Tag: Roberto Campos Neto

Economia

Futuro de Roberto Campos Neto alimenta sórdidas insinuações

19/03/2024
  • Share

Começou ontem em Brasília uma “campanha torpe” contra o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, segundo palavras de um assessor da própria diretoria do BC. As especulações vão todas na mesma direção: qual será o destino de Campos Neto, depois de 2024, prazo do encerramento do seu mandato. As apostas vão da criação de uma fintech nos Estados Unidos, a abertura de uma gestora de fortuna e venture capital, em sociedade com o ex-ministro da Economia Paulo Guedes, até a ida para o Banco Itaú. Mas, com relação a este último, não haveria conflito de interesse? Há precedentes em relação à promiscuidade do banco dos Setúbal com egressos da autoridade monetária. Para quem não se lembra, Fernão Bracher Botelho, que foi presidente do BC, em 1985, ao sair do banco, abriu o BBA Creditanstalt, uma associação com o grupo austríaco homônimo. Posteriormente, fundiu sua instituição financeira com o Itaú, tornando-se o braço de atacado deste último. Dizia-se na época que a associação costurada por Bracher havia sido o melhor negócio feito por um banqueiro no Brasil.

Apesar de ter sido vítima dos maus tratos de Lula, não falta quem diga que Campos Neto poderia renovar seu mandato caso assim quisesse. Desde que começou a baixa dos juros, o presidente da República parece ter esquecido sua pinimba com o titular do BC. E vozes da equipe econômica garantem que Fernando Haddad e Campos Neto hoje se entendem às mil maravilhas. Por outro lado, segundo especulações já antigas, Haddad teria seu candidato para a presidente do BC aguardando a vaga na própria instituição: o diretor de política monetária Gabriel Galípolo. Seja como for, fazer futrica contra Campos Neto, a essa altura, é um desserviço ao país.

 

#Banco Central #Roberto Campos Neto

Política

Lula surpreende e torna Campos Neto o mais bem tratado

2/01/2024
  • Share

No animado churrasco de fim de ano que Lula ofereceu a ministros, quem saiu com o troféu de mais bem tratado pelo presidente foi o comandante do Banco Central, Roberto Campos Neto. Lula disse em alto em bom som para um Campos Neto enrubescido: “Temos as nossas diferenças, e quem não as tem. Mas se hoje fosse o final do ano de 2024, eu o reconduzia a presidência do BC”.

#Banco Central #Lula #Roberto Campos Neto

Destaque

Marco das criptomoedas e Drex vão embalar discurso de Lula contra o crime

14/08/2023
  • Share

O presidente Lula fez chegar a Roberto Campos Neto que gostaria de participar de evento que conjugasse o lançamento do Marco Legal das Criptomoedas e na nova moeda digital, o Drex.  Lula até já assinou a regulamentação de ambos os decretos. Mas enxerga o gancho político por um outro prisma: o combate à criminalidade e à lavagem de dinheiro. O crime de fraude com criptomoedas estará incluso no Código Penal Brasileiro. O presidente da República poderá dizer que prenderá tantos e recuperará zilhões em recursos. Afinal, esses números não existem. O slogan é mais ou menos o mesmo: “Nunca antes na história desse país um presidente fez tanto para combater o crime”. No caso, o crime digital, o mais difícil de ser identificado.

Do ponto de vista do Marco das Criptomoedas, faz sentido. A regulamentação organiza algumas ações de compliance meio mequetrefes, mas se esmera em tipificações de criminalidades das chamadas exchanges. Será complicado alcançar todas as corretoras – algumas delas operando na deep web. A maior dificuldade para fiscalização será bloquear as exchanges que custodiam criptomoedas de terceiros sem garantias e prestação de contas sobre os investidores. Afinal, uma das premissas das criptos é a não identificação do “verdadeiro dono”, com a existência somente de um “código de identificação”. Está nesse caso, por exemplo, o jogador Gustavo Scarpa, que teve prejuízo milionário ao aplicar seu dinheiro em uma empresa que não tinha autorização para operar no mercado.  

O Marco das Criptomoedas virá em 2024/25, como um pé de galinha. Falta acertar com a CVM, a Susep, a B3, costurar um acordo com os países que têm legislação diferentes para as exchanges – o ideal seria um acordo que nem o feito com os bancos para troca de dados sobre depósitos irregulares, que gerou a repatriação de recursos. Lula, se quiser, terá subsídios de sobra para falar, ao lado do seu “novo companheiro”, Campos Neto, sobre o alvo e as medidas de controle. A estimativa é que o valor detido por brasileiros em criptomoedas seja da ordem de R$ 270 bilhões. A previsão é de que esse bolo seja de propriedade de apenas 3% da população brasileira. Nesse meio há “dinheiro bom”, reconhecido e negociado na B3, por exemplo. Mas o “dinheiro ruim” não é sequer estimável, tamanha a quantidade de elos da blockchain pelos quais ele trafega ilegalmente. O patrimônio líquido dos fundos de investimentos com exposição a criptoativos, o “dinheiro bom”, soma cerca de R$ 700 milhões. Um tiquinho.   

