Tag: PIB
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Destaque
Fazenda já mira crescimento do PIB em torno de 3,4%
4/09/2024Segundo o RR apurou, o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello, levou a Lula e a Fernando Haddad uma das melhores notícias do ano: o aumento do PIB em 2024 deverá superar o patamar de 3%. E com alguma folga. Os cálculos apresentados ao presidente e ao ministro da Fazenda indicam que o índice pode bater na casa dos 3,5%. Significa dizer que, uma vez confirmada a projeção, o governo do petista alcançará um crescimento médio de 3,2% em seus dois primeiros anos – em 2023, a alta do PIB foi de 2,9%. Trata-se de um índice não muito distante da média alcançada nos dois primeiros anos do Lula I, de 3,45%. Ainda que confrontar dois anos com quatro anos não seja exatamente a comparação mais adequada, se for considerado o mandato integral dos mais recentes presidentes da República, Lula só perde para Lula. Em seu primeiro governo, o PIB subiu, em média, 3,51% por ano. No segundo, a mediana chegou a 4,64%.
Economia
Alguém sabe dizer qual é o tamanho da carga tributária no Brasil?
22/07/2024Recomenda-se que o IPEA, o IBGE, a Receita Federal, o Tesouro Nacional, o Ministério do Planejamento e quem mais for do ramo se reúnam e cheguem à conclusão da verdadeira carga tributária do Brasil. E ela é alta, sem dúvida. Mas quanto? Os minimalistas dizem que ela é de 30% do PIB. O Tesouro Nacional anunciou que a carga tributária caiu de 33,07% para 32,44% do PIB, ou seja, uma diferença de 0,63 ponto percentual. O mercado, por sua vez, trabalha com um índice de 34%. Pode ser que esse percentual seja por aproximação, ou haja mesmo rigor nesse cálculo. Mas o Impostômetro, constituído por entidades patronais, principalmente a Fiesp, já bateu em 35%. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, considera provável que em 2024 o impacto do total dos impostos desça a 32%. A ver. O fato é que o tamanho da carga tributária no Brasil talvez seja um desses enigmas da economia que ninguém consegue decifrar. A única certeza é de que ela é muito alta.
Destaque
Governo ainda tem cartas para colocar sobre a mesa do ajuste fiscal
13/06/2024A histeria com que o mercado financeiro vem tratando as dificuldades para o fechamento das contas públicas – com previsões de déficits primários de 0,7%, em 2024, e 0,6%, em 2025, frente às projeções de 0% do Ministério da Fazenda para os dois anos – parece despropositada. É claro que o fiscal influencia todas as principais variáveis macroeconômicas e os números das nossas contas não são nenhuma maravilha. Mas a vociferação em uníssono dos analistas está alguns tons acima do diapasão.
Segundo industriais ouvidos pelo RR, pelo menos quatro em cinco fontes – a publicação não consultou instituições financeiras porque todas já dizem o que pensam no Boletim Focus -, consideram que ainda há margem de manobra para zerar o déficit nas contas do governo. Se sair da meta, será por poucas casinhas decimais: 0,3% ou 0,4%, respectivamente em 2024 e 2025, seriam hipóteses razoáveis. Vale ressalvar que, quando se trata dos grandes números, um pequeno percentual faz diferença. Mas essa premissa, que está levando o fiscal como matriz de todos os problemas da República, é, no mínimo, exagerada.
Primeiro o PIB pode – e deve – crescer mais do que a projeção quase inercial do Boletim Focus do início da semana (2,5%, em 2024; 2%, em 2025; e os mesmos 2% em 2026), pois o deflator do Produto, mesmo que menor do que no ano passado, aumentará um pouquinho o índice. E ainda há espaço para crescimento, como mostrou a alta de 0,8% do PIB no primeiro trimestre, acima do que previa o mercado. E o aumento da renda e do consumo, que estão puxando o Produto Interno Bruto, não cai de uma hora para outra. Um PIB maior não obrigatoriamente leva a um resultado primário mais favorável. Mas é uma excelente sinalização. Há também um desdém em relação à margem de manobra dos ministros Fernando Haddad e Simone Tebet. Esta última trabalha calada, mas em pautas delicadas que poderiam levar a soluções estruturais para o desafio de reduzir os desequilíbrios fiscais recorrentes.
Haddad toca de ouvido com a ministra do Planejamento. São as seguintes as propostas de Tebet: mudança na regra do salário-mínimo; desindexar as contas públicas do salário-mínimo, notadamente as da Previdência (60% do orçamento comprometidos); e flexibilização do piso constitucional das transferências do orçamento para as áreas de saúde e educação. Mexer no cálculo de correção do mínimo em ano eleitoral parece suicídio político. Sobram as outras duas medidas, que certamente estarão na pauta do segundo semestre. Mas exigirão que se mexa em uma PEC e se aprove outra. Vai sair caro o aval do Congresso.
Outra iniciativa provável é que o governo use o contingenciamento para excluir despesas do orçamento federal. Novamente a medida colide com o ano eleitoral. Menos dinheiro para o governo investir em um calendário eleitoral crucial e reduzir a sua posição de refém político. Contudo, está dado que o corte de despesas é uma profecia autorrealizável. Existem ainda R$ 520 bilhões intactos em benefícios fiscais. Desse total, R$ 200 bilhões estão “voando”, ou seja, o fisco não sabe quais empresas foram beneficiadas. Na declaração do Imposto de Renda da pessoa jurídica deste ano, todas as empresas serão obrigadas a informar suas vantagens tributárias. O governo também teria R$ 89 bilhões em ativos imobiliários – Paulo Guedes dizia que superavam R$ 1 trilhão; vai ver colocou a Petrobras na conta. Não se sabe se as praias, que alguns parlamentares consideram privatizáveis, também estão no montante. Mas existem ainda recursos potenciais a serem levantados.
A Câmara dos Deputados aprovou há sete dias o projeto de lei complementar que regulamenta a securitização da dívida da União, estados, Distrito Federal e municípios. A securitização envolve a venda com deságio dos direitos de receber dívidas, sejam elas tributárias ou não. Entretanto, é capaz do governo, a exemplo dos benefícios fiscais, não saber bem quem são os devedores. De qualquer forma, desse montante, R$ 46 bilhões já estão previstos para reforçar o caixa da União. Os números chegam a ser extravagantes. Existem previsões que alcançam os R$ 5,7 trilhões para serem repartidos entre os entes da Federação. Um percentual de 50% do valor aferido, seja ele qual for, será destinado à Previdência, o que para a União não é parte do problema, mas da solução.
Achar que a Fazenda não tem mais cartas para trazer o déficit primário para próximo da meta, quiçá dentro dela, é subestimar em demasia a musculatura do governo quando se trata de arrecadar mais. Ou mesmo se o instinto de sobrevivência do governo o levará a fazer contingenciamento de crédito, o que era considerado um estigma no início da gestão Lula. No escurinho, no escurinho dos escritórios da Faria Lima, nem os financistas acreditam que o buraco orçamentário não pode ser tapado em 2024/25.
Destaque
Governo Lula flerta com um PIB médio de 3%
4/03/2024Mesmo que a implicância com o presidente da República seja a mesma, já existe na Faria Lima quem esteja comemorando a gestão da política econômica de Fernando Haddad até o final do governo Lula. As pitonisas consultadas pelo RR consideram que está cada vez mais provável a mediana do crescimento do PIB até 2026 superar os 3%. Trata-se de um percentual que vem sendo considerado uma fronteira inatingível pela maioria dos analistas de mercado.
Ele estaria pelo menos 1 p.p acima do PIB potencial do Brasil calculado pelas instituições financeiras – entre 1,5% e 2%. O Ministério da Fazenda aumenta a aposta e estima que o PIB potencial é de 2,5%. Entenda-se como PIB potencial o patamar de crescimento da economia que não pressiona a inflação.
O Boletim Focus, em sua última rodada (23 de fevereiro), projeta um PIB de 1,75% para 2024. Parece baixo, mas, tratando-se do conservadorismo dos analistas, é um bom piso para o início do ano. Vale recordar que, em 2023, a previsão para o crescimento do PIB, nesse mesmo período, era de apenas 0,5%. No fim das contas, a economia cresceu 2,9% no ano passado, ou seja, quase seis vezes o índice esperado pelos analistas.
É provável que um erro tão grande do Focus não ocorra neste ano, mas os números do primeiro mês de 2024 foram bastante positivos e interpretados como um indicador de que a economia está andando dentro da pista, com baixa possibilidade de descarrilhar. Até 2026, o Boletim projeta uma mediana do PIB de 2%. Vale o registro de que o Focus estima o mesmo PIB de 2% para 2025 há 11 semanas e para 2026 há 29 semanas.
Arrisca até uma previsão dos mesmos 2% até 2027 – depois, portanto, do atual mandato presidencial – há 31 semanas.
Como foi dito antes, esses 2% podem ser considerados um piso. Com a confirmação desses índices, o resultado primário ficaria dentro da meta sem pirotecnias fiscais, quase que por inércia. A arrecadação deve garantir o cumprimento do arcabouço fiscal.
As projeções que fundamentam o otimismo são a combinação de uma atividade produtiva aquecida – com o aumento da renda e do consumo -, PIB em alta e inflação em baixa, e mais e mais investimentos públicos e privados. Antes que se esqueça, há ainda o fator Haddad, talvez a maior âncora atual da economia e o novo querido da Faria Lima.
A manutenção de um PIB mediano na casa dos 3% reposiciona o Brasil no patamar do crescimento global da economia – as estimativas para a alta do PIB mundial em 2024 vão de 2,4% (Banco Mundial) a 3,1% (FMI). Na última década, o país passou longe do Planeta Terra. Entre 2013 e 2022 (os dados gerais de 2023 ainda não estão consolidados), o PIB global subiu, em média, 2,74% por ano. No mesmo período, a economia brasileira cresceu (se é que o termo pode ser usado) ao ritmo de 0,46% ao ano.
Portanto, em relação à base de comparação, a mediana de 3% ao ano que se anuncia para o governo Lula soa como alvissareira. Mas, quando a referência são as necessidades do país, esse índice ainda é muito baixo. O Brasil precisaria crescer, ao menos, 5% ao ano para fazer frente às demandas em infraestrutura, saúde, educação, segurança etc, algo que hoje ainda não é possível devido às restrições do PIB potencial.
Além disso, não é só uma questão de aumentar o tamanho do bolo, mas também a forma como ele é dividido. O crescimento do PIB terá de vir acompanhado de uma alocação correta dos recursos, mesmo porque se espera uma presença maior do Estado em investimentos estruturantes cruciais.
Destaque
Projeção indica apocalipse fiscal nos estados em 2024
17/01/2024Os estados da Federação caminharão para o cadafalso de mãos dadas em 2024. Segundo uma fonte da Receita Federal, ouvida pelo RR, nenhum deles terá um superavit fiscal neste ano. Os fatores para a hecatombe são de toda ordem. Há previsão de que a perda de arrecadação média, em 2023, tenha se situado entre 16% e 18%. Somente na área da energia elétrica, a queda de receita alcançou 83%, entre 2022 e 2023. Ninguém acredita em uma reposição que arranhe o aumento necessário para corrigir o déficit. Estão na conta das perdas brutais a receita com comunicação e combustíveis, que serão no máximo mitigadas em 2024. E o PIB deste ano, muito, muitíssimo provavelmente, será inferior ao de 2023.
A perda de arrecadação média prevista para os entes federativos, este ano, é da ordem de 18%. É possível que esse percentual aumente alguma coisa no atual exercício. O ano de 2024 é de eleições para prefeito. Difícil imaginar que os gastos serão inferiores aos do ano passado. Portanto, se, por um lado, aumenta a arrecadação, por outro, bagunça mais as contas públicas dos estados. A bomba deve aparecer mais à frente, no final de 2024 e início de 2025, quando forem fechados o déficit dos estados e consolidado o do setor público. Bem, até lá, faltam 11 meses. A ver o que acontece. É improvável que o ministro Fernando Haddad escape de uma rodada de renegociação das dívidas das unidades da Federação.
Política Monetária
Fernando Haddad vai ter que rebolar para entregar as principais demandas macroeconômicas de Lula
17/01/2024A julgar pelo que se extrai da equipe econômica, Lula está querendo mesmo bons resultados na arrumação da casa. Essa é a pressão que emana do Planalto. O desequilíbrio fiscal dos estados é uma questão à parte, a ser negociada. Mas é fato que os governadores perderam muito de sua força. E o grande trunfo do marketing político são melhores números no âmbito federal. As projeções funestas para o PIB no início do ano passado eram de um crescimento de apenas 0,5%, e olhe lá. Vai dar 3%, no barato. Na área federal, Haddad está se virando para manter a expectativa de um resultado primário zerado. Tem que catar coquinho e seguir com o mantra que existem muitas áreas onde o governo pode atuar para subir a sua arrecadação. Poucos acreditam que os gastos não vão subir, ainda mais porque há uma eleição para prefeitos no meio do caminho, que acaba batendo nas contas públicas do governo.
O fato é que a Lei Orçamentária Anual de 2024 prevê um resultado primário de 0% do PIB. Lula quer um resultado negativo bem baixinho, próximo da meta, se for o caso de descumprí-la, como parece que é. Digamos que até 0,3% do PIB estaria de bom tamanho para o déficit primário do governo federal. O Focus dessa semana crava 0,8%, mantendo a previsão do boletim anterior, apesar da gritaria dos economistas que o fiscal está se derretendo. O presidente não quer deixar que a expectativa de contingenciamento de recursos se torne uma unanimidade, até porque teria que cortar nos gastos discricionários. Leia-se investimentos. Portanto aguarda-se anúncio de grande profusão de medidas de aumento da arrecadação, viáveis ou não, para pelo menos amansar as expectativas do mercado.
Do lado do crescimento, que é a prioridade, o RR pinçou a previsão da carta do Itaú, no seu Radar do Mercado, enviado aos clientes premium, ontem, que acusa uma expansão do PIB de 1,8%. A previsão é um palito acima da mediana do Boletim Focus, que prevê um aumento de 1,6%. Se o Focus errar para baixo, na mesma medida do que ocorreu em 2023, o Produto deste ano chegaria a quase 4%. Lula deve faturar politicamente, ainda, a continuidade da deflação de alimentos, e um IPCA menor, mas ainda beirando na casa dos 4%. O presidente quer porque quer, segundo a fonte do RR, um aumento do rating do Brasil, um desemprego de 7% – no máximo a continuidade na casa dos 8% – e um PIB acima de 2,5%. Tudo difícil. Fernando Haddad vai ter que rebolar.
Destaque
Fazenda e BC discutem mudança no cálculo da dívida pública
8/01/2024O Ministério da Fazenda e o próprio Banco Central, tradicionalmente mais resistente à mudança do conceito, estão trabalhando para alterar a referência maior da relação dívida bruta/PIB por dívida líquida/PIB. O melhor medidor do passivo, do ponto de vista técnico, é uma discussão eterna. Trata-se de uma opção do condutor das políticas econômicas do governo – já que o mundo usa os dois critérios –, e nem o FMI nem o BIS, que adotam a dívida bruta/PIB, consideram que as nossas contas foram postas em algum liquidificador, misturando os ativos do BC e do Tesouro Nacional. Mas por uma questão um tanto quanto óbvia, a dívida líquida aparenta ser o critério mais correto, pois incorpora as reservas cambiais. No critério da dívida bruta, é como se as reservas não existissem. Ou seja: se o país enriquece com as vendas do comércio exterior, do ponto de vista da dívida bruta, ele continua piorando. Ainda mais se o crescimento dos juros for acima da expansão do PIB – caso brasileiro a perder de vista.
As autoridades do governo pretendem, portanto, mudar a comunicação formal dos dados. Trata-se quase de um trabalho de alterar hábitos linguísticos, porque ambos os indicadores servem para a medição da qualidade fiscal do país. A diferença é que a relação dívida bruta/PIB, por ignorar o ativo cambial do governo, assim como outros ativos menores junto ao sistema bancário, joga o indicador lá para cima, permitindo a manipulação sobre a política fiscal. Assim, o problema da dívida bruta/PIB se torna quase eterno, porque, para alterá-lo significativamente, seria preciso um Brasil com juros bem baixos, PIB bem alto e um superavit primário permanente. No mercado financeiro, essa atrofia é usada permanentemente para piorar o quadro das contas públicas. É o grupo que vê uma insolvência potencial permanente do Brasil. A medição do Prisma Fiscal – espécie de Boletim Focus alternativo do Ministério da Fazenda – vai ter que mudar. O Instituto Financeiro Independente (IFI) – órgão do Congresso Nacional – também alterará a relevância do indicador.
O mercado, curiosamente, leia-se Boletim Focus, já usa o conceito de dívida líquida/PIB. Pois bem, há dois Brasis conforme a forma de avaliação das contas públicas. Há o Brasil da dívida líquida, cujo passivo estaria sobre um controle maior e nós teríamos um maior alinhamento com o mundo. De acordo com o Focus da última terça-feira, a projeção para a dívida líquida do setor público passou de 61,20% para 61,05% do PIB em 2023, enquanto a de 2024 foi de para 64,50% para 64,45% do PIB. Nos anos subsequentes, ela permanece praticamente estável, porque o governo leva em consideração avanços modestos na área fiscal, um aumento de reservas bastante tímido e um PIB na faixa de 3%.
Já a dívida bruta do governo geral subiu para 73,8% do PIB (Produto Interno Bruto) em novembro de 2023, alcançando R$ 8 trilhões. Em comparação ao mês anterior, houve um aumento de 0,1 p.p., quando atingiu 73,7%. Já é um indicador mais alarmante. A dívida bruta do governo geral inclui a União, Previdência e governos estaduais e municipais. Algumas instituições mais desinibidas, a exemplo do IFI, chegaram a prever uma dívida bruta da ordem de 100% do PIB antes de 2026. O fato é que toda a contabilidade deveria, pelo menos em tese, levar em consideração ativos e passivos. No Brasil não é bem assim.
