Tag: FMI

FMI e os maus modos de Paulo Guedes

14/10/2022
  • Share

“O FMI pode muito bem soltar um posicionamento sobre as declarações desabonadoras de Paulo Guedes em relação à agência. Se o Fundo colocar em dúvida os números apresentados pelo ministro da Economia, será bem pior do que se Guedes acatasse respeitosamente os dados divulgados pela instituição, ainda que discordando deles. Críticas aos critérios das contas do FMI se discutem internamente com a equipe técnica do Fundo.

A lavação de roupa do Guedes é pura campanha eleitoral”. A declaração acima foi dada ao RR por um ex-diretor do Brasil no FMI, ao ser perguntado sobre matéria publicada ontem pelo Valor Econômico abordando os números equivocados da macroeconomia nacional usados por Paulo Guedes para contestar o Fundo, em evento patrocinado pelo J.P. Morgan. Não fosse uma discussão fora do lugar apropriado, os termos deselegantes por si só já seriam suficientes para desautorizar o ministro.

Grosseria gera reações. Caso o problema ficasse apenas na esfera pessoal do ministro, as consequências recairiam em cima dele. Porém, no exterior, Guedes fala em nome do Brasil. Uma manifestação do FMI atrapalha a economia, o país e a própria credibilidade do governo. Pena que Guedes insista em modos de quem não está à altura do cargo.

#FMI #Paulo Guedes

Quanto vale o silêncio do FMI?

6/09/2022
  • Share

A equipe econômica da campanha de Jair Bolsonaro reza unida para que o FMI não publique nenhum dos seus relatórios até o segundo turno. Ninguém tem dúvida de que os aspectos das contas fiscais, notadamente o orçamento, serão questionados. Vale a mesma torcida para os pronunciamentos das empresas de rating, mas, com estas últimas, tudo indica que a assessoria de Guedes tem conversado dia sim, dia não.

#FMI #Jair Bolsonaro

Uma longa jornada cambial noite adentro

14/06/2022
  • Share

O dólar fechou ontem a R$ 5,10. É grande a probabilidade que acorde hoje a um valor maior. Trata-se de uma resposta do mercado à sinalização de que o “minivolcker” está a caminho – uma alusão à disparada dos juros americanos liderada pelo então presidente do FED, Paul Volcker. As expectativas estão voltadas para amanhã, quando o banco central norte-americano anunciará sua taxa de juros. Ainda ontem, o mercado já projetava o dólar a R$ 5,50 no fim deste ano e a R$ 6 para 2023.

O BC tem bala na agulha para se proteger de incômodos cambiais. Desde 2011, as reservas estão acima de US$ 300 bilhões, valor bem acima do recomendado pelo FMI como colchão. O Brasil é credor líquido em títulos da dívida norte-americana. Já eliminou o imposto sobre o investidor estrangeiro que comprar títulos públicos. E as commodities não deixam de ser um hedge natural. Ou seja: a autoridade monetária tem espaço para outras desonerações na área cambial. As questões maiores parecem surgir na inflação e no endividamento empresarial.

Na inflação, porque o BC, provavelmente, será obrigado a elevar os juros acima dos 14% neste ano. Juros altos, como se sabe, é um “come-PIB”. Também deterioram a situação fiscal pela via do endividamento público e da redução da arrecadação. Pode estar chegando um novo tempo de heterodoxias na política econômica – vide a PEC do ICMS. Do lado do endividamento empresarial, há menos risco do que no passado, tempos de Aracruz e Sadia, que praticamente quebraram. Quase todas as companhias fazem hedge. A questão é que umas mais e outras menos.

Fora o fato de que o tamanho do passivo em dólar tem variações enormes em cada uma delas. São previsíveis, portanto, uma gangorra das cotações no mercado e a suspensão do pagamento de dividendos e juros sobre capital próprio. No primeiro trimestre, a desvalorização cambial foi de cerca de 15%. Empresas com dívida em dólar elevada – como a Suzano, que tinha quase 85% do passivo tomado naquela moeda – ganharam muito no período em consideração. Aquelas que têm hedge natural, como a Vale, vão prosseguir surfando na onda. Tudo depende da força de vontade do BC e de até onde vai a disposição de ajuste fiscal por parte do Ministério da Economia. Esta última bastante improvável. Além, é claro, do impacto das eleições na tomada de decisão. Seja como for, todos os olhos estão voltados para o Norte. Na maior parte das vezes o que é bom para a América não é bom para o mundo.