Mas com ou sem o aperfeiçoamento da legislação, e testes necessários, o mercado vai mostrando que a banda toca à revelia do maestro. A previdência privada, por exemplo, por se tratar de captação de poupança popular, justifica uma maior vigilância sob os investimentos. Já a Susep ainda está emaranhada nas especificidades. A CVM, outro órgão regulador, responsável pelo enquadramento dos cripto em valores mobiliários, anunciou que ainda vai publicar um arcabouço regulatório neste ano – mais de metade do calendário já passou. Mas, como foi dito, o mercado não quer saber e já saiu na frente, incorporando as “cripto do bem” na sua carteira de investimentos ofertados. Em parceria com o BTG, a Empiricus lançou o Cripto Prev, antes de maiores costuras no Marco Legal. Uma parcela de até 20% do patrimônio desse fundo pode ser alocada em criptomoedas. A Hashdex, por sua vez, é a primeira gestora de um fundo, em parceria com a XP e a SulAmérica,  que replica um índice específico e tem em seu portfólio dois fundos de previdência com criptos. Não faltarão fundos com a criptomoeda.  

Com relação ao Drex, a moeda digital, Lula pode muito bem capturá-la como a segunda e mais avançada etapa da digitalização da economia brasileira, que se iniciou no Pix. No momento, ela está em teste com a participação de mais de uma dezena de instituições financeiras. Segundo a nota do BC, o Drex, ou seja, o Real Digital, propiciará “um ambiente seguro e regulado para geração de novos negócios e o acesso mais democrático aos benefícios da digitalização da economia e cidadãos e empreendedores”. Democratização será uma palavra-chave. O Drex terá paridade com o real. Ele vem sendo desenvolvido por 90 países, além do Brasil. Os bancos é que terão de rebolar. Os governos poderão enviar dinheiro diretamente para o cidadão sem intermediação bancária. A moeda digital promete também mudar conceitos na política monetária.  

Em síntese, o Drex vai funcionar assim: Drex Digital, para o atacado ou interbancário; Drex Tokenizado, para o varejo, ou seja, versões tokenizadas do depósito bancário – o dinheiro em sua versão digital do que a pessoa física tem no banco; e títulos do tesouro direto, com possibilidade de compra e venda de títulos públicos federais no mercado primário e secundário. Separando as tecnicalidades, trata-se de uma revolução do sistema de pagamentos e do controle legal das criptomoedas. Basta arrumar a narrativa. E haveria melhor garoto propaganda para colocar esse bloco na rua do que Luiz Inácio Lula da Silva? 

#Criptomoedas #Drex #Lula #Roberto Campos Neto

Política

Campos Neto e Aras são dois servidores em busca do seu “Dia do Fico”

3/08/2023
  • Share

O que não são 24 horas na vida de um servidor público. A reunião do Copom, realizada ontem, com a redução de 0,5 ponto percentual na taxa básica pode ter redimido Roberto Campos Neto junto a Lula, Fernando Haddad e parte do PT, inclusive alguns dos seus membros mais raivosos. O imaginário slogan “Bota fé no Campos Neto, que ele passa para o lado de cá” teria um correspondente no “engavetador mor”, Augusto Aras, que tem “prestado serviços” a Lula, limpando sua barra até com o PT. Aras vem recebendo apoio a sua permanência de próceres, como Jaques Wagner e Rui Costa. O procurador geral da República tem detonado as bases da Lava Jato e acossado Jair Bolsonaro por todos os lados. São ações que calam fundo em Lula. Não há nada que tenha recebido o pollice verso do pragmático presidente como a dupla Lava Jato e Bolsonaro: estão condenados à “morte”. Aras tem pouco menos de dois meses para ser reconduzido ao cargo, período em que vence o seu mandato. Já Campos Neto tem 19 meses para criar fatos que o mantenham no posto.  

Ontem, Campos Neto foi um dos membros do Copom que deram a maioria apertada para que a Selic descesse em 0,5 ponto percentual – cerca dois terços do mercado apostavam em um corte de 0,25 pp –, votando em uma queda maior da juros. E mais: o Comitê deixou praticamente cravado que o ciclo de afrouxamento da política monetária já está decidido e que podem ser esperadas recorrentes reduções de 0,5 pp na Selic. Haddad já afirmou que gostaria de 10 quedas sucessivas de 0,5 pp nas próximas reuniões do Copom, de forma a chegar uma taxa neutra dos juros de 5%, obtendo sucesso em colocar a inflação no centro da meta de 3% ou mesmo pouquinho acima. O ministro da Fazenda falou, meio que assim sem motivo, que esse prazo de derrubada da Selic culminaria com o período de saída ou recondução de Campos Neto do comando do BC. O que quis dizer com essa associação é ambiguidade pura.  

Por um ângulo mais controverso, foi o “Campos Neto de Bolsonaro” que fez o “trabalho sujo” na política monetária para que Lula, com seis meses de governo, pudesse faturar a deflação e uma garantia de declínio firme da taxa de juros. Em agosto de 2021, o BC iniciou o seu longevo ciclo de aumento da Selic. O patamar de 13,75% durou de março de 2022 a junho de 2023. Foram 16 meses com os juros mais altos do mundo. Campos Neto enfrentou uma “inflação de pandemia”. Em um período de 12 meses desde o início da tragedia do coronavírus, o preço dos alimentos subiu 15% no país. Em São Paulo, o valor da cesta básica aumentou 29% devido aos efeitos nefastos do vírus assassino na economia. Com um afrouxo fiscal obrigatório devido à acidentalidade pandêmica, sobrou para segurar a inflação a política monetária, já que o câmbio sofreu pressão inclemente dos resultados excepcionais da exportação das commodities. Fazer o que nessa situação? – ribombava eufórica a Faria Lima.  