Economia
Esqueça o Focus. Crescimento do PIB pode chegar a 3,5% no ano
6/12/2023A julgar pela alta de 0,1% no terceiro trimestre, é bem provável que o PIB de 2023 seja pelo menos meio ponto percentual maior do que os 3% – expectativa oficial da Fazenda, anunciada hoje por Fernando Haddad, no Valor Econômico. Esse ínfimo percentual é tão próximo do marco que parece até construído por alguma engenharia estatística para evitar que o Brasil entre em uma recessão técnica – dois trimestres seguidos de queda do PIB. Mas até o Boletim Focus, que preza pelo conservadorismo, já vê o PIB crescendo 2,84% neste ano. Sua estimativa no início deste ano, vale lembrar, era de 1%.
O RR previa esse PIB de 3%, neste ano, mil anos antes do mundo ser criado. No segundo trimestre, o PIB subiu 0,9%. Em junho, o crescimento acumulado já batia 3,7%. Mas, justiça seja feita, uma boa parcela desse resultado se deve a Paulo Guedes e algumas das suas medidas econômicas de apoio eleitoreiro a Jair Bolsonaro, no segundo trimestre do ano passado. Entram nesse rol as desonerações, o aumento maior do que o previsto do auxílio emergencial, mais crédito para empresas etc.
O impacto dessas iniciativas, que já tinham jogado o desemprego para a faixa de 8%, está sendo mais sentido neste ano, porque há uma inércia entre as medidas tomadas e seu efeito na atividade econômica, além da contribuição para o aumento do consumo familiar. Mas está em linha com os dizeres dos economistas ouvidos pela mídia. Segundo fontes consultadas pelo RR, o crescimento do PIB em 2024 também será superior à estimativa do mercado(hoje em 1,5%), principalmente se os juros caírem para 8,5%. Difícil uma redução dessas da Selic, mas não impossível – a previsão do Focus para o ano que vem é de 9,25%. A mediana para 2024, apurada pelo RR junto a suas pitonisas, é de um PIB crescendo 2,5%. Muito superior aos números do Focus. A missão que parece mais complexa é trazer o déficit fiscal para zero. Mas, se ficar pertinho – 0,1%, 0,2% -, as expectativas melhoram, os juros podem cair mais e a atividade econômica e o emprego agradecem.
Economia
Haddad ataca os juros com violência porque vê risco de resiliência no Copom
31/07/2023Entende-se a mais nova e aguda pressão do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre o Banco Central – e não só sobre Roberto Campos Neto –, defendendo uma queda da taxa Selic de 0,5 ponto percentual em cada reunião do Copom, até o final do mandato do presidente do BC, em novembro de 2024. Essa repetição corresponderia a 11 reuniões seguidas de revisão da Selic em 0,5 pp – ou algumas com menos e outras com 0,75 pp. A cobrança sobre Campos Neto diminuiu, porque ele tinha um significado simbólico maior – vinha do governo Bolsonaro. Haddad sabe que quem fixa os juros é o colegiado de 11 membros do Copom. O Comitê, aliás, se reúne nesta quarta-feira. Provavelmente já com a presença de um diretor de política monetária (segundo cargo mais importante do BC) de inteira confiança do governo. O colosso de Rhodes da redução dos juros que o ministro defende é uma queda consecutiva da taxa neutra da Selic, aquela que mantem a inflação na meta, em 0,5 pp a cada mês durante 10 meses.
Haddad pressiona porque está pressionado pelo novo arcabouço fiscal, ainda não aprovado pelo Senado. E na eventual resiliência do Copom em reduzir a taxa residualmente (de acordo com pesquisa do jornal Valor Econômico de hoje, 64% das instituições financeiras em uma mostra de 84 casas bancárias, projetam um corte da Selic de apenas 0,25%). Cabe lembrar que, nas últimas 182 reuniões do Copom, desde 2022, só houve um máximo de 3% de divergência nos votos da diretoria para fixação da taxa. E mais: o Boletim Focus, em sua última edição, ainda cravava uma Selic de 12% em dezembro deste ano. Um espanto!
Com juros altos, a economia tende a arrefecer o ritmo de crescimento. Com um crescimento menor, a arrecadação cai. Se não arrecadar, Haddad não gasta o limite que está previsto nova regra fiscal. E se não gastar o que está previsto, não atinge, exceto fatores atípicos ou acidentalidades, um PIB maior, principal variável que lhe permitirá um ciclo virtuoso da economia, até 2026. Não custa rememorar o imbricamento entre o resultado primário, a liberdade de gastos e o PIB.
Segue a cartilha: “O resultado primário agora tem de estar contido dentro da banda de 0,6% e 2,5%. Sempre que ele crescer dentro da banda estabelecida, ano seguinte, o crescimento real da despesa será igual a 70% do crescimento real da receita primária, acumulada em 12 meses até junho. Se, por acaso, o resultado primário ficar abaixo da banda inferior da meta, o crescimento do teto no ano seguinte ficará limitado a 50% do crescimento da receita, também limitado a um crescimento real mínimo de 0,6% ao ano e máximo de 2,5% ao ano. Para concluir, suponha que o crescimento real da receita foi de 2,5%. Caso cumprida a meta de superavit primário, o aumento real da despesa poderá ser no máximo 1,75%. Se o superavit não for cumprido, o governo poderá gastar no máximo 1,25% a mais que a despesa do ano anterior”. São dados extraídos do PLP 93/203, substitutivo aprovado pela Câmara dos Deputados.
Mas voltemos à noite dos desesperados. Haddad sabe que entramos em um regime de deflação e que se os juros, causadores desse regime, caírem de forma expressiva comprimirão a atividade produtiva em 2024, provavelmente jogando o PIB de 2% já contratado para este ano (o Focus prevê 2,24%; a maioria das casas bancárias já projeta de 2,5% para um pouco acima; e o FMI já crava 3%) para aquém de resultados até mais auspiciosos.
Não há dúvida que trabalhar com projeções é dançar no escuro. O Banco Mundial, por exemplo aposta em um PIB de 1,2%, neste ano e 1,4%, em 2024. O Copom, que previu 0,02% para o índice do Produto, já subiu para 1,3% do PIB. Ainda há casas bancárias que acreditam em um PIB inferior a 1%. Vá lá que entre os pessimistas lúgubres e os otimistas que querem ser mais felizes que todos, haja um intervalo razoável. Mas alguma estimativa sempre surge e, mal ou bem, é necessária como balizador. É como se fossem as marés. O RR se sente confortável em manter sua previsão de pouco acima de 3%, tendo em vista que há mais de 45 dias previu que, em 2023, um PIB de 3% já estava no radar.
Em 2024, contudo, o buraco pode ser bem mais embaixo. O longo período de juros na faixa de 13,75% deve se demonstrar na sua plenitude a partir do segundo semestre do ano, invadindo 2024. O estágio de deflação em que o país se encontra é um motivo para preocupação em relação a atividade produtiva. A deflação é sempre uma antessala de queda do Produto. Lula quer esfregar na cada da oposição que os números positivos de 2023 não são obra da captura do último ano da gestão Bolsonaro, ou, seja lá, Paulo Guedes. E o presidente não quer a mesma folha de jornal do último ano de Bolsonaro para esfregar na sua própria cara se o resultado de 2024 for a metade, para dizer o mínimo, da performance de 2023.
Neste ano, praticamente todos os indicadores serão superiores à média do governo Bolsonaro (é claro que tem de se levar a consideração os efeitos da pandemia). Nesse caso a recuperação deste ano, poderia se dever mesmo à política acertada de Bolsonaro em 2022, um ano de aperto que teria deixado “uma herança positiva”, de assunção dos sacrifícios que antecedem a bonança. De uma forma ou de outra, Lula está meio que recuperando um conceito criado pelo falecido e saudoso Raphael de Almeida Magalhães, em artigo na antiga do Conselho Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CBDES): o development target. Ou seja: o PIB seria o sol. De acordo com o atual arcabouço fiscal, depende do maior ou menor crescimento do PIB a maior ou menor arrecadação fiscal, que permitirá o maior ou menor gasto, que, por sua vez, permitirá ao Brasil ingressar em um ciclo virtuoso de expansão da atividade econômica com inflação baixa. Esta última, é claro, se não tivermos novamente um BC tétrico, verdade seja dita, com uma política fiscal que não conseguiu cumprir sua meta de compressão dos gastos uma única vez.
Agronegócio
Bancada ruralista se arma contra possível taxação de commodities agrícolas
9/06/2023O imposto disfarçado sobre a exportação de petróleo – como são chamadas as medidas que a Receita prepara para aumentar a arrecadação do comércio exterior da commodity em R$ 30 bilhões – acendeu a luz vermelha do lobby do agrobusiness – disparado o maior do Congresso. A preocupação dos ruralistas tem motivos de sobra. Não é de hoje que os elevadores da Receita sobem e descem com a proposta de tributar as exportações agrícolas e pecuárias. Não seria nada que reduzisse a competitividade dos nossos campeões. Afinal, a diferença entre o Brasil e seus concorrentes é larga. Mas um pouquinho ali e um pouquinho acolá de imposto poderiam contribuir para o ajuste fiscal com uma soma maior do que os R$ 30 bilhões carreados com as exportações de petróleo.
A medida de gravar as vendas externas da commodity tem sido vista como um potencial destampatório para a tributação do agro, que é pop, mas paga pouco imposto. O argumento do lobby é que a cadeia de valor adicionado do agrobusiness é imensa, portanto haveria um grande imposto pago, indiretamente, pelos fornecedores. Por essa lógica, o agro pode ter o lucro que for que não pagará mais imposto nunca, já que o argumento da cadeia de valor permanece para sempre. O RR tem acompanhado de perto essa discussão. No mundo inteiro há países com vocação agrícola, muito menos competitivos do que o Brasil, que contribuem com um quinhão maior que o nosso. O agro é “popíssimo”, gera divisas, faz crescer o PIB e incrementa a venda de bens de capital (tratores, colheitadeiras etc), mas é avaro como só ele quando se trata de pagar uns trocados para reduzir o buraco fiscal do país.
Infraestrutura
Um diagnóstico desalentador sobre o futuro do Brasil
5/06/2023A Carta de Infraestrutura do estrategista Claudio Frischtak – talvez o mais renomado analista de investimentos e da formação de capital fixo -, divulgada hoje, é uma ducha de água fria nas expectativas de um país mais industrializado e com investimentos que atendam a um crescimento do PIB menos medíocre nas próximas duas décadas. Segundo Frischtak, que dirige a consultoria Inter.B, “No período 2019-22, os investimentos se expandiram em 0,35% do PIB, chegando a 1,86% do PIB em 2022, e projeta-se que alcancem 1,94% do PIB em 2023. Apesar dos ganhos, há uma necessidade estimada de 4,2% do PIB ao longo das próximas duas décadas para a modernização do setor, sob a premissa de um potencial de crescimento não inflacionário próximo a 2%. Estamos ainda distantes.”
Frischtak faz as perguntas que não querem calar: “Como fazer frente a uma brecha de investimentos de cerca de 2,3% do PIB? E em que horizonte de tempo seria factível expandir os investimentos para um novo ´estado estacionário´ consideravelmente acima da média de anos recentes?”. O próprio consultor tem as respostas, e elas machucam quem espera mais do país. De acordo com ele, “não há alternativa realista a um esforço liderado pelo setor privado, seja pelas restrições fiscais que o país enfrenta num contexto de múltiplas demandas, seja pelas limitações de governança dos investimentos públicos. Estes se situam próximos a 0,6% do PIB, e caberia ampliá-los em cerca de 0,4% do PIB para um volume em torno de 1% do PIB nos próximos anos, de forma cautelosa, estabelecendo prioridades alicerçadas nas necessidades mais prementes e com base em projetos comprovadamente de elevadas taxas sociais de retorno.”
Frischtak enfatiza que “ampliar os investimentos públicos irá demandar com toda a probabilidade uma reforma do Estado, criando espaço fiscal de forma responsável e rechaçando tentações populistas. Já o salto do setor privado necessitaria ser da ordem de 2% do PIB, factível num ambiente de maior estabilidade e previsibilidade, e menores custos de transação.” O consultor conclui afirmando que “não há como avançar sem perseguir uma agenda centrada em dois grandes temas: melhoria da governança e dos investimentos públicos.”
A Carta de Infraestrutura de Frischtak vale como um epitáfio para o Brasil que já foi do futuro. E não há força nem unidade política para combater o patrimonialismo com a coisa pública e o clientelismo orçamentário. O Congresso está se tornando crescentemente um balcão de negócios. O Judiciário não garante segurança jurídica e previsibilidade regulatória. Aliás, os “Donos do Direito” têm volta e meia sua seriedade e probidade questionada, o que fragiliza ainda mais a confiança na Corte Maior. Finalmente, o Executivo está manietado, com as mãos que deveriam agir em nome da vontade soberana do povo, amarradas, fazendo dos governos mercadores de apoios e não tocadores de obras e agentes de redução da miséria.
E o país como fica? Vai seguir oscilando entre a 10ª e a 16ª posições no ranking mundial do PIB – como tem sido nos últimos anos – em função de ser uma “Nação baleia”, ter um enorme mercado interno, água, terra, a hileia Amazônica. Ou seja: mais do mesmo, atributos que não são mérito de ninguém. Seguem juntos a africanização da indústria, a queda da renda per capita, a crescente disfuncionalidade do Estado, a captura da política pelas milícias, a ausência de um projeto nacional e o apequenamento de todas as instituições, inclusive as da sociedade civil. O RR torce para que esta análise esteja errada, em nome do Brasil e de todos os brasileiros. Por enquanto, apenas lamentamos. É o que temos.
Economia
O jeito vai ser mexer na meta de inflação
4/05/2023A manutenção da taxa Selic em 13,75%, na reunião do Copom ontem, deixou a equipe econômica e os próceres do PT em estado de ebulição. Havia a expectativa de que, com o anúncio do arcabouço fiscal, o BC reduzisse a Selic, ao menos, em 0,25 ponto percentual. Seria uma sinalização não só de ajuste fino na política monetária, mas também de harmonia entre as diversas áreas da gestão econômica. Mas o comandante da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, permaneceu resiliente na manutenção dos juros nas alturas. O argumento de Neto é o clássico: a inflação está empinada e o balanço de riscos permanece preocupante. Ontem, no dia do encontro do Copom, o Fed aumentou em 0,5 ponto os juros, o que representa a maior majoração em 22 anos. A medida colocou fermento da decisão do BC em manter a Selic nas alturas. O Boletim Focus da última terça-feira acusou um pequeno crescimento da estimativa para a inflação de 6,4% para 6,5%. Uma projeção que não ajuda a redução da taxa básica.
A questão, contudo, é que a equipe econômica considera a Selic de 13,75% mais tóxica à atividade produtiva do que eficiente no combate da inflação. Ou seja: em um horizonte longo, capaz de prejudicar a evolução do PIB, a inflação não caberia dentro da meta. O limite inferior da meta é de 1,75% e o superior, 4,75%. Segundo o BC, a chance de a inflação oficial superar o teto da meta em 2023 é de 83%. A projeção do mercado para a inflação de 2024 também está acima do centro da meta prevista, fixada em 3%, mas ainda dentro do intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual. O tira-teima será em junho, na reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN). Se o BC continuar jogando duro, Fernando Haddad e Simone Tebet, que formam a maioria do CMN, deverão aumentar a meta para 4% a 4,5%, mantendo a banda de 1,5% para cima e para baixo. Aí os juros caberão no intervalo ampliado. E quem sabe a inflação começará a cair ainda em decorrência da inercia do aperto monetário.
Economia
Simone Tebet trabalha com a estimativa de 2% para o PIB
4/05/2023A ministra do Planejamento, Simone Tebet, acredita que o aumento do PIB neste ano poderá alcançar 2%. É um índice expressivo se comparado à projeção do mercado de alta de 0,5%. A percepção de crescimento do Produto Interno, mesmo que não seja no nível estimado pela ministra, já é consensual. O Focus divulgado na última terça-feira já registrava um pequeno grande avanço, tratando-se do Boletim: a estimativa de alta do PIB chegou a 1%, contra 0,96% na semana anterior. As estimativas do mercado não levam em consideração o impacto que o caminhão de investimentos públicos terá sobre a atividade produtiva neste ano. Se as projeções de Simone Tebet se consumarem, elas engendrarão um efeito dominó de boas notícias nas contas públicas, a começar pela relação dívida/PIB.
Política
Vai ter salário-mínimo no 1º de maio?
20/04/2023Vale do Anhangabaú, dia 1º de maio. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, tem trabalhado junto a Lula a ideia de que esses seriam o cenário e a data ideais para o anúncio da nova política de reajuste do salário-mínimo. O presidente estaria entre os seus: a boa nova seria divulgada durante os eventos em celebração do Dia do Trabalhador, que estão sendo organizados conjuntamente por diversas de centrais sindicais – entre as quais CUT, Força Sindical, e CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadores do Brasil). A questão é ter o que apresentar. O governo corre contra o relógio para formatar uma proposta. Na semana passada, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, disse que o Ministério da Fazenda estuda usar a variação do PIB como indexador do mínimo.
Economia
Fazenda já projeta alta do PIB superior à do governo Bolsonaro
11/04/2023Em conversa antes da reunião de Lula com todos os ministros, ontem, Fernando Haddad animou o presidente com projeções do Ministério da Fazenda sobre a grande probabilidade de o PIB crescer, em 2023, acima da média de 1,5% do governo Bolsonaro. Todos os ministérios estão convocados para a realização de projetos e medidas que impactem positivamente o PIB sem arranhar o fiscal. As iniciativas serão consolidadas pela Fazenda e servirão de guia para projeções consolidadas das ações governamentais em relação ao PIB. Lula quer bater não só Bolsonaro, mas iniciar o primeiro ano de governo respondendo à “herança maldita” do Capitão, com um PIB superior à média dos últimos 20 anos, de 2,2%. A meta para valer, não dita, é superar os 2,9% de crescimento do Produto no último ano de gestão do ex-presidente.