#FED #FMI #Ministério da Economia #Paul Volcker

BC estuda usar reservas para abater dívida bruta

3/02/2022
  • Share

O governo, leia-se o Banco Central, discute se desfazer de um volume maior das reservas internacionais do Brasil com o objetivo de abater a dívida bruta interna. Entre outros aspectos, a redução do lastro cambial contribuiria para o discurso de campanha do presidente Jair Bolsonaro. Para todos os efeitos, do ponto de vista fiscal, a dívida interna continuaria caindo mesmo que o resultado primário em 2022 seja menor do que no ano passado e as despesas aumentem em razão do calendário eleitoral.

As reservas brasileiras foram engordadas no dia 23 de agosto de 2021 com o aporte do FMI de US$ 15 bilhões, decorrente da distribuição de DES (Direitos Especiais de Saque) aos países membros da instituição. Esses recursos ficam contabilizados tanto no lastro cambial do país quanto na dívida externa. O governo, ressalte-se, quer dar uma cambalhota e abater não somente os US$ 15 bilhões da dívida interna, mas uma cifra ainda mais expressiva. Esse movimento, diga-se de passagem, vem sendo defendido por economistas de diversas correntes.

As reservas permanecem em um patamar confortável – US$ 358 bilhões na última terça-feira – mesmo tendo reduzido em relação ao fechamento de 2021 (US$ 362 bilhões). O colchão é bem superior à soma de três meses das importações brasileiras – na média, algo em torno de US$ 54 bilhões, tomando-se como base números de 2021. Trata-se do lastro mínimo necessário que o FMI adotou por mais de uma década para definir o risco cambial de um país. A título de exemplo: o eventual abatimento de US$ 50 bilhões das reservas – ou seja, cerca de R$ 265 bilhões ao câmbio de ontem – permitiria uma redução de 3,8% na dívida pública bruta (em torno dos R$ 6,9 trilhões no fechamento de 2021).

Também a números de dezembro, significaria um recuo na relação dívida/PIB de 80,3% para 78%. Para se ter uma ideia do que o valor representa, basta dizer que, desde 2010, último ano do governo Lula, o setor público acumula um déficit primário em torno de R$ 791 bilhões. Nesse período, ressalte-se, a relação dívida bruta/PIB saltou de 55% para os já citados 80,3%. A medida é tratada com todos os cuidados devido ao cenário externo de aumento das taxas de juros nos Estados Unidos, conforme já sinalizado pelo FED. Ao mesmo tempo, haja sangue frio para adotar uma ação como essa em um ano de absoluta incerteza política, conjuntura internacional ameaçadora e sem uma análise precisa sobre o nível adequado de lastro cambial. Em tempo: o Banco Central está fazendo estudos econométricos para balizar qual seria esse montante na medida em que os parâmetros do FMI caducaram há muito tempo.

#Banco Central #FMI #Jair Bolsonaro

“Inflação FMI”

25/01/2022
  • Share

Uma grande termelétrica brasileira, que compra gás da Argentina, já está pagando 15% a mais pelo insumo. O governo portenho está aumentando os preços do insumo para reduzir seu déficit fiscal, uma das exigências do FMI para a renegociação de um empréstimo de US$ 45 bilhões.

#FMI

Ministério da Economia cogita usar reservas para abater dívida

13/10/2021
  • Share

O ministro Paulo Guedes não deixou de namorar o uso de parte das reservas cambiais para abater a dívida interna bruta. Os estudos estão em curso na equipe econômica. Não é uma medida simples. O gasto das reservas para a redução da dívida carece de uma fundamentação mais rigorosa sobre a quantidade de moeda que poderia ser destinada sem impactar a percepção de segurança cambial do país.

Por exemplo: se os critérios adotados fossem os do Fundo Monetário Internacional (FMI), somente seria necessário o montante referente a quatro meses de importações. Pela média mensal deste ano no acumulado até a segunda semana de outubro (US$ 17 bilhões/mês), esse sarrafo equivaleria a aproximadamente US$ 68 bilhões. Na data da última segunda-feira, as reservas cambiais do Brasil correspondiam a US$ 368 bilhões. Portanto, os quatro meses sugeridos pelo FMI representam algo como 18% das reservas totais brasileiras, ou seja, nada que abale o lastro cambial do país.