A crítica maior que se faz ao presidente do BC, que na verdade não deveria ser feita só a ele, mas democratizada entre os 11 membros do colegiado da autoridade monetária, conforme tem insistido o RR, foi manter por tempo demais os juros em 13,75%, segurando o PIB por mais tempo do que o necessário. Talvez vá colher uma deflação maior do que a recomendável, digamos assim, e a inflação negativa contrai o crescimento econômico. Há controvérsias em relação ao erro, porque o PIB deste ano, ainda sob o impacto do arrocho da política monetária na economia, vai crescer acima das expectativas.  

A especulação pró-Campos Neto e Aras é boa. Mas, contra a manutenção da dupla, contudo, há um trem petista vindo na direção oposta. Lula já demonstrou sobejamente que, se puder aparelhar os principais cargos da economia, fará as mexidas animadamente. Por outro lado, o próximo presidente do BC já está encomendado: Gabriel Galípolo, principal assessor de Haddad, foi conduzido a diretoria de Política Monetária – segundo cargo mais importante depois da presidência da instituição – com o intuito de substituir Campos Neto no final do seu mandato, em novembro de 2024. Mas se o BC entregar uma Selic de menos 0,75%, com voto favorável do atual comandante da instituição? E se houver uma composição para que Galípolo ocupe um outro cargo estratégico dentro do governo? E se votar pró-governo em outras decisões relevantes. E se a inflação ficar abaixo do centro da meta? Haddad disse que “o Brasil acordou mais aliviado com a queda da Selic”. Campos Netto também deve ter acordado melhor. Se 24 horas podem ser o tempo absoluto para um funcionário público, o que se diria de 570 dias.

#Augusto Aras #Roberto Campos Neto

Destaque

Copom: contagem regressiva para a queda da Selic

25/07/2023
  • Share

Ai, ai, ai, ai, está chegando a hora… A marchinha bem que poderia ser trilha sonora de Roberto Campos Neto, nesses momentos de muitas críticas e poucos elogios. Ainda mais agora com a proximidade da reunião do Copom da próxima semana, quando é praticamente certa a decisão de baixar a taxa Selic. O mercado apostava em uma queda de 0,25 p.p. Depois, seguiu a onda da pressão baixista, com as estocadas violentas do Planalto e da Fazenda, mudou o eixo e ajustou o sarrafo para uma redução de 0,50 p.p. O que deve vir mesmo, talvez com viés de baixa. Ontem, já não eram poucos os que apostavam em uma queda de 0,75 p.p. Ora, o declínio não será tão alto nem que a vaca tussa. Primeiro, porque, se desabar a taxa dessa forma, Campos Neto vai assinar o recibo de que o BC é independente para a torcida do Flamengo, mas não para Lula. Segundo, porque estaria praticamente confirmando que vem uma recessão pela frente. Terceiro, porque não fazem parte da cartilha do BC movimentos tão bruscos que deem margem a segundas interpretações muito além das declarações e atas do banco.  

Campos Neto é uma espécie de Alexandre Tombini às avessas. Tombini jogou a Selic para as profundezas dos 2% e manteve o que não deveria ter executado mais tempo do que devia. Campos sofre do mesmo mal com sinal contrário: mandou a Selic para a estratosfera dos 13,75% e hibernou em cima da taxa. O RR já disse que, no fundo, no fundo, Campos Neto não tem toda essa culpa. Na fixação da Selic, vale a decisão de cada um dos nove diretores do colegiado do Copom. Todos os votos têm o mesmo peso, todos os diretores são indemissíveis, todos aprovados pelo Congresso Nacional. Sabe-se oficialmente que quase não há divergências nas tantas reuniões do Copom na fase Campos Neto. Mas o RR desde já sorri com a crescente possibilidade de uma Selic na faixa de 11% ou menos em dezembro. Cravou a taxa quando todo mercado duvidava. O Boletim Focus ainda insiste em uma Selic de 12%. Só não desdenhamos porque entendemos a lógica cheia de hedge das instituições financeiras e o regime do inflation target. Mas nosso “departamento de research mega heterodoxo” é afiado. 

#Banco Central #Copom #Lula #Roberto Campos Neto #Selic

Economia

A malhação sem dó nem piedade do “Judas” Roberto Campos Neto

20/07/2023
  • Share

O atrito entre o diretor de política monetária, Gabriel Galípolo, e o presidente do BC, Roberto Campos Neto, novamente em torno da taxa de juros, é mais um capítulo das injustiças que o titular da autoridade monetária vem sofrendo no governo Lula. A premissa equivocada, que tem levado Simone Tebet, Fernando Haddad, Geraldo Alckmin e o próprio Lula a atacarem abertamente Campos Neto, é a atribuição de culpa pelo nível elevado da Selic. Erro crasso. Quem determina o patamar da Selic é o colegiado do BC, constituído por nove diretores. Campos Neto tem o mesmo peso dos demais. O RR foi buscar uma nota técnica de junho de 2023, assinada pelo ex-presidente do BC Gustavo Franco e o economista Luca Mercadante com base em dados oficiais do órgão. O levantamento revela que houve, entre 2002 e 2023, 183 reuniões do Copom. Em somente 14,2% delas ocorreram votos divergentes no colegiado. O número máximo de votos divergentes foi de três diretores (7,1% dos encontros do Copom). Com dois votos divergentes foram 6,6% das reuniões; e com um voto divergente, apenas 0,5% dos eventos. A esmagadora maioria foi de convergência dos votos. 