Há cerca de quatro meses essa missão parecia impossível. Falava-se, inclusive, em uma pequena recessão técnica para 2023. Com o arcabouço fiscal e a decisão de que os recursos extraordinários – não previstos no orçamento – serão dirigidos para investimentos, a percepção em relação ao PIB tem gradualmente mudado para melhor. Isso para não falar da temporada de concessões, que deverá se iniciar antes do primeiro semestre. O Focus, cuja mudança das estimativas anda a passos de cágado – essa é a dinâmica natural do Boletim – subiu pela terceira vez a previsão do PIB para este ano. Atualmente está em 0,9%. Levando-se em consideração somente as 39 respostas nos últimos cinco dias úteis, a projeção para o PIB, em 2023, sobe para 1,0%. É devagar, devagarinho, como diz a canção de Martinho da Vila. O FMI também melhorou a estimativa para o crescimento do Brasil: 1,2%, frente a 1% da previsão anterior. O Banco Central seguiu na mesma direção, elevando a projeção do PIB, de 2023, de 1% para 1,2%. O IPEA foi além, e manteve sua estimativa de 1,4%.
Os cenários futuros indicam que as projeções positivas do Ministério da Fazenda para o PIB não são improváveis. Há uma combinação de fatores favoráveis, a saber: sinalização de crescimento da economia global; início do ciclo de queda de juros nos países centrais; apreciação do real; aumento do fluxo cambial para o Brasil; superávits recordes da balança comercial; início do plano de concessões com ênfase nos estados e municípios; envio da reforma tributária ao Congresso; apresentação do programa Desenrola; ações de fomento do BNDES; redução, ainda que paulatina, do índice de preços; e colocação na prática da cesta de projetos do governo voltados para o aumento da renda e do emprego. Falta o BC reduzir os juros. Mas isso vai acontecer de qualquer maneira, logo à frente.
Destaque
BNDES, BB e Caixa lideram o “frentão” da pequena e média empresa
22/03/2023O governo pretende descarregar um caminhão de recursos para as pequenas e médias empresas (PMEs). A ideia é usar a trinca BNDES, Banco do Brasil e Caixa Econômica, de forma conjunta, para aumentar consideravelmente a oferta de crédito para esse segmento. É quase como se o governo estivesse criando um banco específico para as PMEs, a partir da atuação integrada das três instituições federais. O projeto vem sendo tratado pela equipe econômica como prioridade. Um dos objetivos é possibilitar a redução do elevado endividamento dessas empresas, com a concessão de linhas especiais de crédito a custo mais baixo. Nos três últimos anos, esse universo foi duramente penalizado pela pandemia e pela disparada dos juros, que jogou a inadimplência nas alturas. Há cerca de 5,5 milhões de micro, pequenas e médias empresas envidadas, segundo o mais recente levantamento da Serasa, divulgado em outubro do ano passado. Trata-se do maior número desde o início da série histórica, em 2016.
Durante a campanha, não custa lembrar, Lula fez seguidas promessas de medidas para aliviar o endividamento das PMEs. Esse “frentão” da pequena e média empresa, capitaneado pelos bancos federais, é também uma tour de force do governo para a redução do desemprego. Os pequenos e médios negócios representam geração de postos de trabalho na veia. Esse segmento foi responsável por mais de 70% dos novos empregos com carteira assinada criados no país em 2022.
De acordo com os balanços de setembro de 2022, as pequenas e médias empresas respondem por aproximadamente 15% da carteira de crédito dos grandes bancos brasileiros. Trata-se de uma fatia desproporcional ao seu peso na economia: as PMEs têm uma participação de aproximadamente 27% do PIB. Entre os bancos públicos, há um considerável espaço de crescimento. O BNDES é aquele em que os pequenos e médios negócios aparecem com maior representatividade entre os empréstimos totais (23%). No Banco do Brasil e na Caixa, esse índice é bem menor: respectivamente de 10% e 8%. Se serve de alento, todos os três bancos estatais ampliaram o volume de crédito para pequenas e médias empresas no comparativo entre setembro de 2022 e setembro de 2021 – BNDES (7%), Caixa (10%) e BB (18%). Ainda assim, trata-se de um ritmo insuficiente para dar fôlego às PMEs.
A disposição do governo em aumentar o crédito para as pequenas e médias empresas terá razoável impacto na estratégia dos grandes bancos federais, a começar pelo BNDES. O banco, por exemplo, já estuda tomar recursos no exterior para aumentar sua capacidade de concessão de crédito, muito com foco nas PMEs. O próprio presidente da agência de fomento, Aloizio Mercadante, já defendeu publicamente que o BNDES pague menos dividendos à União, passando a ter isonomia com o Banco do Brasil. Atualmente, o banco da Avenida Chile distribui 60% dos seus lucros aos acionistas, contra 40% do BB.
Destaque
Governo estuda o que fazer com o excedente de dividendos da Petrobras
15/03/2023O que fazer com os crescentes dividendos das estatais, especialmente da Petrobras? O governo está debruçado sobre esse dilema. Um bom dilema, diga-se de passagem. As discussões partem da premissa de que haverá uma confortável folga nos lucros das empresas públicas em relação à previsão orçamentária. Assim tem sido nos últimos anos. Entre 2018 e 2022, a soma dos dividendos pagos à União pelas estatais foi de R$ 166 bilhões, muito acima do valor estimado no Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) em todos os anos – como mostra o gráfico abaixo. O montante corresponde a três vezes a cifra total prevista no PLOA ao longo do período – R$ 56,8 bilhões. A sobra se acentuou especialmente nos últimos dois anos. Em 2021, o PLOA previa um pagamento de R$ 9,7 bilhões para a União. O valor efetivamente realizado foi de R$ 43,5 bilhões. No ano passado, em termos relativos, a margem foi ainda maior. A União recebeu R$ 87,9 bilhões em participações nos lucros de suas controladas, R$ 61,6 bilhões a mais do que a previsão orçamentária encaminhada ao Congresso.
Ano a ano, o governo vem calibrando a projeção para cima. O PLOA de 2023 prevê R$ 41,4 bilhões em dividendos, 57% a mais do que no ano passado (R$ 26,3 bilhões). Mesmo com a subida do sarrafo, a expectativa é que o governo terá uma folga razoável em relação ao orçado. A questão é de que maneira usar esse excedente, sobretudo no caso da Petrobras, disparadamente a maior pagadora de dividendos da União – na média, a estatal tem respondido por algo em torno de 70% do bolo total. Há um mosaico de propostas sendo estudas pela equipe econômica. Um dos cenários é o governo usar a sua condição de acionista controlador da Petrobras para reter os dividendos da empresa, distribuindo uma participação nos lucros bem inferior à média dos últimos anos.
Esses recursos seriam canalizados para investimentos. A Petrobras aumentaria consideravelmente o portfólio de projetos com impacto efetivo sobre o PIB, estratégia que seria amplificada pela diversificação de negócios da empresa, com a entrada ou o retorno a setores como fertilizantes, energia renovável etc. A estatal seria uma máquina de obras. E porque não de lucros também, só que em uma perspectiva de mais longo prazo. Não custa lembrar que o governo pretende instituir, ao menos em uma segunda etapa da reforma tributária, o imposto sobre dividendos. Na condição de acionista de algumas das empresas mais lucrativas do país, a União teria uma mordida razoável nessa rubrica de receita. Ou seja: reduzir os dividendos da Petrobras e de outras estatais, destinando esses recursos para investimentos diretos, seria uma forma de evitar esse pedágio tributário. De qualquer forma, na hipótese mainstream os dividendos voltariam para a Petrobras, tanto o devidamente tributado, quanto a parte isenta do gravame. Mas esse seria o expediente papai com mamãe que não vai vingar no governo Lula.
Outra opção em estudo no governo é usar as sobras de dividendos da companhia em um fundo de compensação para manobrar variações dos preços dos combustíveis. Sempre haveria também a possibilidade de jogar os dividendos da Petrobras para dentro do orçamento como receita para gerar superávit primário. Se Paulo Guedes ainda fosse o ministro, nem haveria dúvidas sobre a sua escolha…
Economia
Lula mobiliza todo o governo para ter um PIB superior ao de Bolsonaro
3/03/2023Lula está obsessivo com a obtenção de um crescimento mínimo do PIB, em 2023, de 2,9%, ou seja, o índice alcançado por Jair Bolsonaro, em 2022, logo após dois anos de pandemia. A marca é difícil, mas factível, como se verá a seguir. O presidente sente o cheiro de Jair Bolsonaro pelos cantos do Palácio do Planalto. O capitão estaria guardando a munição dos seus acertos para retomar a “campanha eleitoral”, que, na verdade, nunca findou. O fato é que, com artificialismos ou não, Bolsonaro conseguiu bons números em quase todos os quesitos macroeconômicos mesmo com a pandemia, queda da atividade chinesa, explosão dos preços do petróleo e a guerra entre Rússia e Ucrânia, o que não é pouca coisa. Para sair do corner imposto pelo antecessor em relação ao crescimento da economia, Lula quer engajar o governo inteiro. Pediu à ministra do Planejamento, Simone Tebet, que faça uma espécie de planilha de todas as Pastas. O objetivo é que cada ministério saiba o impacto das suas atividades no PIB, de forma que os ministros tenham como ponderar seus gastos mirando prioritariamente o crescimento econômico. Entre uma despesa que tenha maior impacto na atividade produtiva ou não, que se realize a primeira.
A meta de inflação será alterada, provavelmente na reunião do Conselho Monetário de junho. Há dúvida se ela será expandida para 4% ou 4,5%, ou se permanecerá nos 3%, que seriam diferidos para o fim do atual governo. Lula, então, teria quase quatro anos para alcançar o atual target por ora na corda bamba. Não haveria, portanto, meta de inflação anual. Seria o sinal para que o BC baixasse os juros. E Roberto Campos Neto jogasse a toalha – está tudo acertado para que André Lara Resende assuma a presidência do BC.
Bem antes disso, entre março e abril, o novo arcabouço fiscal seria apresentado, visando uma meta de redução da dívida/PIB para um patamar inferior aos 73% obtidos por Bolsonaro. Neste ano, o resultado da relação dívida/PIB já foi perdido, devendo caminhar para a faixa de 80%. A reforma tributária também seria posta na mesa, ainda que na sua fase preliminar. Mas Lula tem outras balas na agulha. Uma das mais aguardadas é o programa Desenrola, que está sendo estudado no Ministério da Fazenda de forma a conseguir o maior alcance possível. De preferência, zerando a inadimplência dos consumidores até dois salários-mínimos. A medida teria impacto relevante junto aos bancos, desobstruindo o canal de crédito e, principalmente, o comércio, segmento mais intensivo em mão de obra da economia. As últimas previsões para esse setor são de queda prolongada.
O presidente acredita também que trará recursos em função da sua intensa ofensiva diplomática. No Planalto, há quem arrisque números ambiciosos de investimentos entre R$ 30 bilhões e R$ 50 bilhões. Difícil? Sim. Improvável? Não. Ao contrário de Bolsonaro, Lula vai brandir a bandeira de proteção da Amazônia pelos quatro cantos do mundo. Falta a Petrobras no pacote, que, junto com o BNDES, estará encarregada em sacudir a formação bruta de capital fixo, um setor que andou de lado no governo Bolsonaro.É para isso que a petrolífera guardará uma parcela maior dos dividendos, como já deixou escapar o presidente da estatal Jean Paul Prates. O que Lula deseja não é necessariamente o que acontecerá, principalmente porque o carnaval de resultados obtidos por Bolsonaro no seu último ano de governo foi às custas do comprometimento desse primeiro ano da gestão do petista. Pode não ter conseguido de todo. Mas, que atrapalhou um bocado, atrapalhou.
Economia
Recessão econômica bate à porta do governo Lula
28/02/2023Persistência dos juros altos; resiliência da inflação; dúvidas em relação ao compromisso fiscal do governo; queda na geração de emprego; prolongamento da guerra entre Rússia e Ucrânia; volatilidade – com viés de baixa – no preço das commodities; retração do investimento e forte desaceleração do mercado de crédito devido à inadimplência do consumidor em geral; e o impacto da fraude ocorrida nas Lojas Americanas. Estas são somente algumas das dificuldades que podem levar o país a uma estagflação ou mesmo a uma recessão em 2023. O RR conversou com dois analistas do mercado que apresentaram, em off the records, projeções para o crescimento da economia neste ano diferentes daquelas vocalizadas por ambos na mídia e enviadas, segundo eles, ao Boletim Focus. Não seria de se estranhar se essas contradições fossem práticas comuns no mercado.
O Focus vem aumentando recorrentemente as previsões para o PIB de 2023, sem que se encontre motivações maiores para o crescimento do Produto Interno – a última projeção, feita ontem, é de um PIB de 0,84% contra 0,80% na semana passada. Aliás, pelo contrário: as respostas da economia global e os índices de confiança de consumidores e empresas já sinalizam na direção inversa. Há ainda a probabilidade de que o efeito contracionista dos juros não se tenha dado de forma mais intensa, na medida em que existe a dúvida sobre o prazo da sua “inercia natural”. Pode aparecer pela frente uma fatura mais alta para a atividade produtiva pagar a conta. Para somar no pacote de problemas, agregue-se o consenso de que a performance do comércio, principal empregador do país, será bem mais baixa em relação ao ano anterior.
Os cenários para os principais indicadores macroeconômicos, mantidos nas internas dos departamentos de research das instituições financeiras, conduzem a uma direção contrária ao que aponta o Boletim do BC. A “mediana” das estimativas mais conservadoras dos analistas ouvidos pelo RR, com 30% de probabilidade de ocorrência, é de um PIB de 0% com viés de baixa. Uma recessão, portanto, estaria batendo na porta do país no primeiro ano do governo Lula, sem que medidas mais firmes para correção dos desajustes da economia sequer tenham sido cogitadas. A reforma tributária é uma exceção, mas não se sabe se ela terá impacto de aumento arrecadatório, portanto restritivo para a atividade produtiva, ou será neutra, ou ainda expansionista.
A FGV, por exemplo, analisa o cenário econômico sem dourar a pílula. O último Boletim Macro da instituição prevê um crescimento marginal do PIB de 0,2% neste ano, beirando, portanto, a estagflação. A colunista Claudia Safatle, do Valor Econômico, chama a atenção para a dificuldade que o BC pode ter para reduzir a taxa de juros neste ano, a confusa discussão sobre a independência da autoridade monetária e o “risco André Lara Resende” – desdém em relação à dívida bruta/PIB e ao resultado primário -, todos fatores que dificultam visualizar um cenário mais favorável para o PIB neste ano. É difícil também antecipar como serão conduzidas as medidas de política econômica cercadas de assimetrias por todos os lados. Um exemplo: a redução dos juros. O Focus, que vê sempre um cenário mais amigável, projeta uma Selic de 12,75%, em dezembro de 2023 – difícil que dê algo abaixo dos atuais 13,75%, dizem os analistas ouvidos pelo RR. Mas digamos que, devido a pressões políticas e à própria asfixia provocada pelos juros nas alturas, o BC empurre a taxa para 12% ou mesmo 11%, no final do ano. É possível que nem Lula acredite nessa Selic tão baixa, em dezembro.
E se o BC desse esse cavalo de pau na taxa básica, reduzindo-a para percentuais mais baixos do que os citados acima, como é que ficaria o câmbio, uma das variáveis mais importantes para a formação da maioria os preços? A redução dos juros, com os quais o BC teria viciado o mercado, expulsaria o carry trade? É esse ingresso do capital externo “moteleiro”, conforme a alcunha do ex-ministro Delfim Netto, que hoje estaria segurando o dólar para que ele não escale os R$ 5,50 ou mesmo R$ 6 (hoje a cotação do dia foi de R$ 5,20). O câmbio, devido a sua correia de transmissão sobre os preços, puxaria a inflação para cima. Aliás, somente o efeito da reoneração dos preços dos combustíveis, confirmada ontem pelo governo, injetará uma dose de pressão na carestia.
Pela ótica da atual diretoria do BC, que já incorreu em enormes idas e vindas, tais como baixar a Selic até dois pontos percentuais e depois realizar aumentos sucessos da taxa até os atuais 13,75%, os juros teriam de voltar a subir, mesmo que fosse um pouquinho. Isso se o “livro texto” fosse aquele seguido pela autoridade monetária até o momento. Essa gangorra dos juros não desce pela goela do setor produtivo, do governo e da área política em geral. Ela se soma às outras variáveis macroeconômicas em processo de erosão. O mais provável é um cenário pior do que aquele que se apresenta no Focus de ontem, para o PIB, os juros e a inflação.
Economia
Crescimento do PIB deve ser incorporado aos pilares macroeconômicos
14/11/2022A expressão “meta de crescimento”, usada por Lula no discurso em que se complicou todo com a “tal da estabilidade fiscal”, não é apenas uma metáfora que o futuro presidente teria pescado de orelhada. O “tal development target” é uma variável que seria incorporada ao atual tripé macroeconômico – câmbio flutuante, metas de inflação e metas fiscais. Já existem estudos sobre o assunto guardados na enorme gaveta de contribuições do Ipea. A proposta é derivada de um modelo pós-keynesiano macrodinâmico não linear – sim, é esse o nome. O crescimento do PIB seria a quarta perna do hoje tripé. O grupo de transição do governo está debruçado sobre o assunto. Não custa lembrar que vários países anunciam meta de crescimento. A China é o exemplo que primeiro vem à mente, não obstante seu modelo macroeconômico ser um origami de sete cabeças.
Economia
“Vale picanha” vai cair na conta dos ricos
9/11/2022Lula quer rimar picanha e cervejinha semanal com queda de inflação. Para isso, vai ter de tirar dinheiro dos ricos, porque só a conta dos auxílios e outros cacarecos herdados do governo Bolsonaro já chegam a 4% do PIB.
