil sacas, o menor patamar dos últimos seis anos. Com a decisão da Conab de realizar leilões quinzenais na tentativa de regular a oferta, muito provavelmente esse volume se esgotará antes do Natal. Por esta razão, é grande a probabilidade de o Brasil ter de importar café – o que, colocadas as devidas ressalvas, tem o mesmo simbolismo da imagem do país comprando banana ou melaço de cana. Essa situa- ção-limite é resultado de um blend cruel: a ação divina com a imprevidência dos homens. O Brasil vem de uma quebra de safra causada pela severa estiagem no Espírito Santo, onde se concentram as principais áreas de plantio do conilon. A colheita, encerrada em agosto, foi quase 50% inferior à do ano passado. Junte-se às condições climáticas a ausência de uma política de formação de estoques reguladores no Brasil, problema que começou no governo Lula e se acentuou na era Dilma. O Ministério da Fazenda, por meio da Conab, praticamente abriu mão de comprar café e formar estoques para períodos de fortes oscilações na produção e no preço. Para completar a tempestade perfeita, nos últimos anos o Brasil passou a ser um exportador de conilon, estimulado pelo aumento da produção interna e pelos convidativos preços no mercado internacional. Em 2014, exportou 3,4 milhões de sacas. Em 2015, 4,5 milhões. Mais uma vez, o governo deixou o mercado correr solto, talvez fiando-se na generosidade do terroir. Àquela altura, estimativas apontavam que o Brasil alcançaria uma produção anual superior a 20 milhões de sacas por ano. Mas havia uma intempérie no meio do caminho: segundo estimativas da Conab, o Brasil produzirá na safra 2016/ 17 apenas 8,35 milhões de sacas de conilon. É exatamente a metade da demanda interna anual. Ironia das ironias: hoje há mais de um milhão de sacas de café brasileiro estocadas em Antuérpia e em armazéns ingleses. Ou seja: se bobear, o Brasil importará seu próprio grão, a preços bem mais altos. A questão da importação divide o setor, como aponta o paper de autoria do especialista em comércio exterior Francisco Ourique, que circula no mercado. Há lobbies contra e a favor. A indústria de café solúvel é a maior interessada na compra de conilon no mercado internacional. O setor está estrangulado: seus concorrentes globais têm conseguido adquirir matéria-prima a preços até 35% mais baixos. Por outro lado, os produtores, que sempre temeram o uso das importações como fator de regulação dos preços internos, apresentam uma série de óbices à compra do produto no exterior. Alegam o risco de entrada de sementes contaminadas no país, o que, a rigor, só faria algum sentido se o Brasil abrisse a porteira para uma quantidade descomunal de café – algo que não ocorrerá. A batata, ou melhor, a xícara quente está nas mãos de Blairo Maggi. Caberá ao ministro da Agricultura decidir se vai ou não faltar café.
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Justiça desmonta antigo latifúndio de Cecílio Almeida
5/10/2016Após duas décadas de disputas jurídicas entre a CR Almeida e o Ministério Público Federal do Pará (MPFPA), Incra, Ibama e Iterpa (Instituto de Terras do Pará), o polêmico império fundiário montado pelo empreiteiro Cecílio do Rego Almeida na Floresta Amazônica está se esfarelando. Dos seis milhões de hectares reclamados pela Incenxil e pela Amazônia Projetos Ecológicos – ambas controladas pelos herdeiros do empresário, morto em 2008 –, cerca de cinco milhões de hectares tiveram os seus títulos de terra definitivamente anulados pela Justiça. A 9 a Vara Federal de Belém determinou a retomada da Fazenda Curuá, localizada na Terra do Meio, região central do Pará. O processo (nº 0044157-81.2010.4.01.3900) já transitou em julgado, portanto não cabem mais recursos. A Justiça entendeu que Cecílio forjou documentos para se apropriar ilegalmente de uma área equivalente ao tamanho da Holanda e da Bélgica juntas – um colosso que rendeu ao empreiteiro a alcunha de “maior grileiro do mundo”. Procurada pelo RR, a CR Almeida não quis se pronunciar. Cecílio do Rego Almeida construiu uma trajetória empresarial cercada de névoas, episódios controversos e acusações de diversas naturezas que lhe foram imputadas – da grilagem de terras ao hábito de grampear tanto desafetos como sócios. Ao morrer, deixou para os seis filhos um patrimônio, a números de hoje, de aproximadamente R$ 10 bilhões. São participações na construção civil, em concessões rodoviárias, ativos imobiliários e terras, muitas terras. Deixou também um rastro de contenciosos que ainda hoje acompanham a CR Almeida. No caso do escândalo na Amazônia, o grupo responde ainda a uma ação penal por desmatamento na terra grilada – processo nº 2008.39.03.000970-1, em tramitação na Vara de Altamira. A derrota já está consumada com a perda da fazenda Curuá, mas os herdeiros de Cecílio do Rego Almeida ainda tentam sair deste episódio com alguns dobrões. Há outros dois processos em curso na 9 a Vara de Belém relacionados ao caso, estes movidos pelas subsidiárias da CR Almeida. A Incenxil entrou com uma ação contra a União (nº 0025750-27.2010.4.01.3900). A empresa exige uma indenização por supostas benfeitorias em terras indígenas que foram devolvidas às tribos locais como condicionante do processo de licenciamento ambiental da usina de Belo Monte. Como a fraude cartorial que deu origem à grilagem de terras pela Incenxil já foi comprovada, o MPF-PA requereu o bloqueio de qualquer pagamento à empresa, mas a conclusão do caso ainda depende de perícia judicial. Situação semelhante envolve a Amazônia Projetos Ecológicos, que também pleiteia indenização por melhorias na Terra Indígena Apiterewa, na mesma região. O processo (nº 0026162-55.2010.4.01.3900) também está parado à espera de laudos periciais. Segundo o RR apurou, a expectativa dos procuradores é que as duas ações sejam julgadas em, no máximo, um ano.
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Cabo de guerra
18/08/2016Romero Jucá tem usado de toda a sua influência sobre Michel Temer para brecar a transferência da Secretaria de Orçamento do Planejamento para a Fazenda, como quer Henrique Meirelles. Como se sabe, Jucá deixou o Ministério do Planejamento, mas a Pasta não deixou Jucá.
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O jeito Serra de ser contra tudo e todos
11/07/2016Extra! Extra! O chanceler José Serra tem fritado em banha fervente o ministro da Educação, José Mendonça Bezerra Filho, aquele que recebeu propostas de Alexandre Frota para melhoria do setor. Diz que Bezerra ignora a potencial contribuição da iniciativa privada e defende que as universidades deixem de ser caixa preta e tenham governança e transparência igual à das companhias abertas em bolsa. Extra! Extra! Serra tem feito campanha junto a Michel Temer para que ele se empenhe na obstrução do projeto que regulariza os jogos de azar. Engajar o presidente da República contra o jogo é complicado, basta ver a sua vizinhança de muro. Entre os favoráveis à jogatina estão os pesos-pesados Geddel Vieira Lima, Eliseu Padilha e Blairo Maggi. O chanceler, com seu cabedal de ex-ministro da Saúde, acha que as doenças, vícios e casos de morte provocados pela indústria do jogo não compensam os ganhos de arrecadação. Até porque a receita para o Estado será baixa. Pelo menos é o que diz ele. Extra! Extra! José Serra faz intriga que Henrique Meirelles entende tanto de ajuste econômico quanto o louro José, papagaio da apresentadora Ana Maria Braga. O ministro da Fazenda não estaria buscando receitas extraordinárias para redução do déficit durante o gap até a PEC do teto produzir seus efeitos. Vocifera que Meirelles trouxe a Previdência Social para debaixo da asa da Fazenda para simplesmente não fazer nada, quando essa é a mãe de todas as reformas. E envenena o ministro-banqueiro criticando como tolice o seu desdém público sobre o aumento de impostos, principalmente a Cide, que é transitória e ele vai ter de acabar usando mesmo. Extra! Extra! O elétrico Serra confronta o ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho. O chanceler resolveu trazer para si um projeto por ora engavetado pelo colega de Esplanada dos Ministérios: a construção de uma hidrelétrica binacional com a Bolívia. O empreendimento, avaliado em R$ 15 bilhões, recebeu ressalvas do ministro Fernando Coelho por conta das exigências de Evo Morales de compartilhamento do controle da usina, mas com funding composto por recursos de financiamento público e privado brasileiros. Serra, no entanto, defende que o projeto seja tratado como política de Estado e inserido nos planos de integração com países vizinhos. Ele olha para o tabuleiro “diplomático energético” de forma mais ampla. O ministro das Relações Exteriores pretende usar a usina como moeda de troca para garantir o sinal verde da Bolívia à expansão da hidrelétrica de Jirau. A ampliação depende do aumento do reservatório e do alagamento das margens do Rio Madeira no lado boliviano. Por isso, Serra já atropelou Fernando Coelho e recentemente tratou do assunto com o embaixador do Brasil em La Paz, Raymundo Magno. A estratégia é levar o projeto para ser discutido diretamente com o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, e levado por ele para o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE).
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Quem encara os riscos da repatriação?
13/06/2016Desabou a expectativa de ingresso de recursos estrangeiros no país através da janela da repatriação. Para os técnicos do Ministério da Fazenda um dos motivos deste recuo são as imprecisões existentes na lei, que deixaram um rastro de dúvidas sobre a segurança e o ônus efetivo da operação. A causa maior, entretanto, é o clima de instabilidade institucional que atravessa o país: “A cultura da prisão”, segundo o interlocutor do RR. A solução para reverter a inquietação dos detentores de recursos externos seria a aprovação de garantias por meio de emenda constitucional. Mas não parece aos técnicos que o Congresso esteja colaborativo a esse ponto. “Pedido de prisão de políticos, Operação Lava Jato, denúncia de propinas e a anistia de dinheiro fugitivo é uma equação que não fecha”.
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Dataprev e Serpro viram uma só na lista de privatizações
30/05/2016O programa de privatizações do governo Michel Temer atira em todas as direções. A nova proposta sobre a mesa prevê a fusão do Serpro e da Dataprev, a criação de uma grande estatal da área de TI e a posterior venda do controle da companhia. Segundo o RR apurou, o Ministério da Fazenda já teria iniciado os estudos para a associação das duas empresas. Não custa lembrar que ambas já estão sob o mesmo guarda-chuva: ao encampar a Previdência Social, a Pasta de Henrique Meirelles herdou também a Dataprev. O governo parte da premissa de que a privatização só é viável neste modelo, com a fusão entre as estatais. Isoladamente, Serpro e Dataprev são vistas como operações pouco atrativas para a iniciativa privada, em razão da limitada escala e da atuação restrita a órgãos públicos. A associação e a consequente montagem de uma estrutura integrada permitiriam a captura das sinergias operacionais e tecnológicas entre as duas estatais. Um exemplo: até o momento, não há qualquer iniciativa concreta do governo para a integração dos dados do Serpro e da Dataprev nas nuvens. Além dos ganhos de escala, haveria outras iscas para os investidores. Mesmo após a privatização, a nova empresa teria a garantia de manutenção dos atuais contratos para o processamento de dados de todos os órgãos da União. Permaneceria também com a gestão e pagamento dos mais de 32 milhões de benefícios da Previdência Social, serviço que responde por mais da metade da receita da Dataprev. Outro ponto importante: a nova empresa teria também caminho aberto para oferecer serviços de TI à iniciativa privada. A fusão entre o Serpro e a Dataprev chegou a ser aventada tanto na era Lula quanto na gestão de Dilma Rousseff, mas a ideia nunca passou de um balão de ensaio solto nos céus de Brasília. Desta vez, a associação não é um fim em si, mas um meio de viabilizar a privatização das duas estatais de TI. Esta nova companhia chegaria ao balcão com uma carteira de contratos combinada da ordem de R$ 3,2 bilhões por ano. No entanto, as duas empresas carregam desempenhos bem distintos. A Dataprev é uma estatal superavitária: em 2015, teve lucro de R$ 210 milhões. Já o Serpro vem de um ano sofrível. No último exercício, amargou um prejuízo superior a R$ 355 milhões.
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Trilogia dos descaminhos do novo governo
13/05/2016A aprovação do impeachment, com a destituição de Dilma Rousseff, não encerra o episódio da usurpação da governança brasileira. Nos 180 dias de confinamento de Dilma no Alvorada ou mesmo com a abreviação pelo Senado do mandato presidencial, não há clareza sobre a permanência de Michel Temer até o final do governo. Os cenários montados por estrategistas militares, cientistas políticos e lideranças empresariais, todos eles estabelecendo o horizonte de término em 2016, consideram, inclusive, que, depois da nomeação de Temer, venha a sua deposição. A reviravolta capaz de evitar esse desfecho dependeria de uma guinada populista do novo presidente, adotando um estelionato programático para se manter no poder. Nesse primeiro cenário, Temer abriria o saco de bondades com uma das mãos, aumentando os gastos sociais, e com a outra soltaria a inflação. O primeiro, festivo e de fruição imediata, disfarçaria o segundo, cujo efeito é diferido no tempo e sempre pode ser golpeado em um round posterior, com a velha política do stop and go. A inflação traz o ajuste fiscal em um primeiro momento. Mas é como receitar a amputação da perna para uma entorse no pé. O perfil do governo Temer, entretanto, parece ser diferente do vira-casaca. Imagina-se que, para isso, ele não teria chamado o ultraconservador Henrique Meirelles para tocar a Fazenda e a Previdência. E lembrai-vos que ele tem de atender aos reclamos da Av. Paulista. No segundo cenário, Temer governaria no ritmo que tem sinalizado, desagradando as classes já irritadas com o golpe. A desobediência civil grassaria, manifestações de rua pipocariam aqui e acolá, cada vez mais violentas. Lula, perseguido, caminharia pelo país como candidato. O Congresso não seria o facilitador que todos esperam, pois cobraria o débito dos votos para o impeachment. O duo Ministério Público e Polícia Federal seguiria destrinchando a infindável Lava Jato, agora cada vez mais perto de Temer. E o STF ficaria “aguardando ativamente” algum processo capaz de contragolpear o presidente. Seriam, então, decretadas novas eleições. O terceiro cenário é explosivo. Temer mostra-se obcecado com a fantasia de que é um estadista, reencarna o marechal Humberto Alencar Castello Branco e anuncia o programa de ajuste que o PSDB inventou para não ser aplicado. Dilma e Lula, vistos como mártires, estão presos e fazem pressão do cárcere. As ruas estão enlouquecidas. Lembram as jornadas de julho de 2013. Os governos estaduais acionam suas máquinas de repressão. Empresários e parlamentares pedem a intervenção do Exército, que cede contra a vontade. Temer é deposto. Um ministro do STF assume a presidência e prepara a transição para as eleições de 2018. As três variantes poderiam se multiplicar em outras infinitas. O RR não privilegia qualquer uma delas na medida em que o provável afasta-se cada vez mais de si mesmo. Mas há bastante método na análise da loucura em que se tornou a conjuntura política e psicossocial do país.
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Meirelles vale por uma orquestra na Fazenda
29/04/2016Henrique Meirelles é o candidato a ministro da Fazenda com o maior número de utilidades entre os disponíveis no mercado. Não se trata de fazer campanha em seu nome. Mas, sob qualquer critério, Meirelles tem mais serventia na pasta. Vamos aos fatos. Ele não fez lobby em causa própria, ao contrário de Armínio Fraga, que, por diversas vezes, só faltou se esfregar na cadeira da Fazenda. Apesar de ser um banqueiro de estirpe, fez uma passagem estratégica pelo setor do agribusiness se descolando assim da pecha de representante strictu sensu do sistema financeiro no governo. Fala com políticos, faz política e é político. Para se ter uma ideia da sua versatilidade, migrou de um mandato de deputado federal pelo PSDB – logo pelo PSDB – direto para a presidência do BC no primeiro governo Lula. Lá permaneceu intocável durante oito anos. Por pouco não saiu um pouquinho antes – ficou a pedido de Lula – para disputar as eleições ao governo de Goiás pelo PMDB, e, veja só, logo pelo PMDB. Não é preciso, portanto, explicar por que Meirelles exercerá também o cargo de embaixador junto ao PT em um eventual governo Temer. No BC, é considerado o arquétipo da autoridade monetária, até pelo biotipo, timbre de voz, cerimônia e cálculo das palavras. É o mais bem-sucedido dirigente financeiro brasileiro no exterior. Comandou o FleetBoston Financial, um potentado no final da década de 1990. Era figurinha fácil na corte de Bill Clinton. Foi convidado para ser presidente do Banco Barclays e do Goldman Sachs no Brasil. No Fórum Econômico Mundial, em Davos, só é menos incensado entre os brasileiros do que Paulo Coelho. Antes de Dilma Rousseff virar a bola da vez no processo do impeachment, era tido como nome certo na cota de Lula para o ministério. Reza a lenda que a nomeação de Meirelles para a Fazenda, em qualquer governo, garante na entrada uma razoável apreciação da moeda e valorização das bolsas. Se Meirelles não emplacar no probabilíssimo governo Temer, ainda assim permanecerá candidato a ministro da Fazenda no pós-2018. Seja qual for o partido e seja quem for o presidente da República. Isso se não for ele mesmo o indicado pelo PMDB para a disputa ao Planalto.
Acervo RR
Murilo Portugal
20/04/2016A simples menção ao nome de Murilo Portugal para o Ministério da Fazenda no provável governo Temer não deixa de ser uma homenagem a Joaquim Levy. Os dois são almas gêmeas. Ambos comungam da mesma visão ortodoxa da teoria econômica. Foram secretários do Tesouro e trabalharam no FMI. Se a nomeação vingar, crescem as chances de Alexandre Tombini permanecer no BC. Tombini trabalhou como nº 2 de Portugal no FMI. Quem apresentou um ao outro, vejam só, foi Armínio Fraga.
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Murilo Portugal
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Economia segue no breu com ou sem impeachment
11/04/2016A julgar por um relatório de conjuntura do Ministério da Fazenda, a maior previsibilidade decorrente da votação do impeachment não terá um impacto significativo no crescimento do PIB até o fim do governo. Segundo documento interno, ao qual o RR teve acesso, o cenário provável, e não dito, é ainda um pouco pior do que o avalizado pelas previsões do Boletim Focus. A economia desceria a ladeira em torno de 4,5% a 5%, em 2016. Em 2017, a queda do PIB ficaria entre 0,2% e 0,5%. Só em 2018, a taxa negativa seria revertida para um crescimento entre 1% e 1,8%. O Focus mais recente, divulgado em 1º de abril, prevê queda de 3,73% neste ano e crescimento de 0,3% em 2017. O fator considerado determinante para a mudança em direção a um viés mais positivo seria o da implementação de reformas, a exemplo da Previdência, a partir de 2017, o que poderia impulsionar o PIB de 2018. De qualquer forma, sob o ângulo do crescimento econômico, o segundo governo Dilma – mesmo dividido com o primeiro Temer – será imbatível como o período mais negativo da história do Brasil pós-ditadura. No cenário otimista, os números da Fazenda encostam nos do Focus: uma queda do PIB de 3,1% neste ano e alta de 1% em 2017. Os técnicos acreditam que os pontos mais positivos – ampliação do ajuste externo, expressivo da repatriação de recursos, alguma melhoria nos termos de troca, queda da inflação e redução das taxas de juros – não são estímulos suficientes ao aumento necessário dos investimentos. O governo continuará lidando com o fator Lava Jato e a insegurança que a operação produz junto aos investidores. A Petrobras permanecerá se arrastando neste biênio e contribuindo bem abaixo do seu potencial para o aumento da formação bruta de capital fixo. E a indústria prosseguirá dependente da brisa soprada pelo câmbio, arrefecida em função de uma aguardada fase de valorização do real já a partir do segundo semestre deste ano. Com Dilma Rousseff ou com Michel Temer, a expectativa é que a rearrumação da economia tenha um impacto contracionista do PIB até 2018.
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Governo estimula privatizações no saneamento
6/04/2016O governo federal passou a adotar um tom mais flexível na discussão sobre o refinanciamento de dívidas estaduais, com a aceitação de um diferimento maior no tempo das contrapartidas sociais. Por outro lado, permanece firme na intenção de manter a exigência de leilão das concessões de empresas estaduais de luz, gás e água. Ao contrário de luz e gás, o setor de saneamento, o mais carente de investimentos, permanece quase intocado pelos capitais privados. Com objetivo de dar velocidade à venda dessas empresas, foi criado um grupo executivo voltado para o projeto, composto pelo Ministério das Cidades, CEF e BNDES, liderado pelo secretário-executivo da Pasta da Fazenda, Dyogo de Oliveira. O governo pretende criar um pacote de facilidades para atrair investidores aos futuros leilões de concessões de saneamento. O BNDES e a CEF vão financiar os consórcios vencedores até 80% do valor a ser aportado nas concessões, em linha com o que será feito com ferrovias e hidrovia. A oferta de crédito farto já antecipa eventuais reclamações dos interessados nas empresas estaduais. Há conversas mais adiantadas com os governadores petistas Fernando Pimentel, de Minas Gerais, e Rui Costa, da Bahia, para que respectivamente a Copasa e a Embasa sejam privatizadas. No caso dos estados de menor porte, CEFPar e BNDESPar poderão entrar como sócias dos consórcios.
Acervo RR
Delfim Netto
24/03/2016Delfim Netto diz que Dilma Rousseff não governa mais. Fala que ela foi responsável pelo desastre na economia. Já articula o ministério de Michel Temer. Sugere o nome de Armínio Fraga na Fazenda e de outros oito craques para as demais pastas. Todo esse frenesi, ressalte-se, usando o epíteto de conselheiro de Dilma e Lula. Como diz a professora Conceição Tavares, especialista em Delfim Netto: “A honestidade intelectual do gordo vai até onde se começa a sua locupletação”
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Delfim Netto
24/03/2016Delfim Netto diz que Dilma Rousseff não governa mais. Fala que ela foi responsável pelo desastre na economia. Já articula o ministério de Michel Temer. Sugere o nome de Armínio Fraga na Fazenda e de outros oito craques para as demais pastas. Todo esse frenesi, ressalte-se, usando o epíteto de conselheiro de Dilma e Lula. Como diz a professora Conceição Tavares, especialista em Delfim Netto: “A honestidade intelectual do gordo vai até onde se começa a sua locupletação”
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Ativos nacionais em tempos de Black Friday
23/02/2016O governo federal vai incluir no seu esforço para atrair investidores internacionais um pacote de mudanças em áreas em que ainda há restrições ao capital estrangeiro ou, ao menos, obrigatoriedade de associação com estatais. O cenário não poderia ser mais propício. Misturando-se o dólar valorizado e a depreciação das empresas com uma demanda reprimida do capital estrangeiro em alguns setores, o negócio vai ser uma verdadeira Black Friday dos ativos nacionais. A missão foi delegada a um grupo interministerial coordenado pela Fazenda. O projeto será inserido no plano que está sendo desenhado pelo secretário de Acompanhamento Econômico da Fazenda, Paulo Corrêa, com o apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), do Banco Mundial e da Global Infrastructure Facility, criada pelo G-20 para desenvolver projetos de infraestrutura. O Ministério da Justiça, com o auxílio do Cade, fez um mapeamento de setores em que há limitações à participação de grupos internacionais, mas restringiu o grupo a áreas prioritárias em que haja condições políticas de mudanças na legislação. Ficaram de fora, por ora, os setores nuclear e aeroespacial, afinal não é momento de melindrar os quartéis. Do que sobrou, o governo federal vai priorizar imóveis rurais, serviços postais, radiodifusão e aviação. As tratativas do grupo interministerial estão mais avançadas na questão dos imóveis rurais, que não exige mudança constitucional ou mesmo na legislação específica. O que há mais precisamente é um imbróglio jurídico a partir de uma revisão do posicionamento da Advocacia Geral da União (AGU) sobre a aplicação da Lei 5.709/71, que estabelece restrições à compra de terras por empresas sediadas no exterior. O parecer da AGU é mais restritivo porque classifica a empresa estrangeira pelo critério do efetivo poder de controle, mesmo que não detenha a maioria do capital social e, para piorar, a análise deve ser estendida a toda a cadeia societária. A proposta em estudo pelo grupo interministerial é que a AGU simplesmente reconsidere seu posicionamento e deixe o assunto a cargo do Supremo Tribunal Federal (STF), que julga uma ação sobre o assunto apresentada pela Sociedade Rural Brasileira. Nos setores de serviços postais, radiodifusão e aviação, por sua vez, que exigem alterações na legislação ou na Constituição, o que está em estudo no Ministério da Justiça é embalar tudo em um mesmo pacote de propostas de emenda à Constituição (PEC) e projetos de lei que deverão ser apresentados no Congresso no segundo semestre desse ano. Cada situação está sendo estudada separadamente porque existem diferenças jurídicas e regulatórias, mas a ideia é que em todos esses setores haja um aumento expressivo da participação do capital estrangeiro, inclusive com a desnacionalização integral, como é o caso da aviação civil. Do grupo liderado pela Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae) partiu a ideia de retirar a obrigatoriedade da participação da Infraero em concessões privadas aeroportuárias, o fim da proibição à fusão entre distribuidoras de energia elétrica – o que está em análise na Aneel – e a abertura do segmento hospitalar.