Ora, Campos Neto tem 1/9 de responsabilidade nos altíssimos juros do país. Pode até ter votado contra em alguma das reuniões do Copom. Ninguém sabe. Como a decisão de cada diretor não é revelada, fica o segredo para ser desvendado em um ponto futuro da História. Por enquanto, Campos Neto está sendo malhado como Judas mandante da Selic, quando no mínimo, se houve culpa nisso, ela não é sua isoladamente. 

#Banco Central #Roberto Campos Neto

Destaque

BC inicia estudos para uso de reservas cambiais em concessões

17/07/2023
  • Share

A pedido de Fernando Haddad, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, vai realizar diversas simulações para encontrar o ponto ótimo de uso das reservas cambiais no fomento da economia. Serão chamados economistas do Brasil e do exterior para discutir o tema, que há mais de duas décadas vem sendo tratado de “forma irresponsável”, digamos assim. Já se falou, inclusive, em usar as reservas “jogando dinheiro de helicóptero na economia” sem ponderar que isso levaria ao crescimento da dívida pública. O atual projeto, mais precisamente, seria utilizar uma pequena parcela do lastro em moeda forte como garantia cambial para os investimentos em concessões de infraestrutura. A expectativa, ainda na base do “chutômetro”, é que o volume de recursos poderia triplicar, chegando a mais de R$ 300 bilhões – a estimativa para 2024 é que esses valores fiquem na casa de R$ 126 bilhões.  

O lobby a favor da medida é forte, dentro e fora do governo. Na quinta-feira, dia 13 de julho – último dado disponibilizado pelo Banco Central -, as reservas cambiais estavam em US$ 346, 7 bilhões. Um pedacinho de 10% significaria, portanto, garantias da ordem de US$ 34,6 bilhões – o equivalente a R$ 166 bilhões. Parece pouco dinheiro frente ao montante de dólares entesourados no cofre do BC. Mas pode ser que não. Não existe na academia um modelo das “reservas ótimas”. O FMI considera que são suficientes recursos correspondentes a seis meses das importações. Mas os economistas mais sofisticados, aqui e no mundo, classificam essa “sacada” como algo desprovida de base científica. A China teria um modelo próprio, com argumentação teórica, mas muito influenciado pela atipicidade do país. As demais nações tocam o assunto ao ritmo de suas próprias orquestrações cambiais. Não têm um modelo científico.  

O BC pretende se aprofundar no assunto, antes de dar um passo em falso. Uma das preocupações é o fluxo de recursos financeiros, inclusive de brasileiros com dinheiro no exterior. O investidor externo pode tirar seu capital do país em função da redução dos ganhos com a arbitragem das taxas de juros ou até mesmo por motivos sem uma fundamentação consistente, provocando o chamado efeito manada. Mas será que o uso de um tiquinho das reservas, algo na faixa de 10% ou 7%, até pouco menos, faria essa diferença toda? Qualquer afirmação é um pensar desejante. O BC nas suas gestões desde o primeiro mandato de Lula, quando o caixa de reservas começou a ficar mais cheio, repete que não há um modelo de referência que autorize o uso de um valor específico das reservas em relação ao estoque de dólares.  

Sabe-se que Campos Neto não tem apreço pela ideia, até por considerar o mercado de câmbio extremamente arrítmico e sensível a especulações de toda ordem.  Foi o atual presidente do BC que segurou insistentes pedidos do então ministro da Fazenda, Paulo Guedes, para meter a colher nas reservas. A discussão do uso ou não uso do lastro em moeda forte, portanto, é matusalêmica e até agora sem nenhuma conclusão. Mas com o argumento de que recursos serão para hedgear as concessões e o setor privado batendo bumbo atrás, pode ser que tenha chegado a hora de descascar um pouquinho do montante. Lula quer. E quer muito. 

#Banco Central #Lula #Roberto Campos Neto

Destaque

“Pix parcelado” surge como uma trégua entre BC e equipe econômica

29/06/2023
  • Share

Na geometria da política econômica, o governo Lula e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, parecem fadados a serem duas paralelas. Não se encontrarão nem no infinito. O que não quer dizer que não possam convergir em outro plano. Segundo uma fonte do próprio BC, Campos e sua equipe estão debruçados sobre um projeto feito quase que sob medida para distensionar a relação com a equipe econômica. Trata-se da criação de uma espécie de “Pix parcelado”. Essa nova função permitiria que as pessoas fizessem compras a prazo usando o próprio Pix. A equação não é simples, porque teria de tangenciar o crédito bancário. Uma das ideias é que o pagamento seja vinculado ao salário ou aposentadoria, com o desconto mensal direto em folha. Seria, portanto, uma operação de “Pix consignado”, atrelado ao consumo. Os valores das prestações desse “Pix parcelado” seriam fixos. A equipe de Campos Neto ainda está quebrando a cabeça para desenhar como seria a operacionalização desse novo meio de pagamento. Parece confuso. Um dos desafios é a nova modalidade não colidir de forma violenta com o cartão de crédito e o crédito direto ao consumidor. Seria necessária a criação de algum mecanismo garantidor do pagamento em caso de demissão ou morte.