Destaque
Um abismo fiscal espera pelo presidente Lula
31/10/2022Acabou a eleição. Agora é que são elas. O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva terá de administrar um rombo nas contas públicas que pode superar os R$ 3 trilhões, nos quatro anos de governo. Trata-se de um abismo que foi praticamente ignorado na campanha eleitoral, talvez pelo medo dos candidatos de que, parafraseando Friederich Nietzche, o abismo olhasse de volta. De forma extremamente conservadora e deixando de lado qualquer aumento do salário-mínimo para além da inflação, está em pauta um fosso já na casa dos R$ 450 bilhões, não contemplados pela Proposta de Lei Orçamentária (PLOA) 2023. Para chegar a esse valor leva-se em conta o aumento do Auxílio Brasil; a postergação do pagamento de precatórios; os prometidos reajustes ao funcionalismo público; a revisão da tabela do imposto de renda; o peso dos juros sobre a dívida pública; a suspensão de dívidas e compensação aos estados pela redução do ICMS; a garantia do piso da enfermagem e o risco imediato com decisões prejudicais ao governo na Justiça. Caso esses gastos se concretizem, seria quase uma segunda pandemia nas contas públicas. Nada que um precatório hiper vitaminado não resolva ou – quem sabe? – a “milésima” PEC. Mas o problema permanece pendente como uma espada sobre a cabeça da Nação. Os precatórios apenas adiam os passivos, mas não a percepção de que há um risco de insolvência diferido no tempo.
Não é preciso nenhuma devassa no governo para entender a dimensão da encrenca criada, em boa parte para “financiar” a reeleição, como se não houvesse amanhã. Ou como se o amanhã decorresse, por geração espontânea, da cabeça do “Posto Ipiranga”, cuja inegável capacidade – e interminável autoconfiança – só podem ser superadas pela verve diante de plateias que querem ouvir o que ele quer dizer, independentemente do que ele diga.
A Proposta de Lei Orçamentária (PLOA) 2023 tem mais buracos do que um queijo suíço – ver RR de 20 de outubro. E olha que, para viabilizá-la, sem mexer no orçamento secreto, já foram desencavados tostões de todos os lugares possíveis e inimagináveis, como o programa Farmácia Popular e até os recursos para a merenda escolar; além de previsto um déficit de R$ 63,7 bilhões. Façamos os cálculos. De acordo com os boletins macro do FGV Ibre, a soma do aumento de R$ 200 no Auxílio Brasil, o reajuste do funcionalismo do Executivo pela inflação e a revisão das despesas discricionárias significarão um gasto de R$ 120 bilhões, cerca de 1,2% do PIB. Desse total, foram incluídos na PLOA apenas R$ 11,6 bilhões para os servidores do Executivo, valor insuficiente até para um aumento linear de 5% (que custaria entre R$ 14 bilhões e R$ 17 bilhões). Vale lembrar que o governo enfrentou, em 2022, greves de funcionários do BC e da Receita, que buscam reajustes na casa dos 20%, e prometeu para o ano que vem a restruturação de carreiras da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal.
A PLOA 2023, é verdade, prevê a manutenção das desonerações sobre os combustíveis, para a qual destina R$ 52,9 bilhões, junto a uma reserva de R$ 27,2 bilhões para “demais desonerações”, em um total de R$ 80,1 bilhões. Ocorre que, além engessar ainda mais o orçamento, eliminando qualquer flexibilidade possível, os valores ficam abaixo das projeções e não incluem a prometida revisão na tabela do imposto de renda para pessoas físicas. Também segundo o FGV Ibre, esse total daria, por baixo, R$ 86 bilhões.
Não para por aí – longe disso. Mesmo com a interrupção no ciclo de alta, a elevação da taxa de juros já implementada pelo BC aumenta pesadamente o custo da dívida pública, fator que, “acoplado” à suspensão de pagamentos de parcelas da dívida dos estados com a União, pode ter um custo fiscal de R$ 77 bilhões. Segundo a projeção mais recente do FMI, a relação dívida bruta/PIB vai fechar 2022 em 88,2%, abaixo do índice de 93% registrado em 2021. No entanto, também de acordo com a estimativa do Fundo Monetária, voltará a subir em 2023 (89,9%) e vai se manter acima dos 90% nos quatro anos seguintes. O aumento percentual não chega a assustar quando no início do governo se esperava que ela batesse em 100% do PIB. Mas, com a disparada da inflação e alta dos juros pelo Banco Central, o passivo interno bruto se tornou 49% mais caro. Há quem diga que dívida é para se rolar. Mas, na percepção da insolvência do país e na avaliação das agências de rating, não é assim que se joga o jogo.
Como desgraça pouca é bobagem, ainda estão pendurados nessa conta o pagamento de precatórios, postergados via PEC, e a compensação aos entes federativos pela redução do ICMS sobre combustíveis, energia, transportes e telecomunicações. Uma facada da ordem de módicos R$ 144 bilhões. Sem falar nos custos para garantir o piso da enfermagem, que contam com mobilização do presidente do senado, Rodrigo Pacheco, declaradamente em busca de ao menos mais R$ 7 bilhões para compensações. Segundo o presidente da Confederação Nacional dos Municípios, Paulo Ziulkoski, para tanto serão necessários repasses de R$ 10,5 bilhões da União, por baixo.
Ao mesmo tempo, a peça orçamentária apresentada pelo governo, para lá de otimista no que se refere ao crescimento do PIB em 2023, que estima em 2,5%, diante de uma projeção de 0,63% do último Boletim Focus, prevê uma queda de arrecadação de 22,9% do PIB, em 2022, para 21,2%, no ano que vem.
Para não se cometer uma injustiça, importante salientar que a PLOA projeta a redução do preço das commodities e só inclui receitas de concessões de ativos já destinados ao setor privado. Frente à instabilidade internacional e, sobretudo, à lentidão das privatizações no atual governo – e sua virtual paralisação na gestão Lula – é melhor do que nada, mas está a anos luz de ser motivo para tranquilidade.
Tudo isso, entretanto, abarca somente questões já consolidadas. O abismo pode atingir profundezas insondáveis. Explica-se: o risco fiscal calculado pelo próprio governo federal, em função de decisões judiciais negativas no radar, atingiu seu momento mais delicado dos últimos dois anos. De acordo com balanço de agosto, chega-se a um montante de potenciais R$ 2,6 trilhões de prejuízos aos cofres públicos, o que significa um aumento de 66% em relação ao estimado em março. É claro que o valor seria diferido no tempo, mas funcionará como uma guilhotina sobre a cabeça do Executivo – qualquer um que venha a assumir em 2023.
Para piorar, o principal componente desse montante vem da chamada “revisão da vida toda”, que muda o cálculo das aposentadorias no INSS no período anterior a julho de 1994. O STF ainda não oficializou o resultado do julgamento, mas já formou maioria em benefício dos aposentados. Uma facada de R$ 480 bilhões no pior cenário, segundo os técnicos do governo, e de R$ 48 bilhões no melhor.
A equação não fecha, independentemente do prisma em que se observe. O STF decidiu por unanimidade destravar mais de 15 mil processos para assegurar vagas de educação infantil a todas as crianças de zero a cinco anos, seja em creches, seja pré-escolas. A União vai sofrer, porque a arrecadação dos entes federativos no final também cai no seu colo, mas menos do que os municípios. O total da conta alcança R$ 120 bilhões. A garfada vai se somar às perdas dos estados, cuja redução de R$ 84 bilhões na receita com as perdas do ICMS promete prosseguir arrombando o cofre das unidades federativas, principalmente devido à manutenção da medida, em 2023, a esperada redução da inflação no futuro calendário e a aguardada desaceleração da economia.
Tem-se ainda alguns outros amargos acepipes; coisa pequena, mas não desprezível. Uma Medida Provisória aprovada pela Câmara, e em discussão no Senado Federal, joga um custo extra de pelo menos de R$ 4,5 bilhões por ano, durante três décadas, na conta de luz dos brasileiros. Originalmente, a medida tratava apenas do ICMS sobre combustíveis, mas foi serpenteando na Câmara até aumentar os subsídios nas contas de energia.
Em tese, não há mais termômetro fiscal no governo. O Ministério da Economia afirma que as contas vão bem, obrigado, projetando um superávit para este ano. Mas que superavit? Com a receita dos estados inflada pela carestia? Com a última parcela da mesada do BNDES, de R$ 50 bilhões, decorrente de uma interpretação ainda controversa das operações entre o Tesouro e o banco (é a penúltima tranche, que o governo correu para que fosse paga antes do fim das eleições)? Com PECs e mais PECs e dinheiro que é transferido para cá e para lá. Há ainda uma dívida passiva, cujos números até mesmo as autoridades fiscais têm dificuldade de esquartejar.
Haja PEC.
Destaque
O perdão nosso de cada candidato
20/10/2022A “República do perdão” independe das urnas. Seja Lula, seja Jair Bolsonaro, o vencedor das eleições terá de solicitar ao Congresso um waiver para que o teto de gastos possa ser furado mais uma vez. Entre os assessores econômicos dos dois candidatos, o pedido de anistia é tratado como algo praticamente inevitável. O próximo presidente precisará de tempo para implementar um novo arcabouço fiscal, que só terá efeito prático a partir do segundo ano de mandato. A mudança nas regras, vinculada ao compromisso de manutenção do ajuste fiscal, justificaria a requisição ao Legislativo da “licença para gastar”. Mal comparando, seria uma versão doméstica dos tantos pedidos de waiver feitos ao FMI por governos brasileiros do passado. Cada tempo com seus apertos.
A premissa é que o ano de 2023 já está perdido. O PLOA (Projeto de Lei Orçamentária Anual) para o próximo ano, enviado ao Congresso, não contempla a massa de gastos adicionais fora do teto. A manutenção do Auxílio Brasil de R$ 600 custará cerca de R$ 60 bilhões por ano. O pagamento de 13º do benefício a mulheres, prometido por Bolsonaro, vai exigir outros R$ 10 bilhões. Entra ainda nessa “conta dos não contabilizados” um passivo de precatórios expedidos e não pagos de aproximadamente R$ 50 bilhões. Some-se a isso o fato de que o próprio teto de gastos deverá ser rebaixado. A PLOA encaminhada ao Congresso previa um IPCA de 7,2% para este ano. No entanto, o último Boletim Focus, de 7 de outubro, traz uma projeção de 5,71%. Nesses termos, o teto previsto na PLOA de 2023 está superestimado em cerca de R$ 24 bilhões.
Tanto os assessores de Lula quanto a equipe econômica do governo Bolsonaro já acenam com um novo arcabouço fiscal. Pelo lado da atual gestão, técnicos do Tesouro Nacional concluíram a minuta de um plano que preserva o teto de gastos, mas altera o modelo abrindo margem para aumento real dos gastos de até 2,5% ao ano a depender de três variáveis. Para começar, o projeto estabelece como referência a DLGG (dívida líquida do governo geral) – o indicador abrange ativos e passivos da União, estados e municípios, excluindo ativos e passivos de posse do BC. A proposta do Tesouro contempla a dívida líquida do governo geral em relação ao PIB do ano corrente, estabelecendo três bandas possíveis: abaixo de 45% do PIB; de 45% a 55%; e acima de 55%. Essa relação DLGG/PIB é comparada à média dos três anos anteriores, para se verificar alta ou queda. Finalmente, o modelo observa se a média bianual de resultados primários indica um saldo positivo e crescente na comparação com os dois anos anteriores. Nesse caso, seria concedido um bônus de 0,5 ponto percentual para elevação das despesas. Dessa alquimia os técnicos do Tesouro derivaram para 12 combinações possíveis que possibilitam uma variação dos gastos primários do governo federal entre zero e 2,5% ao ano.
Lula já afirmou que vai acabar com a atual regra do teto de gastos. Assessores do comitê econômico do petista têm sinalizado a hipótese de retirar investimentos do cálculo para o limite das despesas. De toda a forma, as informações que saem da campanha do PT ainda são pouco conclusivas. Talvez fruto da biodiversidade de economistas de diferentes correntes de pensamento que se aglutinaram em torno da sua campanha, há vozes que defendem uma regra baseada em uma trava para os gastos; outros entendem que o melhor critério é o saldo positivo das contas públicas. Pérsio Arida, por exemplo, um importante colaborador do plano de governo do PT, defende um programa de gastos de R$ 100 bilhões fora do teto até que seja definida a nova regra fiscal. Economistas do PT discutem ainda alguma regra contracíclica para o teto. Ou seja: o governo aumentaria o teto e consequentemente o limite de gastos quando a economia estivesse retraindo, como forma de compensar o menor crescimento. Em contrapartida, o oposto também ocorreria, ou seja, a redução do teto em caso de uma expansão do PIB que permitisse um volume menor de gastos públicos.
Seja como for, seja quem for, o cenário é dramático. Com a manutenção de desonerações concedidas neste ano, notadamente IPI e PIS/Cofins sobre combustíveis, o gasto tributário federal, ou seja, o custo das renúncias, cresceu de 0,5% do PIB para 4,3% do PIB em 2023 – acima do índice de 2% do PIB estabelecido na Emenda Constitucional 109/2021, originada da PEC Emergencial. As estimativas apontam que a relação dívida/PIB deverá crescer quatro pontos percentuais entre dezembro deste ano e dezembro de 2023. Nesse contexto, não há margem de manobra. Seja quem for o presidente, seja qual for o novo arcabouço fiscal, 2023 terá de ser o ano do perdão.
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Bolsonaro e Lula miram na redução do câmbio
17/10/2022Um refresco cambial é o que os arautos da área econômica de ambos os candidatos à Presidência pretendem usufruir no início do seu governo. Todos preconizam uma inflexão no valor da moeda. Um dólar cotado na faixa de R$ 4,00 seria a meta. Mas ninguém pensa em mexer no tripé macroeconômico. Nem apreciar o real artificialmente, vendendo um pouquinho das reservas cambiais, usando de operações de swap, ou coisas assim. Não é disso que se trata. O governante que vier vai vender Brasil. Na equipe econômica de Lula há o entendimento de que o anúncio de medidas ambientais fortes – inclusive, com projetos de investimentos “limpos” na Amazônia – e um pacote vultoso de empreendimentos voltados à área de energia renovável, tendo a Petrobras e o BNDES como parceiros, trarão um caminhão de dinheiro.
Ainda mais se o petista for o garoto propaganda das medidas no exterior. Lula vende bem. A lógica virtuosa é a mesma de sempre: dólar entrando, real valorizando e inflação caindo. Bolsonaro já iniciou o mesmo movimento. Paulo Guedes aproveitou a reunião do FMI, em Nova York, para vender o Brasil. Apresentou, em diversos encontros com os bancos, a “espetacular” agenda de resultados macroeconômicos do governo: PIB subindo, desemprego e inflação caindo, superavit primário e dívida bruta sob controle.
Se o câmbio cair, melhoram todas as variáveis. Guedes quer que o governo faça marketing no exterior, que trate com ufanismo nossos triunfos: energia renovável e commodities agrícolas, principalmente – o ministro já pisou e repisou que o Brasil é o garantidor da segurança alimentar do mundo. Mas o tiro de maior calibre que Paulo Guedes pretende dar é a privatização da Petrobras. A equipe econômica considera que a operação amassaria o câmbio. O combo inclui também um número de concessões superior ao do “primeiro” governo Bolsonaro. Guedes sempre repete que tem muito dinheiro voando no mundo e que o Brasil, além de ter feito seu MBA em concessões na gestão do coronel Tarcísio Freitas no Ministério da Infraestrutura, reúne os ativos naturais que todos querem. Boas intenções, ideias animadoras, mas de complexa execução. Um real comportadamente apreciado todo mundo quer. A ver quem saca do coldre a tão difícil previsibilidade.
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O melhor cabo eleitoral de Jair Bolsonaro
11/08/2022O comitê de campanha de Jair Bolsonaro está trabalhando com foco em Paulo Guedes. O ministro é considerado o melhor comunicador do governo. E tem “garrafas para vender” ou bons números para mostrar. E mesmo quando os resultados estão aquém do esperado, Guedes tem uma capacidade rara de entortá-los de forma a que eles saiam bem na foto.
Guedes consegue até driblar o tempo em suas falas. Exemplo: a condenação da conjunção adversativa. O ministro rebate o “mas” usado pelos adversários, dizendo que os críticos não querem ver o valor presente da política econômica. Eles procuram sempre o passado – marcados por eventos atípicos, feito a pandemia – ou o futuro, que não aconteceu e está sujeito as correções de rota feitas pelo governo.
O gendarme mais atuante de Bolsonaro aponta sua lança para a fotografia do momento. Neste ano, a inflação cairá, o crescimento da atividade produtiva será maior do que o projetado e a dívida pública em relação ao PIB será reduzida ainda mais. Os investimentos, por sua vez, subirão puxados basicamente pelo setor privado. O resultado fiscal primário também será melhor do que o previsto, o desemprego caiu e continuará caindo, os pobres foram atendidos com auxílios generosos, o preço dos combustíveis está em queda e a agricultura bateu recordes.
Em síntese: 2022 seria o ano da redenção. Para o ministro, o que interessa é o fotograma do presente e não a terra arrasada do porvir. Guedes vai pular de entidade patronal em entidade patronal, levando sua mensagem. A epopeia do ministro parece uma versão adaptada do case de sucesso da celebridade Anderson Franco, vendedor de picolés em Itapetininga, Minas Gerais. Franco construiu uma mansão de 6.600 metros quadrados de puro luxo. Guedes é um vendedor de picolés. Sua mansão é a reeleição do presidente.
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Mágica contábil
20/07/2022Vai ser agitada a reunião hoje do Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador. A representação dos trabalhadores questionará o governo sobre os parâmetros utilizados para montar o orçamento do Codefat de 2023. A previsão de uma receita de R$ 85 bilhões é praticamente o dobro do montante desse ano (R$ 47 bilhões). A mágica é como chegar a esse número com uma previsão de PIB modesto para o próximo ano.
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Para Paulo Guedes bastava dizer a verdade
31/05/2022Paulo Guedes mentiu em Davos. Disse que pela “primeira vez, em 15 anos, o governo zerou o déficit em todos os níveis da federação”. E mais: “Fizemos em 15 meses o que eles fizeram em 15 anos”, referindo-se ao tempo necessário para zerar o déficit. Uma lorota tola e eleitoreira solta feito uma lagartixa no Fórum Econômico. Não foi a primeira vez em 15 anos. E “os outros” fizeram, inclusive, um dever de casa melhor. A verdade é que o governo Lula conseguiu um resultado fiscal superior ao saldo do primário inflado pelo discurso de Guedes.