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Zelotes trisca nos calcanhares de André Esteves
17/02/2016O banqueiro André Esteves corre o risco de sentir saudades da Lava Jato. No lugar desta primeira experiência supostamente criminal da sua vida, entraria a Operação Zelotes, com muito mais nitroglicerina do que a antecedente, responsável pela temporada de Esteves no cárcere. A fonte do RR é um lobista que tem colaborado com a Zelotes. Segundo o informante, o balcão de interesses do ex-dono do BTG seria amplo. Nele caberiam medidas provisórias sob encomenda, incluindo setores diversos além da área bancária, facilidades para a compra do Bamerindus e um balaio de créditos podres carregados pelo Banco Central. Os procedimentos incestuosos incluiriam até o Banco Pan, uma aquisição que não se revelou um bom negócio, mas vinha indexada a um pacote de futuras oportunidades. Esteves era somente a ponta financeira dessa ramificação da Zelotes. A carta que fechava a canastra na partida seria o ex-ministro Guido Mantega, principal interlocutor, confidente e, digamos assim, facilitador do ex-todo-poderoso banqueiro. Não é de hoje que Mantega vem sendo cozido em banho-maria pelos procuradores e policiais. Ele tem ligações com vários casos, ainda em fase de investigação. Mas, quando se fala em André Esteves, dificilmente as linhas de um e de outro deixam de estar embaraçadas. Uma dessas simbióticas operações é um fundo aparentemente prosaico criado pelo Ministério da Fazenda para investimento nos países da África, cuja exigência para sua criação era a presença do BTG como gestor. O caso está sob investigação. Em um tempo de impunidade, no qual o limite da separação entre os interesses do setor público e do privado era extremamente flexível, as relações entre Esteves e Mantega até podiam ser compreendidas como uma assessoria informal visando à colaboração com o Estado. Sob esse prisma não haveria nada de mais na frequência exagerada de encontros entre ambos, inicialmente, em restaurantes discretos, mas depois abertamente, inclusive no badalado Fasano. Ocorre que essa licorosa versão não era verdadeira. Esteves não era um generoso assessor de Mantega. E Mantega não estava somente em busca de bons conselhos. O sumo dos interesses entre ambos é o que a Operação Zelotes está tentando espremer com suas averiguações.
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Bom no banco
16/02/2016O ex-ministro Joaquim Levy exercitou o sarcasmo ao saber da declaração de Armínio Fraga sobre seu posicionamento no campo da política econômica: “o Joaquim jogou só na defesa, eu jogaria no ataque”. Ao que Levy teria dito:”só que ninguém o chamou para jogar”. Fraga, que concedeu sua milésima entrevista para dizer o que faria caso fosse ministro, é o eterno reserva da camisa dez do Ministério da Fazenda. Quanto mais tempo passa, maior o ressentimento.
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Dilma convoca Simão para o “Ministério do Compliance”
27/01/2016A placa na entrada do prédio diz “Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão”. No entanto, o nome mais apropriado para o cargo que Valdir Simão assumiu é o de “ministro do Compliance”. Dilma Rousseff foi buscar seu homem de confiança na CGU para transformá-lo em uma espécie de general controller das contas públicas. Engana-se no entanto quem pensa que os afazeres de Simão ficarão restritos a pareceres sobre as contas do governo. Ele também será o ministro do “cata milho”. Explica-se: uma das missões atribuídas a Simão foi a de escarafunchar no cipoal da contabilidade pública onde é possível otimizar, reduzir e acabar com superposições de gastos. A ideia é que os trocados obtidos com essa economia não sejam destinados ao superávit primário, mas sim a irrigar linhas de financiamento a setores específicos, notadamente os intensivos em mão de obra. Um garimpo de 0,02% a 0,03% do PIB para oxigenar a atividade produtiva não seria nada mal nas circunstâncias atuais. De uma forma oblíqua, portanto, Simão será também o ministro do “orçamento suplementar imprevisto”, responsável por algum elixir para mitigar a violenta recessão. Cabem diversos rótulos ao novo ministro do Planejamento, à exceção curiosa de “ministro do Planejamento”. Ele é chamado de “ministro complementar” de Nelson Barbosa. Foi escolhido para evitar que o ministro da Fazenda tome bolas nas costas da contabilidade sempre arisca do governo, além, é claro, de não fazer sequer sombra ao reinado de Barbosa no comando da área econômica. Simão tem lá suas mumunhas. Ele é um dos poucos que falam baixinho no ouvido da presidente Dilma. O ministro do Compliance promete também uma outra boa novidade para a presidente: vai montar um sistema de acompanhamento do orçamento que vá além das informações disponíveis hoje no Portal da Transparência. Em tempo de Lava Jato, a presidente quer dispor de um disclosure maior das contas públicas A ideia é alardear que nunca antes na história deste país um governo deu tamanha exposi- ção aos seus números. Afinal, contabilidade também é democracia. Valdir Simão tem um variado repertório de serviços prestados ao governo Dilma Rousseff.Destaca-se a implantação do Gabinete Digital da Presidência da República. Tal missão fez do ministro uma espécie de auditor privativo de Dilma. Ela está na raiz da sua inusitada escolha para o posto que foi um dia do emblemático João Paulo dos Reis Velloso. Valdir Simão também deverá tratar da parte contábil dos diversos assuntos regulatórios pendentes na esfera econômica do governo. Um dos alvos é a cobrança da dívida ativa – em 2015, o governo obteve cerca de R$ 15 bilhões; neste ano, a meta é chegar aos R$ 35 bilhões. O Planalto e a própria Fazenda estão convictos de que Simão, auditor de carreira da Receita Federal, é o homem talhado para ajudar nesse garimpo fiscal.
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Que a força esteja com Levy, Barbosa e todos nós
21/12/2015O ministro e o ex-ministro da Fazenda, Nelson Barbosa e Joaquim Levy, acertaram uma colaboração que vai muito além da hipocrisia de praxe, na qual a autoridade que deixa o cargo elogia seu substituto, a quem detesta por sempre ter cobiçado seu lugar. A convivência dos dois não passou incólume a pegadinhas, fofocas e pequenas intrigas, sem as quais os ministérios da Fazenda e do Planejamento deveriam trocar de nome. Mas as ranhuras foram leves e o diálogo, sempre civilizado. Ambos deixaram claro o papel de reciprocidade que pretendem cumprir daqui por diante. Levy não quer ser considerado um anti-Barbosa e, portanto, contrário ao êxito do seu sucessor. E Barbosa vai refutar a imagem de gradualista e descompromissado com a prioridade ao ajuste fiscal. Há uma disposição de diálogo entre os dois, que conta com o apoio da presidente Dilma Rousseff. Ninguém é ingênuo de esperar uma colaboração corriqueira. Mas o entendimento é que deve haver alguma interlocução. Um elo entre ambos é a Fundação Getulio Vargas, que sempre será uma referência comum aos dois economistas. Nelson Barbosa e Joaquim Levy são pessoas tremendamente diferentes. A forma de pensar a economia, porém, não é tão desigual assim. Ressalte-se que o Barbosa em consideração é aquele que estava no Ibre antes de ir para o Planejamento e não o assessor de Guido Mantega. Levy fora do governo, por uma dessas sutilezas do destino, talvez consiga contribuir para que se encontre a síntese para o falso dilema entre a intensidade e o gradualismo fiscal. Barbosa poderá se aproximar do que propunha o antecessor sem parecer que está recuando. O amálgama seriam as reformas, os marcos regulatórios e um plano de desenvolvimento que resgatasse o olhar de longo prazo. Mas Levy também estava desse lado da força. Aliás, que a força esteja com ambos. E com todos nós.
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O desabafo de Joaquim Levy ao RR
18/12/2015Goste-se ou não de Joaquim Levy, o fato é que ele nunca conseguiu implementar seu ajuste fiscal. O que fez foi tentar sinalizar ao mercado alguma meta de superávit primário para não parecer que o governo se comportava como um lunático em relação ao ritmo de crescimento da dívida bruta/PIB. Levy acabou por entregar uma arrumação das contas fiscais bem inferior ao que sempre considerou necessário, sabendo que as circunstâncias políticas impediam o recomendável. A realidade foi madrasta e o superávit primário deverá ser ainda mais irrisório. Fez o que pôde. Talvez esteja esperando demais para sair, o que pode ser uma prova de elevado espírito cívico. Com seu jeito cauteloso de tratar das questões de fundo político, ele conversou com o RR explicando que o ajuste ficou na sua trajetória como uma incômoda cicatriz. A resistência a medidas óbvias lhe empurraram para uma cruzada monotemática. Levy queria bem mais do que impostos e corte de despesas. Mas justiça seja feita: enquanto o público assistia à novela das nove sobre o ajuste, Levy foi tocando uma programação de baixo apelo e grande efetividade. Deixará um legado. AGENDA DO CRESCIMENTO “Ao contrário do que é disseminado, a agenda do Ministério da Fazenda nunca foi o ajuste fiscal. A proposta apresentada desde a posse é consertar equívocos e avançar nas reformas para preparar o Brasil pós-commodities. A Fazenda tem sido um baluarte contra a deriva fiscal, cujo custo ficou evidente depois do orçamento de 2016, deficitário, e o downgrade que ele gerou. A agenda de crescimento começa com o combate ao patrimonialismo, mostrado na reforma do Carf. O fortalecimento da Procuradoria Geral da Fazenda Nacional, focando em processos com mais chance de sucesso, também progrediu, apesar da distração provocada por algumas pautas da AGU. Cobrar de quem deve, diminuindo a necessidade de novos impostos, ajuda na eficiência da economia.” ARRECADAÇÃO “Junto com o Planejamento, a Fazenda reformou os empréstimos do PSI, que haviam aberto um rombo de R$ 30 bilhões nas contas públicas. Com a Agricultura, reequilibrou os juros no plano safra, que haviam gerado pedaladas bilionárias no Banco do Brasil. O ministério mudou a atitude com o TCU, diminuindo tensões e aumentando a transparência das contas da União. Em parceria com o Ministério de Minas e Energia, vieram o realismo tarifário e as reformas para o setor eletrointensivo do Nordeste, com tarifas compatíveis com a expansão da oferta e reajustes usando a inflação implícita nas NTN-Bs, o primeiro passo em 20 anos para a desindexação da economia. As reformas permitiram levantar R$ 17 bilhões em um leilão de hidrelétricas, que, pela primeira vez, não teve a presença do BNDES.” RETOMADA DO CRÉDITO “A Fazenda vem redesenhando os editais de licitação de concessões e desenvolvendo novas debêntures para a infraestrutura, abrindo espaço para o BNDES atender mais às pequenas e médias empresas, uma vez que as grandes podem ir ao mercado. Na mesma linha, o Conselho Monetário Nacional mudou os limites de investimento das seguradoras e fundos de pensão fechados para estimular o crédito de longo prazo. Como prometido em janeiro, a Fazenda continua negociando o realinhamento da tributação dos instrumentos financeiros, desorganizada nos últimos anos.” TRIBUTAÇÃO SIMPLIFICADA “Na área tributária, o objetivo sempre foi simplificar e diminuir distorções, avançando na convergência das alíquotas do ICMS e introduzindo o crédito financeiro no PIS-Cofins. O financiamento da transição do ICMS com os recursos da repatriação foi descarrilhado na Câmara, mas deve voltar aos trilhos com a PEC proposta pelo Senado. A Fazenda também tem aumentado a progressividade do Imposto de Renda, como na alíquota crescente para o ganho de capital e as mudanças nos juros sobre capital próprio, além da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido dos bancos. Essas mudanças discretas fazem mais pela justiça tributária do que muita proposta ideológica na praça. Propusemos também, com o BC, uma nova lei de punição do sistema financeiro, criando um conselho de recursos especiais para o setor de mercado de capitais, separado da área bancária. Editamos ainda o decreto reformando o conselho recursal da Susep.” COMÉRCIO EXTERIOR “A liberação do câmbio, apesar do impacto nos preços domésticos, permitiu ao setor externo voltar a funcionar, reduzindo o déficit na conta corrente à metade. A Fazenda tem apoiado o Ministério do Desenvolvimento nos acordos de livre comércio e de investimento, notadamente no México. Também tem trabalhado duro para diminuir as distorções nas tarifas, que prejudicam o setor intermediário da indústria, como os segmentos de autopeças e mesmo de máquinas e equipamento. Apesar do aperto fiscal, a Fazenda garantiu o dinheiro do Proex, pagando também contas penduradas.” PRINCIPAIS ÓBICES “Nem tudo é sucesso: as incertezas no Congresso deram um tombo na economia e principalmente na arrecadação, inviabilizando as metas do superávit primário em 2015. O setor de óleo e gás continua bloqueado, dificultando a recuperação da Petrobras. A reforma da Previdência, essencial para desobstruir outras pautas no Congresso, não avança, apesar do interesse manifesto da presidente Dilma Rousseff. O quadro é tão conturbado que há, inclusive, quem considere que a presidente Dilma está no núcleo da resistência aos ajustes, o que jamais correspondeu à realidade dos fatos. O ambiente de exacerbada intriga, contrainformação, propagação de inverdades, diversionismo e desprezo pela adoção de medidas prioritárias ao desenvolvimento empurra para o atraso. O quadro de entropia política continua cobrando um altíssimo pedágio à população. Mas, estou convicto de que cenário mais agudo passará, pelo simples fato de que ninguém quer o impeachment à vera. Meu estilo é técnico. Sou um funcionário do Estado. O folhetim não me interessa, mas, sim, as policies.”
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Quem será o novo ministro da Fazenda?
17/12/2015Agora, parece que vai mesmo. Sem as propaladas cartas de demissão, Joaquim Levy deve deixar o governo agastado, após trabalhar que nem um mouro sem contar com um minuto sequer de apoio do governo. Mas, rei morto, rei posto. O RR faz seu ranking de candidatos ao cargo, com o respectivo par no Ministério do Planejamento. Não se espantem com o brutal coeficiente de dispersão. Ele reflete a atual geleia brasileira. Otaviano Canuto na Fazenda com Nelson Barbosa no Planejamento: 69%. Canuto seria um desagravo ao próprio Levy, que o teria indicado para o cargo. Hoje, se encontra esquentando cadeira no Banco Mundial. Contra sua indicação a indisposição de trabalhar com Barbosa em permanente estado de fritura. Nelson Barbosa e Luiz Guilherme Schymura: 65%. Uma dobradinha cantada já há algum tempo. Schymura tem um bom temperamento e afinou as ideias com Barbosa no Ibre, quando o convidou para trabalhar na casa durante um interstício da sua missão do governo. Dá Barbosa na Fazenda. Luiz Gonzaga Belluzzo: 30%. Tem lá suas convicções cepalinas, com a vantagem de mudar de ideia conforme a circunstância. De sorte, pode se acasalar bem com Barbosa. Uma dica: Dilma Rousseff adora Belluzzo. Aloizio Mercadante: 4%. É um coringa: tanto pode ser um “aspone” quanto titular da Fazenda. Levará o Congresso à loucura e a mídia ao delírio. As negociações políticas avinagrarão e os vazamentos transformarão Watergate em jardim da infância. Até dá para ser com Barbosa, mas ele preferiria um empresário. Quem? Quem? Luciano Coutinho: 2%. De temperamento zen, qualificadíssimo, com a confiança de Dilma, é bem capaz de alinhar com Barbosa. A contraindicação é o papel que lhe foi confiado de tourear os pepinos do governo Henrique Meirelles: 0,5%. Essa última operação de contrainformação lançando-o como candidato a ministro de Michel Temer o transformou de solução em proscrito. De qualquer forma, fica uma fezinha, porque, com Dilma, tudo é possível. A aposta é em qualquer nome para o Planejamento, menos Barbosa. Jorge Gerdau: 0,5%. Entoaria os versos de “Trabalho”, uma das orações preferidas de Lutero (Senhor, meu Deus, meus bens e meu cargo não estão sob o meu poder). Carregaria Vicente Falconi para o governo, onde ele se destacaria por falar invariavelmente a mesma coisa. Abílio Diniz: 0,2%. Montaria uma academia de ginástica no gabinete da Fazenda e levaria o Tarpon para fazer o planejamento do governo. Luiz Carlos Trabuco: – 100%. Um sonho tão inviável como sempre foi. José Serra: – 1.000.000%. Delírio total! Pura provocação.
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Malvadeza
15/12/2015No Palácio do Planalto todos se divertem quando se comenta a suspeição de a equipe econômica ter vazado o nome de Henrique Meirelles para o ministério da Fazenda em uma gestão Michel Temer. Contudo, a gargalhada é geral quando se diz que o vazador foi José Serra.
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?Ossos do barão
25/11/2015Entre os esqueletos que serão exumados com a prisão de José Carlos Bumlai, o Ministério Público pretende desenterrar o episódio da Fazenda São Gabriel. Em 2003, Bumlai comprou a propriedade, localizada em Corumbá (MS), por R$ 2 milhões. Dois anos, depois o Incra desapropriou as terras ao valor de R$ 20 milhões.
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Governo “descobre” a pólvora do petrolão
27/10/2015A Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Fazenda divulgou estudo intitulado “O Impacto da Redução de Investimentos no Setor de Óleo e Gás”. Consta do paper que 70% da recessão podem ser colocados na conta do “petrolão”, especialmente o efeito paralisia de outras obras fora do setor devido à inadimplência da Petrobras Governo “descobre” a pólvora do petrolão junto às empreiteiras. É o gugu dadá. Ou engenharia de obras feitas, como se chama uma conclusão tautológica. O que é pior: o governo teve tempo hábil de sobra para evitar a desgraceira social. O RR também tem a sua SPE e cantou insistentemente a pedra, nas edições de 17/09/2014, 5/11/ 2014, 22/1/2015, 29/1/ 2015, 1/4/2015, 3/7/2015, 8/7/2015, 3/9/2015…, entre tantas outras. Propôs, inclusive, um pacto nacional pela Petrobras e as obras nacionais. Ninguém ouviu. O assunto foi parar na alçada de Joaquim Levy. Agora, Jaques Wagner soma forças para descascar de vez o abacaxi. Se precisarem de ajuda, a SPE do RR está sempre à disposição
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Podem pular fora
16/10/2015O ex-presidente Lula baixou os flaps da CPMF junto à bancada do PT na Câmara. Na reunião com os deputados, ontem, o ex-presidente liberou todos para que pulassem fora do barco. A lógica é bem lulística: perdido por um déficit fiscal é a mesma coisa de perdido por um déficit fiscal e meio. Com o rebaixamento do país por mais uma agência de risco, não haveria mais motivo para a correria. O imposto seria votado no ano que vem, lustrando o resultado fiscal de 2016, muito provavelmente sem Joaquim Levy no Ministério da Fazenda.
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Um governo de espécies exóticas
9/10/2015O que esperar de um governo esquisito se não atos estranhos, dúbios, que despertam as mais variadas interpretações? A gestão Dilma Rousseff apresenta uma generosa fauna de decisões, no mínimo, inquietantes. Dois novos exemplos desta biodiversidade saltam aos olhos neste momento. O primeiro deles, a edição da Medida Provisória 695, que autoriza o Banco do Brasil e a Caixa Econômica a adquirirem participações em instituições financeiras até 2018. O objetivo principal é permitir que os bancos públicos disputem ativos no mercado em condições de igualdade com instituições privadas. Tem todo o nexo, sobretudo no momento em que o governo se esforça para valorizar seus ativos. O problema é que a paranoia está no ar. A iniciativa tem servido de combustível para as mais temerárias ilações: o que o governo sabe e ainda não foi revelado? Há instituições precisando de socorro? Estas são algumas das indagações que têm circulado no mercado nos últimos dois dias, desde que a MP foi anunciada. A segunda estranheza que entrou em cartaz na semana foi a proposta do Ministério da Fazenda de se criar um seguro contra mudanças regulatórias, como forma de estimular a entrada de capital estrangeiro em projetos de infraestrutura. Sentido até faz: todos sabem que o governo quebra regras. O que chama a atenção é o sincericídio prévio no convite ao investidor externo, na linha “Nós vamos, sim, mudar a regra do jogo. Tenha à mão o número da sua seguradora”. Talvez fosse o caso também de se estabelecer uma apólice para aumento de impostos, redução de renda mediante confiscos, cortes em programas sociais. Fica a sugestão.
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Walter Faria enfrenta novas acusações de sonegação fiscal
8/10/2015Na mira da Lava Jato, acusado de receber recursos desviados da Petrobras e, posteriormente, repassá-los ao PT, o cervejeiro Walter Faria está no epicentro de mais um escândalo. As suspeitas sobre a participação do Grupo Petrópolis em um esquema de sonegação fiscal no Mato Grosso espalham-se por outras regiões. Os Ministérios Públicos de São Paulo e do Paraná se uniram ao seu congênere mato-grossense nas investigações contra a fabricante de bebidas. Há fortes indícios de que a empresa teria replicado o mesmo expediente nos dois estados. O esquema se basearia na devolução simulada de matéria-prima para a produção de cerveja, notadamente soja. A Petrópolis se beneficiaria de créditos fiscais referentes ao retorno do insumo ao fornecedor. No entanto, segundo as investigações, há evidências de que boa parte da matéria-prima declarada não retornava efetivamente ao seu fabricante, embora fossem emitidas notas fiscais relativas à devolução. Os procuradores dos três estados estão debruçados sobre calhamaços de guias de recolhimento supostamente frias. O Ministério Público do Mato Grosso confirma o caso. Segundo o MP, há “um procedimento investigatório em tramitação na 14ª Promotoria de Justiça Criminal da Capital, que antecede o inquérito, para apurar o suposto esquema envolvendo o Grupo Petrópolis”. O total sonegado pode chegar a R$ 140 milhões. Ainda de acordo com o MP, esse é o valor do processo administrativo que aguarda julgamento pela Secretaria de Fazenda do Mato Grosso. O RR também entrou em contato com o Ministério Público de São Paulo e do Paraná. Ambos não se pronunciaram, com a alegação de que apenas o MPMT, origem do processo, fala sobre o caso. Segundo o RR apurou, no caso do Paraná e, sobretudo, de São Paulo, as cifras sob investigação seriam bem maiores, em razão dos volumes de mercadorias movimentados nos dois estados. As denúncias envolvem também a cooperativa paranaense Imcopa, uma espécie de irmã xifópaga da Petrópolis. Em 2009, ambas anunciaram uma associação para a produção e distribuição de soja. Os credores da Imcopa, entre os quais Credit Suisse e ING, tentam provar que Walter Faria é o verdadeiro dono da empresa e, portanto, responsável pelas dívidas de mais de R$ 1 bilhão da cooperativa agrícola.
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Serra é o embaixador do governo Temer
29/09/2015O senador José Serra já se escalou como titular absoluto em um eventual governo Michel Temer. Até aí, morreu neves. O fato novo é que ele não almeja o Ministério da Fazenda, conforme nove entre dez analistas propalam aos quatro ventos. Serra quer ser chanceler, assumir com pompa e circunstância o Ministério das Relações Exteriores e fazer uma revolução na política externa brasileira. Segundo um dos seus mais próximos interlocutores, Serra considera que pode ser um ponto fora da curva nas Relações Exteriores, repetindo sua performance no Ministério da Saúde. Imodesto, ele estaria convencido de que foi o mais destacado protagonista da Pasta da Saúde em todos os tempos. Embarcar no Ministério da Fazenda em meio à turbulência de um eventual governo Temer, seria comprar um desgaste enorme com baixo retorno vis-à- vis suas ambições políticas. Ele raciocina, maquiavelicamente, que conseguiria influenciar a Fazenda pelo Itamarati, mesmo porque já deixou um programa econômico praticamente pronto nas mãos de Temer. As eventuais semelhanças com a trajetória de Fernando Henrique Cardoso param no cargo em comum. O ex-ministro se sente mais confortável se a comparação for com Azeredo da Silveira, chanceler todo-poderoso da era Geisel. Serra pretende ser lembrado pelo número de acordos bilaterais, reconstruindo a diplomacia de comércio exterior. Seus projetos são pilotar uma grande parceria com a China; assumir um papel proativo na questão ambiental; e ampliar a participação das agências multilaterais – e o compromisso delas – com o Brasil. O Itamarati rivalizaria somente com a Fazenda em força e prestígio. Não obstante a notória competência, quem conhece a obsessão de José Serra torce mesmo para que ele fique uma boa parte do tempo fora do país. Melhor assim para todos.