Já está escrito que o Banco Central caminhará para expandir as funcionalidades do Pix. O próprio BC anunciou recentemente o lançamento do Pix Automático – uma modalidade similar ao débito automático em conta -, inicialmente previsto para abril de 2024. O ministro Fernando Haddad, por sua vez, exatamente no dia 30 de janeiro,  adiantou que o Pix vai se tornar um instrumento de crédito. De acordo com a fonte do RR, a intenção de Campos Neto é antecipar a implantação de todas essas operações para este ano.

Roberto Campos Neto, ao que tudo indica, está fazendo política. Além de dar continuidade à estratégia de ampliação dos serviços financeiros do Pix, a criação do “Pix parcelado”, por exemplo, é uma medida que se coaduna com o pensamento da equipe econômica. E poderia reduzir os juros ao consumidor, pouquinho que fosse. Seria, portanto, uma forma de Campos Neto abrandar as animosidades com o próprio presidente da República e com o ministro Fernando Haddad. Até porque a política monetária do BC não vai mudar tanto até o fim do seu primeiro mandato, em 2024. Vide as previsões do mercado. Em sua última edição, o Boletim Focus trouxe uma estimativa de 9,50% para a Selic no fim de 2024, com uma previsão de 3,98% para o IPCA. Ou seja: uma taxa de juros real de 5,52%, o que ainda seria uma das mais altas do mundo. De toda a maneira, a implantação do “Pix Parcelado” seria uma maneira de atenuar o impacto do mal-estar da Selic junto a Lula. A seu favor, o presidente da autoridade monetária poderia entoar o discurso de que uma iniciativa como essa só referenda a independência do Banco Central. Em tempo: no atual contexto, há outro fator capaz de reduzir a fricção entre Campos Neto e o governo. A ampliação do horizonte de cumprimento da meta de inflação, que deve ser analisada na reunião de hoje do Conselho Monetário Nacional, colabora para a melhoria do ambiente.

Tudo muito, tudo muito bem. Não se discute os efeitos positivos do “Pix parcelado. No entanto, há medicamentos cujas contraindicações superam seus efeitos curativos. Com os novos derivativos do Pix, o BC segue no seu incontido avanço mercado bancário adentro, tornando-se, em essência, um competidor das próprias instituições financeiras. Mais do que isso: o “Pix Parcelado”, a exemplo do próprio Pix, será mais uma mordida na rentabilidade dos bancos. Tudo, ressalte-se, em cima de um cenário de desequilíbrio concorrencial e profundas assimetrias. Os bancos convencionais têm uma elevada carga de custos inerente a sua operação. Impor um ambiente de competição artificial é praticamente obrigar as instituições financeiras a fechar mais agências e promover uma sangria de demissões para tentar recompor suas margens.  

Isso para não falar de uma dupla identidade que traz a reboque um inequívoco conflito de interesses: ao ser o agente responsável pela operacionalização do Pix, o órgão regulador do sistema financeiro passa a competir diretamente com as instituições que ele próprio regula. Mal comparando é como se a Anac criasse uma plataforma de e-commerce para vender passagens aéreas. 

#Banco Central #Fernando Haddad #Pix #Roberto Campos Neto

Economia

Arcabouço fiscal não cai no gosto do Banco Central

26/05/2023
  • Share

O que os panos da diplomacia política de Roberto Campos Neto encobrem é a indisposição da grande maioria da diretoria do BC com o arcabouço fiscal. Os acenos simpáticos feitos por Campos Neto, ao dizer que a medida já representa um avanço, são salamaleques circunstanciais. Campos Neto e o colegiado rezam no altar de que a inflação é de demanda. O ajuste fiscal pelo lado do aumento da receita e com expansão permanente da despesa não resolve. Os “donos do BC” queriam um ajuste “colaborativo” através do corte de gastos. A contribuição do arcabouço nesse aspecto vai meio que na direção inversa do pensamento do colegiado da autoridade monetária.  

É claro que ninguém no BC acha ruim o fator previsibilidade, calcado em regras e compromissos. Mas pelo menos, por enquanto, a visão é de que a política monetária vai para um lado e a fiscal para outro. É o que o ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore chama de dominância fiscal. Ou seja: quando a Selic sobe, a inflação não cai, e o endividamento aumenta. O diacho de toda essa engenharia teórica é achar o ótimo das diversas metas: qual é a inflação “ideal”? Qual é o efetivo juro neutro? Qual é a relação dívida bruta/PIB que não afeta a percepção de solvência? Qual é o limite razoável para que os créditos direcionados não retirem a potência da política anti-inflacionária do BC? Qual é o ajuste fiscal colaborativo com a política monetária e vice-versa? Por isso, além das questões políticas, fica tão difícil baixar os juros. O maior nó do problema pode ser resumido em um axioma: a gestalt do BC é uma e a da Fazenda é outra. Nenhum dos dois concorda um com o outro.