O ministro não precisava disso. As contas públicas apresentaram um excelente resultado em 2021, com um superavit primário de 2,37% do PIB, o primeiro desde 2013 e o melhor saldo desde 2008. São números do próprio boletim do Ministério da Economia sobre o Resultado Fiscal Estrutural, que confirmam o excesso verbal, digamos assim, de Guedes. Vale registrar que ficaram fora do cálculo das contas públicas o “pepinódromo” dos precatórios e as despesas não recorrentes com a pandemia. Mas tudo bem. Há mérito na performance do ministro.
Entretanto, segundo a Secretaria de Política Econômica (SPE), o resultado fiscal estrutural mais robusto foi observado entre 2003 e 2008, intervalo do governo Lula, atingindo, na média, um patamar de quase 4% do PIB. Obra e graça de Antônio Palocci, não custa rememorar. Com Dilma Rousseff, o resultado do primário ingressou no campo negativo. É difícil entender por que Paulo Guedes insiste em interpretar o Barão de Münchausen.
Não existe motivo para logro. O resultado de janeiro, por exemplo, foi espetacular, com o maior superavit primário (R$ 76,5 bilhões) desde o início da série histórica, em 1997. Guedes não é menos capacitado intelectualmente do que os ministros da Economia do PT. E sua gestão das contas públicas merece louvor. Mas é preciso acabar com a farsa de que o desempenho fiscal no governo Lula foi ruim. Por enquanto, é o melhor em 15 anos.
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Apostas
30/05/2022Seguem as apostas mais conservadoras de Paulo Guedes: IPCA, 7% a 7,5%; PIB, 2,7%; Selic, 13,25%; dívida/PIB, 79%; desemprego, 9,5%. As mais otimistas ficam entre Urano e Saturno.
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A conta da infraestrutura não fecha
25/05/2022Ao contrário do que diz o governo, está, sim, faltando Estado na infraestrutura. O capital privado não tem sido suficiente para alavancar os investimentos no setor na proporção necessária. É o que aponta o economista Claudio Frischtak, em recente estudo. O aporte público precisa subir de 0,6% a pouco mais de 1% do PIB para que o total de investimentos em infraestrutura chegue a 3,6% do PIB. De acordo com Frischtak, esse seria o mínimo necessário para desencadear um processo de modernização ao longo das próximas duas décadas – na hipótese de um potencial de crescimento não inflacionário, na média, de 1% ao ano.
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Insegurança alimentar que apedreja é a mesma que afaga
18/05/2022A crise de insegurança alimentar, provocada pela guerra entre Rússia e Ucrânia, o lockdown na China e a reposição de estoques em boa parte do mundo, invadiu o calendário de 2022. Ela afetará de forma negativa os indicadores macroeconômicos do país: o IPCA pode chegar a 9,5%; a Selic, a 14,5%; e o dólar, a R$ 5,40. As estimativas foram calculadas, ontem, a partir do modelo econométrico de uma startup financeira paulista, conduzida só por matemáticos. A exceção seria o PIB, que deverá crescer ao surpreendente patamar de 2,5%. Trata-se do cenário básico obtido pelo modelo.
As projeções levam em consideração a seguinte combinação: aumento da atividade produtiva até meados do terceiro trimestre; preços das commodities subindo a níveis recordes; arrecadação crescente; condições piores de recomposição das cadeias produtivas; e superávit da balança comercial em patamar superior. O percentual do PIB, que parece demasiadamente embicado para cima, já vem sendo afagado pelo mercado. Segundo o Ministério da Economia, a projeção supera os 2%. Tudo bem, projeção chapa branca não conta. Mas o boletim Focus, até ser paralisado devido à greve de funcionários do BC, já vinha corrigindo o PIB para o alto há cinco semanas.
A Goldman Sachs revisou sua previsão de 0,6% para 1,5%. A XP dobrou a aposta de 0,6% para 1,1%. O PIB pode muito bem disparar devido ao já citado efeito do preço das commodities, mas também em função da boa performance do setor de serviços, que vinha sendo reprimido pela pandemia. E o desaquecimento da atividade decorrente dos juros elevados? As medidas ex-pansionistas de gastos sociais e a adoção de renúncias fiscais, praticadas por Paulo Guedes, vêm esterilizando a política monetária do BC. O relaxamento do ajuste fiscal de Guedes posterga a inércia natural de nove meses para que os juros comecem a impactar de forma depressiva a atividade produtiva. Assim, a inflação cai menos do que se esperava. A boa notícia é que o desemprego, atualmente na faixa de 11%, recua para 9,5% a 10% neste cenário. Jair Bolsonaro agradece essa parte final.
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A política monetária de dois gumes do BC
5/04/2022O presidente do BC, Roberto Campos Neto, pode bater com o pé no chão, gesticular, esbravejar, desmentir, mas a verdade é que a política monetária está voltada mais para o câmbio do que para a inflação. O que, na atual circunstância, não chega a ser um crime de lesa macroeconomia, e, sim, uma reedição do enigma galináceo de quem nasceu antes: o ovo ou a galinha. O BC diz que só mira a inflação e não o câmbio, que desabou para R$ 4,60.
Dois motivos teriam impactado o dólar: os preços das commodities e a astronômica taxa de juros real, que namora os 7% – a expectativa de instituições financeiras, como o Barclays, é de que a Selic alcance 13,75% em junho. O BC não tem influência sobre os preços das commodities. Mas manda e desmanda nos juros. A priori o que se diz é que os juros elevados são para baixar a carestia. Pode ser. Mas é curioso o remédio de juros altos quando a economia rasteja, há uma quebra das cadeias de produção e não se identifica pressão de demanda.
Só se o BC considerar que os auxílios dados por Jair Bolsonaro provocarão algum frenesi sobre o consumo, principalmente nos bens de primeira necessidade. Parece difícil. Há quem diga que o BC faz uma política de dois gumes. Combate a inflação através do câmbio, o que ajudaria também a reduzir a transmissão das cotações das commodities para os preços internos. De quebra, a autoridade monetária afastaria o risco de histerese provocado por uma insegurança crescente em relação às contas públicas. Lembrando que histerese é quando juros altos deixam de ter efeito na inflação.
Mas não deixam de ter no câmbio, pois o fluxo de moeda segue como uma manada para os países que oferecem taxas mais altas. Os únicos juros no planeta mais altos do que no Brasil são as taxas praticadas na Rússia. Mas aí não conta, pois o país está em guerra e sofrendo sanções de toda a ordem, inclusive o congelamento das suas reservas em bancos estrangeiros. Com o real fortalecido, as importações tendem a aumentar, e os preços a cair.
Tudo muito bom, tudo muito bem. No entanto, a cadeia de transmissão dos juros, câmbio e inflação, mesmo dando certo, também deixa mortos no caminho: a atividade produtiva e o emprego. Sob esse aspecto vamos mal, com projeções de um PIB inferior a 1% e um desemprego de 12%. A festa é só para o baronato das commodities, com rentabilidade superior a até 300%. Talvez fosse a hora de instituir um imposto sobre o setor, como fazem vários países do mundo, transferindo dinheiro para o combate à pobreza, investimentos em obras públicas e o próprio ajuste fiscal.
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Variante PIB
13/01/2022Há muito medo no governo de que as projeções para o PIB deste ano, que oscilam entre uma alta de 1% e uma queda de 0,5%, venham a se transformar em uma recessão incontestável, com um resultado negativo entre 1% e 1,5%. Essas previsões deverão aparecer no Boletim Focus ainda no primeiro bimestre. O principal fator de contaminação do PIB é a Ômicron.
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Sem ajuda da inflação, a federação vai quebrar
24/11/2021A federação brasileira virou sócia da inflação. A curto prazo, o aumento dos índices de preços surge como o único fator capaz de atenuar, mesmo assim em parte, o baque fiscal que se anuncia para os estados em 2022, decorrente, sobretudo, de decisões do STF. A título de exercício: segundo cálculo de um secretário de Fazenda, uma inflação de 12% no ano que vem geraria uma receita adicional de até R$ 12 bilhões com ICMS para todos os entes federativos – a participação maior ou menor nesse bolo estaria vinculada à estrutura de impostos de cada unidade.
E, ainda assim, seria como tentar estancar uma hemorragia com um band-aid. Por hemorragia entenda-se as duras perdas fiscais sofridas em sequência. A proibição do Supremo ao ICMS diferenciado para os setores de energia e de telecomunicações vai custar aos estados uma queda de receita próxima dos R$ 27 bilhões. Proporcionalmente, os mais atingidos serão Goiás, Paraíba, Paraná e Rio Grande do Sul, todos com um decréscimo de arrecadação superior a 9%.
Em termos absolutos, São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Paraná vão amargar uma perda na casa dos R$ 3 bilhões, cada um. Não é só. Ressalte-se que outra recente decisão do STF já vai subtrair mais uma importante parcela de arrecadação tributária dos estados. O plenário da Suprema Corte declarou inconstitucional a cobrança do diferencial de alíquota do ICMS. Esse veredito custará aproximadamente R$ 14 bilhões em receita às unidades federativas a partir do próximo ano.
Ou seja: somando-se apenas as duas referidas decisões do STF, os estados já começarão 2022 com menos R$ 40 bilhões em suas contas, aumentando a penúria fiscal da federação. Mesmo uma derrama adicional proveniente da alta de inflação seria um alívio parcial e temporário. O aumento dos preços só ajuda no primeiro ano. Como as despesas em educação e saúde são indexadas ao aumento da arrecadação no exercício anterior, os estados teriam de criar receitas permanentes para compensar, no ano seguinte, o crescimento dos gastos nas duas rubricas.
O cenário, no entanto, é desalentador. As projeções de crescimento do PIB para 2022, segundo o último Boletim Focus, já estão na casa de ínfimo 0,7%. Some-se a isso o fato de que o ICMS é um imposto decadente, que só faz perder margem: nos últimos 20 anos, a arrecadação total com o gravame caiu 14%. Resta aos estados se agarrarem a qualquer forma de tentar adiar o temporal. Um exemplo: segundo o RR apurou, nos últimos dois dias, governadores e secretários de Fazenda dispararam uma série de telefonemas cruzados traçando uma estratégia jurídica para ganhar tempo em relação à decisão do STF de proibir o ICMS diferenciado para os segmentos de energia e telecomunicações. Os governos estaduais devem entrar com embargos de declaração junto ao Supremo e com pedidos de modulação da “pena”. O objetivo seria, ao menos, empurrar a entrada em vigor da nova regra de 2022 para 2023. É o que se tem.
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Para o Banco Central, a recessão faz parte do jogo
9/11/2021No Banco Central, há o consenso do colegiado de que os juros devem subir “significativamente”. Mas os modelos econométricos que rodam nas internas acusam a possibilidade das taxas chegarem a um patamar indutor de uma recessão no último trimestre de 2022. O recuo do PIB somente não coincidiria com o período agudo eleitoral porque são necessários três meses consecutivos de crescimento negativo para se configurar uma recessão técnica. Os modelos projetam a queda da atividade econômica para um trimestre seguido somente para depois das eleições. O cenário de recessão não é o mais provável. E como se sabe a econometria entrega mais hipóteses do que certezas. Por enquanto, a variável mais importante é saber até onde vai o “significativamente”. A ameaça severa do presidente do BC, Roberto Campos Neto, de colocar os juros na lua ecoa nas palavras de Paulo Guedes: “O que interessa é a inflação e não o PIB”.
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Vai ser muito difícil o Copom resistir
24/08/2021O governo está sendo vítima de um ataque especulativo. O mercado tem pressionado de todas as formas para elevar a taxa de juros a níveis não previstos pelo Copom ou pelo próprio boletim Focus. As previsões de que a Selic terá um aumento de 0,75 ponto percentual ou de um ponto percentual na próxima reunião do Comitê, em 21 e 22 de setembro, estão sofrendo uma verdadeira avalanche de avaliações negativas da conjuntura, que indicam o objetivo de uma correção da taxa básica em 1,25 ou 1,5 ponto percentual. Os números da economia pioraram, mas nem tanto assim.
O déficit fiscal no próximo ano será bem menor e ficará em pouco menos da metade da meta original. A arrecadação vai continuar subindo ou, pelo menos, se manterá em níveis altos. Apesar das variantes do coronavírus e dos temores de uma nova onda de contágios, a pandemia vai arrefecer até o fim de 2021 ou no mínimo o início de 2022. Os ventos lá de fora podem não ser os melhores, mas a economia mundial continua crescendo. A sinalização do BC é de que ele recolocará o IPCA na meta em 2022. As instituições financeiras não acreditam na autoridade monetária, cuja gestão era considerada próxima do estado da arte. E enxergam o IPCA fora da meta neste e no próximo ano.
O PIB vai cair um pouco em relação ao previsto. Mas, no máximo, encolhe para 2% em 2022, um número que já era tolerado pelas casas bancárias antes do pequeno apocalipse. Quanto às reformas, as dificuldades já eram previstas. E não existe nada tão horroroso quanto o auge da pandemia. O que pode se argumentar é que os precatórios de Paulo Guedes, as diatribes de Jair Bolsonaro e a percepção de crescimento eleitoral de Lula estão excitando o mercado. Tudo bem. Mas, esses fatos não sustentam um cenário desastroso para os fundamentos econômicos. Barbeiragem foi lá atrás, quando o BC reduziu as metas de inflação, dificultando seu alcance em um previsível ambiente conturbado. Agora, o neoliberalismo engaiolado pelo mercado vai sofrer com a histeria por juros lá nas alturas. Até a próxima reunião do Copom, os vocalizadores das instituições financeiras falarão sem parar sobre a falta de fôlego fiscal, inflação fora de controle e a “política monetária dovish” do Banco Central. Na prática, é bem menos do que dizem.
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Causa e efeito
8/01/2021É grande a torcida para que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, aguente as pressões e mantenha a taxa Selic na faixa de 2% pelo menos até meados do ano. A Selic mais baixa teve um papel importante na melhoria do ambiente de negócios e na redução da dívida interna bruta em relação ao PIB no ano de 2020. O índice ficou em 89% no mês de novembro e muito provavelmente fechará o ano de 2020 próximo dos 90%. Será, portanto, um indicador bem mais confortável dos que os 100% de dívida interna bruta sobre o PIB que vinham sendo projetados pelas casas bancárias. Se o PIB de 2021 crescer em torno de 5%, como projeta o economista Affonso Pastore, cai mais ainda.
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Garganta de ouro
23/11/2020Dessa vez, Paulo Guedes não cascateou. A economia, no biênio 2020/2019, cairá somente -1% do PIB. Para isso, é necessário que o PIB não caia além das projeções de -4,5%. Mesmo assim, o resultado é refrescante. Se cravar os 4% do PIB projetados para 2021, retornamos à situação de 2019. Mas não tem nada de decolagem da economia ainda.
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Tombo do PIB não vai ser tão feio quanto se imaginava
8/10/2020Apesar das tonterias de Paulo Guedes, a economia está reagindo mais positivamente do que o próprio ministro previa alguns meses atrás. Segundo fontes do RR, Ministério da Economia e BC já teriam sinalizações de recuperação do PIB em suas projeções para este ano, com os números caminhando para as casas de -3% e -4% respectivamente. Os indicadores da crise estão todos bem abaixo das expectativas tétricas do seu início. O PIB começou com projeções que iam até -14%.
O FMI estimava uma contração de -9%. Agora, projeta 5,8%, alinhado com JP Morgan, Safra e Banco Inter, somente para citar alguns. Em seu último anúncio, o Banco Central previa 5% de queda do Produto. O Ministério da Economia, por sua vez, projetava uma redução pouco superior a 4%, em linha com o UBS, que rebaixou sua estimativa para -4,5%. O viés do PIB é de alta para o terceiro trimestre, segundo praticamente todas as instituições consultadas. Para 2021, o FMI projeta um crescimento de 2,8%, na contramão do mercado. Mas, como se viu, o Fundo erra muito.
A grande maioria das projeções para o PIB sinalizou um aumento entre 3% e 4%. Há quem acredite que chegará até 5%. É verdade que esse crescimento é em grande parte contábil, devido à base baixa de cálculo. E como o governo está inerte, não passaria de um voo de galinha. No entanto, é também irretorquível que a melhora das projeções do PIB ajudará no ambiente de negócios e trará a sensação de distanciamento da crise. Outro número ruim e bom é o do desemprego. Ruim porque aumentou para 13,8%, o maior índice em 25 anos. Bom, porque é expressivamente mais baixo do que a previsão em até 19% do início da pandemia.
Além do fato de que, mesmo com toda a tragédia, a taxa de desocupação é pouco superior à que tivemos em diversos meses do biênio 2017/2018, quando o indicador de desemprego esteve na faixa superior aos -13%. No mês de agosto, a criação de vagas também surpreendeu: segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o número de postos de trabalho criados atingiu 249.388 vagas. Foi o maior resultado para o mês de agosto dos últimos 10 anos. Os incentivos para geração de empregos, e, por via transversa, o auxílio emergencial, tiveram peso expressivo no aumento dos números.
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Imposto sobre commodities entra no menu de Guedes
30/09/2020Entre a miríade de ideias e estudos para a construção de uma nova arquitetura tributária, uma proposta voltou à tona: a criação de um imposto sobre as exportações de commodities. Tomando-se como base números de 2019, o novo gravame incidiria sobre um manancial da ordem de US$ 118 bilhões – o total de itens básicos exportados pelo país no ano passado. Ainda que a taxação atinja também minério de ferro, petróleo, entre outros, o foco maior de Paulo Guedes e cia. é mesmo o agribusiness. Desde já é de se imaginar que o governo teria de domar a reação contrária de toda a cadeia do agronegócio e da bancada ruralista, importante pilar da base de sustentação de Bolsonaro no Congresso. Dentro de casa, seria necessário enfrentar ainda a discordância da ministra Tereza Cristina, hoje uma das mais influentes figuras do governo. Mas seria um custo marginal diante do ganho que a medida teria: essa espécie de “CPMAgro” seria uma tributação mais justa, por exemplo, do que a CPMF, um imposto em cascata e de impacto desigual que atinge toda a população.