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Uma ficção na fronteira de uma realidade repetida
22/09/2015Era noite aberta quando o engenheiro Henrique Meirelles adentrou no seu closet. A sua frente dezenas de ternos de fino corte luzidios, praticamente todos da cor cinza-chumbo, sua marca registrada. Queria escolher com calma qual deles iria vestir em sua posse. Em meio ao passar de vista, deparou-se com o costume que usou ao entrar pela primeira vez no Banco Central como presidente da instituição. Alisou a manga do paletó repleto de pensamentos. O desafio agora seria bem maior. Meirelles assumiria o Ministério da Fazenda com a responsabilidade de ancorar as expectativas de toda a nação. Tinha a palavra da presidente Dilma Rousseff de que receberia carta-branca para tomar as decisões necessárias ao ajuste. A fricção mais grave entre ambos, ocorrida no fim do governo Lula em função de um telefonema não respondido, tinha sido superada pela gravidade das circunstâncias. Meirelles gesticulou como se estivesse com uma batuta entre os dedos, regendo uma orquestra. Parte do receituário já tinha sido proposta por seu antecessor, Joaquim Levy. Outra parcela encontrava-se nos escaninhos da Fazenda pronta para ser implementada. Levy havia cumprido a tarefa de elaborar e anunciar as medidas mais desgastantes e vê-las serem torpedeadas pelos grupos de interesse e pelo Congresso Nacional. Em nove meses, tornara-se titular da “Pasta do Sacrifício”. Renunciara ao Ministério por vontade própria. Tinha chegado ao seu limite. O ex-presidente do BC se tornaria ministro com o waver das metas descumpridas em 2015. Isso também ficaria na conta de Levy. A extensão da crise econômica chegara a um ponto em que medidas antes politicamente inviáveis passaram a ser palatáveis. Todas as reformas – da Previdência, tributária, administrativa – ingressaram na agenda da estabilização. Meirelles lembrou-se da voz roufenha do padrinho. Lula tinha indicado alguns atalhos, tais como os impostos sobre heranças e doações e sobre fortunas. O futuro ministro sorriu com a ideia de que um banqueiro anunciaria medidas para taxar os ricos. Dos pobres, Levy e Alexandre Tombini já tinham se encarregado. Quanto às futuras decisões para o aumento da austeridade, que deixassem com ele. A crise engendraria uma maior tolerância dos empresários e dos políticos com Meirelles. E a mídia? Como se sabe, ele tiraria de letra. O novo ministro da Fazenda antecipava em suas elucubrações o roteiro da mudança de expectativas. Após cumprir a liturgia da posse no novo cargo e desfilar com sua voz de barítono velhas medidas como se fossem novas, Meirelles partiria para Nova York. Na Meca dos banqueiros, reuniria financistas de todas as estirpes para ser celebrado como filho pródigo e arauto da mudança. Sorriu ainda mais largo ao imaginar as manchetes do Wall Street Journal, The Economist, Financial Times, entre outros, saudando sua nomeação. Pelo menos naquele salão do Plaza Hotel o Brasil já tinha recuperado seu investment grade.
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O verdadeiro Pacote Levy não rima com Dilma
17/09/2015O ministro Joaquim Levy deveria apresentar o seu verdadeiro plano – e ele o tem, desde o início – sob pena de danificar de forma indelével sua imagem. O pacote fiscal, que vai e volta com remendos do Congresso, é absolutamente supérfluo. Seu impacto é pífio, frente à magnitude do problema. O plano de ajuste econômico não promete nenhuma solução além da esquina. Serviria, e olhe lá, como uma ponte para que se recomece mais à frente do ponto em que estamos, e isso se fosse crível. Mas, qualquer coisa que emane do atual governo dificilmente será crível. Levy é um homem de elevado espírito público e tem enfrentado com sacrifício pessoal a missão que lhe foi delegada. Se pudesse agir conforme pensa, anunciaria já a reforma da previdência, medida sabidamente inevitável no tempo. Também declararia a impossibilidade de construir as bases de um superávit fiscal estrutural sem quebrar o engessamento das despesas obrigatórias e reiteraria a necessidade dos gastos com o funcionalismo serem estabilizados. E afirmaria ainda que, sem o controle do crescimento das despesas da União e dos entes federativos abaixo do crescimento do PIB, o déficit nominal será permanente. Levy acredita nisso. O pacote de desarranjos fiscais que tanto excita os estamentos mais arrebitados não entregará, em 2016, um PIB positivo, um superávit primário ou qualquer redução da dívida pública bruta. O aumento do desemprego e a queda dos salários e da renda já estavam em qualquer das posologias. Levy sabe de tudo isso. E sabe igualmente que os investimentos somente virão se cada um dos empresários puder colocar em uma planilha Excel a divina trindade, nessa ordem: PIB, inflação e câmbio. Para isso, a conjugação da política fiscal e monetária – juros mais baixos – terá de ser virtuosa, e, antes de tudo confiável. Levy não desconhece que o lucro das empresas, no anualizado de 12 meses encerrado no primeiro semestre, é cadente. E que, sem lucro, empresário não investe. O ministro teve um lapso quando disse que a CPMF é um “impostozinho”. Ele sabe que não é. Trata-se de um tributo cumulativo, direto na veia. Basta ver o tamanho da arrecadação. Se houvesse disposição realmente de resolver o problema fiscal, a CPMF, ainda que nefanda, seria um imposto transitório até 2016, e não previsto por quatro anos. Antes que a mácula se generalize, é bom que Levy fixe um limite da sua convicção. O personagem que está no Ministério da Fazenda não demonstra em público as ideias do economista que assumiu a pasta para colocar ordem na economia do país. Ele sabe.
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Crise do Orçamento trava até soluções para as empreiteiras
3/09/2015As idas e vindas do Orçamento da União não emperram apenas o equacionamento das contas públicas. Seus efeitos se alastram por outras questões prioritárias para a retomada da atividade econômica, a começar pelo destravamento da construção pesada. O bate-cabeças do governo em torno da proposta orçamentária paralisou os trabalhos do grupo montado no Ministério da Fazenda – por meio da portaria nº 640 publicada no dia 11 de agosto – com o objetivo de discutir medidas capazes de melhorar o ambiente de negócios no Brasil. Entre outras atribuições, uma das missões precípuas deste comitê é apresentar soluções que permitam às grandes empreiteiras sair do estado de congelamento em que foram lançadas pela Lava Jato, retornar ao mercado e participar de concessões e PPPs. O grupo tem aproximadamente 45 dias para concluir os trabalhos e apresentar suas propostas, prazo que, segundo a portaria, poderá ser estendido por igual período. Mas há quem acredite que nem mesmo o tempo extra será suficiente tamanho o grau de letargia em que as discussões se encontram. O atraso não se deve apenas à notória falta de energia do governo para tratar de questões centrais. Não há unicidade dentro da Abdib, que representa o setor privado junto ao grupo de trabalho na Fazenda. A falta de consenso entre as próprias empreiteiras tem resultado no surgimento de ideias despropositadas. Um exemplo diz respeito ao custo da idoneidade para o setor, leia-se as multas que as maiores empreiteiras do país terão de quitar para purgar o passado e receber autorização para participar de licitações públicas – há estimativas de que este valor poderá chegar a R$ 17 bilhões. Em vez do pagamento direto dos recursos, as empresas repassariam ativos à Petrobras e à União como ressarcimento de prejuízos eventualmente causados pelo desvio de recursos públicos. Estas últimas colocariam os respectivos ativos em leilão. Parece uma daquelas soluções de quem quer complicar e não resolver. O atraso nas discussões breca também a possibilidade de ingresso do capital estrangeiro no setor, visto que os grandes players internacionais somente participarão de consórcios ou de parcela do capital das empreiteiras sob risco de declaração de inidoneidade se elas forem higienizadas. Investidores chineses, alemães e sul-africanos, entre outros, demonstram interesse em entrar no Brasil – consta que a Camargo Corrêa já está entabulando conversações neste sentido. Mas, no atual ambiente de insegurança jurídica, é pouco provável que alguma negociação avance. Que grupo estrangeiro correrá o risco de se unir a uma empreiteira que, a qualquer momento, poderá ser considerada inidônea? Enquanto isso, a construção pesada elimina quase 30 mil postos de trabalho por mês.
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O empresariado engajado no autoengano de Dilma
31/08/2015A disposição de Dilma Rousseff em criar um núcleo duro empresarial no seu governo, com forte participação em uma futura reforma ministerial, está esbarrando na diversidade dos interesses e ideias da categoria. O apoio do empresariado foi apresentado à presidente como uma terceira via para lidar com a borrasca perfeita do seu governo: base aliada dividida, Congresso hostil, crash de popularidade, corrupção, ministério fisiológico, inflação, recessão etc. A ideia de trazer a burguesia para compor a regência é um chiclete mastigado. Lula defende um diálogo maior com o setor privado desde a formação do ministério do segundo mandato. O chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, que tem bons amigos entre os empresários, é entusiasta antigo dessa aproximação e adepto da criação de um conselho consultivo de dirigentes do setor privado – a presidente ouve falar em conselheiros e quer logo pegar em uma pistola. Na última vez, mirou o alvo e assassinou o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. Joaquim Levy veio bater na mesma tecla de atração do empresariado. A estratégia caiu na boca do povo, e ministros como Armando Monteiro e Nelson Barbosa, além dos “aliados” Michel Temer e Renan Calheiros, correram para os braços dos empresários. Os interesses nesses jantares, almoços e reuniões variam do oportunismo mais rastaquera até nobres tentativas de apoio. Em comum, o fato de que todos batem cabeça. Os empresários não têm “uma agenda para o desenvolvimento”, até porque, “agendas” – enfatize-se o plural – é o que não falta. Não há nada nesse empresariado que lembre os Srs. Augusto Trajano de Azevedo Antunes, Gastão Bueno Vidigal, Antonio Gallotti, Walther Moreira Salles, Amador Aguiar, Cândido Guinle de Paula Machado e… Roberto Marinho. Uma elite orgânica, conservadora modernizante, frequentadora entre si, empreendedora, com um projeto permanente de conquista do Estado e ciosa de previsibilidade. O atual rating dos endinheirados varia conforme as notas sobre a gradação financeira, respeitabilidade, presença na mídia e dependência financeira do governo. Há análises combinatórias. O presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, tem relacionamentos com o governo, respeitabilidade e porte financeiro. O presidente do Itaú, Roberto Setubal, respeitabilidade e grana, mas nunca foi bem visto no Planalto. Jorge Gerdau, arroz de festa nas especulações ministeriais, é, no momento, potencial candidato a pedir o auxílio do governo. O presidente da Coteminas, Josué Gomes da Silva, já foi aspirante a ministro da Fazenda antes de Joaquim Levy. É identificado como um sincero colaborador. Os dirigentes da Natura, Guilherme Leal e Pedro Passos – este último presidente do IEDI – são anunciados como presentes em todos os encontros, mas nunca participaram de nenhum. E tome de Benjamin Steinbruch, Rubens Ometto, Edson Bueno, Cledorvino Belini, Joesley Batista e tantos e tantos outros. Ressalvas para Paulo Skaf, considerado pelos seus pares o “Guido Mantega do empresariado”. São tantas as diferenças para um único consenso: Dilma é vista por todos como um estorvo. Se a realidade refletir o que é dito pelos empresários à boca pequena, o apoio à presidente não passa de um autoengano de Dilma.
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BNDES inicia sua longa jornada noite adentro
20/08/2015O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, desembarca hoje no Congresso Nacional com a missão inglória de impedir o estupro da instituição. A CPI do BNDES é uma cortina de fumaça para aleijar o banco. Não bastará à instituição purgar em praça pública a averiguação de eventuais desmandos financeiros, a exemplo da Petrobras. O banco, não sendo extinto, precisa ser descaracterizado em sua essência, ou seja, uma agência de fomento que tem por função prioritária a concessão de financiamentos ao setor industrial. O RR apurou que a presidente Dilma Rousseff abandonou a causa da integridade do BNDES. O que Dilma não quer é que o banco se constitua em mais um escândalo, uma espécie de segunda Petrobras. Seu empenho é empurrar para longe as acusações de corrupção e malversação de recursos. Essas denúncias recaem na direção do expresidente Lula, sinônimo de CPI do BNDES. Lula precisa ser preservado, o governo precisa ser preservado, mas o banco, na ótica palaciana, poderia entregar dedos e anéis. A pressão é para que o BNDES encolha, reduza seu enraizamento com a política industrial, se torne uma espécie de Sebrae tonificado, perdendo o seu protagonismo estratégico. Nesse contexto, a palavra subsídio é tida como um anátema. Coutinho adentra a CPI empunhando três bandeiras: a defesa da probidade e lisura das operações do banco, a preservação do que for possível na sua estrutura de funcionamento e salvar sua própria pele. O curioso da CPI é que existem apenas suspeições, algumas delas bisonhas. O caso das privatizações no governo FHC, notadamente da Telebras, BNDES inicia sua longa jornada noite adentro em que a corrupção foi pública, sequer é mencionado. Ao contrário do escândalo da “telegangue”, neste momento não há um nome acusado de desvio de recursos ou de aceitação de propina na inquisição do BNDES. Afinal, quem é o Paulo Roberto Costa do banco? Algumas denúncias sugerem uma CPI do aparelho de Estado brasileiro, devido à amplitude de participação do governo. Por exemplo: o financiamento à prestação de serviços em outros países é chancelado pelo Ministério das Relações Exteriores, conta com a participação do Ministério do Desenvolvimento e a permissão do BC, para citar somente três órgãos governamentais. E o repasse dos recursos do Tesouro? Ora, o banco somente aceitou a decisão da Fazenda, que o escolheu como instrumento da sua política contracíclica para enfrentar a crise internacional. E os “cavalos vencedores”? Pode ser uma decisão questionável, mas já foi provado que as operações não incorreram em prejuízo. A CPI pretende propor medidas no melhor estilo do senador Joseph McCarthy, tais como a criação de um “grupo de inteligência” do Senado, que vai investigar as informações mais intestinas do banco. Os critérios para seleção dos investimentos também seriam escolhidos pelos parlamentares. Ninguém sabe o que ficará fazendo a melhor equipe técnica do país. A impressão é que o real objetivo da CPI do BNDES está encoberto pelo mar de lama no qual pretende se afogar o banco. O nome da CPI deveria ser a do “fim do BNDES”. Ou melhor, a CPI de Ignácio Rangel, Roberto Campos e Celso Furtado, os mentores da existência do BNDES e de seus melhores propósitos.
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Les petites filles modèles da Camargo Corrêa
27/07/2015As reuniões de fim de semana com familiares e amigos na Fazenda Guariroba continuam a ser sagradas, assim como os passeios, ao cair da tarde, pelas vitrines da Rue du Faubourg Saint Honoré, programa obrigatório nas revigorantes temporadas em Paris, entremeadas por um ou outro jantar beneficente. Mas, na maior parte do tempo, as distintas Renata de Camargo Nascimento, Regina Camargo Pires Oliveira Dias e Rosana Camargo de Arruda Botelho habitam território inacessível, tal como uma tela de Renoir ou um romance da Condessa de Ségur. Não há Lava Jato, Ministério Público ou Polícia Federal capaz de trincar a redoma mágica erguida em torno das controladoras da Camargo Corrêa. Até o momento, diferentemente do que vem ocorrendo com alguns de seus pares no setor, as herdeiras de Sebastião Camargo têm sido poupadas do maior escândalo de corrupção da história do país. É como se delatores, procuradores, forças policiais e a imprensa tivessem se irmanado num pacto amnésico. Mesmo você, caro leitor, responda rápido se leu ou ouviu falar sobre alguma delas. A Camargo Corrêa está no núcleo do “petrolão” – como esteve também, como protagonista absoluta, no epicentro da Operação Castelo de Areia. Mesmo assim, Renata, Regina e Rosana seguem intocadas, como as vestais do templo das empreiteiras. Os ex-executivos da companhia Dalton Avancini, Eduardo Leite e João Ricardo Auler foram os primeiros dirigentes do setor condenados na Lava Jato. E, mais uma vez, nada respingou nas túnicas brancas das três empresárias. Os leais Avancini e Leite dispararam suas delações premiadas para o lado, para baixo, na diagonal, mas não apontaram sequer um dedo indicador para o andar de cima. E por que se omitem os inquisidores da Justiça? Como podem os executivos manejar R$ 50 milhões para o pagamento de propinas – valor que será ressarcido à Petrobras – sem que os donos da empresa, uma referência no compliance corporativo, sequer suspeitem do passeio deste numerário? Será que a Camargo Corrêa é um organismo sem sistema nervoso central, no qual cada braço dita seu movimento, ou o domínio do fato, como o inferno de Sartre, são os outros? Apesar de sua extensão e ousadia, a Lava Jato segue com os olhos vendados para as sucessoras de Sebastião Camargo, tanto quanto as sucessoras de Sebastião Camargo querem agora ficar longe de algumas heranças que lhes couberam. Se, ainda jovens, Renata, Regina e Rosana foram preservadas da crueza da vida real pelo próprio pai, quando mulheres escudaram-se atrás dos maridos – matrimônios estes que parecem ter sido milimetricamente conduzidos por um head hunter. Os respectivos príncipes consortes – Luiz Roberto Ortiz Nascimento, Carlos Pires Oliveira Dias e Fernando de Arruda Botelho, já falecido – se ocuparam de cargos de mando na Camargo Corrêa, permitindo que as meninas de Sebastião Camargo se mantivessem distantes do campo de batalha. A Lava Jato estourou, e à medida que as investigações avançaram, providencialmente chegaram ao noticiário relatos da preocupação de Renata, Regina e Rosana com os princípios e valores que deixarão para seus filhos, sugerindo a disposição de até mesmo deixar de vez a construção pesada. Surgiram em cena exatamente para serem esquecidas pela plateia. Por ora, tem dado certo.
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Fazenda peneira novas pepitas no veio do ajuste fiscal
13/07/2015Em sua busca para extração de riquezas, o garimpo do Ministério da Fazenda já identificou na bateia duas pepitas, pequenas é bem verdade, que, devidamente polidas, podem prestar sua colaboração para o ajuste fiscal. A pepita menos opaca, que aparece bem a vista em meio ao cascalho das demais ideias, é a instituição do imposto sobre heranças. Não se trata de uma descoberta nova, nem de uma grande jazida. O governo nem considera expressiva a arrecadação proveniente. Mas a medida pode ter uma utilidade maior para a negociação de joias bem mais raras no Congresso Nacional. Seria especialmente um aceno para o PT, que considera o imposto uma resposta fundamental para o programa de austeridade econômica. No arrastão tributário, poderiam ser negociadas outras medidas microeconômicas capazes de ampliar a arrecadação do Estado. O salto percentual do imposto não seria tão acanhado. A proposta é que a alíquota média do tributo sobre as heranças suba dos atuais 3,86% para 8% a 10%. Um número vistoso a primeira vista, mas conservador se comparado com outros países, tais como o Chile (13%), França (32,5%) e Inglaterra (40%). O discurso de sustentação é justo, justíssimo: o Brasil é um dos últimos do ranking das contribuições do imposto sobre herança – Suécia, Noruega e Austrália não gravam a transmissão de riquezas. Se a medida fiscal já se encontra quase reluzente, a pepita inesperada é a venda de carteiras de créditos maduros do BNDES e da Caixa Econômica Federal a banca privada. O Banco do Brasil não poderia ser incluso no programa devido a sua condição de companhia aberta, o que exigiria a realização de um aumento de capital. A ideia é devolver parcela dos repasses do Tesouro a essas instituições. Bancos como Bradesco, Itaú e Santander – somente para citar os privados, longe de qualquer ilação de caráter político – seriam compradores potenciais desses créditos. Trata- se de uma mina de altíssimo teor. A carteira de empréstimos e repasses do BNDES soma R$ 698 bilhões. Desse total, cerca de 41%, ou R$ 286 bilhões, se referem a operações com os 10 maiores clientes do banco. A clientela do segundo andar é bem mais pulverizada é constituída de muitas empresas líderes nos seus mercados. A Caixa Econômica, por sua vez, que sempre teve uma atuação mais voltada para a pessoa física, tem ampliado significativamente a carteira de crédito a empresas. Os empréstimos a pessoa jurídicas somam hoje cerca de R$ 125 bilhões. Com esta medida, os dois bancos públicos fariam caixa e antecipariam receita. Ambos estariam comprando ativos creditícios valiosos. O Tesouro agradeceria, sensibilizado. Um bom negócio para gregos e troianos. Não há consenso ainda sobre o timing de uso das duas pepitas. As pedras, inclusive, ainda estão sendo valoradas. A expectativa é que sejam lustradas e, em breve, venham a público.
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Herdeiros da Coteminas querem distância do agronegócio
5/06/2015Houve um momento em que Josué Gomes da Silva esteve com um pé no Ministério do Desenvolvimento, foi apontado por muitos como o nome mais adequado para comandar o BNDES e chegou até mesmo a flertar com a Pasta da Fazenda. No entanto, as portas do governo não se abriram e Josué segue vestindo o figurino de empresário, mais precisamente o de empresário aflito e pressionado por seus próprios familiares. Ao mesmo tempo em que toureia os sucessivos prejuízos da Coteminas – R$ 250 milhões nos últimos três anos -, cabe a ele a missão de estancar de uma vez por todas as perdas do clã no agronegócio, uma infeliz inflexão estratégica dos herdeiros de José Alencar. Neste caso, ao que tudo indica, não há mesmo outra solução se não a porta de saída. Josué já estaria negociando a venda da participação da família na Cantagalo General Grains, que atua na produção e comercialização de grãos. Do outro lado da mesa, está a japonesa Sojitz. A intenção dos Alencar é vender integralmente sua participação tanto na Cantagalo quanto na subsidiária CGC Trading. Os asiáticos, ressalte-se, já são sócios minoritários das duas empresas. Na primeira, detêm apenas 5%; na trading, sua fatia é bem mais expressiva: 43%. Josué Gomes da Silva foi o principal artífice da entrada dos Alencar no agronegócio, a partir da associação com a Agrícola Estreito, do ex-Glencore Paulo Garcez. Em tese uma decisão mais do que acertada, em função dos resultados declinantes da Coteminas e da indústria têxtil como um todo. Na prática, porém, a Cantagalo jamais teve a performance esperada: no ano passado, o prejuízo bateu nos R$ 155 milhões. Diante das seguidas perdas, a operação tem sido cada vez mais questionada dentro da própria família. Em setembro, Josué Gomes, presidente do Conselho de Administração da Cantagalo, tentou esfriar o caldeirão com uma mudança na gestão. Numa manobra interna, convenceu o próprio Paulo Garcez a deixar a presidência da companhia, dando lugar ao ex-Previ e ex-Embraer Luiz Carlos Aguiar. Dentro da empresa, o troca-troca foi interpretado como um movimento diversionista, uma tentativa de Josué de ganhar tempo para negociar a venda da participação da família para a Sojitz. A essa altura, nem o próprio empresário quer ficar no negócio. Sua prioridade absoluta neste momento é colocar a Coteminas nos trilhos. Mas essa é outra história…
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Falta fair play ao ex-futuro ministro da Fazenda
2/06/2015O ex-ministro Mario Henrique Simonsen estava longe de ser um primor de elegância na sua apresentação pessoal. Costumava usar ternos amarrotados e nós de gravata que ora parecia o de uma forca, ora estavam tão frouxos que quase abriam. Mas, na postura e na atitude, Simonsen era de uma distinção imbatível. Quando deixou o Ministério da Fazenda por discordância com a orientação do governo, chegou ao Rio e foi logo para a praia. Detalhe: Simonsen nunca ia a praia, que fica logo ali, em frente ao prédio onde ele morava, em Ipanema. Foi deitado na areia que deu uma entrevista coletiva para todos os veículos da imprensa. E depois não mais falou. Simonsen cunhou um aforismo que deveria ser talhado em bronze e pendurado nos gabinetes de ministérios e autarquias: ex-integrantes do governo têm de pensar no que falam, pois são formadores de expectativas. Quanto mais elevado for o prestígio do manda-chuva, maior o cuidado que precisa ter com o que diz. Comparar Simonsen com Arminio Fraga é um desatino, por tudo o que foi dito e muito mais. No entanto, as entrevistas regulares do ex-presidente do Banco Central, desancando a gestão econômica, merecem registro. Arminio é um ex-futuro ministro da Fazenda, que, durante a campanha, performava mais nos jornais do que o seu próprio ex-futuro presidente. Os seus méritos acadêmicos são reconhecidos. Foi administrador de recursos na Casa George Soros. Não chegou a ser um festejado ganhador de dinheiro naquelas plagas. Veio para o BC agradar ao mercado. Como autoridade monetária, vestiu a fantasia de criador do regime de metas de inflação, quando, na verdade, foi o então diretor do BC Sergio Werlang quem colocou a mão na massa. Voltou ao mercado e criou sua própria administradora de recursos. Choveram fortunas inabituais em circunstâncias do gênero. Contudo, a alta rentabilidade, que era o promessa do Gávea Investimentos, acabou virando case de marketing: a melhor não entrega do mercado. Em síntese: Arminio ainda considera ser aquilo que nunca foi. O próspero financista, em suas regulares entrevistas, decreta em tom de epitáfio a morte agonizante da economia brasileira. Sova Joaquim Levy com seus punhos de pilão. Segundo a Cassandra tucana, o superávit de 1,2% não dá nem para a saída – teria de ser de 3% no mínimo -, a dívida bruta vai a 100% daqui a quatro ou cinco anos, não voltaremos a crescer a 4% tão cedo, com a atual política a inflação não recua para a meta de 4,5% de jeito nenhum. Não há fato novo: Arminio entoa essa cantilena a toda hora. No seu caso, convém lembrar que foi um reputado presidente do BC, o que lhe cobra certas responsabilidades. Formar expectativas sendo maquinista de um trem financeiro exige pruridos ainda maiores. Sem censura, mas com atenção ao seu papel histórico. N.R. Pela média histórica, a próxima entrevista de Arminio Fraga deve ocorrer entre 20 ou 30 dias.