#Roberto Campos Neto

Economia

O Banco Central precisa mesmo de tanto “disclosure”?

10/05/2023
  • Share

Há uma máxima que qualifica o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto: ele é tão melhor quanto mais calado fica. O mesmo deveria valer para a diretoria do BC. O sempre agudo ex-economista chefe do Credit Suisse Nilson Teixeira chama a atenção sobre a quantidade de ruídos que as reuniões fechadas do colegiado com instituições financeiras cria, inevitavelmente, para mais ou para menos, na política monetária. Esse ano já foram 80 reuniões. Esses encontros são realizados a título de esclarecimento das decisões ou mesmo da visão prospectiva do BC. Mas não deixam de ser episódios desabridos de marketing dos bancos anfitriões dessas exibições e de trocas de informações entre a turma do BC, o dono da casa e os catadores das raspas e restos de tudo que foi dito. Atenção, não se trata de insider information, já que os dados e análises são democratizados junto a um grupo representativo do setor. Mas não deixam de ser “dicas” para uma casta que detém o monopólio da venda e compra dos ativos disponíveis no mercado.  

A tese de Teixeira é que a autonomia do Banco Central não coaduna com esse disclosure exclusivo para o sistema financeiro. Aliás, não carece de ter disclosure para ninguém. O RR tratou desse assunto no passado, fazendo um chiste sobre a euforia de André Esteves, o mais ativo dos banqueiros anfitriões, talvez só comparável ao banqueteiro João Doria, presidente da “empresa de relacionamento” Lide (https://relatorioreservado.com.br/noticias/andre-esteves-faz-suas-aproximacoes-sucessivas-com-o-governo-lula/). A banca, no fundo, está fazendo o seu papel: fuçar informações relevantes para precificar corretamente os seus ativos. Que talvez esteja fora do figurino é o pessoal do BC, que transformou o primado da política monetária em show off particulares em casas bancárias. Isso tudo atrapalha a boa discussão sobre o mérito do BC independente.

#Roberto Campos Neto

Economia

O jeito vai ser mexer na meta de inflação

4/05/2023
  • Share

A manutenção da taxa Selic em 13,75%, na reunião do Copom ontem, deixou a equipe econômica e os próceres do PT em estado de ebulição. Havia a expectativa de que, com o anúncio do arcabouço fiscal, o BC reduzisse a Selic, ao menos, em 0,25 ponto percentual. Seria uma sinalização não só de ajuste fino na política monetária, mas também de harmonia entre as diversas áreas da gestão econômica. Mas o comandante da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, permaneceu resiliente na manutenção dos juros nas alturas. O argumento de Neto é o clássico: a inflação está empinada e o balanço de riscos permanece preocupante. Ontem, no dia do encontro do Copom, o Fed aumentou em 0,5 ponto os juros, o que representa a maior majoração em 22 anos. A medida colocou fermento da decisão do BC em manter a Selic nas alturas. O Boletim Focus da última terça-feira acusou um pequeno crescimento da estimativa para a inflação de 6,4% para 6,5%. Uma projeção que não ajuda a redução da taxa básica.

A questão, contudo, é que a equipe econômica considera a Selic de 13,75% mais tóxica à atividade produtiva do que eficiente no combate da inflação. Ou seja: em um horizonte longo, capaz de prejudicar a evolução do PIB, a inflação não caberia dentro da meta. O limite inferior da meta é de 1,75% e o superior, 4,75%. Segundo o BC, a chance de a inflação oficial superar o teto da meta em 2023 é de 83%. A projeção do mercado para a inflação de 2024 também está acima do centro da meta prevista, fixada em 3%, mas ainda dentro do intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual. O tira-teima será em junho, na reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN). Se o BC continuar jogando duro, Fernando Haddad e Simone Tebet, que formam a maioria do CMN, deverão aumentar a meta para 4% a 4,5%, mantendo a banda de 1,5% para cima e para baixo. Aí os juros caberão no intervalo ampliado. E quem sabe a inflação começará a cair ainda em decorrência da inercia do aperto monetário.

#Copom #PIB #Roberto Campos Neto #Selic

Política

Agora só falta Campos Neto se acertar com o governo

13/04/2023
  • Share

Há uma lufada de ar arejando os mercados. Bolsas subindo, dólar caindo, curva dos juros futuros em declínio e sinais de queda consistente da inflação. Sem querer fazer autoelogio, é tudo aquilo que o RR cantou que ocorreria depois do anúncio do arcabouço fiscal. Falta agora a fase 2: trazer Roberto Campos Neto para a quadra das boas notícias. Meio caminho já está andado. O balanço de riscos foi suavizado, por tudo que foi dito acima e pela melhoria do ambiente internacional. Campos Neto caminha para reduzir os juros em 0,25 ponto percentual em maio – no mais tardar em junho, mesmo mês em que o CMN se reúne para detonar o nível de 3% da meta de inflação. Campos Neto também já comprou que o target atual tem de ser corrigido, até porque a meta, como estáé incumprívelA não ser que a Selic chegasse a 26,5% – nas palavras do próprio presidente do BC. Nesse caso, a autoridade monetária distribuiria cicuta para todo o povo brasileiro. Campos Neto recebeu um paper acadêmico irrefutável que prevê uma queda, no mínimo, de 4 a 5 pontos da Selic em dois anos, se a meta de inflação subir para 4%. É como se ela caísse dos atuais 13,75% para cerca de 8%. O juro real desabaria.  