Mesmo com o cenário do real pressionado (na última segunda-feira, o dólar bateu em R$ 5,54), os economistas consideram que é possível gastar um pouco mais do que o teto sugerido pelo Fundo Monetário. A título de exercício: se US$ 100 bilhões das reservas, ou seja, algo como R$ 550 bilhões, fossem utilizados para esse fim, o país abateria aproximadamente 8% da sua dívida bruta atual (hoje em R$ 6,85 trilhões). Com isso, a dívida ficaria abaixo do patamar de 80% do PIB. Mas há ônus e bônus.

O conturbado ambiente econômico internacional, a elevação das taxas de juros globais e o aumento das incertezas em relação ao balanço de riscos do Brasil tornam a medida arriscada. O Ministério da Economia tem que caprichar nas contas caso venha a se decidir pela ideia. Em tempo: há ainda um grupo de economistas keynesianos que prega o uso das reservas cambiais diretamente para o aquecimento da economia. A medida, contudo, exigiria a emissão de títulos públicos para esterilização dos reais emitidos e, portanto, aumento da dívida bruta interna. Tudo o que Paulo Guedes não deseja.

#FMI #Ministério da Economia #Paulo Guedes

Lula lá no Fundo

25/11/2020
  • Share

O ex-presidente Lula vibrou com estudo do FMI que lhe foi mostrado ontem. Disse que pela primeira fez o Fundo está à esquerda da política econômica brasileira. A agência recomenda o avanço dos estímulos fiscais e a emissão de moeda, mesmo nos países emergentes que estão com alguma restrição financeira. O Fundo afirma que os gastos públicos devem ser ampliados e prioritariamente destinados ao enfrentamento da crise sanitária e à manutenção da infraestrutura existente. O FMI constata que um aumento do investimento público da ordem de 1% pode elevar o Produto em 2% no horizonte de dois anos; no que se refere ao impacto sobre o emprego, a ocupação da mão de obra cresce entre 0,9% e 1,5% ao longo de dois anos em resposta a um aumento de 1% do PIB no investimento público. Os assessores de Lula dispararam a sinopse do estudo para Deus e o mundo.

#FMI #Lula

Ilusão de ótica

16/04/2020
  • Share

Aguardam-se as projeções do FMI sobre a dívida bruta das nações depois da pandemia. No Brasil, a Instituição Fiscal Independente (IFI) já divulgou sua estimativa de um passivo bruto interno de 100% do PIB, em 2030 – neste, ano vai a 84,9% do PIB. O dado isolado faz parecer que o “sujinho” somos nós. Mas a dívida bruta deve aumentar em todos os cantos, sejam emergentes, subdesenvolvidos ou desenvolvidos. A título de ilustração: segundo dados do Fundo de 2018, em uma amostragem de 148 países, somente 9% apresentavam dívida maior do que o Brasil. Em 2013, o número era de 31%. Aguarda-se uma boa virada no placar.

#FMI #PIB

Um imposto sobre commodities no colo de Ciro

5/09/2018
  • Share

O imposto sobre exportações anunciado ontem pelo governo argentino sob os auspícios do FMI tem um defensor obsessivo no Brasil. O ex-ministro Luiz Carlos Bresser Pereira, que fez campanha pela adoção da medida nos governos de Lula e de Dilma Rousseff, tem tentado convencer Ciro Gomes de que a tributação das commodities é o remédio para a “doença holandesa” que destrói a indústria, o emprego e o crescimento. Ciro tem ouvido Bresser com atenção, mas seus economistas consideram que o apoio do FMI e a pecha de argentinização jogam contra a ideia. Bresser, porém, é incansável e faz boa tabelinha com o mentor de Ciro, Roberto Mangabeira Unger. Aí é que mora o perigo. Em síntese, o risco não é nenhuma abobrinha.

#Ciro Gomes #Dilma Rousseff #FMI

Crônica do “não vai nem vem” da renda mínima

26/10/2017
  • Share

A reintrodução do debate sobre a renda básica pelo FMI é uma confissão de que a pobreza resiste às políticas convencionais de combate. O tema prima pela sua circularidade. Desconhece-se também quem é o pai da criança. O FMI se resume a revelar seus cálculos, pelos quais a distribuição de 4,6% do PIB reduziria a pobreza brasileira em espetaculares 11%.