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Justiça do Trabalho pisa no telhado de vidro da Eternit
10/04/2015Qual é a principal expertise da Eternit: fabricar telhas ou produzir enfermidades em série? A já desgastada imagem institucional da companhia e – por que não? – o próprio futuro do negócio dependem desta resposta. E ela virá, muito provavelmente pela voz dos tribunais. A Eternit é alvo de uma pesada ação movida pelo Ministério Público do Trabalho do Rio de Janeiro (MPT-RJ), que pode custar a empresa cerca de R$ 1 bilhão – isso para não falar das perdas intangíveis. O valor refere-se ao pedido de indenização por danos morais coletivos que os procuradores Janine Fiorot, Luciano Lima Leivas, Márcia Cristina Kamei Lopez Aliaga e Philippe Gomes Jardim encaminharam a Justiça. O processo decorre de inquérito aberto em 2008. O MPT-RJ constatou uma série de irregularidades na fábrica da Eternit no bairro carioca de Guadalupe, com graves riscos a segurança e a saúde dos operários. De acordo com o Ministério Público do Trabalho, no dia 12 de março houve uma audiência em que a Eternit contestou a ação. A partir dessa data, o MPT-RJ terá 60 dias para se manifestar. Será marcada uma nova audiência antes de a ação ir a julgamento, o que poderá ocorrer ainda neste ano. Os procuradores tratam o caso como de altíssima prioridade, em razão do impacto que ele poderá ter não apenas sobre a Eternit, mas sobre a contestada indústria do amianto como um todo. De acordo com o MPTRJ, há sérias falhas de segurança na fábrica da Eternit. Segundo laudos técnicos encaminhados a Justiça do Trabalho, a companhia mantém máquinas e equipamentos mal conservados, com vários pontos de vazamento de pó de amianto. O produto é considerado altamente tóxico. O contato recorrente com o amianto pode provocar doenças com alto índice de letalidade, notadamente o mesotelioma e a asbestose, dois tipos de câncer. Além disso, o MPT-RJ constatou que a empresa omitia das autoridades dados sobre a saúde de seus trabalhadores. Há casos de acidentes e licenças médicas que só teriam sido comunicados duas décadas depois. Ao que tudo indica, a Eternit parece seguir a máxima de Rubens Ricúpero, que, a frente do Ministério da Fazenda, foi flagrado por indiscretos microfones proferindo a célebre frase “O que é bom a gente revela, o que é ruim a gente esconde”. Por si só, o montante da indenização já é motivo de apreensão para os dirigentes da Eternit: a cifra de R$ 1 bilhão equivale a um ano de faturamento da companhia. Contudo, para o alto-comando da fabricante de telhas, tão ou mais preocupante do que o valor da multa é o potencial efeito-avalanche do processo. Um julgamento favorável aos trabalhadores será um convite para que operários das outras três fábricas da Eternit no país façam denúncias similares. Além disso, o veredito poderá alimentar ainda mais o debate em torno do uso do amianto. Ressalte-se que, nesta semana, o TJ-RJ confirmou a proibição para a fabricação e venda de produtos a base da fibra mineral no estado.
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Para inglês ver
27/03/2015Tirar Thomas Traumann da Secom e colocá-lo na comunicação da Petrobras é mais ou menos como se o governo apeasse Guido Mantega do Ministério da Fazenda e o remanejasse para o BNDES. Se tudo se resume a uma dança das cadeiras, Dilma bem poderia ter mandado Traumann para o lugar de Aloizio Mercadante.
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Investimento a jato
10/03/2015Apenas três meses após a venda de 49,9% do seu capital para os Correios, a Rio Linhas Aéreas já costura a compra de quatro cargueiros. Os planos de expansão levam a assinatura de William Starostik Filho, controlador da Rio. Já o cheque para a aquisição deve carregar mesmo o jamegão do diretor financeiro dos Correios, ainda que, oficialmente, a estatal afirme não ser responsável pelo planejamento da Rio e garanta que a compra das ações ainda não foi fechada, pois aguarda aprovação do Ministério da Fazenda para prosseguir com as demais aprovações dos órgãos estatutários.
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A “morte e vida joaquina” da microeconomia
27/01/2015A agenda microeconômica de que o Brasil precisa já deveria ter começado há um século. Em um mundo idealizado, Joaquim Levy faria imediatamente uma convocação cívica ao economista Marcos Lisboa – o tucano José Roberto Mendonça de Barros também é talhado para o cargo, mas seu custo político o inviabiliza. “Marquinhos” tocou uma espécie de gabinete de desatar nós microeconômicos durante a gestão Antônio Palocci, herdando o portfólio de ideias da chamada “agenda perdida”. Foi levado por Palocci, tal qual Levy por Dilma Rousseff, sem lenço nem ideologia, por puro pragmatismo. É bom de ouvir que a agenda micro não dói; já a macro machuca. Por isso tudo, ajuste austero deve ser amaciado com um programa microeconômico. Enquanto o “Darth Vader Levy” está mandando bala, cortando aqui e estripando acolá, esse outro rincão do Ministério da Fazenda, ou quiçá do Planejamento, estaria dedicado a trabalhar para o lado bom da força, lubrificando a engrenagem econômica, sem subsídios financeiros ou incentivos fiscais. A agenda micro desburocratizaria a economia, resgataria o programa draw back verde amarelo, ao mesmo tempo em que reduziria os entraves a s importações consideradas fundamentais para o aumento da produtividade. Livraria a Petrobras da obrigatoriedade de participação da exploração em todos os campos de petróleo. Com base na moderna teoria de leilões, simplificaria as licitações para as concessões, instituiria o project finance pleno, reestruturaria o sistema de financia- mentos do BNDES, compartilhando suas operações com a banca privada, de forma a estimular sua participação em empréstimos de longo prazo. A agenda micro iria além. Criaria um sistema de prestação de contas dos bancos públicos – BNDES, Banco do Brasil, Caixa Econômica etc – obrigando a divulgação de argumentos socioeconômicos pelas quais estas instituições decidiram emprestar eou participar do capital de empresas. Agilizaria os licenciamentos ambientais. Levaria para o Palácio do Planalto alguns gabinetes que deveriam ser plenipotenciários, tais como o de regulação das obras e concessões prioritárias. O ex-presidente da Vale Eliezer Batista, em entrevista ao RR publicada na edição nº 4.999, disse que o gabinete da Agência Nacional de aguas (ANA) deveria ser transferido para a própria Presidência da República. Um sapecão de boas notícias permitiria a Joaquim Levy praticar as necessárias perversões sem parecer que a economia está circunscrita somente a cortes e despesas torturantes. O ministro da Fazenda, caso decida caminhar nessa direção, tem um naipe de ouro em suas mãos. Basta ir buscar o bom e velho professor Aloisio Araújo, que veste a camisa 10 nesse assunto, e os professores Ruben Penha Cysne, Roberto Castello Branco e Sergio Werlang, uma turma da FGV, que, em nome da amizade e respeito a Levy, provavelmente aceitaria colocar as mãos na massa. O Brasil só perde mais essa oportunidade para dar uma melhoria na sua produtividade se quiser. Ou se Dilma não deixar.
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Gávea Investimentos enjoa do repetitivo cardápio da Camil
23/01/2015Houve um momento em que a família Quartiero, dona da Camil Alimentos, sentiu o gostinho de ser sócia do futuro ministro da Fazenda. Efêmero sabor. Ficou sem o ministério e agora deverá perder o parceiro: o Gávea Investimentos, de Armínio Fraga e do JP Morgan, procura um comprador para a sua participação de 32% na empresa. Os atritos entre a gestora de recursos e os acionistas controladores da Camil chegaram ao seu limite. A maior das divergências diz respeito a política de aquisições conduzida pelos Quartiero. Em quatro anos, a companhia comprou quase uma dezena de ativos, inclusive no exterior. Com isso, aumentou receita, ganhou peso e consolidou- se com um dos maiores conglomerados da área de alimentos. Em contrapartida, o lucro da Camil tem caído seguidamente nos últimos dois anos. Na ótica financista do Gávea, um efeito colateral imperdoável, tanto quanto o impacto das aquisições sobre o balanço da empresa. Desde 2012, o passivo subiu quase 50% e já beira a marca de R$ 1 bilhão. Há dois anos, a dívida equivalia a aproximadamente 60% do patrimônio líquido. Hoje, esta relação é de um para um. Já há algum tempo o Gávea Investimentos defendia uma freada de arrumação na Camil, com a suspensão de novas aquisições e o foco na renegociação da dívida – ver RR edição nº 4.876. Foi voto vencido. A gota d’água, ou melhor, os dois pingos que fizeram o copo transbordar vieram em dezembro passado. No início do mês, a Camil fechou a compra da trading peruana Romero, especializada na comercialização de cereais e outros produtos agrícolas. No mesmo período, teria iniciado negociações para a compra da Copagro, produtora de arroz de Santa Catarina. Entre se confrontar ainda mais com a família Quartiero ou arrumar as malas, o Gávea preferiu seguir a velha máxima de que “os incomodados que se mudem”.
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Em 2015, RR promete notícias de arrepiar
30/12/2014O assinante do Relatório Reservado não precisou esperar pelo café da manhã de Dilma Rousseff com os jornalistas que cobrem o Palácio do Planalto. A notícia sobre a abertura de capital da Caixa Econômica chegou primeiro no RR, mais precisamente no dia 24 de outubro, dois meses antes de Dilma anunciar o projeto. E quantos ministros da Fazenda cabem no noticiário? Bem mais do que os dedos das mãos podem contar. Em meados de novembro, já eram 18 os cotados pela mídia para assumir o posto de Guido Mantega. Pois no dia 17 de novembro, o RR trouxe em primeira mão o nome de Joaquim Levy como o mais forte candidato ao Ministério da Fazenda. Quando todos especulavam sobre a possível indicação de Luiz Carlos Trabuco, esta publicação dizia que o personagem “egresso do mercado, com o aval de Lula e capaz de mexer com as expectativas do empresariado” estava, sim, no Bradesco, mas “alguns andares abaixo da presidência do banco”. Levy era o “Trabuco possível” para o Ministério, cravou o RR. Dez dias depois, o ex-secretário do Tesouro era formalmente anunciado como o substituto de Mantega. Ao longo de 2014, o RR fez o que faz há mais de 40 anos: antecipou informações, revelou hoje o M&A de amanhã, descortinou a intimidade decisória das maiores corporações do país, escreveu a crônica do desamor societário, anteviu os movimentos de grandes líderes empresariais, auscultou os principais gabinetes da República. _____________________________________________________________________________________ O RR noticiou o IPO da Caixa Econômica dois meses antes de Dilma anunciar o projeto _____________________________________________________________________________________ Acompanhou o processo eleitoral sem jamais se esconder atrás dos fatos. Opinou sem ser partidário, interveio sem perder a independência. Tudo com o olhar atento e privilegiado dos que caminham nas coxias. O Relatório Reservado orgulha-se dos seus números. Em 2014, publicamos 2.110 notícias. Entre corporações, empresários, executivos e autoridades, a galeria de citados somou mais de 500 nomes. Destrinchar tais estatísticas é como gerar um eletrocardiograma do noticiário corporativo no ano. E, neste caso, nenhuma outra empresa teve tantos episódios de taquicardia quanto a Petrobras, por razões mais do que óbvias – e lamentáveis – a companhia mais mencionada no RR em 2014, com 82 registros. _____________________________________________________________________________________ Em 2014, publicamos 2.110 notícias, com mais de 500 nomes citados _____________________________________________________________________________________ O RR, ressalte-se, não caiu na armadilha do linchamento corporativo que, em muitos momentos, tem pautado a cobertura sobre o “petrolão”. Ao longo do ano, procurou separar a Petrobras, um símbolo do Brasil, da quadrilha que lá se instalou, por mais que os meliantes tenham se empenhado para evitar esta decantação e emporcalhar o nome da companhia. Entre as empresas mais citadas em 2014 figuram ainda nomes como Itaú, Eletrobras, Cemig, Previ, Votorantim e… BTG Pactual, o segundo no ranking de assiduidade no RR. E como uma publicação especializada em negócios e finanças poderia escrever sobre fusões, aquisições ou grandes costuras societárias sem mencionar o banco de André Esteves, quase que onipresente nas maiores operações de M&A no país? Entre os nomes mais poderosos do país, ninguém foi mais citado do que justamente o nome mais poderoso do país. Dilma Rousseff contabilizou 125 menções. O segundo? Ora, o segundo: Aécio Neves surgiu no RR em 54 edições. A diferença, claro, reflete o período do “mandato” de cada um. As referências a presidente da República se espalham ao longo do ano. No caso de Aécio, as notícias ficaram concentradas durante o período eleitoral. Se bem que o tucano, por vezes, parece realmente acreditar que as eleições ainda não acabaram. Se Petrobras e BTG Pactual pontificaram no noticiário, nada mais natural que Maria das Graças Foster e André Esteves estejam entre os mais citados no RR em 2014. Este rol inclui ainda figuras como Benjamin Steinbruch, Jorge Paulo Lemann, Rubens Ometto, Jorge Gerdau, Roberto Setúbal e Abílio Diniz. Por falar em Abílio, ao apagar das luzes de 2014, no dia de 16 de dezembro, o RR informou que o empresário preparava “sua ceia de Natal no Carrefour”. Dois dias depois, era anunciada a venda de 10% do Carrefour Brasil para o ex-controlador do Pão de Açúcar. Há também o caso daqueles que estão se despedindo do ranking dos mais citados. Muito provavelmente Guido Mantega não estará entre os “mais mais” do RR em 2015. Já Joaquim Levy… Em 2015, o Relatório Reservado espera ser ainda mais Relatório Reservado: informativo, analítico, ácido, pero sin perder la ternura jamás, e, acima de tudo, “furão”, como diz o jargão jornalístico. Como qualquer publicação que carrega o compromisso com a antecipação do fato, o RR convive permanentemente com o risco do erro, até porque seu perfil editorial abre espaço para notícias com algum componente especulativo. _____________________________________________________________________________________ Em 16 de dezembro, o RR informou que Abílio Diniz preparava sua “ceia de Natal no Carrefour”. Bingo! _____________________________________________________________________________________ No entanto, o índice de acertos é muito superior a coluna dos passivos. Arthur Hays Sulzberger, que comandou o The New York Times de 1935 a 1961, costumava dizer que “a notícia é um relatório de conflitos, e, a s vezes, os jornalistas, em seu ofício, tornam o fundo mais escuro e as sombras mais profundas do que realmente são”. O que fazer, se a melhor notícia, na maioria das vezes, está nas sombras… O que não está nas sombras é o agradecimento do Relatório Reservado a seus assinantes. O RR volta a circular na sexta feira, 2 de janeiro. A todos, um Feliz 2015!
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Elegância e decadência na recepção Á equipe econômica
27/11/2014* O novo ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, será tosquiado no cargo. Barbosa vai tomar conta de toda a política microeconômica do governo. Entre os espinhosos abacaxis estão a retomada do programa de concessões, as reformas tributária e previdenciária e o redesenho do BNDES, incluindo uma elevação da TJLP que vai deixar os empresários sem achar graça nenhuma. Para completar, ele deverá ser o futuro presidente do Conselho da Petrobras. * Joaquim Levy entrará no Ministério da Fazenda com o pé direito caso se confirme o convite a Eduarda La Rocque para assumir a Secretaria do Tesouro. “Duda” é um enclave da PUC-RJ na nova equipe econômica, o que era impensável com Guido Mantega. Mas pode até ser que exista alguma dose de maquiavelismo neste movimento. Seria uma forma de calar as previsíveis críticas de Armínio Fraga, Gustavo Franco e cia. * Saem a PUC-Rio de FHC e a UFRJ de Lula e Dilma I e adentra o gramado a Fundação Getulio Vargas. Joaquim Levy terá toda e mais alguma colaboração da FGV, que está eufórica com a sua indicação. Levy poderá contar particularmente com a luxuosa colaboração do professor Aloisio Araújo, o mais bem equipado economista matemático do Brasil. Araújo, no seu estilo discreto, quase invisível, contribuiu intensamente com o próprio Levy durante o governo Lula I. * Os recorrentes manifestos de protesto escritos por intelectuais de esquerda estão não só perdendo o significado, como parecendo formas vazias de afirmação de personagens que deixaram de ter protagonismo na vida pública. São abaixo-assinados contra medidas que ainda não foram adotadas e cenários econômico-sociais que não ocorreram. Atitudes típicas dos chamados “quinta coluna” ou de quem quer aparecer a qualquer preço.
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Josué Gomes é um nome talhado para o BNDES
25/11/2014Se a saída de Luciano Coutinho, talvez o maior quadro técnico do governo Dilma Rousseff, for mesmo confirmada, um dos nomes cotados para assumir a presidência do BNDES é o de Josué Gomes da Silva. O dono da Coteminas cairia como uma luva no comando do banco de fomento. Josué conhece o setor industrial como poucos. Sua indicação seria mais um movimento de Dilma para fazer a alegria do empresariado, notadamente dos industrialistas, e reconstruir uma ponte que permaneceu interditada durante boa parte do primeiro mandato. Ressalte-se que Luciano Coutinho já havia manifestado sua disposição de deixar o BNDES. Mas, atendendo a um pedido de Dilma Rousseff, prosseguiu no cumprimento da missão, em suas habituais jornadas diárias de até 15 horas de trabalho. A escolha de Josué Gomes da Silva para o cargo atende, em parte, aos reclames da esquerda, que se sentiu órfã com a definição dos novos ministros da área econômica. Apesar de empresário, o filho de José Alencar segue a linha nacional desenvolvimentista, o que já o torna bem-visto na corporação, historicamente filiada a essa corrente de pensamento. Josué esteve, inclusive, cotado para assumir o próprio Ministério do Desenvolvimento, mas foi preterido com a súbita escolha política de Armando Monteiro. Seu nome também chegou a ser mencionado para substituir Graça Foster no comando da Petrobras, um cargo, verdade seja dita, que o deixaria fora da sua zona de conforto. A presidência do BNDES é um figurino que lhe veste sob medida. A não confirmação para o posto representará uma injustiça sob os mais variados aspectos. Josué Gomes da Silva carrega o legado de José Alencar, cuja presença no governo Lula foi fundamental para viabilizar a interlocução com o empresariado. Josué esteve o tempo todo ao lado do ex-presidente, a começar pelas discussões no Instituto da Cidadania. Não apenas esteve cotado para assumir o Ministério da Fazenda ainda no atual mandato de Dilma Rousseff como sinalizou que, se fosse designado, sacrificaria sua candidatura ao Senado. Caso Dilma venha a abrir mão da presença do empresário em seu governo, será também um desperdício político. O herdeiro de José de Alencar contabiliza um valioso ativo: os mais de 3,6 milhões de votos que recebeu para o Senado. Ainda assim, se a presidente da República realmente descartá-lo, haveria outros caminhos para Josué Gomes da Silva – além, é claro, de seguir no comando de seu potentado empresarial. Um deles seria assumir uma super secretaria do Desenvolvimento e Indústria em Minas Gerais – consta que o governador eleito Fernando Pimentel já lhe acenou com o posto. Entre seus congêneres da indústria não falta também quem o estimule a se candidatar a presidência da Fiesp, posto que faria de Josué, de fato e de direito, o principal interlocutor do setor junto ao governo.
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Joaquim Levy é o “Trabuco” possível para a Pasta da Fazenda
17/11/2014Talvez o verdadeiro “Luiz Carlos Trabuco” – leia-se um nome para o Ministério da Fazenda egresso do mercado, com o aval de Lula e capaz de mexer com as expectativas do empresariado – esteja, sim, no próprio Bradesco, mas alguns degraus abaixo da presidência do banco. Joaquim Levy, diretor-superintendente da Bradesco Asset Management (BRAM), surge como um candidato de algibeira a substituir Guido Mantega. Aos olhos do mercado, a indicação seria vista como uma guinada de 180 graus em relação a chamada nova matriz econômica, uma política caracterizada por estímulos fiscais, crédito abundante a juros subsidiados e taxa de câmbio controlada. Seria praticamente um sinônimo de cumprimento da meta fiscal. Levy foi um dos mais ortodoxos secretários do Tesouro Nacional, cargo que ocupou no primeiro mandato de Lula. Durante os três anos de sua gestão, o superávit primário se manteve, na média, acima de 3,5% do PIB. Desde então, o mais perto deste patamar que o resultado fiscal chegou foi em 2008 (3,4%). A escolha de Joaquim Levy cumpriria um novo requisito vazado pelas hostes palacianas: o de que o novo ministro da Fazenda não consta da lista de quase duas dezenas de nomes cogitados e badalados nas últimas duas semanas. Levy é o que pode se chamar neste momento de outsider. Está longe dos refletores e distante das páginas de jornais. Além da gestão no Tesouro Nacional, Levy carrega ainda em seu currículo uma bem-sucedida passagem pela Secretaria de Fazenda do Rio de Janeiro no primeiro mandato de Sergio Cabral. Na ocasião, ele conduziu um forte ajuste das contas públicas, período marcado pelo expressivo aumento da arrecadação fiscal. A fonte do RR ressalta que, se Levy chegar a Esplanada dos Ministérios, ele deve assumir o cargo munido de sal grosso e água benta e se dirigir, primeiro, ao gabinete de Arno Augustin. É lá que está concentrada toda a magia negra da contabilidade criativa.
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Graça pode ser presidenta e “delegada” da Petrobras
13/11/2014Alguém acha que Dilma Rousseff está demorando para indicar o ministro da Fazenda? Esperem, então, pela Petrobras. A piada que circula em Brasília relembra uma gague famosa de Mario Henrique Simonsen ao deixar a pasta do Planejamento. Simonsen referia-se a um episódio ocorrido na a“pera Scala de Milão. No palco, o tenor abria suas vísceras para dar o melhor de si. E a plateia vaiava. O tenor puxava um vendaval dos pulmões. E a plateia vaiava. Decidiu, então, retirar- se do palco. Não sem antes antecipar, com ar de vingança: “Aspetta il baritono”. Na vida real, o barítono viria a ser Delfim Netto, seu sucessor no ministério. De volta aos dias de hoje, Dilma divide-se entre retirar o mais brevemente possível seu alterego Graça Foster da presidência da Petrobras ou deixá-la no cargo por mais um tempo, não apenas como executiva, mas também e principalmente como delegada. Dilma acha que a melhor resposta do governo é investigar, vigiar e punir, conforme repetiu em toda a campanha eleitoral. Caberia a executiva repetir o mantra em seu gabinete. Depois da provação e da faxina geral na Petrobras, Graça seria conduzida a um cargo prometido, bem longe da estatal. Por essa ótica, a Petrobras estaria em um limbo, esterilizada, fora de qualquer negociação política. E Graça teria todas as cartas na mão para higienizar a companhia. A versão reve- la uma tamanha disposição presidencial ao risco que aparenta ser piada. Só que Dilma não é o tenor que sai, nem Graça o barítono que entra. Ao consenso até então reinante sobre uma troca rápida da presidente da Petrobras e seus diretores, contrapõe-se essa visão alternativa, que estaria sendo suportada por um conselho do onipresente ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante. A recomendação é de que Dilma Rousseff deveria ter sua estrutura própria de acompanhamento do desenrolar dos fatos na Petrobras, algo como um shadow cabinet – expressão da moda em Brasília. Em síntese, seriam os olhos de Dilma na estatal. Não que a presidenta tenha perdido a confiança na amiga Graça Foster – é mais fácil ela convidar José Serra para a Fazenda. Mas o novo sistema ampararia “Graciosa”, que vai sofrer uma pressão brutal. Graça será simultaneamente a mais poderosa, fiscalizada e atacada presidente da Petrobras de todos os tempos. O maior conforto, lógica política, preocupação com os mercados e cuidados com a sensível situação da estatal recomendam uma limpeza ampla, geral e irrestrita no alto comando da companhia. No entanto, as duas mulheres em questão são conhecidas por escolherem caminhos pedregosos, repletos de risco e sofreguidão. Tomara que a história, do fio a meada, seja um chiste. Mas parece que não é.
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Deserções
12/11/2014Marcio Holland, secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, tem passagem de ida para dar aula na FGV de São Paulo. *** O diretor de política econômica do Banco Central, Carlos Hamilton Vasconcelos Araújo, já tem uma cadeira reservada em uma instituição financeira, para onde irá logo após o cumprimento da quarentena. Vai se somar aos mais de meia centena de ex-BCs que militam na banca privada. *** Valter Cardeal, diretor de geração da Eletrobras, já pode ser dado como a primeira carta fora do baralho da estatal para 2015.