O argumento de que a competitividade das exportações seria afetada pelo novo tributo é visto pela equipe econômica como conversa para boi dormir. Mesmo em longos períodos de preços em alta ou em queda, o volume de vendas das seis principais commodities comercializadas pelo Brasil (responsáveis por 52% das exportações do país no ano passado) permaneceu sempre crescente. Ao mesmo tempo, nenhuma outra atividade econômica do país está ganhando mais dinheiro do que o setor agropecuário.
Nem a pandemia tem sido capaz de frear esse avanço: no primeiro semestre do ano, o PIB do agronegócio cresceu 5,26% em relação a igual período em 2019. No mesmo intervalo, o PIB brasileiro despencou 5,9%. Não é exagero dizer que o campo assumiu o lugar dos bancos em ternos de rentabilidade. Ainda que indiretamente, não deixaria de ser uma forma de o governo Bolsonaro taxar grandes fortunas. Um indicador curioso da riqueza do campo: no embalo do agronegócio, o Paraná é o estado onde a Porsche mais vende seus automóveis de luxo no Brasil.
Nos últimos anos, vez por outra a proposta de taxação das exportações de commodities pulula por estas bandas. Em 2017, o governo Temer estudou o assunto – ver RR edição de 24 de agosto de 2017. O tema também foi discutido na campanha de Ciro Gomes, sob a batuta de Luis Carlos Bresser Pereira e Roberto Mangabeira Unger (edição de 5/9/18). Ao contrário do que muitos possam pensar, a medida está longe de ser uma jabuticaba. Vários países do mundo adotam a tributação sobre exportação de commodities. Os Estados Unidos taxam as vendas de trigo; a Argentina tributa todos os grãos que exporta desde 2018; países como China, Índia, Rússia, e Ucrânia aplicam tarifas de até 30% sobre produtos minerais; a tributação de arroz é uma importante fonte de arrecadação fiscal da Tailândia.
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Ameaça de downgrade paira sobre o Brasil
4/06/2020Aumenta o receio de que as agências de rating venham a rebaixar a nota do Brasil. Razões não faltam. Há, neste momento, uma tempestade perfeita para o downgrade, com a combinação entre pandemia, fraqueza institucional, explosivo endividamento público (a terceira maior relação dívida bruta/PIB entre as nações emergentes) e aumento do desemprego. Já ameaçado pela hipótese de um lockout comercial devido à escalada de casos do coronavírus, o Brasil corre o risco também de sofrer um isolamento financeiro como consequência de uma eventual queda do rating. Ressalte-se que já há “jurisprudência” em relação a países fortemente atingidos pela pandemia. Em abril, por exemplo, a Fitch rebaixou a nota da Itália, devido “ao impacto significativo da Covid-19 na economia do país e em sua posição fiscal”. Um pouco antes, a Moody ´s já havia alterado de “estável” para “negativo” sua perspectiva sobre o sistema bancário de seis países europeus – Bélgica, Dinamarca, Espanha, Holanda, Itália e França – também por conta dos efeitos do coronavírus sobre a economia. No caso específico do Brasil, a pandemia se soma à crescente turbulência política e institucional. Esta é uma variável de razoável peso para as agências de rating. Vale lembrar que, em abril, a Fitch rebaixou a nota de crédito do México, entre outros fatores, pela sua “erosão institucional”.
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Ilusão de ótica
16/04/2020Aguardam-se as projeções do FMI sobre a dívida bruta das nações depois da pandemia. No Brasil, a Instituição Fiscal Independente (IFI) já divulgou sua estimativa de um passivo bruto interno de 100% do PIB, em 2030 – neste, ano vai a 84,9% do PIB. O dado isolado faz parecer que o “sujinho” somos nós. Mas a dívida bruta deve aumentar em todos os cantos, sejam emergentes, subdesenvolvidos ou desenvolvidos. A título de ilustração: segundo dados do Fundo de 2018, em uma amostragem de 148 países, somente 9% apresentavam dívida maior do que o Brasil. Em 2013, o número era de 31%. Aguarda-se uma boa virada no placar.
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PEC Emergencial fura a fila das reformas
9/03/2020O governo estuda dar uma cambalhota na prioridade das reformas. Saem do início da fila as propostas tributária e administrativa; assume a pole position a PEC Emergencial. Mesmo sendo a mais sanguinolenta das reformas apresentadas pela equipe econômica e com as eleições municipais logo ali à frente, trata-se da medida que possibilita resultados imediatos. Ela contempla leis temporárias com prazo de dois anos, que ajudariam o governo a fazer uma composição com a PEC do Teto, a Regra de Ouro, a intensificação do ajuste fiscal e um desejável aumento de investimentos.
Hoje a regulação é draconiana. Todas as propostas para aumento de investimento público esbarram na PEC do Teto e na Regra de Ouro. Ou seja: somando-se as duas regras, vê-se que o governo não pode gastar mais do que um determinado valor, nem se endividar para pagar despesas obrigatórias. Com a PEC Emergencial seria instituído um gatilho, que evitaria o estouro da Regra de Ouro. Atualmente, a autorização para endividamento ocorre através de um projeto de lei, que é bastante demorado.
A PEC propõe que a autorização seja feita por meio de votação simples, em um turno único, mantendo-se a maioria absoluta já exigida. Com relação ao teto de gastos, um dispositivo granítico de contenção das despesas, a medida colaboraria para o descongelamento dos investimentos, levando-os a um tratamento similar aos da educação e da saúde. Segundo a PEC Emergencial, fica vedada a criação de novas despesas obrigatórias; funcionários públicos não poderão mais ser promovidos; a carga horária dos servidores poderá ser diminuída em até 25%, com a redução salarial; e fica proibida a ampliação ou concessão de novos benefícios tributários.
A cereja aparece no fim: 25% do valor economizado com a redução de despesas obrigatórias deverão ser aplicados em obras públicas de infraestrutura. Se, por um lado, a PEC Emergencial tem um impacto social negativo, notadamente junto ao funcionalismo público, por outro, atende às demandas dos governadores, que já estouraram em muito seus orçamentos. Os estados estão quebrados.
A PEC Emergencial mitiga essa situação falimentar. Com relação aos investimentos públicos, eles estão engessados em montante inferior a 0,5% do PIB. Segundo a exposição de motivos da PEC emergencial, 94% da despesa pública são compostos por gastos obrigatórios. Não é sem motivo que o país não vai para frente.
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PIB sofre sequela estatística
4/03/2020O RR conversou com uma fonte no IBGE, mais precisamente da área de revisão estatística do PIB: os resultados não serão tão alvissareiros quanto no passado. Nos anos anteriores, a revisão chegou a promover um aumento de 5% no PIB. Em 2019, a mudança no índice foi dividida, com uma parte já tendo sido realizada. O coeficiente tende a ficar em torno de 1%.
O número do PIB de 2019 deverá ser divulgado pelo IBGE hoje. A expectativa quanto ao índice do crescimento não mudou. Deve ficar entre 1% e 1,1%, mantendo o mesmo patamar de crescimento de 2018 e 2017, respectivamente, 1,1% e 1%. A probabilidade do teto de 1% não ser quebrada é baixa, mesmo lembrando que o Índice de Atividade do Banco Central (IBC-Br), uma espécie de indicador antecedente do PIB calculado pelo IBGE, registrou um crescimento de 0,89% da economia brasileira, em 2019.
Qualquer migalha no PIB tem importância no ano seguinte, na medida em que implica menor ou maior herança estatística. Por enquanto, a previsão do carregamento do ano passado para 2020 é o onipresente número de 1%. Trata-se de um percentual que não deve ser erodido tendo em vista um cenário de coronavírus, com todas as previsões do PIB sendo rebaixadas.
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Coronavírus provoca espirros nas projeções do PIB
5/02/2020O ministro da Economia, Paulo Guedes, tem uma preocupação adicional com o coronavírus. Guedes teme que a pandemia atinja as previsões das instituições financeiras já nas próximas rodadas do boletim Focus. O alvo mais visível seria o PIB, com o risco de sofrer quedas acentuadas. O ministro tem receio do que se chama na linguagem econômica de profecia autorrealizável.
No último Focus, divulgado na segunda-feira, dia 3, a previsão de crescimento do PIB caiu uma migalha, descendo de 2,31% para 2,30%. Desde então, durante os últimos dias, pipocaram informações de que as instituições financeiras estão mudando agressivamente suas estimativas. O Banco Itaú, tradicionalmente conservador em suas previsões, seria um dos que estaria cortando mais intensamente suas projeções do PIB. O banco suíço UBS já mostrou sua navalha: cortou sua previsão em 0,4 ponto percentual, baixando sua perspectiva de 2,5% para 2,1%.
O ex-economista chefe do Credit Suisse Nilson Teixeira, considerado um dos grandes conjunturalistas do país, também teria derrubado suas próprias projeções. A equipe econômica não tem dúvida de que o coronavírus fará algum estrago nas estimativas do PIB. Só não sabe o tamanho. De qualquer forma, mesmo com o esperado efeito sobre as expectativas, não há impedimento de que o PIB cresça na casa dos 2,3% projetados pelo Banco Central ou dos 2,2% esperados pelo Ministério da Economia. Ou, ainda, acima de ambos os índices. O surto pode simplesmente não se manifestar ou ser controlado ainda no nascedouro. Pelo menos é o que todos esperamos. Se depender de Paulo Guedes, a maior vacina contra os efeitos nocivos do coronavírus sobre o PIB são as reformas. De preferência em dose tripla. Ou seja: as reformas administrativa, tributária e o Pacto Federativo.
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Desemprego, quem diria, “faz a festa” do governo
9/01/2020Ainda na rebarba do “Natal do FGTS”, o governo espera uma taxa de desemprego de 10,9% no mês de dezembro. Apesar do índice ainda ser alto, é algo a ser festejado com palmas. Como disse o subsecretário de Política Macroeconômica do Ministério da Economia, Wladimir Teles, funcionou além das expectativas o choque de liberação de recursos do FGTS. Essa medida, quem diria, já foi chamada de “keynesianismo bastardo” pela turma de Chicago.
A queda da desocupação vem junto com uma provável expansão do PIB, que subiria de uma previsão de 1,2%, em 2019, para 1,4%. São frações quase microscópicas, mas que podem ser lidas como tendências. Devidamente “marketadas”, resultam em ganho político nada desprezível para o governo. Afinal, o desemprego é a saúva da gestão Bolsonaro e a sarna do discurso liberal do ministro Paulo Guedes. Mesmo que a desocupação possa em parte ser provocada por componentes estruturais, fatores exógenos e outras tecnicalidades, justificá-la dessa forma é fazer troça com cinco milhões de pessoas que, no 3° trimestre de 2019, procuravam emprego há 12 meses, segundo dados do Dieese. Só se justifica o desemprego com mais emprego.
É a única linguagem. Em novembro, o índice de desemprego (IBGE) foi de 11,2%, caindo 0,6 ponto percentual em relação ao mês anterior, de 11,8%. Trata-se da menor taxa desde o trimestre encerrado em março. Seja qual for o ângulo que se enxergue, o desemprego deu uma aliviada. Segundo o boletim da LCA Consultores, em dezembro, o Indicador Antecedente de Emprego (IA-Emp) da FGV avançou 1,7% m/m, após subir 3% no mês anterior. A LCA projeta uma taxa de desemprego de 11% no trimestre móvel encerrado em dezembro (11,6% com ajuste sazonal).
A variável mestra agora é o fator resiliência. Até que ponto os números dos últimos três meses não vão sentar na gangorra de índices que perdurou durante boa parte de 2019? É sabido que o FGTS não é uma drágea para ser tomada repetidas vezes. De qualquer forma, há uma brisa fresca no setor, e o governo ainda tem muitos instrumentos para manobrar, a exemplo da área de crédito. Quem se lembra do refinanciamento compensatório de Ciro Gomes, que limpava a ficha dos consumidores no SPC? Economia é assim: sai do inferno para um resort em Salvador.
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Parabéns
8/11/2019A equipe econômica do governo já espera os parabéns do mercado no Boletim Focus que circulará na próxima segunda-feira. A projeção para o PIB pode chegar a 1%.
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Histerese é a palavra que Paulo Guedes não ousa dizer
16/10/2019Um banco paulista e uma revista de economia negociam a realização de um seminário com a pergunta que ninguém quer fazer: “E se não der certo?”. Afloram dúvidas se a nossa enfermidade resiste aos choques da ortodoxia. Até o ministro da Economia, Paulo Guedes, começa a suspeitar que surgiu um anticristo não previsto no seu catecismo liberal. O canhoto atenderia pela nomenclatura “histerese” e, mesmo constando dos livros-textos, é algo que a Universidade de Chicago sempre considerou mais próximo da literatura de terror de Stephen King do que dos cânones da teoria econômica.
Tecnicamente, a histerese se refere à resiliência de um sistema conservar sua propriedade mesmo na ausência do estímulo que o gerou. Caso emblemático da histerese econômica brasileira é o mercado de trabalho, que permanece oscilando nos mesmos patamares da recessão de Dilma Rousseff, dezenas de meses depois. Histerese que também atinge a atividade produtiva, que se arrasta como uma lagarta há pelo menos três anos. Nesse tempo, a taxa de juros Selic desabou, fenômeno que deveria se refletir na produção e na taxa de ocupação. Mas foi como se os juros tivessem plantados no céu.
Desemprego e estagnação permaneceram inalterados. Centros conservadores do pensamento econômico já estão alertando para a histerese. O Ibre, da FGV, recomendou formalmente um estímulo fiscal, além do monetário. Ironia da história: o Brasil vai se empanturrar de inflação baixa, possivelmente até com taxas negativas. Os departamentos de pesquisa já trabalham com projeções de taxa de juros real negativa e inflação correndo abaixo da meta, além de queda do PIB para 2020. As perspectivas mais otimistas são de melhoria residual dos índices, o que constituiria uma espécie de “estagdeflação”.
Enquanto Paulo Guedes declara que o fiscal é sagrado e intocável, crescem os riscos de que a manutenção prolongada da mediocridade do mercado de trabalho e do PIB afete o seu potencial futuro de crescimento. Quanto pior hoje pior amanhã. O fenômeno da histerese pode ser traduzido como uma crise sem crise. Não há desajuste cambial, hiperinflação, juros siderais ou quebras de safra. Mas a economia anda mal, sem querer levantar da cama, como em um quadro de depressão psicológica. A histerese é também decodificada através da expressão estagnação secular. Trata-se de uma concepção do professor de Harvard Alvin Hansen, que prevê a ocorrência do fenômeno quando se juntam as circunstâncias de queda da produtividade, perda de fôlego da demanda agregada, e a demografia passa a ser um ônus.
Só essa última variável nos incomoda menos. O ministro Paulo Guedes sequer arrisca a menção do termo histerese. Não cabe no seu credo. Não há novidade nas escolhas de Guedes. O que causa espécie é a incorporação do credo neoliberal exacerbado no entorno militar do presidente da República, o que de alguma forma refletiria também o pensamento dos generais da ativa, tradicionalmente desenvolvimentistas. Talvez a guinada ideológica dos fardados e “apijamados” do Palácio do Planalto e dos Clubes Militares seja uma “aliança” contra um inimigo maior.
Como disse o presidente Bolsonaro na ONU, “o socialismo quase nos apanhou.” E permanece sendo a grande ameaça ao país, na visão desse agrupamento. A coalizão entre Forças Armadas e neoliberais seria a fórmula para explodir os pilares do comunismo, erigidos por Lula sobre uma base de Estado Forte, que foi construída pelos militares de 64, antimarxistas, mas nacional desenvolvimentistas. Dilma Rousseff pavimentou a ameaça aos quartéis com a Comissão da Verdade. Portanto, além da histerese econômica, é possível que estejamos atravessando o risco de uma histerese militar. Não se sabe bem qual das duas é a mais perigosa.
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Brasil está assentado sobre uma inflamável mistura
9/09/2019Quem já leu um pouco de história sabe que não dá certo a combinação de desemprego alto, PIB baixo, despoupança do setor público e crescimento irrisório da formação bruta de capital fixo. Nessas condições, se o Estado não convidar, com recursos públicos, o investidor privado para dançar, vai ficar tudo como está. Só não piora, porque pode se esperar algum crescimento econômico inercial, aquele chamado de “crescimento do fundo do poço”, quando a atividade produtiva desceu a um ponto limite dadas as suas condições históricas. Antes que alguém pergunte, o papel das reformas estruturais é pavimentar a expansão do longo prazo e não a do curto. E o longo prazo pode demorar muito ainda. Ainda falando nas lições da história, as guinadas da política econômica se deram, em circunstâncias similares, quando a malta começou a botar a boca no mundo. Não há política econômica correta se o povo começa a clamar por justiça e dignidade. Espera-se que não se chegue a isso.
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Paraíso financeiro
26/04/2019Mesmo com taxa de juros cadentes, desemprego de 14 milhões, crescimento ínfimo do PIB na faixa de 1% e queda de 0,6% do crédito bancário, as instituições financeiras tiveram uma expansão de 16% nos lucros. O resultado colossal foi construído já sobre uma taxa de crescimento de 14,6%, em 2017. Haja eficiência! Ou seja lá que outra coisa for.
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PIB do 1º trimestre: todo crescimento significa recuperação?
1/06/2018O crescimento do PIB no 1º trimestre de 2018 foi fraco: 0,4% em relação ao trimestre anterior. É um crescimento sem empolgação empresarial. O Brasil parece ainda estar em uma crise econômica: o PIB tem um tamanho muito inferior ao PIB de 2014 (ver gráfico), a taxa de desemprego é muito elevada e a fraqueza da demanda por produtos e serviços é prolongada.
