Política

O que falta a Fernando Haddad para ser digerido pelo mercado?

  • 8/11/2022
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Causa estranheza o mau humor do mercado com a possível indicação do ex-prefeito Fernando Haddad para o Ministério da Fazenda. Haddad tem mestrado em economia, experiência em gestão pública e foi professor do Insper, celeiro de economistas como Marcos Lisboa e Samuel Pessôa. Haddad seria uma espécie de Fernando Henrique de Lula, feitas as devidas ressalvas em relação à excepcionalidade do citado. Ontem, o dólar subiu 2,2%, com a alta bastante atribuída às especulações em torno do nome de Haddad para o cargo. Hoje, até o início da tarde, declinava em 0,5%. Pode sempre ser um ajuste de posições, pois existe uma série de variáveis influenciando no momento nas cotações – eleição norte-americana, guerra entre Rússia e Ucrânia, variação do preço das commodities, situação institucional do país e mesmo as dúvidas em relação a formação da própria equipe econômica. O Ibovespa, ontem, parece ter combinado sua variação com o câmbio: caiu pouco mais de 2%. Hoje, já sobe 1,29%, com a alta explicada pelas boas notícias vindas da Vale. Os índices e cotações de hoje foram registrados no horário de 14h23.

O RR fez um exercício para identificar o espaço de Fernando Haddad na mídia, em citações positivas e negativas, cobrindo 30 mil veículos entre impressos, onlines e TVs, no intervalo de 11 de maio até hoje. Haddad disparou na curva, com 113.350 menções, mais do que o dobro do segundo colocado, o ex-governador da Bahia, Rui Costa, com 51.720 citações. Sim, é isso mesmo: Rui Costa é o segundo da lista. Outra visão é que o mercado não é um ente tão intangível e estaria trabalhando colegiadamente para um outro nome para a Fazenda. Detonar Haddad seria uma forma de influir a indicação, não esquecendo que o personagem que está na língua dos agentes financeiros é Persio Arida.

Arida parece o mais talhado para o cargo de ministro da Fazenda. O economista, um dos pais do Plano Real, tem uma excelente formação acadêmica no Brasil e no exterior, passagem pela presidência do BNDES, foi conselheiro formal e informal em toda a gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso, foi banqueiro – há quem diga que banqueiro, assim como general, padre e juiz, mesmo deixando a função jamais perde o nome de tratamento. Tanto participou de reuniões do comitê econômico da campanha de Lula como está escalado para o comitê de transição do governo Bolsonaro para o do presidente eleito.

Há quem diga que Pérsio Arida não é o que se chama de “operacional”. Mas, nos últimos tempos, o que conta é a equipe econômica do ministro, o que virá em um segundo tempo da partida. Outra curiosidade: a pesquisa do RR revela que a indicação de Pérsio Arida não é um sentimento geral – ele está no fim da fila entre os ministeriáveis especulados para o comando da economia, com apenas 8.181 citações no mesmo período supracitado. Portanto, somente competência pretérita e salamaleques, na prática, não são necessariamente os atributos que contam para a indicação do ministro.

Outros nomes têm sido insistentemente citados para a gestão da política econômica do país. São eles: Henrique Meirelles, Wellington Dias, Alexandre Padilha, Rui Costa e Camilo Santana, não necessariamente nessa ordem de presença constante na mídia. Meirelles dispensa apresentações, mas vamos lá: banqueiro, presidente do Banco Central e ministro da Fazenda. Outra curiosidade: Meirelles, com 18.992 citações, está, em um para lá de inesperado, terceiro lugar no fim da fila, sentado somente na cadeira da frente de Pérsio Arida e atrás de Alexandre Padilha, com 10.787 menções. Wellington Dias, ex-governador do Piauí, assina seu currículo de forma suscinta: bancário, político e escritor. É quem mais dá declarações sobre a futura política econômica do governo Lula. Alexandre Padilha tem em comum com o ex-ministro Antônio Palocci o fato de ser médico. Foi ministro de Relações Institucionais no governo Lula e ministro da Saúde na gestão Dilma Rousseff. Sabe tudo de política. É o terceiro colocado na pesquisa do RR para o cargo de ministro, com 22.771 citações na sondagem.

O “segundão do ranking”, Rui Costa é graduado em economia, trabalhou como consultor de projetos na petroquímica e é um político” PT de raiz”. Ao que indica a pesquisa, pode já estar com um pé na Fazenda. Finalmente Camilo Santana, que segue no último lugar da fila. Santana tem características especiais para o cargo em um momento que o meio ambiente e as commodities parecem ser um quesito importante para qualquer função. É engenheiro agrônomo, professor, foi secretário de desenvolvimento agrário e posteriormente formou-se como mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente, além é claro o posto de governador do Ceará. Santana ficou na fila do meio na sondagem, com 17.555 citações.

O que pode se depreender da análise é que os nomes para a Fazenda que estão na “boca do povo”, aliás, na boca da mídia, têm forte trajetória política e não são os medalhões do mercado financeiro. De qualquer forma Lula e Alckmin tem a palavra final.

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