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Wagner e Meirelles saem na dianteira
28/10/2014“Eleição nova, governo novo, equipe nova.” Ontem, as bolsas de apostas do mercado levaram ao pé da letra a declaração da presidenta Dilma Rousseff. Entre os ministérios mais relevantes, Jacques Wagner – acredite se quiser – superou Nelson Barbosa na pasta da Fazenda. Wagner se cercaria de uma boa equipe técnica, com nomes respeitados no mercado, a exemplo de Otaviano Canuto. Fala-se até que Joaquim Levy, hoje no Bradesco Asset Management, retornaria ao posto de secretário do Tesouro, que ocupou no governo Lula I – cargo, diga-se de passagem, carente de forte higienização depois de ter sido satanizado por Arno Augustin. No BC, Henrique Meirelles toma a dianteira, seguido de perto pelo atual nº 1 da autoridade monetária, Alexandre Tombini. Se essa composição der certo, o segundo mandato de Dilma repete os governos Itamar Franco e Lula I, ambos sem ministros da Fazenda “profissionais”, digamos assim. Para quem não se lembra, o sociólogo Fernando Henrique Cardoso debutou na economia no governo Itamar, e o médico Antônio Palocci estreou no mesmo posto conduzido pelo comandante Lula. Palocci, aliás, continua no páreo. Não fosse o passivo de questionamentos a lisura do seu comportamento, estaria léguas a frente de Wagner. O ex-presidente Lula defende que o custo Palocci é muito menor do que seu benefício. Mas a presidente Dilma, segundo apostadores de tradição, acha que se é preciso emplacar um da dupla, Meirelles é politicamente o mais soft, mesmo que menos afinado ao seu temperamento. Dilma está convencida de que o BC será o que já é: autônomo. Portanto, colocar no seu comando o pomposo Meirelles já não representaria o mesmo incômodo. De qualquer forma, a presidente pensa em uma novidade: antes da definição dos quadros da economia, Dilma enviaria formalmente, na função de interlocutores do governo para reuniões com o setor financeiro e o empresariado, Antônio Palocci, Henrique Meirelles, Jacques Wagner e, inclusive, Aloizio Mercadante – sim, por mais modorrentas que sejam as expectativas geradas por “Mercadados”, ele está no jogo. Como pode se ver, as apostas são de que Dilma sinalizará mudanças que excitarão gulosamente as papilas gustativas do mercado. Se o sabor realmente será apetitoso, só o tempo dirá.
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IPO da Caixa Econômica entra na agenda de 2015
24/10/2014Guido Mantega já está arrumando os seus pertences, mas vai deixar sobre a mesa, a espera do próximo titular do Ministério da Fazenda, um projeto já devidamente apreciado pela presidente Dilma Rousseff: a abertura de capital da Caixa Econômica Federal. A inspiração da iniciativa vem do BTG Pactual, candidatíssimo a assumir a modelagem da operação. Aliás, o banqueiro André Esteves já tem um pé na Caixa, sua sócia no Pan Americano. Trata-se de um projeto que cabe tanto em um segundo mandato de Dilma Rousseff, que naturalmente ampliará os programas sociais pendurados no banco, quanto em um governo de Aécio Neves, levando-se em consideração o gene privatista dos tucanos – ainda que, a rigor, não seja exatamente este o caso. Independentemente do resultado das urnas, não faltam motivações para o IPO da CEF. O governo precisará de funding para tocar os pesados investimentos em infraestrutura. Para 2015, a estimativa é de que o banco financie quase R$ 40 bilhões em projetos estruturantes. A capitalização da Caixa via mercado contribuiria também no amealhamento de recursos para a redução do passivo para-fiscal produzido pelas operações do Tesouro com o BNDES. Ressalte- se ainda que o custo dos programas sociais bancados pelo banco tende a subir, a medida que o governo avance nessa área. Um exemplo é o “Minha Casa Minha Vida”. Neste ano, os empréstimos no âmbito do programa somarão cerca de R$ 16 bilhões. Para o próximo ano, a conta prevista passa dos R$ 19,3 bilhões. O desafio seria conjuminar as duas “Caixas” que sempre coabitaram sob o mesmo teto – o banco comercial e a agência de fomento social – dentro de um novo ambiente societário, que traria a reboque exigências ainda maiores em relação a governança corporativa. Não chega a ser uma hidra de sete cabeças. O exemplo mora ao lado. Historicamente, salvo um ou outro encontrão mais brusco, o Banco do Brasil sempre conseguiu harmonizar os interesses do acionista majoritário, a União, e dos investidores minoritários. Seu próprio figurino acionário serve de referência para um eventual IPO da CEF. O governo manteve a participação mínima necessária para seguir no mando do BB: 50,73% – ainda que muitos incluam nesta conta os 10% do banco pertencentes a Previ. Em tempo: sob a ótica do mercado de capitais, o que todo investidor cobiça a Caixa tem de sobra, ou seja, lucro. Se quisesse, a CEF poderia até adotar o slogan “O banco social mais rentável do mundo”. Na última década, o retorno sobre o patrimônio marcou uma média anual de 26,1%, com pico de 30,6% em 2008.
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Aécio tem um figurino sob medida para Marina
16/10/2014Armínio Fraga, previamente nomeado para a Fazenda, não será a estrela solitária de um eventual governo de Aécio Neves. Há um lugar especialmente reservado para Marina Silva, um cargo criado a sua imagem e semelhança, mas que, por ora, não pode ser mencionado pela campanha tucana, sob pena de criar um efeito contrário. Marina ocuparia o futuro Ministério do Meio Ambiente e da Reforma Agrária. A nova Pasta permitiria a ex-candidata ser guardiã de suas principais bandeiras: o desenvolvimento sustentável e a divisão de terras improdutivas, temas-chave nas negociações para o apoio a Aécio. Inicialmente, o PSDB cogitou o nome de Marina Silva para as Relações Exteriores. O Itamaraty serviria de plataforma para Marina fazer proselitismo de temas que costumam sensibilizar a comunidade internacional, a começar pela própria agenda da sustentabilidade. No entanto, para Marina, a ida para as Relações Exteriores acabaria por diluir sua presença na cena nacional. Para quem negociou o fim da reeleição como compromisso fundamental para o apoio a candidatura Aécio, ficar encastelada no Itamaraty seria reduzir demasiadamente o espaço para fazer política com vistas a 2018. No caso da Pasta do Meio Ambiente e da Reforma Agrária, a questão é saber quem assumiria esse Frankenstein ministerial. Se for a Marina da última campanha, meno male. Já dá para conviver com agricultores, usineiros, reflorestadores e a comunidade dos transgênicos. Aos poucos, Aécio vai dispondo sobre a mesa os reis e rainhas que lhe farão companhia em seu eventual governo. Antonio Anastasia é dado como favas contadas para a Casa Civil. José Serra teria lugar no Ministério da Saúde – digase de passagem, um posto perto o suficiente para que Aécio pudesse acompanhar cada um de seus passos. Outros nomes cotados são os de José Roberto Mendonça de Barros para a Agricultura e de Pedro Passos, um dos sócios da Natura, no Planejamento – o empresário também é cogitado para o comando do BNDES. Rubem Barbosa, o embaixador dos tucanos, estaria com um pé no Itamaraty. Beto Albuquerque, por sua vez, é o nome talhado para assumir o Ministério dos Transportes. O ex-vice de Marina foi secretário da área no Rio Grande do Sul no governo de Olívio Dutra, integrou a frente parlamentar em defesa do trânsito seguro e participou da Comissão de Viação e Transportes da Câmara. Talvez por isso, tenha sido tão rápido em se engajar na candidatura de Aécio; o TSE ainda contabilizava os votos do primeiro turno e Albuquerque já virava o volante a direita. Entre todos estes nomes, um ponto em comum: caso estejam na Esplanada dos Ministérios em 2015, antes de chegar ao gabinete de Aécio Neves no Palácio do Planalto, provavelmente terão de passar pela sala de Andrea Neves. A “Primeira Irmã da República das Gerais” é pule de dez para o cargo de ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, cadeira hoje ocupada por Gilberto Carvalho.
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Palocci é o trunfo de Dilma contra o terceiro turno
1/10/2014Primeiro a presidenta Dilma Rousseff tem de pensar em ganhar as eleições e somente depois tratar do futuro governo? É tão óbvio como parece? Nem tanto quanto aparenta. Dilma tem um grupo de trabalho a frente do assunto, a começar pelo ex-presidente Lula, que tem sondado nomes para os cargos de maior importância. O ministro Aloizio Mercadante, por sua vez, matuta futuros planos de governo e estuda opções para outros postos de relevo, além do segundo e terceiro escalões. Em meio a essa movimentação, surge uma ousada conjectura: o ex-ministro Antônio Palocci seria reconduzido novamente ao Ministério da Fazenda. Reza a lenda que é Lula quem profetiza a escolha. Por essa versão, Palocci seria o “Armínio Fraga de Dilma”. E só não teria vestido o uniforme eleitoral para não incinerar a campanha da presidenta e a sua própria candidatura a ministro em um ambiente politicamente inflamável e suscetível ao jogo sujo. Trata-se de uma bala de prata no coração das trevas do empresariado em geral, e do setor financeiro, especificamente. Palocci simplesmente desapareceu. Viajou para o exterior. Não ajudou na arrecadação financeira. Em síntese, se poupou ao extremo. Curioso, não? O RR ouviu cinco grandes empresários sobre a hipótese de Palocci II, a missão. Todos os entrevistados foram taxativos de que Dilma, a não ser que haja um coelho na cartola, não tem outro nome capaz de influir nas expectativas apenas com sua presença no governo. A “era Mantega” reforçou a necessidade de um operador altamente crível. Palocci já foi chefe do Gabinete Civil no início do governo Dilma, tendo, a época, um papel mais influente do que o próprio ministro da Fazenda. Há quem diga que o temperamento forte de Dilma não é compatível com o dele, apesar de o ex-ministro ser um sujeito sabidamente jeitoso. Os novos tempos parecem exigir que Dilma abdique da sua obsessão em ser ministra plenipotenciária. Palocci seria o Senhor da Guerra contra a campanha de desestabilização que se desenha após as eleições, já alcunhada de “terceiro turno”. O maior óbice ao seu retorno seriam os seus rolos jurídicos. Mas os casos já estão devidamente julgados, sem nenhuma condenação. O episódio do caseiro Francenildo dos Santos Costa foi arquivado pelo STF por falta de provas. A acusação de que teria um apartamento alugado em nome de um laranja foi motivo de censura ética, o que não impede a sua volta ao governo. Em junho de 2012, a Justiça arquivou a investigação sobre a suspeita de lavagem de dinheiro. E, finalmente, em 2013, o Ministério Público de São Paulo requereu o arquivamento da investigação sobre sonegação fiscal e crimes tributários a ele atribuídos. Portanto, Palocci está prontinho para voltar. Mas Dilma tem de ganhar e concordar. Esta última é “que são elas”.
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A ausência de Guido Mantega
9/09/2014A ausência de Guido Mantega no ministério de um segundo governo Dilma Rousseff está provocando calafrios na indústria naval. Como integrante do Conselho Diretor do Fundo de Marinha Mercante (FMM), o ministro da Fazenda sempre foi visto como um ardoroso defensor da ampliação dos recursos para o setor. Desde 2006, quando ele assumiu o ministério, até 2013, o FMM desembolsou R$ 20,3 bilhões para a construção naval – a quase totalidade proveniente de aportes diretos do Tesouro. Em 2014 já foram aprovados mais R$ 5,3 bilhões até agosto. Especialmente preocupado, segundo fontes dos estaleiros, estaria o vice-presidente executivo do Sindicato da Indústria Naval (Sinaval), Franco Papini, cunhado de Mantega.
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Uma fonte do RR no Ministério da Fazenda
5/09/2014Uma fonte do RR no Ministério da Fazenda há muitos carnavais ligou para alertar que as núpcias entre a Bombardier e a Azul, anunciadas na edição de ontem desta newsletter, vão ter sim que obter as alianças das mãos do governo. E não será simples. A Embraer, que estaria sendo escanteada como fornecedora praticamente exclusiva, é peça estratégica na equação do saldo da balança comercial do Brasil. Comprar os aviões da Bombardier, por sua vez, joga dinheiro para fora do pais quando o déficit de transações correntes ameaça ficar periclitante. Portanto, se o negócio fecha, é difícil cravar. Certo mesmo é que a Azul e a Bombardier estão em conversas avançadas e que a aeronave da Bombardier é um upgrade em relação a da Embraer. Fica registrada a ponderação de instâncias superiores.
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Lágrimas de aço
22/08/2014Nem o Palácio do Planalto, nem o Ministério da Fazenda! Jorge Gerdau foi chorar suas pitangas no Banco Central. O presidente do BC, Alexandre Tombini, ficou constrangido com o pessimismo do empresário em relação ao atual governo.
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Será que Dilma vai deixar o Ministério da Fazenda?
12/05/2014A presidente Dilma Rousseff, na contramão da recomendação de conselheiros próximos, não quer dar um pio sobre o eventual substituto de Guido Mantega antes do resultado eleitoral. Pelo contrário. Vai congestionar o tabuleiro do xadrez com mais peças ainda. A indicação do presidente do BC, Alexandre Tombini, que poderia ser anunciado como futuro ministro da Fazenda antes das eleições ou mesmo suceder Mantega sem a realização do teste das urnas, foi colocada no congelador. Tombini ainda é o preferido nas casas de apostas. Seu perfil combina a perfeição com o estilo “Le ministre c’est moi”, de Dilma. Mas, até por isso, careceria de mais drive para reverter as expectativas pessimistas. Se dependesse de Lula, eterno padrinho de Dilma – eterno enquanto dure, diga-se de passagem -, o candidato a Fazenda seria o ex-secretário do Tesouro Joaquim Levy, atualmente dirigindo a Bram – Bradesco Asset Management. Levy traria para o governo uma pegada mais ortodoxa. Seria o Palocci da vez. Mas há uma questão: o que o mercado quer ouvir não é necessariamente o que Dilma pretende dizer. A presidente sente alergia ao receituário de Levy e, aparentemente, não tem intenção de escrever nenhuma carta aos brasileiros. Surge, então, outro nome: existe concordância entre Lula e Dilma de que Aloizio Mercadante cumpriria requisitos importantes para o cargo: carrega bom conhecimento de economia, foi formado na mesma universidade em que a presidente se diplomou – Unicamp -, tem boa circulação política, conversa com o empresariado e, o que é fundamental, goza da confiança de Dilma. Mas falta-lhe punch. Mercadante é um Mantega melhorado. E Luciano Coutinho? O quadro do governo mais festejado e trabalhado para a missão – e possivelmente o mais preparado – talvez nem saia da raia. Ficou politicamente muito desgastado com a campanha contra o BNDES e a política dos “cavalos vencedores”. Ah, para alguns, Luiz Gonzaga Belluzzo correria por fora. Provavelmente esses “alguns” não conhecem Belluzzo, que sofre de uma síndrome parecida com a do empresário Antônio Ermírio de Moraes frente a situações de pressão violenta. Ermírio chorava aos cântaros e reportava sua negativa a motivações de saúde. Belluzzo não chora, mas fica cheio de placas vermelhas e é acometido de uma rinite violenta. De mais a mais, Belluzzo não tem falado praticamente com Dilma. E quando lhe perguntam sobre ela, elogia a presidente, mas diz que é amigo do Lula. Outros queimados pertencem a turma dos Conselhos da Petrobras: Fabio Barbosa, Jorge Gerdau e Roger Agnelli. Todos foram cogitados em algum momento, mas, por motivos distintos, é melhor que nem passem na porta do Palácio do Planalto. Entre os empresários, dois nomes têm sido recorrentemente mencionados: Abílio Diniz e Josué Gomes da Silva. No entanto, pesa contra ambos a recusa ao convite da presidente para que assumissem o Ministério do Desenvolvimento, entre o final do ano passado e este ano. Foram pouco colaborativos em um momento em que deveriam mostrar disposição cívica. O mais provável mesmo é que, no final, emplaque um ovo poché num consommé, ou seja, o nome de Alexandre Tombini. Seria eufemismo para a manutenção de Dilma Rousseff como ministra de fato da Fazenda.
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A dobradinha de “Bob” e “Fields”
25/04/2014Eduardo Campos adoraria ter Roberto Setúbal no seu governo. Maria Alice Setúbal, irmã do banqueiro, tem uma relação quase fraternal com Marina Silva. E “Bob”, como Campos o chama carinhosamente, já está com um pé na compulsória: deverá deixar a presidência do Itaú no ano que vem. Roberto Setúbal como se sabe, é tucano até a medula, mas, como diz o dito popular, “na falta de tu, vai tu mesm”. Eduardo Campos gostaria de anunciar o nome de “Bob” antes das eleições. E quanto ao cargo? Segundo um informante especialíssimo, a dupla Campos e Marina é taxativa: “Bob” vai para onde quiser. Mas a pule de dez é mesmo o Ministério da Fazenda. Com o Unibanco no bolso e o cargo de manda chuva da economia, “Bob” seria o Walther Moreira Salles reencarnado, com as ressalvas quanto ao estilo e a elegância incomparáveis do embaixador.
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Candido Bracher dispara na sucessão do Banco Itaú
28/02/2014Candido Botelho Bracher, o “Candinho”, se autodesignou sucessor de Roberto Setúbal na presidência do Itaú – o apêndice Unibanco da marca sempre foi um artificialismo. A candidatura patrocinada por ele mesmo não chega a fugir aos cânones. “Candinho” vem de uma linhagem nobre de banqueiros – é filho de Fernão Bracher, ex-presidente do Banco Central – e comanda o Itaú BBA, um dos negócios mais celebrados da holding dos Setúbal. Não tem o sangue azul dos donos, mas sobra-lhe determinação, predicado que ajudaria a demover o patriarca da ideia de adiar um pouco mais sua aposentadoria compulsória. No ano passado, Setúbal alterou os estatutos do banco, alongando o deadline dos 60 para os 62 anos hoje, ele tem 59. A mudança, ressalte-se, se deu na linha do “partido do eu sozinho”; valeu apenas e tão somente para o cargo de presidente do Itaú. Se depender da ala mais jovem do banco, “Candinho” é bem-vindo. Ganha de goleada do candidato Ricardo Villela Marino, neto de um dos fundadores e, então, principal acionista do banco, Eudoro Villela, um dos anjos negros do grupo de empresários que derrubou a democracia e provavelmente o homenageado com o lançamento de uma agenda-brinde do Itaú saudando a Revolução de 1964 – ver RR edição nº 4.814. Se destronar Roberto Setúbal, “Candinho”, que é bem mais agressivo, empurrará ainda mais para o ostracismo o outro acionista principal do Itaú, Pedro Moreira Salles. Este último poderá exercer um talento temporão para ganhar milhões de reais no anonimato. Por enquanto, no banco as conspirações estão em suspenso. Foram abaladas pelo ato falho dos dizeres na agenda: a revelação de antigas preferências ideológicas, nem tão secretas assim, pois sempre foi de comum conhecimento que, depois de Dr. Gastão Bueno Vidigal, potentado do Banco Mercantil de São Paulo, os senhores controladores do Itaú eram o bolso do golpe militar. Os aristocratas radicais, porém sinceros, do sistema bancário hoje mudaram de foco. Fazem campanha aberta contra o”governo do Lula”. Assim são chamados, no quartel da Praça Alfredo Egydio de Souza Aranha, todos os mandatos do PT. A exemplo do que fizeram tanto no autêntico governo do “operário” quanto no de Dilma Rousseff, o departamento econômico do Itaú dispara, sem piedade, seus mosquetões contra as políticas do Ministério da Fazenda e do Banco Central. Mas março, mês da “Redentora”, há de chegar e com ele retornam as articulações nos bastidores. Ao que tudo indica, somente Roberto Setúbal poderá abortar o destino pertencido de “Candinho”, promovendo um golpe branco capaz de adiar a sua aposentadoria compulsória. Não será a primeira vez. Induzido pelo desespero das crises premonitórias de um ócio desolador – segundo uma fonte próxima, atravessou dois momentos de melancolia, recentemente – voltaria a virar a mesa, protelando a saída do banco. Mas não parece aconselhável, contudo, apostar em uma quartelada bancária em meio ao arrastado processo sucessório. Aliás, para quê? O Itaú já gasta suas energias fazendo revoluções através da sua folheteria de mau gosto. É “Candinho” na cabeça!
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Basta de Guido Mantega na Fazenda!
13/01/2014Ainda é apenas um embrião de ideia. Mas já surge como um ser vivo a compreensão de que dois problemas do governo devem ser atacados na campanha eleitoral de Dilma Rousseff. São candidatos a recauchutagem ou mudança a interlocução da área econômica – leia-se o próprio ministro da Fazenda, Guido Mantega – e a baixa autocrítica do governo. O Planalto já decidiu que não irá mais polemizar sobre assuntos econômicos com os opositores. O recado foi dado pela ministra Gleisi Hoffmann, com um subtexto de que acabaram as discussões pela imprensa. Demorou para Dilma e cia. compreenderem que são minoritários entre os economistas, hegemonicamente de centro-direita e de direita. Na vulga ciência econômica há sempre um contrafactual e um contraditório perfeito. Exemplos: se foi reduzida a dívida líquida em relação ao PIB, aumentou-se a dívida bruta; se os juros baixam, sobe a pressão cambial; se a taxa de desemprego se reduz expressivamente, puxa-se o cobertor curto da inflação; se faz-se uma política de expansão keynesiana, pratica-se um haraquiri fiscal e por aí vai. Uma parcela da crítica dos economistas é construtiva – tais como a discussão da revisão dos subsídios -, mas outra tem por objetivo central a alternância de poder. Por isso é que no Palácio do Planalto brinca-se com a ideia da criação de um programa “Mais Economistas”. O princípio da autocrítica seria entronizado como parte da campanha. O governo conseguiu evitar a derrocada de setores da economia, uma queda ainda maior do PIB, perda de competitividade ainda mais acentuada, além de atrair investimentos privados e obter espetaculares resultados na área social. No entanto, ocorreram insuficiências, ainda que bem menores do que buzina a oposição. Agora é preciso rever e discutir tudo isso, a luz do sol, propondo, por exemplo, alguma instância que analise com independência o retorno efetivo das medidas do governo para a sociedade – geração de valor adicionado, impostos, empregos, competitividade dirigida e sistêmica, preços etc. Confessar o cipoal burocrático, regulador e fiscalizatório é um outro bom começo. Propor a criação de uma pasta parecida com o Ministério da Desburocratização de Hélio Beltrão soa como música. Dilma deve colocar esses e outros assuntos na roda. Corrigir é a palavra benta. O problema maior, contudo, está dentro de casa. O ministro da Fazenda tem sido um dilapidador da credibilidade governamental. Gosta de bater boca. É chover no molhado enumerar as trapalhadas de Guido Mantega. O episódio mais recente foi o anúncio de um superávit primário mais alto – para acalmar os “nervosinhos” – acompanhado da descoberta de lançamentos maiores de contas a pagar e ordens bancárias no Siafi, com a retirada dos dados do portal no dia seguinte. Durante todo esse tempo, Dilma foi Mantega, anulando sua existência como condutor da economia. O ministro da Fazenda, de fato, tem sido a presidente da República. Se essa transmutação serviu ao governo antes, agora tem sido um baita problema. Dilma não pode mais ser Mantega. Com a reforma ministerial chegando, a solução é simples: “Basta de Guido Mantega!”