No 1º trimestre de 2018, a produção industrial tropeçou, esteve basicamente estagnada, com valores 10% menores em relação ao que tinha no 1º trimestre de 2014. (fonte: PMI/IBGE). O volume de vendas do comércio varejista e o volume de serviços tiveram comportamentos bastante semelhantes ao da produção industrial. (fonte: PM/IBGE e PMS/IBGE) O Brasil viveu duas crises recessivas nos anos 1981-1983 e nos anos 1990-1992. Essas crises não foram tão graves quanto é a atual. Embora o desemprego tenha crescido naquelas ocasiões, não foi um crescimento muito acentuado. Mas, mais importante: o crescimento voltou a taxas vigorosas após as duas crises do século passado. (ver tabela)
Nos anos 1981-1983 e 1990-1992, a saída da crise veio através de elevadas taxas de crescimento do PIB acompanhadas da volta dos investimentos. A volta dos investimentos está para uma economia em crise assim como a volta do apetite está para um indivíduo em situação de pós-operatório. O crescimento do investimento no 1º trimestre de 2018 foi de 0,6% em relação ao trimestre anterior. Era o esperado diante da fraqueza do paciente. Alerta para reflexão: a economia brasileira pode estar vivendo uma situação de anormalidade crônica sem mostrar sinais de colapso total ou de recuperação conectada com uma expansão. Assim, navega com taxas baixas e voláteis que são do ponto de vista aritmético identificadas como crescimento positivo, mas do ponto de vista analítico podem não significar uma real recuperação econômica.
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PIB do 1º trimestre: todo crescimento significa recuperação?
1/06/2018O crescimento do PIB no 1º trimestre de 2018 foi fraco: 0,4% em relação ao trimestre anterior. É um crescimento sem empolgação empresarial. O Brasil parece ainda estar em uma crise econômica: o PIB tem um tamanho muito inferior ao PIB de 2014 (ver gráfico), a taxa de desemprego é muito elevada e a fraqueza da demanda por produtos e serviços é prolongada.
No 1º trimestre de 2018, a produção industrial tropeçou, esteve basicamente estagnada, com valores 10% menores em relação ao que tinha no 1º trimestre de 2014. (fonte: PMI/IBGE). O volume de vendas do comércio varejista e o volume de serviços tiveram comportamentos bastante semelhantes ao da produção industrial. (fonte: PM/IBGE e PMS/IBGE) O Brasil viveu duas crises recessivas nos anos 1981-1983 e nos anos 1990-1992. Essas crises não foram tão graves quanto é a atual. Embora o desemprego tenha crescido naquelas ocasiões, não foi um crescimento muito acentuado. Mas, mais importante: o crescimento voltou a taxas vigorosas após as duas crises do século passado. (ver tabela)
Nos anos 1981-1983 e 1990-1992, a saída da crise veio através de elevadas taxas de crescimento do PIB acompanhadas da volta dos investimentos. A volta dos investimentos está para uma economia em crise assim como a volta do apetite está para um indivíduo em situação de pós-operatório. O crescimento do investimento no 1º trimestre de 2018 foi de 0,6% em relação ao trimestre anterior. Era o esperado diante da fraqueza do paciente. Alerta para reflexão: a economia brasileira pode estar vivendo uma situação de anormalidade crônica sem mostrar sinais de colapso total ou de recuperação conectada com uma expansão. Assim, navega com taxas baixas e voláteis que são do ponto de vista aritmético identificadas como crescimento positivo, mas do ponto de vista analítico podem não significar uma real recuperação econômica.
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Crise fiscal se alastra por 23 estados
17/11/2017A Secretaria do Tesouro acendeu o sinal de alerta. Há uma forte possibilidade de que 23 estados estejam com problemas de caixa entre janeiro e fevereiro. A previsão, portanto, é que haja suspensão de pagamentos nessas unidades federativas. Com certeza vai sobrar para a União. A questão é onde o Tesouro vai arrumar recursos para ajudar os estados. A meta de déficit fiscal de R$ 159 bilhões em 2018 é gêmea à de 2017, mas a projeção é que o saldo será mais difícil de ser obtido, mesmo com a estimativa de aumento da arrecadação devido ao crescimento triplicado do PIB.
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Crônica do “não vai nem vem” da renda mínima
26/10/2017A reintrodução do debate sobre a renda básica pelo FMI é uma confissão de que a pobreza resiste às políticas convencionais de combate. O tema prima pela sua circularidade. Desconhece-se também quem é o pai da criança. O FMI se resume a revelar seus cálculos, pelos quais a distribuição de 4,6% do PIB reduziria a pobreza brasileira em espetaculares 11%.
As demais derivações, portanto, ficam por conta de economistas, historiadores e jornalistas. Exemplos pitorescos: F.A. Hayek e Milton Friedman, os dois economistas mais liberais da história, ambos defensores da renda básica, disputam quem levantou primeiro a bola. Friedman, em entrevista a Eduardo Suplicy – o mais obcecado defensor da renda mínima do universo – justificou o escorregão à esquerda, explicando que a “medida teria como objetivo substituir outras ações assistencialistas dispersas”.
Antes dos dois ícones do liberalismo, contudo, o escritor Thomas Paine antecipou-se à discussão do imposto de renda negativo e lançou pela primeira vez o termo renda mínima. No Brasil, o primeiro economista a levantar essa bandeira foi o pouco lembrado e saudoso professor Antônio Maria da Silveira, uma espécie de “Ignácio Rangel distributivista”. Antônio Maria, um estranho no ninho da EPGE-FGV, foi o responsável por incutir a ideia nas cabeças de Eduardo Suplicy e Cristovam Buarque.
O onipresente John Maynard Keynes arranhou o assunto. No texto “Sobre as possibilidades econômicas para nossos netos”, escrito em 1930, previu que em 100 anos todos teriam um renda básica para suas necessidades essenciais, portanto em 2030 todos teriam subsistência garantida – dependendo, é claro, de fatores acidentais como guerras e revoluções. Keynes não pensou em desastre ecológico, revolução digital e outras modernidades, mas o insight redistributivista parece ser ainda mais aplicativo quanto maiores forem os percalços. Por aqui, ficamos com o Bolsa-Família, que é um arremedo criativo. Mas é bom que o Fundo Monetário traga o assunto à tona.
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Novos cortes ou déficit primário maior? Eis a aflição
12/05/2017O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, vive um dos seus momentos de “Escolha de Sofia”. Precisa decidir se corta mais recursos na carne, notadamente nas renúncias fiscais do Estado, ou confessa um déficit primário superior em R$ 40 bilhões à previsão original de R$ 139 bilhões. Nessa hipótese, o déficit primário deste ano seria maior do que os R$ 154 bilhões de 2016.
O novo rombo de R$ 40 bilhões seria adicional ao buraco de cerca de R$ 50 bilhões anunciado por Meirelles no fim do primeiro trimestre juntamente com as respectivas medidas saneadoras. Conta dali, conta de lá, o déficit primário de 2017, não fossem contabilizados os cortes e receitas extraordinárias na primeira correção de rota, superaria os R$ 200 bilhões. Entra na projeção do novo déficit a conclusão de que há um componente estrutural na rigidez da arrecadação, que responde a uma renovada composição dos setores da economia no PIB (a indústria em franco descenso e o setor terciário em alta) e à resiliência do binômio desemprego e baixa recuperação da absorção doméstica.
Se quiser cortar, Meirelles terá de reduzir a conta de benefícios. Não se sabe se é esta medida ou se novos impostos o que mais afeta negativamente a popularidade do governo. Se não ceifar as renúncias fiscais – despesas com pessoal e custeio já não há mais para tesourar – e confessar que o déficit é maior e o governo não tem como resolver o desequilíbrio das contas públicas neste ano, Meirelles pode até pedir o boné.
No mínimo, perde os poucos cabelos que lhe restam. Há ainda uma variável esquizofrênica em meio à discussão do ajuste fiscal. Um vazamento da Secretaria Geral da Presidência da República prenuncia um gasto com investimentos públicos da ordem de R$ 59 bilhões. O “krypto New Deal” do Planalto é chamado de Plano Avançar. Os recursos não estão previstos no orçamento e ninguém imagina de onde podem sair. Meirelles não usa cartola, mas tem de tirar vários coelhos de algum lugar.
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Otimismo pré-datado
3/05/2017O RR assiste a uma reversão de expectativas edulcoradas pelos economistas nas páginas dos jornais. Mas, estranho, as previsões de agora são as mesmas das primeiras entrevistas de Henrique Meirelles em 2016: crescimento rodando em 2,5% do PIB no último trimestre de 2017 e uma expansão de 4% do PIB em 2018, tudo por causa das reformas, dos estoques baixos da economia no fundo do poço, dos sagues das contas inativas do FGTS etc. etc. etc. Ninguém fala nos efeitos de uma provável empinada do desemprego – pelo menos neste ano -, impacto da Lava Jato, aumento do risco Brasil em função do ambiente político conturbado em 2018, “Efeito Trump” na economia internacional, queda dos investimentos devido à incerteza eleitoral etc. etc. etc. Os economistas já mudaram suas previsões diversas vezes nesse período. Afinal de contas, o que são previsões se não bolhas de sabão. Tomara que estejam certos.
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Ilan Goldfajn vira a âncora de Henrique Meirelles
10/04/2017Os cérebros dos luminares do BC crepitam em um dilema “shakespearmonetário”: Selic em queda de 1,25 ponto (quiçá 1,50 ponto percentual) e manutenção da meta de inflação em 2018 ou queda de um ponto e redução do inflation target no próximo ano? Quem lê o RR antecipou esse dilema, que se tornou um “trilema” com o pedido tácito ao BC para dar uma mãozinha à Fazenda devido à disenteria fiscal. Então, ficamos assim na bolsa da política econômica: Henrique Meirelles em baixa; Ilan Goldfajn em alta.
A previsão de um PIB mais baixo neste ano – a Fazenda cortou sua projeção de 1% para 0,5%, mas o mercado já acha que 0,3% será uma dádiva – encurralou a relação dívida pública/produto interno, que deverá receber mais sal grosso com o provável estouro do teto de R$ 139 bilhões para o déficit primário. O próprio Meirelles já admitiu elevar a estimativa do buraco orçamentário de 2017. Como se sabe é a relação dívida/PIB que as agências de rating enxergam. A Moody’s já tinha manifestado sua simpatia. Isto foi antes da lassidão fiscal – mimetizada como baixa arrecadação – ser revelada. Para as agências de rating, por tanto, o que interessa é o déficit nominal, tratado nessas plagas como mercadoria de segunda classe.
Caso o fiscal estivesse dentro do programado, a dívida pública bruta subiria dos atuais 70% para 77% do PIB. Agora vai a 79%, 80%, 81% do PIB e Deus for realmente brasileiro. Ou se o presidente do BC for “dovish”, conforme o jargão estereotipado do mercado. Ilan, depois uma maré de excessos, com juros altos por mais tempo do que o necessário (quem diz é a maioria dos analistas), criou um novo padrão de confiabilidade. “Ancorou”, como se diz. É ele, em última instância, quem decide a taxa Selic na reunião do Copom.
As instituições financeiras, estimuladas pelo próprio relatório de inflação do BC, começaram a projetar uma taxa mais baixa no final do ano, que, para os mais ousados, poderia chegar a 8%, contra as previsões majoritárias de 8,5%. A título de referência: cada queda de um ponto na Selic significa uma economia de R$ 26 bilhões nos juros. E cada redução de três pontos percentuais representa um encolhimento de 1% no resultado nominal.
Os três pontos já estão superados, pois 70% das instituições baixaram para a faixa de 8% a 8,75% a Selic de dezembro, contra os 9,25% que reinaram a maior parte do ano. Se cravar 8% de Selic no final do ano, isso significará uma redução de quatro pontos na taxa, ou seja, uma compensação do fracasso fiscal de Meirelles e seu efeito na relação dívida/PIB. Ilan tem bons motivos para puxar a Selic mais para baixo – 1,25 a 1,50 ponto – e outros igualmente respeitáveis para ir devagar com o andor.
A favor da queda acentuada estão as previsões de inflação na faixa de 3%, abaixo do piso da meta, a recessão econômica e um acerto de contas com os bancos, que, mesmo com as recorrentes reduções da Selic, não estão baixando os spreads. Com a Selic bem comprimida, a banca ficaria em corner. Essa alternativa ensejaria uma meta de inflação mais baixa para 2018, até para compensar a eventual interpretação de um BC moleirão.
Os riscos parecem baixos já que a inflação está mergulhando para o reino abissal (as apostas chegam a um IPCA de 3%, transformando o target de 4,5%, em uma espécie de objeto de desejo ultrapassado). A correção da Selic em módico um ponto, por sua vez, poderia ser interpretada por um BC insensível ao desemprego, sinalizando um recrudescimento da inflação e indisposto a alterar a meta e ser obrigado a uma política monetária errática caso haja qualquer repique da carestia. Nesse caso, a dívida pública que espere a sua vez. Nos dias 11 e 12, datas do Copom, e 27 de abril, quando o Conselho Monetário Nacional se reúne, parte do “trilema” será respondida.
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FGTS: um estalinho na economia
9/02/2017Em relatório enviado a grandes clientes na semana passada, o Santander rebateu o discurso do governo de que a liberação das contas inativas do FGTS dará um gás à economia. Segundo o banco espanhol, a medida terá um impacto “modesto” sobre o PIB, algo em torno de 0,25% sobre a taxa deste ano e de 0,17% sobre o resultado de 2018. Não obstante o estoque total das contas inativas, de R$ 41,4 bilhões, a instituição alerta que a liberação dos recursos será diferida ao longo de 12 meses, apenas nas datas de aniversário dos correntistas. Além disso, crava que boa parte do dinheiro não será destinada ao consumo direto, por conta do alto desemprego. O banco espanhol também se mostra cético quanto à contribuição da medida para a redução da inadimplência, como apregoa o governo. O relatório lembra que cerca de cerca de R$ 20 bilhões estão concentrados em 1% das contas e pertencem à faixa de trabalhadores com maior nível de empregabilidade, menos expostos a dívidas. Em tempo: espera-se que, desta vez, nenhum analista do Santander seja demitido por confrontar o governo.
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Recálculo do PIB dá alívio póstumo à era Dilma
2/02/2017Michel Temer teria sido informado de que o IBGE pretende recalcular a série do PIB de 2011 para cá, segundo uma fonte do RR. Até ai, é a missão natural do IBGE. O que dá um contorno político à iniciativa é a possibilidade da revisão do índice melhorar o resultado da economia no governo Dilma Rousseff, ou seja, o PIB do “Dilma II” passaria a ser menos ruim, digamos assim.
O governo e seus aliados têm deitado e rolado sobre os péssimos indicadores econômicos dos últimos anos, considerados os mais tétricos desde 1910, segundo estimativa do Comitê de Datação da Recessão da FGV. Esta seria a maior queima de riqueza do país desde a primeira década do século XX. Ainda de acordo com a FGV, a recessão já está no seu 33o mês consecutivo. O PIB brasileiro desabou em 2015 (-3,8%) e 2016 (-3,6%).
Colocar o Produto Interno na batedeira das contas nacionais, sacudindo o índice até ele ressurja cheio de espuma, parece suspeito, mas é uma prática usual na busca dos governos por indicadores que meçam mais precisamente a realidade da economia. Em 2015, foi mudada a metodologia de cálculo do PIB, elevando o índice de 2011 de 2,7% para 3,9%. Não custa lembrar, no entanto, que o recálculo pode também baixar o índice. Na série que começa em 2001, o PIB foi reduzido em 0,1% nos anos de 2005, 2007 e 2009. O IBGE pode demorar até dois anos para divulgar o número oficial do PIB, mas os dados de acompanhamento trimestral permitem que se utilize uma estimativa abalizada até o cálculo do indicador final.
Existem economistas, como o professor Francisco Lopes, que atribuem um peso maior à calculeira estatística em suas análises macroeconômicas. Em artigo publicado recentemente, Chico chega a estimar um crescimento do PIB de 1,7% em 2017 usando a fórmula de calcular a variação percentual entre o final de 2016 e o final de 2017, ou seja, ele expurga o que aconteceu dentro de 2016 e compara só as pontas. Assim é se lhe parece.
Consultado sobre o recálculo do Produto Interno, o IBGE informou que, em 2015, reviu a série histórica até 2011. Ressaltou que o fechamento de 2016 será divulgado no dia 7 de março, que não faz nenhum tipo de projeção para o PIB, e mais não quis informar. Em tempo: o economista Paulo Rabello de Castro, presidente do IBGE, é próximo de Michel Temer, a quem visita com frequência no Palácio do Planalto, segundo seu próprio relato.
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Suelto sobre o PIB, recessão e algumas obviedades
11/01/2017Se o Conselheiro Acácio fosse um economista diria: o crescimento do PIB em 2017 pode ser 1%, conforme a estimativa do governo; 0,5%, segundo as projeções do mercado; um pouquinho acima ou pouquinho abaixo, de acordo com ambas as projeções. Em síntese, pode ser o que for. Mas tende a ser inferior à estimativa original do governo e declinar mais do que aposta o mercado se as previsões continuarem caindo conforme a média do governo Temer.
O ambiente econômico está muito ruim. Um PIB de -0,1% já ribombaria o palavrão “recessão”. Se chegar aos sofridos 0,5% – viva! – teremos saído da recessão. Agora, se, em 2018, cair novamente para –0,1% por dois trimestres consecutivos, pronto, estará caracterizada novamente uma recessão técnica. Do ponto de vista da teoria trágica da economia, de tão combalidos, estaríamos perto de levantar voo. Mesmo que seja um voo de galinha.
A alta ociosidade da economia, com desemprego explosivo, aumento da produtividade e redução do endividamento familiar, constituiria condições concretas para que o PIB volte a crescer. É a tese do fundo do poço. Só que ninguém tem certeza de onde fica o fundo do poço e quanto tempo demora para chegar lá. O Produto Industrial, por exemplo, cai há 33 meses seguidos. É garantido que vai parar de cair em algum momento. E daí?
Alterações percentuais curtas na taxa de crescimento – ou decréscimo – do PIB podem ser consideradas como de valor simbólico. Nesse intervalo, são mais um selo do que uma faixa de vencedor – ou perdedor. O PIB pode dar um saltinho e – viva de novo! – ir a 1,5%, em função de carregamentos e outros pedalinhos estatísticos, tais como mudanças nas regras de cálculo. Isso não mexe muito ou nada com a economia e, necessariamente, em “zero” no investimento social.