As demais derivações, portanto, ficam por conta de economistas, historiadores e jornalistas. Exemplos pitorescos: F.A. Hayek e Milton Friedman, os dois economistas mais liberais da história, ambos defensores da renda básica, disputam quem levantou primeiro a bola. Friedman, em entrevista a Eduardo Suplicy – o mais obcecado defensor da renda mínima do universo – justificou o escorregão à esquerda, explicando que a “medida teria como objetivo substituir outras ações assistencialistas dispersas”.

Antes dos dois ícones do liberalismo, contudo, o escritor Thomas Paine antecipou-se à discussão do imposto de renda negativo e lançou pela primeira vez o termo renda mínima. No Brasil, o primeiro economista a levantar essa bandeira foi o pouco lembrado e saudoso professor Antônio Maria da Silveira, uma espécie de “Ignácio Rangel distributivista”. Antônio Maria, um estranho no ninho da EPGE-FGV, foi o responsável por incutir a ideia nas cabeças de Eduardo Suplicy e Cristovam Buarque.

O onipresente John Maynard Keynes arranhou o assunto. No texto “Sobre as possibilidades econômicas para nossos netos”, escrito em 1930, previu que em 100 anos todos teriam um renda básica para suas necessidades essenciais, portanto em 2030 todos teriam subsistência garantida – dependendo, é claro, de fatores acidentais como guerras e revoluções. Keynes não pensou em desastre ecológico, revolução digital e outras modernidades, mas o insight redistributivista parece ser ainda mais aplicativo quanto maiores forem os percalços. Por aqui, ficamos com o Bolsa-Família, que é um arremedo criativo. Mas é bom que o Fundo Monetário traga o assunto à tona.

#FMI #PIB

Cartas ao léu

19/10/2015
  • Share

 As cartas de demissão do ministro Joaquim Levy à presidente Dilma estão parecendo as cartas do governo brasileiro ao FMI, escritas.

#Dilma Rousseff #FMI #Joaquim Levy

FMI seria um insuspeito avalista do ajuste fiscal

30/09/2015
  • Share

Um ministro da presidente Dilma Rousseff defende que o Brasil volte a recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Antes que as trombetas ribombem, não se trata de pedir ao fundo a malfadada linha de financiamento standby, até porque as condicionalidades desse empréstimo, as medidas de ortodoxia fiscal e monetária, estão sendo implementadas – ou tentadas – pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, por espontânea vontade. Os recursos do FMI ficariam à disposição do Brasil em uma linha especial de financiamento, um cheque nominal com valor determinado. Não há nada para se espantar com essa operação. O Brasil já fez uso dela no passado, na linha “me dá o dinheiro aí, que eu não vou usar, mas fortaleço a percepção da minha solvência”. No caso do Brasil, ninguém tem dúvidas sobre sua fortaleza cambial. O país é credor líquido em moeda estrangeira. O cheque especial do Fundo – um valor estimado em US$ 150 bilhões – viria para conter o afã das agências de rating. Com um caixa-forte de US$ 520 bilhões (US$ 370 bilhões em reservas e o restante referente à poupança do Fundo) o governo poderia sair do corner cambial em que se encontra – as operações de swap atuam na contramão das medidas de restrição fiscal –, permitindo o uso de parte significativa das reservas para abatimento da dívida bruta. Como o governo não conseguirá aprovar as medidas para obtenção de um superávit primário capaz de, no mínimo, estabilizar a relação de crescimento dívida bruta/PIB, uma redução do passivo sem um impacto maior na percepção de solvência nacional seria bem vista pelas empresas de rating. Ressalte-se que o Brasil teria reservas de sobras para fazer essa mesma operação sem que a agência multilateral fosse avalista. Mas o ambiente tornou-se histérico com o overshooting do dólar. Abrir mão do estoque de swaps ou do atual nível de reservas sem um colchão cambial sobressalente seria temerário. A garantia fornecida pelo Fundo deixaria o país em condições de usar suas reservas sem medo de um ataque especulativo. Seria um momento histórico esse, quando o FMI colaborou para que o Brasil exercesse plenamente sua soberania.

#Câmbio #Dilma Rousseff #FMI #Joaquim Levy

Sala de espera

15/09/2015
  • Share

 O economista Otaviano Canuto, ex-Banco Mundial e hoje representante do Brasil no FMI, é tido como nome certo na reforma ministerial. Vai errar quem tirar conclusões precipitadas.

#Banco Mundial #FMI

Todos os direitos reservados 1966-2024.