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Graça Foster celebra seu Natal em janeiro
12/12/2013A serenidade demonstrada por Maria das Graças Foster nos últimos dias provavelmente tem menos relação com o clima de cordialidade natalina do que supõe a vã filosofia. Graça está leve e solta porque tem guardado em seu íntimo o compromisso da própria Presidência da República de que 2014 será menos dramático para a Petrobras. Informações preciosas obtidas pelo RR indicam que o Ministério da Fazenda já tem em sua programação um aumento dos preços dos combustíveis para o mês de janeiro. O carinho, digamos assim, na realidade é praticamente um carry over do aumento pedido pela diretoria da estatal e negado pelo ministro Guido Mantega em um episódio que provocou desgastes até no âmbito da Presidência da República, mas machucou especialmente a timoneira da Petrobras. A título de recordação: na última reunião do Conselho de Administração, realizada em 29 de novembro, foi aprovada uma majoração da gasolina e do diesel de, respectivamente, 4% e 8%, quando, na véspera, os percentuais solicitados de 6% e 12% vazaram para toda a imprensa como decisões líquidas e certas. Os 2% e 4% faltantes virão no primeiro mês do ano, no bojo de uma “nova política” de correção dos preços dos combustíveis. A tal política é um modelo indevassável até para a lupa eletrônica de Eric Snowden. Há quem diga que sequer exista, respondendo mais a s necessidades de controle da inflação do que a qualquer modelo de cálculo. Mas por que janeiro, do signo de aquário, do início do calendário, teria sido o mês escolhido para o anúncio grandiloquente? Nada é a toa. A sinalização no início do ano otimiza as expectativas e acena com um tempo de bonança para a empresa. A Petrobras está se derretendo no mercado e prosseguirá sofrendo buylling das agências de rating, notadamente devido aos nefandos valores dos combustíveis. Essa mesma entropia dos preços vem sendo apontada como o principal fator de influência nas péssimas avaliações das demais empresas de exploração de petróleo. E Guido Mantega sabe muito bem que as linhas da Petrobras se cruzam com o Risco Brasil. As agências de rating não são tolas e estão carecas de saber que, em algum momento, a política de controle artificial da inflação com base na contenção dos preços dos combustíveis ? somada a um mega orçamento de exploração de petróleo a ser cumprido ? vai bater no caixa da União, e no resultado primário das contas fiscais e na dívida líquida. Janeiro, portanto, é o “mês da vida”. O esquartejamento da correção dos preços teve motivações de toda ordem. Ajudou a empurrar o impacto do reajuste da inflação de 2013 para o ano vindouro. Acalmou os brios feridos do ministro Guido Mantega com o voluntarismo da diretoria da Petrobras em anunciar uma nova fórmula de cálculo dos preços dos combustíveis, assim como com a tentativa de imposição do percentual de reajuste de “dentro para fora”. Como tudo tem um preço, sobrou para Graça Foster o custo de um arranhão na imagem. Mas a presidente da Petrobras joga cartas com Deus. Quando diz que “é obediente”, sabe que não somente ela, mas toda a nação “petrobraliana” será recompensada, ainda que com os farelos do panetone deste Natal.
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Lágrimas de petróleo na Avenida Chile
28/11/2013Se o script que estava sendo ensaiado ontem no Ministério da Fazenda for seguido a risca, Guido Mantega anunciará, hoje, o aumento do preço dos combustíveis. Mas com um detalhe: a correção somente ocorrerá em janeiro, e o percentual de majoração será um tiquinho. Mantega daria uma entrevista a imprensa após a reunião do Conselho de Administração da Petrobras, o qual preside. Conforme o mesmo roteiro, a presidente da estatal, Maria das Graças Foster, não participaria, evitando que perguntas constrangedoras pudessem ser dirigidas simultaneamente para um e para outro. O ministro deverá descartar qualquer regra de correção dos preços que signifique uma indexação aos valores praticados no exterior e permita ao mercado antecipar futuras variações. O argumento é que a construção dessa política de preços ficará vinculada ao aumento da produção da Petrobras, o que permitirá reduzir a pressão cambial. Por enquanto, a regra são preços administrados. Mantega diz a boca pequena que a estatal é suficientemente recompensada para aguentar mais um pouquinho o tranco – só não se saque que recompensas são essas. Se falar isso dentro da empresa, será linchado. A maior preocupação do ministro, contudo, é a pergunta sobre o grau de influência negativa que o confisco ex ante no orçamento da Petrobras e a despudorada relação entre controle da inflação e preços de combustíveis artificialmente contidos podem ter na avaliação das agências de rating. Se desse, Mantega adiava de novo a reunião.
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Mantega aperta o nó da Petrobras
6/11/2013Apesar do que se tem dito, o ministro Guido Mantega não pretende aprovar o reajuste dos combustíveis ainda neste ano. Segundo uma fonte da Fazenda, no que depender da sua vontade, Mantega empurrará para janeiro qualquer mexida, que, mesmo assim, deverá ser um grãozinho de areia. Mais uma vez, a Petrobras será condenada a condição de pobre menina rica; tem muito e pouco pode. Ao contrário do seu histórico de uma república quase independente, a companhia tem perdido praticamente todos os embates – investimentos, preços, orçamento, subsídios, participação compulsória no pré-sal etc. – desde o governo Lula. O curioso é que esse cenário se acentue na gestão de Dilma Rousseff, ex-presidente do Conselho de Administração da Petrobras e amiga e alma gêmea da já lendária Maria das Graças Foster. A executiva tornouse uma estátua de sal devido a manipulação da empresa como um dos instrumentos de combate a inflação. A perda mais recente da estatal foi a recusa do próprio Mantega, (anti)presidente do Conselho da companhia, em indexar os preços dos combustíveis aos praticados no exterior. O ministro não aceita qualquer regra que permita ao mercado antecipar a correção dos valores, transferindo para a Fazenda os desígnios sobre a área mais sensível da Petrobras. O nó nos preços combinado com a hipertrofia do orçamento embaralham a área de exploração, os planos de refino, enfim, os investimentos em geral da Petrobras. Tira o sono dos 85 mil empregados da companhia, a começar pela própria Graça Foster. Mantega também resiste a ideia de uma “lei de responsabilidade fiscal do Tesouro” em relação a estatal, o que exigiria lançar no orçamento da União os recursos rapinados da Petrobras com o congelamento de preços – uma espécie de conta-petróleo sem subsídio. O Ministério da Fazenda também não quer ouvir falar em aumento de capital da companhia, mesmo que por meio de um expediente heterodoxo, algo que levasse em consideração contabilidade criativa e/ou uso de reservas cambiais. Sobra para a estatal o eterno suspense em relação a carestia. Seus planos dependem do resultado da inflação, que depende, no modelo perverso da Fazenda, da esterilização da companhia. Tristes dias esses da Petrobras.
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“Síndico da Aneel” barra a construção de 700 PCHs
5/11/2013Nem Romeu Rufino, diretor- geral da Aneel, nem Mauricio Tolmasquim, presidente da EPE, e tampouco o ministro Edison Lobão. O capa preta da energia elétrica se chama Odenir José dos Reis, superintendente de Gestão e Estudos Hidroenergéticos (SGH) da Aneel. Reis tem se notabilizado como uma espécie de Eduardo Cunha do setor. Praticamente todos os investimentos em geração no país passam por suas mãos, neste caso mãos de tesoura, para insatisfação dos investidores da área de energia. O superintendente da Aneel vem se revelando um obcecado degolador de empreendimentos. Em suas gavetas, jazem quase 700 projetos para a instalação de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), adiados ou suspensos por conta do exagerado nível de exigência imposto por Reis. Quase no limite da patologia, o executivo tem usado e abusado da autoridade que o cargo lhe faculta para ser mais realista do que o rei. Seu último feito foi exigir licença ambiental de projetos que ainda nem sequer tinham sido analisados e aprovados pela Aneel. Ao menos neste caso, o carimbo do tabelião da Aneel foi apagado por instâncias superiores. Diante da reação dos investidores do setor, a diretoria da agência revogou a decisão. Ainda assim, Odenir José dos Reis não se dá por vencido. Já teria dito a grupos do setor que a decisão do alto comando vale apenas para os projetos sob disputa por mais de um operador, o que representa o universo de somente 46 hidrelétricas em análise. Significa dizer que dos quase sete mil megawatts de PCHs represados na poderosa Superintendência de Gestão e Estudos Hidroenergéticos (SGH), tão somente 500 megawatts teriam condições de serem produzidos. Por ora, o impasse criou uma situação surreal. Os órgãos ambientais só concedem a respectiva licença depois que o projeto é aprovado pela Aneel. Este é o padrão. No entanto, a SGH quer subverter a ordem e só aprovar o empreendimento a posteriori. Ou seja: o cachorro passaria a correr atrás do próprio rabo. Procurada, a Aneel informou que a “SGH segue integralmente as orientações emanadas pela Diretoria Colegiada da agência reguladora, harmonizadas com a regulamentação e a legislação vigentes.” Está feito o registro. No entanto, segundo uma fonte do Ministério de Minas e Energia, na Aneel já se fala na substituição de Odenir dos Reis, como forma de acalmar os ânimos entre os investidores do setor. Em tempo: a julgar pela artilharia disparada por seus próprios pares, o executivo não deve deixar saudades nem fora e muito menos dentro da Aneel. Nos últimos dias, seus desafetos têm feito circular nos corredores da Agência cópias do processo de nº 9393- 17.2010.4.01.3400, ajuizado pelo Crea-DF na 19ª Vara Federal. Na ação, o Crea cobra de Reis o pagamento de contribuições atrasadas. O mesmo vale para uma ação de execução fiscal da Fazenda Nacional, impetrada na 11ª Vara Federal do DF, sob o nº 22539-23.2013.4.01.3400, por supostos problemas relacionados ao seu Imposto de Renda.
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Lula não sabia do BC mais dependente
4/11/2013Lula pode quase tudo, mas sabe menos do que se espera. Se tivesse sido informado pela presidente ou por seus mosqueteiros, não teria disparatado na tentativa de precipitar a votação do projeto semimorto de autonomia do Banco Central. Nem Lula quis, durante sua gestão, nem Dilma quer a independência do BC. Há pontos em comum na disposição histórica de ambos de manter a autoridade monetária sob rédeas. Governos que fazem da política social sua prioridade, a despeito do viés inflacionário, se sentem mais confortáveis com um Banco Central mais manso. Influenciado por Henrique Meirelles e Antônio Palocci, Lula cedeu a cantilena de que a medida seria uma ponte com o empresariado descontente e o capital internacional descrente. Deixou-se levar também pela ideia de que a autonomia do BC seria um peixe ávido por ser fisgado. Não faltariam aventureiros a procura de um mote capaz de torná-los mais críveis junto a s elites financeiras e industriais. Marina Silva e Eduardo Campos já se ordenaram na “Igreja do tripé” e não custaria muito proporem até que o BC se mudasse para outro continente. Já Aécio Neves criaria o “Banco das Garças” e o tornaria dependente apenas do departamento de economia da PUC-RJ. O fato é que Lula levou a Francisco Dornelles um aval não dado por Dilma para a condução do projeto no Senado Federal. Foi desautorizado publicamente, com o respeito que sua figura merece. E solicitado a desdizer suas declarações. Mas do que Lula não sabia? Ele não tinha sido informado sobre a disposição de Dilma em levar o presidente do BC, Alexandre Tombini, para o Ministério da Fazenda, ao mesmo tempo em que conduziria o empresário Josué Gomes da Silva para o Desenvolvimento – ver RR nº 4.740. Para o lugar de Tombini ascenderia um dos seus atuais diretores. Ou seja, nunca antes a Fazenda e o BC teriam estado tão indissociavelmente alinhados. A tese da independência seria substituída pela “nova dependência virtuosa”. A dúvida agora é se Dilma e Lula conseguem fazer com que a tese da autonomia do Banco Central suma do mapa. Uma saída seria antecipar a operação Tombini, empurrando Mantega para o Planejamento. De todo modo, como dizia o ex-ministro Raphael de Almeida Magalhães, quem tem voto é o presidente e não o BC. Quer dizer, então, que o Banco Central vai ficar independente da vontade do povo? Ou que o presidente vai ter de assinar o que o BC quer porque quer? Aceitamos apostas.
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Josué Gomes da Silva já está fardado para 2014
29/10/2013A que vem Josué? A pergunta, em tom quase bíblico, começará a ser respondida no início de 2014, quando Josué Gomes da Silva deverá deixar o comando da Coteminas para se dedicar ao que se anuncia como o grande projeto da sua vida. Recém-filiado ao PMDB, prepara-se para zarpar de vez em direção a política. Josué não é exatamente um vestibulando na matéria. Afinidade com o poder não lhe falta. Ele talvez seja hoje o empresário mais próximo de Lula, notadamente no que diz respeito a discussão da economia nacional. O herdeiro de José Alencar tem participado do grupo de avaliação de conjuntura que se reúne regularmente com o expresidente, no qual se notabilizam Antonio Palocci, Paulo Okamoto, Aloizio Mercadante – Delfim Netto e Luiz Gonzaga Belluzzo costumam aparecer, embora com menos assiduidade. O passe político de Josué, ressalte-se, foi disputado a peso de ouro. Todos os partidos de maior expressão conversaram com ele. O empresário foi para onde Lula o aconselhou a ir. O próprio ex-presidente esteve presente ao seu ato de filiação ao PMDB, uma efeméride, aliás, repleta de simbolismos. A cerimônia foi conduzida por Michel Temer, sucessor de seu pai na vice-presidência da República. E por onde Josué Gomes da Silva caminhará na política? Uma das possibilidades aventadas não lhe apetece muito. a€ boca pequena, ele tem dito que não se vê como o vice do PMDB na chapa de Fernando Pimentel ao governo de Minas Gerais. A candidatura ao Senado seria o caminho natural e, a priori, com grandes chances de vitória. No entanto, a hipótese do coração de Josué e do cérebro de Lula seria o seu début no governo em 2014. Neste caso, ele assumiria a vaga deixada pelo próprio Pimentel no Ministério do Desenvolvimento, herdando uma Pasta ainda mais forte, com poderes sobre o BNDES e autoridade sobre o BB e a CEF. Josué, então, ganharia musculatura para assumir a Fazenda no segundo mandato de Dilma Rousseff, com a missão de galvanizar o apoio empresarial com vistas ao crescimento médio do PIB da ordem de 3,5% no próximo governo. A partir daí, o céu seria o limite. No seu firmamento político, Josué poderia ser o candidato da situação – não pelo PT, mas pelo PMDB – a sucessão de Dilma. Mas cada coisa a seu tempo. Neste momento, Josué deve ser visto como é: um soldado a disposição para 2014. Josué Gomes da Silva já teria um nome no bolso do colete para assumir a presidência da Coteminas. No entanto, essa talvez seja a parte menos complexa da operação. Ele próprio tem feito questão de dizer a alguns empresários que hoje, após a reestruturação deflagrada com a compra da Springs, a Coteminas anda sozinha. Josué foi um dos primeiros do setor a não apenas assimilar como colocar em prática a tese de que a indústria precisa de um canal de serviço. Saiu comprando redes varejistas para verticalizar a operação, isso antes do célebre estudo da McKinsey, segundo o qual os serviços representam 23% do valor adicionado da indústria. Cabe ressaltar também que o empresário Josué Gomes da Silva sempre procurou deixar o caminho pavimentado para o político Josué Gomes da Silva, a começar pelo grau de independência em relação ao governo. Hoje, a Coteminas praticamente não tem dívida com o BNDES, um conselho de José Alencar que o rebento seguiu a risca.
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Nenhum ministro foi ao velório da BR-262
19/09/2013O razoável deságio de 42,3% na licitação da BR-050 não acalmou a fúria de Dilma Rousseff. Ela continua irritadíssima com a inexistência de candidatos ao leilão da BR-262. O que mais a chateou foi a falta de interlocução do seu ministério com o empresariado. O ministro dos Transportes, Cesar Borges, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que tratou da parte econômica, e a chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, responsável pela coordenação, simplesmente ignoraram a hipótese da ausência absoluta. A omissão de Mantega incomodou mais ainda. Ele tem contato com o empresariado e foi o orador do discurso de que o programa de concessões representaria a virada no ambiente pessimista dos investimentos. Ora, o governo vendeu o que não se empenhou em entregar. O ministro Cesar Borges, que também tinha acesso obrigatório aos grupos privados, calou-se frente a presidente, quando ela bateu pé no dogma de duplicação da rodovia em cinco anos, o décimo terceiro trabalho de Hércules. E passou batido pelo lapso cerebral do DNIT, que transformou a audiência pública do modelo de concessão da BR-262 em uma demonstração de intransigência xiita. Ou seja: não garantiria qualquer contrapartida em caso do atraso das obras sob sua responsabilidade, nem mesmo um mísero balde de asfalto. Diga-se de passagem, Dilma não soube desse episódio do DNIT. Foi comunicado também a presidenta que a BR-262 era uma das rodovias mais simples de serem privatizadas e, por isso mesmo, deveria ser uma das primeiras. Mas o que a deixou realmente possessa foi a falta de articulação do seu Estado Maior sequer junto a um único consórcio empresarial. Os tucanos fizeram isso na sua grande privatização, a do setor de telecomunicações. É bem verdade que acrescentaram temperos exóticos de combinação de preços e apoio financeiro. Mas, se houvesse uma dúvida, uma duvidazinha, sobre o fracasso do leilão, melhor seria deixar que o campo de Libra furasse a fila das concessões. A área do pré-sal sabidamente não será alvo do forfait empresarial. O fato é que a BR-262 vai ficar como um dos grandes micos do governo, ao menos no campo simbólico. Os planaltinos têm procurado acalmar a presidenta com as teses do conluio e ideologização. Estaria tudo planejado há mil anos com objetivos eleitorais. Normalmente, Dilma cai nessa. Dessa vez, contudo, a pixotada foi muito grande. Só não há degola de ministro porque os outros leilões estão logo ali na esquina e não seria conveniente carregar ainda mais o clima institucional. Mas algun(s) descansado(s) não perde(m) por esperar. Até um dia, até talvez, até quem sabe, vão ouvir atrocidades da presidenta.
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Implicância
17/09/2013Lula, Delfim Netto, Paulo Okamotto e outros convivas frequentes são da opinião que Henrique Meirelles teria dado um show no Ministério da Fazenda. Quem sabe em um segundo mandato? Só se lobotomizarem Dilma Rousseff.
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Dura missão
8/08/2013O Ministério da Fazenda está negociando com a Fitch e a Standard & Poor`s para evitar que o país sofra um downgrade, pelo menos neste ano. A missão é notoriamente difícil. No exterior, já se dá como certa a queda do rating.
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Noites cariocas
11/07/2013O candidato a candidato Aécio Neves, no embalo das noites tresloucadas, já começa a falar no seu futuro ministério. O lugar da Fazenda, comenta Aécio, como se fosse um FHC remoçado, seria destinado ao mais longevo titular da pasta de todos os tempos, Pedro Malan.
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Dilma acalenta a ideia do inflation target criativo
8/07/2013Um projeto defendido por economistas a direita e a esquerda, entre os quais dois conselheiros de Dilma Rousseff, Delfim Netto e Luiz Gonzaga Belluzzo, voltou a ser discutido pela equipe econômica do governo. A ideia é estender o prazo para o cumprimento da meta de inflação, que deixaria de ser anual e passaria a ser medida em três ou até em cinco anos. O centro da meta seria menor, 3% por exemplo, no lugar dos 4,5% atuais. O prazo para a consecução do objetivo passaria a contar a partir deste ano. Seria como se o taxímetro do inflation target fosse zerado. Ao longo do novo intervalo de tempo, a inflação poderia subir para 7% ou 8%, constando essa elevação como parte da estratégia de ganhar tempo para domar o dragão, focando o PIB e mantendo o balanço de pagamentos sob controle. Com a medida, o governo poderia praticar a política econômica anticíclica sem se sentir tão ameaçado por dois a três pontos de alta de preços, saltando de banda, pelo menos por enquanto, da armadilha do pass through, inevitável com o aumento da desvalorização cambial. A decisão que pode ser colocada no colo de Dilma é uma “Escolha de Sofia”: de um lado, a possibilidade de mudar as regras do inflation target e aceitar uma inflação acima da banda em ano eleitoral, mas com crescimento mais alto da economia (hoje, no governo, já se projeta um PIB de 2%, e no mercado se fala em 1%) e especialmente, com uma queda do real capaz de mitigar ou mesmo reverter o estrago feito na indústria e na balança comercial, não obstante o estrago no passivo dolarizado das empresas; do outro, perseguir a meta, retendo o dólar, queimando reservas, subindo os juros e dando a s costas para crescimento, o que pressuporia ainda uma virilidade fiscal que mesmo nas vezes em que foi anunciada ficou na promessa. É matusalêmica a discussão sobre o trade-off entre inflação e crescimento. Recentemente, trabalhos acadêmicos tentaram enterrar essa “pecaminosa esquina” entre a política monetária e os preços. Mas, não faltam controvérsias. Kenneth Rogoff, de Harvard, por exemplo, acha que a inflação ainda é um mal menor. O Nobel Paul Krugman concorda com a opção pelo crescimento, que pode e deve ser feita com uma taxa inflacionária circunstancialmente mais alta. Ninguém, é claro, trabalha com hipóteses bizarras de carestia. Por aqui, o bom e velho Delfim é taxativo: “Afirmar que a política monetária tem de considerar a taxa de crescimento do PIB é pecado apenas no mundo “virtual” em que ainda vivem alguns de nossos analistas”. Segundo o ex-ministro, a escolha da largura da banda e o prazo para o cumprimento da meta são escolhas técnicas e políticas. E quando se trata de tecnicidades, o próprio “pai do inflation target”, o ex-diretor do Banco Central, Sérgio Werlang, já se manifestou favorável ao alargamento dos prazos. A questão é saber até que ponto uma inflação mais alta rima com sucesso nas urnas, já que o eleitor da presidenta é o maior penalizado com a carestia. No Ministério da Fazenda, a medida divide entre os que a acham uma gambiarra e os que a consideram uma fatalidade. O segredo da sua maior ou menor aceitação não estaria nas simulações e contas de Mantega e seu staff. A variável chave é a comunicação, e esta, como se sabe, não costuma a ser o setor de maior eficiência do Palácio do Planalto. De qualquer forma, seria Dilma a responsável por explicitar, com a manobra criativa, o não dito, ou seja, a economia está fugindo do controle.
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Regras do pré-sal só duram enquanto Dilma for “ministra”
14/06/2013A ANP recebeu os dados de uma sondagem mostrando o interesse menor de empresas norte-americanas em participar do leilão do campo de Libra, nova estrela do pré-sal, com reservas que podem chegar a 42 bilhões de barris de petróleo. A maior demonstração de apetite pelo negócio veio de investidores chineses. O cacife é alto. Só para participar do leilão, o candidato terá de comprovar a disponibilidade de, no mínimo, R$ 10 bilhões. Se ganhar a licitação, o chequezão será descontado, como pagamento do bônus de assinatura. As novas leis rigorosas dos Estados Unidos, que enxergam práticas inidôneas em qualquer respiro dado pelos investidores, estão colaborando para afastar as empresas norte-americanas. O outro complicador é o ambiente regulatório nebuloso. Fonte da ANP acha que a atual modelagem não atrapalhará o leilão de outubro, mas teme pelos próximos, quando serão diversos campos licitados. As regras da partilha, a obrigatoriedade da Petrobras entrar em 30% de qualquer projeto exploratório e a criação da Pré-Sal Petróleo S/A provocam urticárias no capital estrangeiro. A Fazenda está ciente disso, o Ministério de Minas e Energia, também. Idem para o ex-ministro Delfim Netto, hoje o principal conselheiro do governo. E mais ainda: o mesmo se aplica ao ex-presidente Lula. Os leilões do pré-sal se tornaram uma questão macroeconômica, fundamental para arrumar o câmbio, os juros e os preços. E por que, então, as regras não mudam? Porque a presidenta Dilma Rousseff ainda não se demitiu do cargo de sua própria ministra da Fazenda. Mas falta pouco. A própria Dilma já acha que, para permanecer na presidência, tem de deixar de ser ministra
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Porta-voz
10/06/2013No Ministério da Fazenda fez muito sucesso uma entrevista do professor de economia da UFRJ Fernando Cardim. Curioso é que um tucano fidelíssimo a José Serra embalou e enviou o mesmo texto ao cambaleante ex-candidato do PSDB, com os dizeres: “O Serra vai adorar. É igualzinho ao que ele pensa”.
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Nelson Barbosa
16/05/2013Bernardo Appy é o nome que circula nas mesas mais entendidas do Ministério da Fazenda para o lugar de Nelson Barbosa na secretaria executiva da pasta.