A seguir, o segundo passo: o maior entendimento entre BC e BNDES. Como se sabe, o BNDES de Aloizio Mercadante vai despejar dinheiro na economia. A cartilha do BC reza que a medida suaviza a potência da política monetária freando a queda dos juros. Mercadante diz que tem de onde tirar os recursos sem que eles saiam do caixa do Tesouro. Ele não acredita nessa história de que fomento creditício e Selic são inimigos mortais um do outro. No final, com o mercado, que não é mau nem bom, sancionando a melhora das expectativas e havendo bom senso político, os dois bicudos, Mercadante e Campos Neto, podem dar uma bitoca. Em tempo: o presidente do BC acredita para valer nos modelos econométricos que dão a tônica da política monetária. Mas está aprendendo que, além dos números, existe a política, uma visão que ficou rarefeita durante o mandarinato de Paulo Guedes. Deu no que deu. Mas os sinais são de que a autoridade monetária está menos inflexível. Uma excelente notícia. Afinal, como dizia Lord Keynes, “A realidade muda, eu mudo”.

#Banco Central #BNDES #Roberto Campos Neto

Política

Campos Neto lança um sinal de trégua ao presidente Lula

28/02/2023
  • Share

O que tem a ver o Pix internacional com a moeda do Mercosul? Dependendo da ótica, muito ou nada. A priori, a despeito da lógica ou prioridade, a medida não deixa de ser um agrado do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, a Lula, que ouve como música qualquer manifestação favorável ao fortalecimento do bloco sul-americano, com o protagonismo do Brasil. O Pix internacional significaria, portanto, o aceno de Campos Neto para uma trégua com o Palácio do Planalto e o próprio ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que apoiam a moeda comum do Mercosul – o “sur real”, como vem sendo chamada pelo mercado e internamente pelo próprio BC.  

Chama a atenção o prazo estimado para a implementação do novo sistema: são dois anos, praticamente o prazo para o vencimento do mandato do presidente do BC. O Pix internacional é um meio de pagamento, sem os inconvenientes do “sur real”. Além do mais, é bem mais abrangente, porque atrai outros países além das fronteiras do Mercosul, a exemplo da Colômbia, Equador e Chile, conforme antecipou o presidente do BC. É curioso a Argentina não aparecer nas citações de Campos Neto. O seu presidente, Alberto Fernandez, foi o maior entusiasta da criação da moeda comum entre os países do bloco. Só falta agora, Campos Neto ceder e reduzir a Selic em um dedinho, buscando a partir daí um acordo de redução dos juros nos países do Mercosul. Mesmo em um tempo no qual pululam propostas hiper-heterodoxas, seria efetivamente surreal, não obstante o gáudio de Lula.

#Banco Central #Mercosul #Roberto Campos Neto

Análise

Lara Resende desponta como favorito para a presidência do BC

13/02/2023
  • Share

Há uma disposição ferrenha do presidente Lula para levar André Lara Resende à presidência do Banco Central. Não há ninguém entre os colaboradores do governo que diga com tanta maviosidade o que Lula quer ouvir: taxa de juros, mudança da meta e, nas entrelinhas, uma autoridade monetária que toque o barco de forma afinada com a Presidência. Mas, sendo a versão válida, para que a substituição ocorra é preciso que Roberto Campos Neto jogue a toalha no chão. A blitzkrieg de Lula contra Campos Neto seria parte da operação para antecipar sua saída, prevista para ocorrer somente em dezembro de 2024, quando vence seu primeiro mandato, ou ainda em 2028, se ele decidir pela sua recondução. Pelo estatuto do Banco Central Independente, Campos Neto tem direito a oito anos de permanência no cargo, que somente podem ser abortados por desistência do titular do BC ou uma mudança sancionada pelo Congresso Nacional. Esta última hipótese é mais difícil: sondagens revelam a falta de apoio congressista à alteração da Lei Complementar n°179, de 2021, que sancionou a independência da autoridade monetária.  

Lula, que se sente mais emponderado que nunca, adotou, ao que tudo indica, a tática de throwing in the towel, ou seja, de levar o regulador a pedir demissão com uma massa de críticas permanente a política da autoridade monetária. Trata-se de uma estratégia sistematizada por analistas políticos norte-americanos. Mario Shapiro, professor da FGV Direito SP, em artigo publicado no Valor Econômico em sua edição de hoje, avança na argumentação da malhação do judas no BC. Segundo ele, “diante das restrições impostas pelo BC, é típica a atribuição de culpa a autoridade monetária pelos infortúnios do governo (blame-shifting)”. Lula comprou a fórmula integral para retirar Campos Neto do cargo. É pau puro na política monetária inteira.  