A impressão que se tem é que a crise política, moral e de confiança emagrece mais o PIB do que o rescaldo dos erros na condução econômica do governo de Dilma Rousseff. Por uma lógica bizarra, foi Dilma, com seus desatinos na economia, que criou as condições cruentas para a retomada do crescimento. Há quem diga que a queda do salário real é boa para o trabalhador, porque reduziria os índices de desemprego. Mas também há quem diga que o massacre carcerário de Manaus é positivo, pois serve de exemplo para futuros criminosos e reduz a hiperpopulação de prisioneiros. Para o RR, “Pibão” ou “Pibinho” é um detalhe. O que interessa são os indicadores de emprego, renda e assistência aos miseráveis. A PEC do Teto e os demais instrumentos de política econômica que se adequem às prioridades da sociedade.
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Henrique Meirelles mira nos juros sobre capital próprio. Será que consegue?
26/12/2016O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, promete que não haverá aumento de impostos. Conversa fiada! O que Meirelles não diz é que deverá tesourar grandes incentivos tributários. Seus dois principais braços na área fiscal, os secretários do Tesouro, Ana Paula Vescovi, e da Receita Federal, Jorge Rachid, estão debruçados sobre dois projetos que causam arrepios na esmagadora parcela do PIB empresarial do país.
Ambos penalizam o uso de pitoresco instrumento de distribuição de lucros e capitalização das empresas, bastante regressivo do ponto de vista tributário. Um deles é a revisão da tributação de juros sobre capital próprio (JCP) das empresas, com o aumento da alíquota de 15% para 18% previsto pela MP 694/2015. O segundo é uma herança arrepiante do PT: a extinção do JCP como prevê o PLS no 45/2016, de autoria da senadora Gleisi Hoffmann, atualmente em estudo pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE).
No primeiro caso, mais soft, a mudança representaria um aumento na arrecadação de 20%, o que em relação ao exercício fiscal de 2015 equivaleria a R$ 1,48 bilhão a mais sobre o montante de R$ 7.455. 283.173,00. O capital estrangeiro escapa dessa mordida – ou redução da regalia fiscal. O aumento da alíquota não seria aplicável no caso das empresas de origem no exterior. Acordos internacionais referentes à bitributação estabelecidos no âmbito da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) limitam a 15% o gravame sobre os valores referentes a juros ou dividendos pagos a holding situada em outro país. A medida de extinção do JCP, por sua vez, seria uma pancada no lombo do empresariado.
É difícil imaginar que um governo como o de Michel Temer e um ministro da Fazenda com o perfil de Henrique Meirelles coloquem a mão nessa colmeia. Do ponto de vista da arrecadação, contudo, a medida seria tiro e queda, já que ampliaria a base de arrecadação sobre todas as empresas que operam sob regime do lucro real (as maiores sem exceção). O JCP é uma espécie de “jabuticaba”. Foi criado no governo FHC justamente para atrair capital e viabilizar o investimento. Para fins tributários, o JCP é tratado pela Fazenda como diz o nome (juros), embora alguns doutrinadores, como a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e o Banco Central o classifiquem como dividendos. São irmãos gêmeos.
Desde o primeiro governo Lula, as autoridades fazendárias vêm realizando uma corrida de gato e rato contra o lobby do setor privado – leia-se as maiores fortunas do país – contrário a reduzir ou exterminar o JCP. O empresário, como não poderia deixar de ser, condena a medida por considerá-la um desincentivo à captação de recursos através do mercado de capitais – e uma mordida no dinheiro que entra isento no seu bolso.
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Brasil que dá certo
25/11/2016Depois do susto da quebra da safra de grãos no início deste ano, a expectativa do Ministério da Agricultura é que o PIB da agropecuária tenha altas superiores a 6% nos três próximos trimestres.
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Um blended de medidas contra a insolvência fiscal
27/07/2016Estado brasileiro está tecnicamente quebrado. Até aí morreu Neves. A novidade é uma dificuldade inusitada para tirar a arrecadação fiscal do reino abissal. Mais impostos podem atrapalhar a receita, pois prejudicam a retomada do crescimento econômico. Mesmo que temporariamente o gravame elevasse a arrecadação, não teria a mesma eficácia do passado. Os fiscalistas atribuem a crise existencial da receita a um problema concreto: o PIB teria migrado da indústria para o setor terciá- rio, enquanto a maior carga de impostos foi mantida no secundário. Existe também a obsolescência do ICMS. Há quem diga que a arrecadação só voltará com uma reforma tributária. O governo conta com uma maior contribuição dos tributos para ajudar no equilíbrio fiscal. Faz parte da bula também algum corte de gastos. E ajudaria muito a redução consistente da taxa de juros, medida que está prometida há mais de três décadas. A combinação de uma dosagem maior ou menor dessas variáveis impacta necessariamente o crescimento econômico, que, assim como a arrecadação, tende a ser estruturalmente menor. A impressão é que o país vai acordar insolvente, com uma dívida mobiliária bruta da ordem de 100% do PIB projetada para os dois ou três primeiros anos da próxima década. Isso devido à expectativa praticamente nula de geração de um superávit primário em torno de 2,5% ao ano do PIB, considerado necessário para reverter a curva de crescimento do passivo interno nominal. A previsão do governo é que até 2019 o país não atinja 1% do PIB de superávit primário. O fato é que o Brasil trincou. E a solução visível é voltar a crescer de qualquer jeito e maneira. O RR tem preconizado que o governo precisará de um blended com mais soluções inovadoras patrimonialistas e menos soluções fiscais ortodoxas para reduzir a dívida bruta sem sacrificar tanto a atividade produtiva. Há uma transição para o novo ponto de equilíbrio, pós PEC do Teto e reforma da previdência, que não se faz somente com arrocho nas despesas. O ex-ministro Joaquim Levy avançou nessa direção, propôs a repatriação de capitais e ensaiou a securitização da dívida ativa da União, que tem sido defendida por Eliseu Padilha e José Serra. Há muito caldo para extrair dessa combinação. Serra, que já enxergou o filão, vai propor a criação de um fundo imobiliário da União, uma espécie de immobilier do Brasil. O portfólio desse fundo seria a securitização de bens que vão de pistas de voo da Aeronáutica em desuso, prédios do governo, imóveis de todo o tipo e feitio. A securitização dá o maior samba. Ela retira do ventre do Estado adiposidades que devidamente embaladas tornam-se preciosas. Mas valem também outras receitas extraordinárias, tal como a liberação dos jogos de azar, que adicionaria arrecadação fiscal não inferior a R$ 15 bilhões, impulsionaria o turismo e o emprego. E a contratação de concessões e privatizações? Esses investimentos e desmobilizações patrimoniais são importantes e já estão na conta. São o clichê do governo. Vão sair.
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Economia segue no breu com ou sem impeachment
11/04/2016A julgar por um relatório de conjuntura do Ministério da Fazenda, a maior previsibilidade decorrente da votação do impeachment não terá um impacto significativo no crescimento do PIB até o fim do governo. Segundo documento interno, ao qual o RR teve acesso, o cenário provável, e não dito, é ainda um pouco pior do que o avalizado pelas previsões do Boletim Focus. A economia desceria a ladeira em torno de 4,5% a 5%, em 2016. Em 2017, a queda do PIB ficaria entre 0,2% e 0,5%. Só em 2018, a taxa negativa seria revertida para um crescimento entre 1% e 1,8%. O Focus mais recente, divulgado em 1º de abril, prevê queda de 3,73% neste ano e crescimento de 0,3% em 2017. O fator considerado determinante para a mudança em direção a um viés mais positivo seria o da implementação de reformas, a exemplo da Previdência, a partir de 2017, o que poderia impulsionar o PIB de 2018. De qualquer forma, sob o ângulo do crescimento econômico, o segundo governo Dilma – mesmo dividido com o primeiro Temer – será imbatível como o período mais negativo da história do Brasil pós-ditadura. No cenário otimista, os números da Fazenda encostam nos do Focus: uma queda do PIB de 3,1% neste ano e alta de 1% em 2017. Os técnicos acreditam que os pontos mais positivos – ampliação do ajuste externo, expressivo da repatriação de recursos, alguma melhoria nos termos de troca, queda da inflação e redução das taxas de juros – não são estímulos suficientes ao aumento necessário dos investimentos. O governo continuará lidando com o fator Lava Jato e a insegurança que a operação produz junto aos investidores. A Petrobras permanecerá se arrastando neste biênio e contribuindo bem abaixo do seu potencial para o aumento da formação bruta de capital fixo. E a indústria prosseguirá dependente da brisa soprada pelo câmbio, arrefecida em função de uma aguardada fase de valorização do real já a partir do segundo semestre deste ano. Com Dilma Rousseff ou com Michel Temer, a expectativa é que a rearrumação da economia tenha um impacto contracionista do PIB até 2018.
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O dia em que o Banco Central virou Geni
22/01/2016O Banco Central só é autônomo quando joga a taxa de juros para cima ou faz o que o mercado quer. O comentário de véspera de Alexandre Tombini sobre as projeções do FMI foi tido como heresia. Ele sinalizou a manutenção das taxas, atirando uma boia salva vidas para que todos se socorressem. Talvez fosse melhor que a autoridade monetária fizesse como em muitas outras gestões e apostasse contra o mercado. Mesmo salvando a pele dos rentistas, levou pedrada. O BC foi também chamado de ginasiano e mentecapto. Ora, não é o departamento econômico do Banco Central que é incompetente porque não acompanhou as projeções do FMI. O Fundo, como se sabe, já errou previsões a dar com pau, e até pode fracassar nessas também. Mas o fato gerador de expectativas – números muito ruins e, afinal, o FMI tem lá sua importância para os formadores de preço – forçou o BC a se expor antes do Copom. Foi essa partitura de desarranjo econômico que levou a instituição a alterar os sinais anteriores dados através do seu relatório de inflação e da carta ao ministro da Fazenda. Mau que o comunicado tenha sido um dia antes da reunião do anúncio da decisão do Copom. Mas não tinha jeito: foi nessa data que o Fundo divulgou seu relatório, e é nessa data que o comentário teria de ser feito. Noves fora o FMI, o BC considerou que elevar a taxa de juros nesse ambiente recessivo seria uma roleta russa. Com a política fiscal ainda frouxa, câmbio em alta e o componente inercial que segura a queda da inflação, a autoridade monetária corria o seguinte risco: jogar os juros em 14,75% e o PIB cair 3,8% neste ano; depois, na reunião do Copom, em março, subir para 15,25%, e o PIB cair mais de 4%. E neca da inflação descer. Ocorre que a Selic atual, mesmo mantida, ainda aprofundará a recessão. Portanto, há uma enorme probabilidade de os preços se retraírem com esses juros que estão aí, ou – por que não? – ainda menores. A banda de música do Focus sabe disso. Só fez chororô porque foi contrariada. E a pedra já tinha sido cantada pelo RR, nas edições de 5 e 12 de janeiro. Não custa lembrar que, no dia 6 de janeiro, o jornal Valor Econômico, porta voz qualificado do “mercado”, publicou em larga manchete de primeira página que o BC poderia dar um cavalo de pau nos juros, aumentando a Selic em somente 0,25 ponto percentual ou estacionando a taxa. A inflação, como diria Friedman, é, sem dúvida, um problema monetário. Mas os juros são que nem a saúva: destroem tudo. O BC agiu de forma gradualista e oportuna. Ponto para Tombini. Obs: O RR acha o cúmulo do provincianismo uns homens adultos, de barba e terno e gravata, se referindo às decisões do BC como Hawkish ou Dovish, como se estivessem brincando de Wall Street.
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Agora é tarde
23/12/2015A MP que acelera o acordo de leniência das empreiteiras vem com atraso de mais de um ano e depois de perdas superiores a 1,5% do PIB. O expurgo das empresas foi ridículo, se não fosse trágico.
Acervo RR
Receituário
21/12/2015Um dos maiores laboratórios farmacêuticos do mundo, a norte-americana Abbott está conseguindo atravessar a crise na economia brasileira sem enxaquecas. Vai fechar 2015 com um aumento da receita da ordem de 15%. Repetirá, assim, o desempenho do ano passado, quando o PIB ainda estava no zero a zero.
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O crescimento do PIB na marcha lenta das baratas
25/11/2015São enormes as diferenças entre o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega e o atual, Joaquim Levy. Mas pelo menos duas características os unem: ambos têm uma paciência de Jó e a resistência das baratas. Mantega foi demitido do cargo pela imprensa dia, sim, dia, não, na gestão do ex-presidente Lula. No primeiro mandato de Dilma Rousseff, as menções a sua troca aumentaram para dia, sim e o outro também. E, mesmo quando destituído de direito, Mantega ficou cumprindo com galhardia o mandato tampão até a chegada de Levy. Ungido como salvador, o antípoda de Mantega ingressa no mais eletrizante movimento de sístole e diástole da economia-política brasileira. Nunca os fatos se contraditaram tanto. Em meio a impeachment, rebeliões do Congresso, fogo amigo, puxão de tapete do ministro do Planejamento, milhares de supostas cartas de demissão e a breve e aparentemente irresistível candidatura ministerial de Henrique Meirelles, Levy foi se tornando o ministro do gerúndio. E foi ficando, ficando, ficando… Em meio às condições mais adversas no Congresso, descobriu na prática que o timing da política não é o mesmo dos livros-textos. O voluntarismo de Levy foi derretendo, derretendo, derretendo… O tempo fez de Levy um profissional mais cascudo. O fato de ser indesejado, mas necessário, O crescimento do PIB na marcha lenta das baratas moldou sua personalidade. Surge, então, o Sr. Gerúndio, aceitando, aceitando e aceitando o meio termo das inevitáveis negociações. É esse ministro que não sai, nem fica, que enfrenta as indecisões planaltinas, a começar sobre a sua própria permanência à frente da Fazenda, o vômito de fogo dos surfistas do mercado, a covardia de tucanos oportunistas – Arminio Fraga é um exemplo irresistível – , o desconforto com a sua bula, a raiva dos seus vaticínios de pobreza e a recusa a sua ortodoxia. Mas Levy vai levando. Talvez inspirado no ex-ministro Roberto Campos, que, ao evoluir do regime militar, no qual fazia e acontecia, para a democracia plena, aprendeu que ceder é uma forma de ganhar. Campos dizia que, em seus projetos no Parlamento, pedia 100% para levar 40%, satisfeitíssimo. Levy tem angariado menos. Mas o pouco que ganha, devagar e sempre, parece um avanço nas atuais circunstâncias. A não ser que o país derreta, ninguém implementará os remédios draconianos receitados pelos beatos e profetas. É razoável, assim, que o Brasil, cujo avanço do PIB foi superior a 7% durante 75 anos, venha a encontrar um crescimento de 1% daqui a três anos, após uma doída dieta e extirpação de órgãos. É o possível agora: a conta exata da paciência de Levy. As baratas são indeléveis.
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Levy flerta com target fiscal em dose dupla
22/07/2015Joaquim Levy tem mais cartuchos no coldre do que furiosamente tentam desmentir os empenhados na desestabilização da política econômica. A ideia de que Levy está no limite de suas alternativas foi, em parte, construída por ele próprio, com seu perfil de ortodoxo padrão FMI. Mas o avanço do processo recessivo amadureceu e flexibilizou o ministro de aço. Levy foi descobrindo que o fundo da cesta das receitas extraordinárias é bem mais em baixo do que pensava. E que é possível calibrar o ajuste fiscal com a gestão de ativos e a extração dessas riquezas ao menos enquanto a economia permanecer um trigal devastado. Uma das ideias em ensaio na Fazenda é a criação de um segundo target fiscal, como medida das intenções firmes do governo em promover o ajuste das receitas e despesas, mas também da equação dívida pública/PIB. A lógica desse raciocínio é que é plenamente factível instituir- se uma banda ou um intervalo para a redução da dívida bruta em um horizonte de tempo não muito longo – até porque uma das intenções é sinalizar o compromisso com as agências de rating -, independentemente da obtenção ou não da meta (um fetiche) do superávit primário no período. As classificadoras de risco sabem que são dois os fatores que prejudicam o alcance do marco fiscal: a derrubada da atividade econômica, bem superior à estimada, e a ação demolidora do Congresso, votando nas medidas fiscais como se votasse na permanência de Dilma Rousseff. Mas cabe dar algum sinal à s agências que não sejam justificativas do fracasso. A ideia é instituir que, em três ou quatro anos, hipoteticamente, a relação dívida bruta caia dos atuais 62% do PIB para um intervalo de piso de 55% e teto de 58%, independentemente da obtenção da meta de superávit primário. O governo se comprometeria a extrair as receitas necessárias para a redução do débito. Esse ano, como exemplo, o governo reduziria a rolagem dos swaps cambias – o que tem um efeito de venda de dólares das reservas – abatendo da dívida bruta o valor correspondente. Digamos que o início fosse cauteloso, com a suspensão da rolagem equivalente a 4% das reservas cambiais, da ordem de US$ 370 bilhões. Seriam cerca de R$ 50 bilhões que poderiam ser abatidos da dívida bruta, na verdade o principal indicador para as agências de rating. Nos últimos dois anos, o Brasil se desfez de 3,71% das reservas cambiais. Saiu no suor, ninguém sentiu. A medida tiraria ainda o efeito de enxuga gelo que a operação do superávit primário nanico produz junto à dívida bruta, tendo em vista os juros praticados pelo BC e o próprio impacto fiscal das operações de swap cambial. Há outros dados positivos: a balança comercial melhorou – é possível prever até um superávit comercial entre US$ 13 bilhões e US$ 15 bilhões – e o câmbio caminha para uma taxa de equilíbrio mais confortável. à‰ claro que ninguém vai fazer barbeiragem com as reservas. E para frente, que é para onde se anda, existem outras fontes de recursos que podem ser acionadas para abater a dívida bruta. Com a inflação retornando à meta e os juros da Selic desinflando, tudo voltaria a ficar mais confortável. A Fazenda, então, perseguiria duas metas: o superávit primário e a redução da dívida bruta, interligadas, mas não necessariamente dependentes. Portanto, o RR insiste. Levy não tem somente uma bala de prata no coldre. Tem algumas. Se segurar o tranco, não vai faltar munição.