Acervo RR
Crônica de um ministro tão frágil quanto granito
2/04/2013Guido Mantega é hoje o ministro mais forte do governo, a medida que “não tem importância”. Ele se qualificou junto a uma presidente peculiar como a sua voz no que diz respeito a política econômica. Entretanto, nem sempre foi assim. Durante o período de campanha, quando Dilma Rousseff ainda era um “poste”, ela chegou a cogitar o convite a Luciano Coutinho, presidente do BNDES, e a Nelson Barbosa, secretário-executivo da Fazenda, para o cargo de ministro. Coutinho tirou o corpo fora e enviou recado pedindo para permanecer no BNDES. Já Nelson Barbosa encontrou uma pedra enorme no caminho: o ex-presidente Lula orientou Dilma a não convidá-lo. Nada contra Barbosa. Até porque Lula defende a receita de que a gestão deve ser feita por meio da arbitragem do tensionamento das discussões. Com Dilma, porém, a recomendação seria exatamente o contrário, ou seja, desfazer a dualidade. Isto porque, ao contrário de Lula, a presidente não é de arbitrar, mas de mandar. Mantega seria a opção imbatível, tendo em vista a flexibilidade, seu grande ativo. Mesmo porque, com Alexandre Tombini a frente do BC, formaria uma dupla gema e gemada. Dito e feito! Com os dois, Dilma assumiu o controle até dos ascensoristas da equipe econômica. Dilma Rousseff concordou com Lula, mas trouxe Nelson Barbosa para sua assessoria econômica no Planalto. O convite para o Ministério, contudo, permaneceu pairando no ar. A essa altura, Barbosa estava mais preocupado em não criar melindres com o também superior Guido Mantega. Consultou Luciano Coutinho e João Carlos Ferraz, vice-presidente do BNDES. Ambos recomendaram que ele não polarizasse com Mantega. E assim foi feito. O ministro é hoje quem vocaliza os assuntos macroeconômicos, e Barbosa, meio que um “ministro do B”, trata das questões da área tributária. Mantega atravessou a rua e encontrou outro semáforo na esquina: o secretário do Tesouro, Arno Augustin, que trabalhou com Dilma no governo Olívio Dutra, no Rio Grande do Sul. Tarso Genro o chamou para ser secretário estadual de Fazenda. Dilma, no entanto, o recrutou para o governo federal. Falante, desinibido, articulado, Augustin é quem trata dos assuntos fiscais e de financiamento de longo prazo. Mantega sabe que ele tem interlocução direta com o Planalto. Tolera com altivez e estilo inabalável. De lá para cá, Mantega saiu do cargo uma centena de vezes. Quase caiu para valer em pelo menos duas ocasiões, a mais recente patrocinada pelo empresariado, que tentou inventar Jorge Gerdau no cargo de ministro da Fazenda – ver RR nº 4.521. Mantega, contudo, já tinha se tornado PhD da sua própria situação no governo. Dissiparam-se as dúvidas em relação a sua presença, a medida que a própria presidente considera a política econômica sua. E só faria sentido a mudança do ministro se fosse para anunciar uma guinada em todas as diretrizes que vêm sendo cumpridas. O que não é recomendável ou provável com um Congresso pouco confiável. Mantega afinou seu discurso com o presidente do BC, toca de ouvido com os ministros do almoxarifado de Dilma Rousseff – Nelson Barbosa e Arno Augustin – e retocou seu relacionamento com a imprensa após a chegada do jornalista Guilherme Barros a sua assessoria de comunicação. Não sai mais do governo. Quem especular vai perder. Mantega é refém da sua própria fragilidade. Com Dilma Rousseff, isso significa couraça de granito.
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Tucanagem
6/03/2013O economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn, publicou ontem no Estado de S. Paulo importante subsídio para a próxima reunião de Roberto Setúbal com Lula ou Dilma Rousseff. Nas palavras de Goldfajn, para manter a inflação sob controle é necessário “reduzir o consumo e desaquecer o mercado de trabalho”. Desde que não seja o dele, é claro. ***** Dizia-se ontem que, no Ministério da Fazenda, é grande a torcida para que Goldfajn substitua Murilo Portugal na presidência da Febraban.
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Guido Mantega
19/02/2013Guido Mantega parece até mais remoçado com a chegada do jornalista Guilherme Barros ao Ministério da Fazenda. Agora, é acertar o discurso.
Acervo RR
Á€° de espinhos a estrada entre o Itaú e o Planalto
4/01/2013Brasília, leia-se o Palácio do Planalto e o Ministério da Fazenda, trocaram de mal com o Banco Itaú. A percepção é que provém daquela casa bancária a maior parte das críticas que vem sendo feita a política econômica do governo. A fonte do RR está plantada na equipe de Guido Mantega. Os Setúbal receberam o recado e agiram rapidamente. Até porque já estavam isolados pelos seus próprios pares. O presidente do banco, Roberto Setúbal, marcou pessoalmente uma agenda com Lula, quase que antecipando o calendário da sucessão de 2014 para o setor bancário. Setúbal alinhavou também com uma agulha de fino bordado sua recente entrevista ao jornal Folha de S. Paulo. É previsível que se espere mais mimos do Itaú a política econômica do governo Dilma, já que, para a Fazenda, o rei está nu. Procurado pelo RR, o Itaú negou “veementemente que exista descontentamento do governo para com o banco”. Informou ainda que, “através das principais lideranças, tem um canal de comunicação com o governo de alto nível, sempre focado no desenvolvimento do país e no aprimoramento do sistema financeiro nacional.” Declarou também que, “via Febraban, faz parte do grupo que vem discutindo melhorias no sistema financeiro, contribuindo constantemente para esta agenda positiva.”
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Honra ao mérito
19/10/2012Delfim Netto está se mordendo de inveja. Tem certeza de que, se Jorge Gerdau emplacar no Ministério da Fazenda, o empresariado o recepcionará com o dobro de fogos de artifício. Mas, mesmo perdendo a coroa, o “Gordo” está na torcida por Gerdau.
Acervo RR
Minas e Energia e Tesouro entram em curto
21/08/2012A decisão da Secretaria do Tesouro Nacional (STN) de cobrar as outorgas das usinas hidrelétricas licitadas antes de 2004, quando os empreendimentos eram ofertados sem licença prévia, está gerando um problema de difícil solução para o Ministério de Minas e Energia. São 11 hidrelétricas que sequer começaram a ser construídas por falta de licença ambiental e, ainda assim, passaram a receber da STN cobranças mensais de, pelo menos, R$ 18,5 milhões pela concessão. O risco de êxodo dos investidores é crescente. Segunda alta fonte do Ministério de Minas e Energia, a Light estuda devolver concessões. A própria Cemig, sua controladora, também teria planos similares. Até mesmo grupos industriais que investem em energia em busca de autossuprimento ameaçam seguir o mesmo caminho. É o caso de Gerdau, Votorantim e Alcoa. Como costumava dizer Tom Jobim, o Brasil não é para principiantes. Este é mais um daqueles episódios que revelam a existência de dois países dentro de uma só nação. O Estado que fixou as regras do jogo e iniciou a cobrança das outorgas é o mesmo que quer mudar o regulamento com a bola rolando. Diante da falta de previsão para a emissão das licenças ambientais, o Ministério de Minas e Energia vem tentando articular com a Fazenda uma flexibilização no pagamento pelas concessões. Ou seja: o governo que cobra investimentos e se empenha para aumentar a arrecadação fiscal é o mesmo que se vê forçado a abrir mão de uma receita já prevista para não desestimular o próprio empresariado. Qualquer dia, de tanto correr atrás do rabo, o cachorro ainda acaba engolido por ele.
Acervo RR
Superávit primário do governo será o que der
2/08/2012A equipe econômica já trabalha com um provável superávit primário da ordem de 1,7% a 2% do Produto Interno Bruto (PIB), portanto um índice que pode chegar quase a metade da meta original, de 3,1%. Os resultados extremamente negativos da arrecadação fiscal e a lenta recuperação da economia, que tem reagido timidamente a s medidas de incentivos tributários e creditícios, dão pouca esperança da obtenção de um resultado mais folgado das contas públicas na segunda metade do ano. O cenário fica ainda mais desfavorável quando se projeta que os estímulos do governo sofrerão alguma inércia até que venham a impactar a atividade econômica e, consequentemente, a receita do governo. Outro cálculo levado consideração é que se trata de um ano eleitoral, o que não se coaduna, historicamente, com austeridade fiscal. Não bastassem estes fatores, a crise global empurra para um gasto público ainda maior, quer seja através de novos aportes do Tesouro, quer seja por meio de maior desoneração tributária e dos salários, a partir deste terceiro trimestre. No acumulado do primeiro semestre, o superávit primário caiu 16% em relação a igual período no ano passado. O resultado isolado de junho, por sua vez, foi hiperbólico: o recuo no comparativo com o mesmo mês em 2011 beirou os 80%. O governo, no entanto, faz questão de mostrar que estes indicadores não lhe tiram o sono. O argumento é que, apenas nos primeiros quatro meses do ano, já foram garantidos 45% do saldo primário. A equipe econômica também diz que pode lançar mão de receitas excepcionais, notadamente os dividendos das estatais, para inflar as contas públicas. Esse filme já foi visto. É ruim do ponto de vista de formação de expectativas admitir tão antecipadamente que a meta está balançando. Portanto, faz parte das regras tácitas do jogo torturar a realidade e desmentir a evidência de que os números não mentem jamais. Na realidade, fora faniquitos do mercado, não há mesmo motivo maior para o governo ter insônia. O Brasil seria uma exceção se cumprisse metas justas em um momento em que a maioria dos países apresenta desequilíbrio ou queda nas contas fiscais. Segundo fontes do RR, a estratégia que estaria sendo defendida pelo secretário executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, é a de deixar os números cadentes do superávit se cristalizarem para reafirmar a intenção oficial de praticar uma política contra-cíclica, anunciando um aumento da meta de superávit projetada para 2013 – quando se espera um crescimento do PIB da ordem de 4% a 4,5%. A Fazenda defende que o principal indicador fiscal do país – a relação dívida líquida/PIB – deverá melhorar significativamente mesmo com uma redução expressiva do superávit. O motivo é simples: o PIB começou o ano com projeção na faixa de 5% e deve encerrar no intervalo entre 2% e 2,5%. Portanto, mesmo que não haja uma compensação maior por parte da receita tributária e as despesas gerais cresçam, o saldo se tornaria positivo devido a queda acentuada do Produto Interno e a redução da Selic. O indicador que não poderá ser envernizado é o do déficit nominal. Aí não tem saída. Os números crescem a olho nu e todas as correlações são negativas. Mas, para observadores mais argutos e honestos intelectualmente, o saldo final da queda no superávit primário em um ponto percentual não é só razoável, como pode até ser desejável, caso se consiga injetar crescimento em um PIB que vem sangrando desde o início do ano.
Acervo RR
Banco do Nordeste escava novos créditos podres
9/07/2012O vatapá está fervendo no Banco do Nordeste (BNB). As quatro sindicâncias em curso na instituição já teriam encontrado quase R$ 200 milhões em operações de crédito irregulares, praticamente o dobro do valor anunciado originalmente – que também havia sido confirmado após trabalho de investigação conduzido pela Controladoria-Geral da União (CGU). Todos os contratos foram fechados no mesmo período: entre dezembro de 2009 e o primeiro trimestre de 2011. A expectativa é que novas ossadas venham a ser encontradas. Segundo informações filtradas junto ao próprio BNB, as quatro sindicâncias só devem concluir o processo de auditoria em setembro ou outubro. O episódio, é bom lembrar, resultou na renúncia do então presidente do Banco do Nordeste, Jurandir Vieira Santiago. Procurado pelo RR, o BNB informou que “empresas e clientes que estiverem envolvidos em operações irregulares terão suas dívidas cobradas judicialmente”. O banco, no entanto, não fez qualquer comentário acerca do valor. Em tempo: pode até ser coincidência, mas o aporte de R$ 4 bilhões do Tesouro no BNB está na corda bamba. No Ministério da Fazenda, os mais otimistas falam em R$ 2 bilhões. Os pessimistas, em zero elevado a zero.
Acervo RR
Guido Mantega quer ser o senhor dos anéis do BB e da CEF
21/05/2012O balão de ensaio de que o governo poderá transferir créditos podres dos bancos públicos – principalmente da dobradinha BB/Caixa Econômica Federal – para a Empresa Gestora de Ativos (Emgea) acendeu a luz vermelha na banca privada. A iniciativa, ainda sob forma de intenção da Fazenda, representa uma espécie de centauro financeiro, ou seja, um monstrengo metade banco estatal, metade Tesouro Nacional. Na prática, a Emgea vai ser um sócio com usufruto apenas dos dividendos negativos. O que também chama a atenção é o fato de que Guido Mantega acabará se tornando um árbitro da lucratividade do BB, da Caixa, do BNDES, do Banco do Nordeste, só para falar dos mais votados. Na medida em que a Empresa Gestora absorver os créditos putrefatos dessas instituições – por deliberação do Ministério da Fazenda -, o resultado negativo em balanço poderá sumir da noite para o dia. Os burocratas da Pasta argumentam, sob brumas, que a medida permitiria a capitalização desses bancos que têm concedido empréstimos mais baratos e sua consequente adequação a s regras da Basileia III. De uma certa forma, a operação não deixaria de ser uma injeção de capital pela porta dos fundos. Pela lógica dos seus autores, a operação possibilitaria estender por um tempo prolongado a política de crescimento econômico baseada no aumento da renda familiar em decorrência da ampliação do crédito a juros mais baixos. Como proposta, parece justificável. Em termos econômicos, é quase obsceno. Leva o abuso de poder econômico ao paroxismo. E transforma um ministro morno e modorrento em czar do Tesouro Nacional e senhor dos destinos da rentabilidade da banca pública. Seria a hora de se fazer um plebiscito para a criação de um Cade exclusivo do sistema financeiro, blindado contra as diatribes do governo. Só com a força da Constituição é possível banir do mapa uma aberração como essa.
Acervo RR
CaixaPar é uma espécie ameaçada de extinção
17/05/2012No próprio governo, notadamente no Ministério da Fazenda, os próximos 40 dias são considerados decisivos para o futuro da CaixaPar – o braço de participação da Caixa Econômica Federal criado ainda na Era Lula. Guido Mantega determinou que a direção da CEF promova uma tour de force para fechar a aquisição de novos ativos impreterivelmente até 29 de junho. O prazo não é aleatório. Este é o dead line para que a CaixaPar possa utilizar livremente os R$ 3 bilhões disponíveis em caixa, recursos alocados ainda no momento de sua criação. A partir de 30 de junho, a Caixa Econômica terá de reabrir toda a liturgia burocrática e pedir autorização do Congresso para usar o dinheiro, algo que deve levar meses. Pode ser a senha para o obituário do projeto. Dentro da Fazenda, há um consenso de que, se o prazo para a utilização dos recursos expirar, o melhor mesmo é a bater a mão três vezes no tatame e enterrar de vez a CaixaPar. Procurada pelo RR, a Caixa negou o fechamento da subsidiária e informou que a CaixaPar “busca, no mercado, oportunidades de participação.” De fato, a direção da Caixa entendeu o recado da Fazenda. Nas últimas semanas, encoberto pela cortina do noticiário quase histérico sobre a redução dos juros, o banco teria destacado executivos de outras áreas para dar suporte a s negociações mantidas pela CaixaPar. De acordo com uma fonte ligada ao banco, há conversações com quatro empresas para a compra de participações minoritárias no capital. As tratativas vêm sendo capitaneadas pelo diretor de investimentos da subsidiária, Demósthenes Marques. Segundo a mesma fonte, as gestões mais avançadas envolvem a associação com uma construtora de São Paulo. Se o negócio for fechado, representará o encontro da CaixaPar com as suas origens. Uma das motivações que levaram o governo a criar a instituição foi a possibilidade de compra de participações em empresas do setor imobiliário que, a quela altura, sofriam os efeitos da crise global de 2008. No entanto, a CaixaPar não se associou a nenhuma companhia do setor. Seu único – e forçado – investimento foi a compra de uma fatia do PanAmericano, além da incorporação de ações de empresas da “casa”, como Elo Serviços e Caixa Seguros. Na Fazenda, vozes mais pessimistas já falam até na transferência destas participações para a própria Caixa, o que abriria caminho para o eventual fechamento da subsidiária.
Acervo RR
Juros do BB e da CEF envenenam relações de governo
11/05/2012A taxa Selic baixou e isso ninguém mais discute. Mas, apesar de todo o obaoba com a redução dos juros do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, a verdade é que os fatos estão aquém da versão. E mais: o custo dos empréstimos do BB e da CEF estão levando as autoridades do Ministério da Fazenda, Banco Central e os próprios diretores das duas instituições a se alfinetarem nos bastidores do governo. O projeto vendido por Guido Mantega a presidente Dilma Rousseff foi trazer a taxa dos empréstimos dos dois bancos federais ao emblemático piso do mercado. Ou seja, no melhor estilo Lula, Dilma poderia dizer, com base nos juros do BB e da CEF, que nunca antes na história deste país os financiamentos foram tão baratos. O marketing vinha funcionando muito bem e colocou sob pressão da opinião pública a banca privada, que ficou com a pecha de vilã da história. Mas os dias que antecederam a divulgação pelo Banco Central do tradicional ranking com as taxas médias praticadas no mercado viraram de pontacabeça o clima de euforia até então predominante no governo. O BC sofreu calafrios para colocar os números na vitrine. Telefonemas teriam cruzado inúmeras vezes as linhas da Fazenda e da autoridade monetária, sem uma solução para atenuar os dados do ranking. O Banco do Brasil apresentou a trigésima melhor taxa entre 38 instituições. A CEF, por sua vez, ficou na vigésima- terceira posição. São dois orgulhos da nação, para os quais estava prevista a missão de ostentar os juros mais baixos do país. A celeuma dos juros, entretanto, não fica por aí. Apesar dos discursos empolgados de que juro baixo traz mais clientes e, portanto, mais lucro para os bancos, nas entranhas do sistema a engrenagem não funciona exatamente desta maneira. Os juros não caíram tanto assim, mas o suficiente para transtornar o ambiente. As direções do BB e da CEF já começaram a abrir suas trincheiras em volta do Ministério da Fazenda. O presidente da Caixa, Jorge Hereda, tem cumprido uma função de retaguarda, até porque vocaliza uma corporação bem mais acostumada a registrar prejuízos bancários. Já o presidente do BB, Aldemir Bendine, apesar de estar na linha de fogo do Planalto, vem partindo para a ofensiva com a desenvoltura de quem tem o cargo garantido. O discurso de Bendine está numericamente embasado. Só nos últimos 30 dias, seis mil operações de empréstimos no valor aproximado de R$ 400 milhões foram feitas por pequenas empresas junto ao BB. Parece bom, mas não é. São aqueles tomadores de crédito dos bancos privados com maior risco de inadimplência que estão pegando financiamentos novos do BB para amortizar os débitos anteriores. Se isso aumenta exponencialmente, o Banco do Brasil carrega uma bomba-relógio no ventre.
Acervo RR
Mantega faz lipoaspiração nos recursos do BNB e do Basa
2/05/2012A possível mudança das regras do Fundo de Desenvolvimento do Nordeste (FNDE) e do Fundo de Desenvolvimento da Amazônia (FDA) acendeu um rastilho de pólvora no relacionamento entre o ministro Guido Mantega e um grupo de governadores. O motivo é a proposta de que a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil passem a conceder empréstimos com recursos das duas carteiras, prerrogativa que sempre foi exclusividade dos bancos de fomento regionais, leia-se Basa e Banco do Nordeste. Uma tropa de choque de governadores do Norte e do Nordeste, capitaneados por Eduardo Campos (PE) e Simão Jatene (PA), tem feito pressão em Brasília para evitar a dispersão dos recursos. Um de seus principais interlocutores e aliados é o titular da Pasta da Integração Nacional, Fernando Bezerra, que, diga-se de passagem, está longe de ser um dos nomes mais fortes da Esplanada dos Ministérios. Para todos os efeitos, Mantega argumenta que a medida se deve a necessidade de enquadramento do Basa e do BNB no índice da Basileia. No entanto, os governadores acham que tudo não passa de uma manobra da Fazenda com o deliberado objetivo de esvaziar os dois bancos regionais. Até porque Mantega já teria sinalizado a intenção de aumentar gradativamente o volume de recursos repassados a CEF e ao BB. Qualquer tiro na direção do Basa e do BNB atinge em cheio os governadores do Norte e do Nordeste. Significa automaticamente uma perda de poder, seja no que diz respeito a obtenção de recursos, seja em relação a influência política sobre as duas instituições. Eduardo Campos, Simão Jatene e cia. temem ainda que a lipoaspiração do Basa e do BNB se estenda para a Sudam e a Sudene, que também usam recursos provenientes dos dois fundos. No entanto, os fantasmas que rondam os políticos nordestinos arrastam correntes ainda mais pesadas. Há um receio de que Guido Mantega nutra a maior simpatia pela ideia de extinção do Basa e do Banco do Nordeste.
Acervo RR
Banco do Brasil avança na direção do Banestes
17/01/2012O Banco do Brasil decidiu retomar a estratégia de compra de instituições financeiras estaduais. O primeiro nome da lista é o Banestes. O RR apurou junto a uma alta fonte do BB que existem conversações entre a direção do banco, o Ministério da Fazenda e o governo do Espírito Santo. Na semana passada, houve duas reuniões na instituição para tratar do tema. O banco aguarda apenas a reestruturação acionária do Banestes para formatar uma oferta pela instituição capixaba – hoje haverá uma assembleia de acionistas para analisar a proposta de grupamento dos papéis na proporção de cem para um. Com a aquisição, o BB assumiria a folha de pagamento dos servidores estaduais e do funcionalismo público dos 78 municípios do Espírito Santo. Com base na atual cotação do papel em bolsa – noves fora o prêmio de controle – a participação do estado no Banestes está avaliada em quase R$ 690 milhões. Procurado, o BB não quis comentar o assunto. Já o Banestes não se pronunciou até o fechamento desta edição. Esta é a segunda investida do BB sobre o Banestes. Na primeira, no início de 2009, o banco federal chegou a iniciar o processo de due diligence. No entanto, o então governador Paulo Hartung brecou a operação. Desta vez, no entanto, o cenário é diferente. O atual governador, Renato Casagrande, tem um fator de pressão que não pesava sobre as costas de seu antecessor: a portabilidade da conta-salário dos servidores. Os clientes do Banestes vêm sendo assediados por todos os lados pelos grandes bancos do país para virar a casaca. O BB tem uma carapaça mais do que curtida para reter os correntistas, algo que não se poder dizer em relação a instituição capixaba. Esta vulnerabilidade deixou o governo do Espírito Santo diante de um córner: manter o controle do banco sob o risco de ver sua base de clientes definhar ou negociá-lo agora enquanto seu principal ativo está intacto e a instituição ainda é objeto de cobiça? É um daqueles enigmas que praticamente já vêm com uma solução compulsória. Além do Banestes, tratado como prioridade, outros bancos têm sido mencionados dentro do BB. É o caso do Banpará e do sergipano Banese. O banco paraense mantém sob o guarda-chuva a conta dos mais de 100 mil servidores ativos e inativos do estado. No caso da instituição sergipana, seriam mais 45 mil correntistas na rede do BB.
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Guido Mantega
12/01/2012Guido Mantega está com um pé no Ministério da Fazenda e outro em seu apartamento em São Paulo. Se decidir por deixar Brasília, os motivos serão dolorosos e de ordem familiar.
Acervo RR
Laureate escreve seu nome no quadro-negro da Ulbra
5/09/2011A norte-americana Laureate não admite fechar o ano letivo sem uma nova aquisição no Brasil. Além da investida sobre o Objetivo, de João Carlos Di Gênio – ver RR nº 4.155 -, está em negociações para a compra de uma participação majoritária na gaúcha Universidade Luterana do Brasil (Ulbra). A operação depende da criação de uma holding na qual a universidade ficaria pendurada. Automaticamente, a rede de ensino deixará de ser uma entidade sem fins lucrativos e perderá os benefícios fiscais de praxe. Procurada pelo RR, a Ulbra negou qualquer negociação. A Laureate, por sua vez, não quis se pronunciar. As tratativas vêm sendo acompanhadas de perto pelo Ministério da Educação, que, não é de hoje, alimenta preocupação com o futuro da Ulbra. O grupo atravessa uma situação financeira delicada, com dívidas de quase R$ 3 bilhões. Não obstante algumas vantagens fiscais, a maior parte deste valor está relacionada a passivos tributários. Por conta do grande endividamento fiscal e da virtual perda das vantagens tributárias da Ulbra, a Laureate já teria, inclusive, consultado o Ministério da Fazenda sobre a possibilidade de um reescalonamento do passivo, condição sine qua non para o fechamento do negócio. Deve chorar e levar. O governo vê com simpatia e boa dose de alívio a entrada de um grande investidor no capital da Ulbra. Controlada pelo fundo norte-americano KKR, a Laureate promete uma longa temporada de investimentos no Brasil. Dona da universidade Anhembi Morumbi, tem em caixa mais de US$ 600 milhões para aquisições no país.
Acervo RR
O ano de 2011 vai dormir com mais um -Pibão- sob o travesseiro
10/08/2011De crise em crise, a economia brasileira enche o papo. Parece herético, não? Mas faz sentido. Apesar de já estarmos nos idos de agosto, o descalabro financeiro mundial pode empurrar o crescimento do PIB para uma faixa de 6%, com um acréscimo de um ponto e meio a dois pontos percentuais em relação a estimativa oficial do governo, segundo fonte do Ministério da Fazenda. A previsão que por enquanto vale é de 4%. O mercado trabalha com três e alguma coisa. O que muda o cenário é que o repertório anticrise é diferente, com estabilização ou queda da taxa básica de juros, redução do compulsório bancário e cortes nos impostos dos produtos industrializados, que o governo está doidinho para utilizar. Há semelhanças com 2008, quando o PIB foi lá para cima. Mas elas param aí. Guido Mantega et caterva parecem ter compreendido que o arsenal adequado para essa circunstância são as medidas monetárias. Se for necessário um pouco mais de combustível, melhor seria usar uma dosagem moderada de Fundo Soberano do que repetir a overdose de BNDES. O curioso é que o medo da crise tem revertido em bons Natais para os brasileiros. E a inflação? Bem, essa fica para 2012, já suavemente arrefecida pelo impacto da crise e pousando com os bons ventos do ajuste fiscal, que se tornou uma lição de casa compreendida por todos. Pelo menos, espera-se.