Do outro lado, Lara Resende tem sido tratado como um príncipe por Lula, Fernando Haddad e o comando do partido. Apoiou o presidente na primeira hora de campanha, participou do grupo de transição do governo na área de economia, integra o comitê de aconselhamento do BNDES, foi cogitado para ministro da Fazenda – quando chegou a se imaginar que Fernando Haddad poderia ser uma candidatura competitiva ao governo de São Paulo – e é nome cotado para um Conselho de Economistas para o Assessoramento Econômico da Presidência. Em tempo: nem Haddad, nem Simone Tebet, e aparentemente Geraldo Alckmin – que não dá um pio nessa discussão –, tem simpatia pelo tal Conselho.  

Durante todo o período da campanha eleitoral à posse de Lula, Lara Resende foi um cruzado pela redução de taxas de juros, uma meta de inflação equilibrada, uma menor preocupação com a dívida pública e um diferimento maior da meta de inflação no tempo para avaliação da eficácia no cumprimento da política monetária. Tudo que Lara Resende diz é música para Lula. O presidente não suporta essa relação fria, equidistante, sem uma prestação de contas mais intima, que Campos Neto imprimiu à gestão do BC independente. Na verdade Campos Neto reza por uma cartilha única, sem improvisações. Lula detesta essa “autonomia” sem beija mão. É como se o presidente do BC fosse um cluster no seu governo. Quanto aos juros, são realmente inaceitáveis.  

As fontes do RR arriscam a dizer que Lula quer romper com as algemas da ortodoxia. Gostaria de ter o seu “Plano Real monetário”. Para isso, teria de comprar a independência do BC, sem a qual Lara Resende não toparia a missão. Mas iriam de mãos dadas para a empreitada, já que um estaria mais ou menos sabendo como o outro se comportaria. 

   

O BC precisa ser blindado 

Em tese, um BC protegido constitucionalmente de interferências não é bom nem mau; apenas defende a autoridade monetária de virar um joguete dos interesses políticos dos governos. Quando o Banco Central eleva as taxas de juros, busca cumprir em sintonia fina sua tripla missão: controlar a inflação, perseguir o pleno emprego e zelar pela estabilidade do sistema financeiro. O sistema de metas de inflação procurou criar uma forma de definir e alcançar a carestia “razoável”. O Banco Central estabelece uma meta para a inflação e passa a persegui-la. É forçar a barra dizer que o BC ignora completamente o “pleno” emprego nos seus cenários, resultantes de centenas de variáveis que rodam nos seus modelos econométricos. A atual taxa de juros siderais está razoavelmente alinhada com uma subida do emprego formal e redução expressiva do desemprego – a taxa caiu de 14% para cerca de 8%. A percepção coletiva é que a autoridade monetária coloca o emprego no fim da fila, e a inflação à frente. Não há target para o nível “desejável” de desemprego.   

Antes da criação do hoje anatematizado Banco Central independente, a autoridade monetária era instada a tomar decisões motivadas ou estimuladas por uma hierarquia de poder superior, ou seja, o Ministério da Fazenda e, em um andar ainda mais alto, a Presidência da República. O resultado, não raras vezes, eram medidas inconsistentes ou enviesadas, que, mesmo atingindo positivamente alguns dos seus objetivos – inflação mais baixa e/ou “pleno” emprego –, careciam de sustentabilidade. As decisões eram políticas e não técnicas, não obstante haver algum componente político em qualquer poeira do universo, quanto mais em uma gestão técnica do BC.   

O assunto é complexo no mundo inteiro. Nem todas as coisas boas, contudo, estão condicionadas aos cânones da política econômica. Muitas vezes uma mudança na correlação de variáveis na lógica monetária e macroeconômica surpreende a todos com uma solução inesperada. Foi o caso do Plano Real, que, durante o seu período de formulação técnica, só tinha uma referência de efetiva operacionalização em Israel. Os jovens gênios da PUC, Persio Arida e o festejado André Lara Resende, trouxeram a ideia de inflação inercial para o campo de batalha da carestia e inventaram URV (Unidade Real de Valor). A sacada deu certo. A URV, planejada para ser transitória, teve como objetivo equilibrar preços relativos e remuneração de ativos. Ela funcionou como um transplante para adoção do real como moeda oficial do Brasil.   

Não há nada mais óbvio do que afirmar que juros dependem do movimento de várias placas tectónicas da economia. Para tomar decisão sobre o a elevação, manutenção ou redução da Selic várias camadas do BC são acionadas. Um conjunto de técnicos altamente qualificados analisa previamente um oceano de dados, que serão rodados em modelos econométricos sofisticados, gerando os cenários variados para que o presidente do BC independente, juntamente com sua diretoria – todos indicados pelo presidente da República e aprovados pelo Congresso Nacional – batam o martelo. Todos esses atributos constam do “estatuto do BC independente”, que tanto incomoda Lula no presente.   

  

Lembrai-vos de Henrique Meirelles 

O presidente Lula é um animal político da estirpe mais elevada da sua espécie. Deve ter razões, certas ou erradas, que não são sua idade elevada e a irritação decorrente dos muitos anos já vividos – versão Faria Lima –, nem o poder superlativo concedido pelo 8 de janeiro, para bater de frente, publicamente, com Roberto Campos Neto. A impressão é que ele atira no pé do próprio governo. