Política

Haddad precisa resistir à repetição do velho “clubinho” unicampinense

  • 27/07/2023
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Fernando Haddad, que é um dos maiores achados para o Ministério da Fazenda desde Antônio Palocci – Paulo Guedes, apesar do excesso de convicção e histrionismos, também teve seus bons momentos, vide a reforma da Previdência – corre o risco de repetir o governo Dilma e formar na sua equipe econômica um “clubinho” de economistas deserdados. Deserdados porque todos erraram nos diagnósticos e recomendaram e/ou implementaram medidas fundamentadas nos seus próprios equívocos de interpretação. Por isso, foram colocados ao relento das funções executivas e perderam o pouco prestígio que tinham na academia. A ratificação do economista Marcio Pochmann na presidência do IBGE por Fernando Haddad denota uma rachadura na intocável performance do ministro até agora. Se havia dúvidas em relação à formação do “clubinho”, elas estão sendo dissipadas.

Pochmann, que não tem nada a ver com estatísticas e apresenta um viés ideológico bastante acentuado, corre o risco de desacreditar o órgão, noves fora a fortíssima probabilidade de aparelhá-lo. Ele foi aluno de Luíz Gonzaga Belluzzo, primo de Guilherme Mello , secretário executivo de Política Econômica de Haddad e amigo de Gabriel Galípolo, que escreveu um livro a quatro mãos com Belluzzo, que participa da articulação (com Gleisi Hoffmann) para achar um lugar para Guido Mantega em algum órgão da Fazenda ou cercanias; Mantega, por sua vez, tem relações de afetividade com Ricardo Carneiro – um esquecido colaborador, professor titular da Universidade de Campinas -, que participou de vários comitês de campanha de Lula para montagem dos programas econômicos. Todos, por outro lado, têm estima e carinho pela economista Laura Carvalho, professora da FEA-USP queridíssima, uma menina, com seus 39 anos, em meio aos macróbios barões unicampinenses. Laura ainda não encontrou o seu lugar nessa dança das cadeiras onde todos terminam sentados. Mas vai encontrar.

E daí volta para a matriz do “clubinho”, ou seja, o universal Belluzzo, uma espécie de xamã unicampinense que Lula já quis por várias vezes tornar presidente do BC e é responsável pela aproximação do secretário do Tesouro, Rogerio Ceron, de Fernando Haddad. Ceron escreveu três livros em parceria com Belluzzo. É um círculo vicioso carcomido por profissionais condenados, no mínimo, pela conivência com Febeapá econômico que assolou o país. Velhos hábitos são difíceis de serem mudados.

Para não cometer injustiças, vale lembrar que muita gente dos dois lados das fronteiras ideológicas, de fora do “clubinho”,  também bateu cabeça na política econômica. No momento,  é importante blindar Haddad dessa ofensiva de velhos amigos, dissuadi-lo dessa lealdade infeliz ou mesmo convencê-lo de que remontar o “clubinho” é um chute no próprio pé. Já está de bom tamanho. Se quiser trazer mais técnicos à esquerda para seu Ministério que o faça. Mas traga gente nova, arejada, de fora da pauliceia, evitando abrir espaço para um grupo um tanto obscurantista, que deixou uma herança de desacertos nas diversas incursões feitas pela política econômica. Como dizia o velho Eliezer Batista, “Às vezes eles até pensam bem, derivam com criatividade, mas, como erram a gestalt, o que se vê é a repetição das mesmas ideias adornadas com bijuterias intelectuais desconformes”.

De tudo o que foi dito, o RR tem uma informação firme em relação ao “clubinho”: está sendo procurado rapidamente um cargo para Guido Mantega, que pode ser até o IPEA, motivo de rusga da ministra Simone Tebet, com o ministro da Casa Civil, Rui Costa, e o próprio Haddad. Ou ainda a Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos. Mas o vacilo maior foi de Tebet. A ministra levou a presidenta do Ipea, Luciana Servo, a dar um tiro na reforma tributária quase aprovada, dizendo que teremos o maior IVA do mundo (https://relatorioreservado.com.br/noticias/rui-costa-nao-engole-o-gol-contra-de-simone-tebet/). Ainda bem que o tiro passou de raspão. Mas, com o disparo, Mantega tem mais chance de se aboletar no Ipea.

#Fernando Haddad

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