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Aço derretido
4/08/2011Se Deus escrevesse por linhas retas, Roger Agnelli debutaria no Ministério da Fazenda e Guido Mantega iria carregar sacos de coque metalúrgico. O erro de Mantega em relação a Vale e sua promessa de um nirvana siderúrgico foram mentecaptos e ainda induziram o expresidente Lula ao equívoco. Se fossem executados todos os projetos siderúrgicos com que Mantega cismou, o país teria de estocar aço lá no fundo do pré-sal. É bem verdade que Dilma calou. E quem cala consente.
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Novo darling
1/08/2011Nos idos de Lula, Luiz Gonzaga Belluzzo era figurinha fácil no Palácio do Planalto. Com Dilma, Belluzzo voltou para a província. A presidente prefere se aconselhar com a prata da casa. Tem um xodó especial pelo secretário executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa. a€s vezes, ele não sabe se está lotado na Fazenda ou no Palácio.
Acervo RR
Tarso Genro joga a crise da Doux Frangosul no colo do BNDES
26/07/2011A crise financeira da Doux Frangosul virou assunto de Estado. Até então restrito ao Rio Grande do Sul, o problema foi parar nos mais altos gabinetes de Brasília, notadamente nos Ministérios da Agricultura, da Indústria e Comércio e da Fazenda. Tarso Genro negocia com o governo federal apoio para equacionar a delicada situação do frigorífico. Por apoio entenda-se a participação do BNDES, sempre ele, como um agente facilitador da venda da empresa e da consequente repactuação de suas dívidas. Genro entende que o banco deve não apenas financiar a negociação do controle da Doux Frangosul como entrar no capital da empresa, servindo como um duplo avalista capaz de atrair candidatos para a compra do frigorífico. O governador gaúcho já teria sido procurado por pretendentes ao negócio, como a norte-americana Tyson Foods e o Marfrig, que está disposto a ampliar sua operação no segmento de abate de frangos. As duas empresas, no entanto, não querem saber de carne de pescoço. Pedem um bife já moído e mastigado pelo BNDES. Ambas condicionam o investimento a associação com o banco, que daria sua chancela a um plano de reestruturação financeira e de alongamento da dívida da Doux Frangosul. Procuradas pelo RR – Negócios & Finanças, tanto a Tyson quanto o Marfrig informaram que -não comentam especulações de mercado-. Tarso Genro jogou para Brasília a pressão que vem recebendo em suas fronteiras. A Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado (Fetag-RS) tem cobrado do governador uma posição mais firme e rigorosa em relação a Doux Frangosul. Genro chegou a Brasília com o discurso pronto. Sua principal justificativa para a entrada emergencial do BNDES neste matadouro é o risco de uma crise sistêmica no setor avícola no Rio Grande do Sul. O governador teme uma quebradeira em série dos pequenos e médios produtores de matrizes do estado que fornecem para a companhia. As dívidas se sucedem há mais de dois anos e ameaçam a sobrevivência de um universo de mais de dois mil criadores integrados em todo o Rio Grande do Sul. Entre abril e maio, a empresa conseguiu reduzir o prazo médio de atraso nos pagamentos de 120 para 60 dias. A alegria dos produtores, no entanto, durou pouco. A situação voltou a se agravar no início de junho. Desde então, o prazo médio de atraso na quitação dos contratos já estaria próximo dos 90 dias. O passivo da empresa com os fornecedores cresceu 10% no ano passado e hoje estaria na casa dos R$ 250 milhões.
Acervo RR
A – missão Rivotri l- de Gilberto Carvalho
15/07/2011O secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, assumiu uma espécie de -função Rivotril – no círculo palaciano. Em relação a imagem do governo nesses primeiros meses de mandato, há um nervosismo a flor da pele entre as matriarcas do poder ? Dilma, Gleisi, Miriam, Helena e Ideli. A sensação é que as peças não estão se encaixando. As obras do PAC não podem ser usadas como emblema porque fugiram do prazo e não há recursos para acelerá- las devido ao compromisso, ainda que tênue, do Ministério da Fazenda com algum controle fiscal. O trem-bala descarrilou. As fórmulas para a licitação dos empreendimentos públicos estão todas implodindo. A inflação teima em andar de lado. E falta um projeto-símbolo do atual governo, a exemplo do que representou o Bolsa-Família para a gestão Lula. Não bastasse esse fuzuê, a mídia, com motivo – caso do ministro Alfredo Nascimento e do parecer do procurador-geral da República sobre os mensaleiros – ou sem motivo, já até por um certo condicionamento, barbariza o governo com todo tipo de acusações, impropérios e adjetivos. Gilberto diz a s moças que já viveu isso, e em grau muito maior, que a coisa não pega no tranco, a mídia ruge, mas não morde e que o surgimento de casos de má conduta no setor público infelizmente é inevitável. A recomendação é seguir conversando com os sindicatos e os grupos sociais, fazer o que tiver de ser feito para conter a inflação e amplificar a comunicação do governo. O Plano Nacional de Combate a Miséria, por exemplo, passou como uma iniciativa de importância residual. A ministra da Secom, Helena Chagas, aliás, não tem sido merecedora dos afagos de Gilbertinho. Em tom de blague, ele considera que o governo está fazendo mais controle fiscal nas contas da sua publicidade do que em todas as demais áreas. O termômetro de ?Mr.Rivotril? é a pesquisa de popularidade da presidente. Ele diz que, se a aprovação permanece empinada, sempre há mais tempo para corrigir o que ainda está no desvio
Acervo RR
Operação-padrão
17/06/2011Gleise Hoffmann chegou a Casa Civil a cem por hora. Encomendou a seus assessores um levantamento minucioso das pendências dos principais ministérios. O pente- fino vai começar pelas pastas da Fazenda, Desenvolvimento e Transportes.
Acervo RR
Isenção fiscal
20/05/2011Os ministérios da Fazenda e da Agricultura trabalham na criação de um novo modelo tributário para as cooperativas agrícolas. O objetivo é usar incentivos fiscais para estimular o aumento da produção e exportação de grãos.
Acervo RR
Cimento duro
28/04/2011A Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae), do Ministério da Fazenda, prepara nova investida sobre o setor de cimento. Mapeia preços do produto em todo o país para identificar eventuais formações de cartel, por tipo de cimento ou por região. No último levantamento similar feito pela Seae, sobrou multa para tudo quanto foi fabricante.
Acervo RR
Guido Mantega
26/04/2011O secretário executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, será o sucessor de Guido Mantega em breve. Futurologia? Leviandade? Pois bem, é só esperar para ver.
Acervo RR
BB lança sua rede sobre Banestes e Banpará
28/02/2011O Ministério da Fazenda está namorando a federalização dos bancos estaduais, leia-se a incorporação destas instituições pelo Banco do Brasil. As discussões vêm sendo travadas pelo ministro Guido Mantega, pelo secretário executivo Nelson Barbosa e pelo próprio presidente do BB, Aldemir Bendine, responsável pelos estudos técnicos. A ideia é fisgar os poucos bancos estaduais que ficaram de fora do arrastão feito pelo BB nos últimos três anos. Há dois alvos prioritários na mira: o Banestes, do Espírito Santo, e o Banco do Estado do Pará (Banpará). A operação, no entanto, está longe de ser uma unanimidade no governo. as voltas com duras medidas políticas, como o corte de gastos e o aumento mais contido do salário mínimo, Dilma Rousseff ainda não se pronunciou a respeito do assunto. Mas sabe-se que gente muito próxima do núcleo duro do governo tem restrições a federalização dos bancos estaduais, a começar pelo ministro Antonio Palocci e por Alexandre Tombini, que, em pouco tempo no BC, já mostrou ter trânsito livre no gabinete presidencial. Ambos são contra a medida, Entendem que partir para a federalização de bancos renderia a Dilma um desgaste político com os governadores, além de colocar graxa no propósito de um maior controle da liquidez almejado pelo Banco Central. Ressaltese ainda que nem o Banestes nem o Banpará estão sequer próximos da situação de instabilidade financeira que levou outros bancos estaduais a serem incorporados pelo BB. bate político, a Fazenda é entusiasta do projeto e do seu impacto sobre o mercado bancário. Mantega sempre defendeu a engorda do Banco do Brasil como forma de fortalecer sua posição na arbitragem de taxas de juros e tarifas bancárias, obrigando o restante da banca a seguir os mesmos padrões. O próprio BB, por sua vez, enxerga a medida como um maneira oblíqua de crescimento orgânico, uma espécie de greenfield alheio. Não obstante a reação adversa dos grupos financeiros privados, o BB entende que nada mais natural do que uma institiuição federal assumir o controle de bancos estaduais. O Banco do Brasil mira no kit de benefícios que costuma vir acompanhado de incorporações como esta: gestão da folha de pagamentos do funcionalismo estadual, carteiras de operação de crédito, notadamente consignado, e rede de agências, além do aumento da base de correntistas. No caso específico do Banestes e do Banpará, este pacote de vantagens é multiplicado pelo bom desempenho recente das duas instituições. No banco capixaba, a carteira de crédito mais do que dobrou em 2010, chegando a marca de R$ 3 bilhões. Do total de operações de crédito do Banestes, mais de R$ 500 milhões são empréstimos aos servidores públicos do Espírito Santo, um maná que o Banco do Brasil quer para si. Embora de menor envergadura, o Banpará também teve um 2010 de resultados expressivos. Em relação ao ano anterior, a carteira de crédito subiu mais de 40%. O banco fechou o ano com cerca de R$ 1,5 bilhão em empréstimos. Deste total, 65% correspondem a financiamentos com desconto em folha. Na ponta do lápis, o Banco do Brasil agregaria cerca de R$ 11 bilhões de ativos com a incorporação das duas instituições ? R$ 9 bilhões provenientes apenas do Banestes. Herdaria ainda quase R$ 7 bilhões em depósitos.
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Dupla de ataque
17/12/2010Do novo secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Marcio Holland: “Nós vamos fazer uma tabelinha com o BC igual a de Pelé e Coutinho. Quem sabe a gente não começa logo a ancorar a expectativa inflacionária no anúncio de medidas de contenção de custos ao invés do aumento de taxa de juros.”
Acervo RR
Sem banco
19/11/2010A virtual confirmação de Guido Mantega colocaria uma pá de cal nas pretensões de Ciro Gomes de assumir a presidência do BNDES. Já seria difícil se Luciano Coutinho tivesse ido para o Ministério da Fazenda.
Acervo RR
BNDES é a cereja no bolo das debêntures
1/09/2010O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, pode ficar no banco ou ir para o Ministério da Fazenda em um futuro governo Dilma Rousseff. Mas, em qualquer das duas hipóteses há um projeto em comum. O BNDES será um dos atores centrais da fundação de um mercado secundário de títulos privados de longo prazo. A idéia é reduzir o recolhimento compulsório bancário em troca da ampliação dos financiamentos a s empresas privadas, hoje praticamente a cargo do BNDES. As debêntures de vencimento longo seriam garantidas pelo banco, que não emprestaria, mas avalizaria. Depois, aos poucos, o BNDES iria recolhendo o tapete do seu aval. A sacada não é original. O ex-ministro Mário Henrique Simonsen cogitava em fazer algo assim. Bom sinal.
Acervo RR
Retratos sem retoques dos apóstolos de Dilma
25/08/2010Que sai Lula e entra Dilma – Serra? Que Serra? – não há novidade. A bolsa de apostas agora está concentrada nos primeiros dias do futuro governo. Os dados estão rolando primeiramente sobre o seu ministério. Os principais nomes já estão previstos. Mas as combinações dos cargos a serem ocupados são múltiplas. Antônio Palocci, por exemplo, pode vir a ser ministro-chefe do Gabinete Civil, com responsabilidade pela articulação política, ou ministro da Saúde, em uma reedição do modelo FHC/Serra. No entanto, as hipóteses para as funções de Palocci não se encerram em Brasília. Os franco atiradores do PT, que têm no futuro ministro sem pasta José Dirceu seu expoente principal, gostariam de vê-lo na Petrobras, até por motivos estratégicos. A estatal, símbolo máximo de poder nesses tempos de pré-sal, estará no centro de uma encarniçada disputa política, sendo difícil para a presidente definir o novo titular mesmo trazendo o cargo para sua cota pessoal. Palocci mataria dois coelhos com uma só cajadada, colocando a Petrobras na antessala do Planalto. E quem faria a coordenação política do governo Dilma? O ministro Paulo Bernardo divide as preferências com a ministra Erenice Guerra para a Casa Civil, ressaltando-se sempre que o pole position é de Antônio Palocci. Mais provável é que, se a disputa for entre os dois, Erenice seja a Dilma da Dilma. Paulo Bernardo seria mantido no Planejamento, que deixaria de ser ministério e voltaria a ser uma secretaria ligada ao Planalto. Há quem diga também que Bernardo tem vaga garantida no Banco do Brasil, mas aí pode ser mais desejo do que evidência. Comenta-se que é no BB que Sérgio Rosa gostaria de saltar de bancário a banqueiro. Mais um do time do “gostaria”. Erenice poderia ainda assumir a Secretaria da Presidência, tornando-se uma espécie de Gilberto Carvalho de Dilma. As maiores apostas, entretanto, cravam que esse cargo será ocupado por Miriam Belchior, atual coordenadora das obras do PAC. Ou seja: as dilmetes, Erenice e Miriam, permaneceriam no Planalto mais ou menos onde estão. O Ministério da Fazenda, que sempre esteve entre os maiores cacifes da bolsa de apostas ministerial, desceu para um segundo degrau. Isto porque a previsão de um superministro Luciano Coutinho está sendo desinflada pelo próprio. Luciano preferiria continuar onde está. No BNDES, tem o apoio absoluto da corporação e projetos para implementar por pelo menos duas décadas. Já Guido Mantega trabalha 25 horas por dia para sequer se levantar da cadeira. Será, contudo, um ministro mais fosco ainda do que é na atual gestão. Em cima da sua cabeça estarão Dilma, Palocci, Paulo Bernardo e Erenice, todos com disposição de apitar na economia. E do lado, existe o plano de criação de um ministério tonificado para o comércio exterior e indústria, no qual se imagina assentar o atual presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, que passou a ser, digamos assim, da cota do próprio Lula. Mantega deverá continuar privando da companhia querida de Henrique Meirelles no BC. É muito provável, entretanto, que Meirelles somente faça a transição, saindo em agosto, quando ocorre a eleição para a presidência do BIS, o Banco Central dos Bancos Centrais. Este, por enquanto, é seu plano de voo. O núcleo duro ministerial de Dilma Rousseff seria finalizado com a presença de Aloizio Mercadante, que saltaria direto da derrota pela disputa do governo de SP para o Ministério da Educação. Bem, pode ser que o desenho final seja diferente. Mas não será muito. Façam suas apostas.
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Cutrale e Louis Dreyfus juntam seu laranjal
12/08/2010Onde hoje os órgãos antitruste enxergam um cítrico oligopólio, dentro de alguns meses talvez passem a ver um duopólio. Cutrale e Louis Dreyfus negociam a fusão de seus ativos no mercado brasileiro de suco de laranja. O modelo sobre a mesa passa pela criação de uma joint venture. O grupo brasileiro deverá ficar com uma participação majoritária, proporcional ao maior porte das suas operações. As conversas entre as duas empresas começaram há cerca de quatro meses, não por coincidência pouco antes de a Citrovita, do Votorantim, e a Citrosuco, do Grupo Fischer, anunciarem sua associação. Procuradas pelo RR – Negócios & Finanças, Cutrale e Louis Dreyfus negaram a operação. A Cutrale almeja recuperar o status de principal produtora nacional e maior exportadora mundial de suco de laranja. A Louis Dreyfus, por sua vez, precisa sair da encruzilhada em que ficou após a fusão entre Citrovita e Citrosuco. Responsável por 18% do suco processado no Brasil, bem menos da metade do volume alcançado pela nova empresa, o grupo francês perdeu poder de barganha tanto na compra da matéria-prima como na exportação do concentrado e corre o risco de ter sua participação ainda mais diluída. Por esta razão, está disposto a abrir mão do controle de seus negócios no país em nome de um projeto maior. Melhor ter um gomo de uma laranja cheia de suco do que ser dono sozinho do bagaço. O que está em disputa não é apenas a liderança do mercado brasileiro, mas a supremacia no comércio internacional de suco de laranja. Juntas, Cutrale e Louis Dreyfus terão poder para destronar a Citrosuco e a Citrovita, transformando em efêmero o reinado da dupla. Ambas chegarão a marca de US$ 900 milhões em exportações, o equivalente a metade do volume vendido pelo país, deixando a concorrente para trás, com cerca de US$ 700 milhões. Terão mais de 30% das vendas mundiais, contra 25% da empresa recém-criada pelos Ermírio de Moraes e os Fischer. Passarão a responder por praticamente metade do processamento de suco de laranja no país, ultrapassando, ainda que no photochart, Citrosuco e Citrovita, que ficaram com 45%. Também vão superar o rival em número de fábricas: dez contra sete. Em nome da liderança mundial do setor, a família Cutrale e os executivos da Louis Dreyfus vão ter de enfrentar uma batalha política, notadamente contra os órgãos antitruste. O setor vem sendo alvo de uma ferrenha investigação sobre suposta formação de cartel. Uma nova fusão vai acirrar ainda mais a contenda com as associações de produtores de laranja. Os citricultores têm municiado a SDE com uma artilharia pesada de documentos e informações com o objetivo de provar que as indústrias do setor combinam preços para a compra da matéria-prima. É sintomático que, há pouco mais de três meses, a Cutrale tenha convocado um personagem habituado a espremer as laranjas mais duras do pomar sem sujar as mãos. Trata-se de Carlos Viacava, que assumiu a diretoria de assuntos corporativos da empresa. Ex-secretário-geral do Ministério da Fazenda e ex-diretor da Camex, Viacava desfruta de ótimo trânsito entre autoridades políticas. É visto pela Cutrale e pela Louis Dreyfus como o homem certo no lugar certo. Como bom soldado, ele já foi para o front. Estaria mantendo uma intensa agenda em Brasília em busca de apoio para a associação entre as duas empresas. Recentemente, teria conversado sobre o assunto com o ministro Miguel Jorge.
Acervo RR
Caixa Econômica muda o figurino do FI-FGTS
14/07/2010O relatório da Controladoria Geral da União (CGU), com diversas ressalvas ao Fundo de Investimentos em Participações do FGTS (FIFGTS) administrado pela Caixa Econômica Federal, calou fundo no banco. A diretoria da CEF vai fazer mudanças no formato de uma das principais fontes de financiamento para projetos de infraestrutura no país. O novo figurino já vestirá o segundo fundo, o FI-FGTS II que a Caixa pretende criar no segundo semestre. O calibre do funil vai ficar ainda mais estreito. A maior parte dos recursos será destinada a empresas com capital aberto em Bolsa. Os investimentos serão condicionados a participação da Caixa no bloco de controle das empresas, com direito a tag along em caso de venda do controle. O banco terá direito também a indicar um nome para a diretoria. Com estas medidas, a Caixa espera afastar o risco de questionamento jurídico a gestão do fundo, que já acumula investimentos da ordem de R$ 14 bilhões. A CGU apontou uma série de falhas na operação, a começar pela inexistência de um processo de gerenciamento de riscos para ativos não negociados em Bolsa. O relatório da Controladoria fez ressalvas também aos critérios de contabilização dos investimentos, considerados em ?discordância com as boas práticas do mercado?. O documento da CGU questiona também a taxa de administração paga a Caixa Econômica pela gestão do fundo. O banco recebe 1% ao ano sobre o patrimônio em carteira. Neste quesito, no entanto, não se tem notícia de qualquer movimento no governo para que o ?pró-labore? da Caixa seja reduzido. Procurada pelo RR – Negócios & Finanças, a CEF informou que já esclareceu os questionamentos da CGU sobre o fundo e que desconhece o lançamento de um segundo fundo. Não é para menos, o Ministério da Fazenda exigiu sigilo absoluto na operação, que tem números superlativos. A meta é criar uma carteira com aproximadamente R$ 30 bilhões para a compra de ações e debêntures. Um dos alvos será o setor de saneamento. Já existem gestões entre a Caixa e governos estaduais para a aquisição de participações em concessionárias do setor. A lista de pretendentes inclui a paulista Sabesp e a paranaense Sanepar.
Acervo RR
Brazil parade
28/06/2010O Ministério da Fazenda prepara um road show, com foco nos fundos soberanos de Abu Dabi, Cingapura e China. A intenção é estimular a compra de títulos da dívida brasileira. O próprio Guido Mantega deverá participar de alguns dos encontros.
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Fotocópia
25/06/2010A BNDESPar vai ganhar uma versão de bolso, em caráter regional. O Ministério da Fazenda autorizou o Banco da Amazônia (Basa) e o Banco do Nordeste a criarem um braço de participações. O foco das duas instituições será investir em empresas e projetos de infraestrutura, notadamente empreendimentos incluídos no PAC.
Acervo RR
Afinal, o que Mantega tem contra a Vale?
15/06/2010O ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem agido com desrespeito, oportunismo e perfídia em relação a Vale e sua gestão. Mantega tem envenenado seus companheiros de Ministério e o próprio presidente Lula e usado a assessoria de comunicação que o acompanha desde o BNDES para vazar, insistentemente, comentários depreciativos em off the records. Dizia Yves Mamou, legendário editor do Le Monde, que o vazamento está para a democracia assim como a tortura está para a ditadura. Digamos que menos. Mas as incessantes campanhas difamatórias na mídia usadas como instrumento de Estado estão muito perto das piores práticas de manipulação do nazismo, facismo e stalinismo. Há quem diga que não se trata de vilania, mas vingança pura e simples. O ministro da Fazenda teria implicado com Roger Agnelli desde o afastamento do ex-presidente do BNDES, Demian Fiocca, seu protegido, da diretoria da Vale. Por uma outra versão, Mantega estaria pavimentando agora sua candidatura futura ao próprio cargo de presidente da companhia. Parece mais salutar acreditar apenas na sua falta de bom senso. A bola da vez são os aumentos dos preços do minério de ferro, que deveriam ser saudados como uma vitória e vêm sendo acusados de má fé cívica. A mesma Vale – que foi criticada por ter tido um resultado inferior, no ano passado, devido a queda da demanda e dos preços em função da crise financeira – é agora atacada por tentar reverter seus números e voltar a performar positivamente. Os argumentos são toscos: o aumento do preço do minério (90% do volume são exportados) seria repassado em 100% para o preço do aluguel, que, que por sua vez, pressionaria o índice de preços – especialmente o cálculo do IGP-M. Acredite se quiser, o ministro, com outras palavras, disse isso. Guido Mantega é favorável a baixar alíquotas de importação – no caso do aço – e criar imposto sobre a exportação, no caso do minério de ferro. Bem, o que tem o minério exportado a ver com a carestia? Ao que se saiba, nove entre dez analistas renomados consideram que um dos problemas no horizonte da economia é o déficit de transações correntes, e nunca se viu ninguém combater essa disfunção nas contas externas com a redução do saldo da balança comercial. Mantega deve achar que a Vale só pode aumentar suas divisas com aumento do volume de exportações e não com reajuste de preços. Do lado do aço, o próprio Mantega fez campanha aberta para que as empresas, inclusive a Vale, investissem e migrassem para a siderurgia. O favorecimento a s importações reduz a competitividade, já que o mix de faturamento dessas empresas é decorrente da combinação dos preços do mercado interno e externo. Por obra e obsessiva atuação do ministro da Fazenda, a Vale tem sido bode expiatório em diversos momentos, curiosamente desde a saída de Fiocca. A demissão de três mil funcionários pela companhia no auge da crise do mercado de minério de ferro foi tratada como crime de lesa pátria por Mantega, que usou seus assessores para esticar o assunto no noticiário o quanto pode. Depois veio a obstinada intervenção no core business da companhia, que teria de virar siderúrgica, querendo ou não. É óbvio que o que está sendo feito tem motivações inconfessáveis. No mínimo, não se trata assim uma empresa privada.
Acervo RR
Brics discutem intercâmbio em moeda local
16/04/2010Além da possibilidade de uma agência de fomento multilateral, outro projeto de relevância, talvez até mais exequível, entrou na agenda da reunião de cúpula dos Brics, em Brasília. O governo brasileiro apresentou a Rússia, andia e China proposta para a implantação de um mecanismo de intercâmbio em moeda local, similar ao que já existe no âmbito da Associação Latino-Americana de Integração (Aladi). O objetivo é fomentar o comércio entre os quatro países, sem a necessidade de conversão em dólar. O projeto, elaborado pelo Ministério da Fazenda, prevê a criação de um Convênio de Crédito Recíproco (CCR), um sistema de compensação de pagamentos para dar garantias recíprocas de conversibilidade, transferência e reembolso. De acordo com uma alta fonte do Ministério do Desenvolvimento, que participou das discussões em Brasília, ficou acertado que os ministros da Fazenda dos quatro países vão se reunir para avançar nas negociações ? a data e o local do encontro deverão ser definidos em maio.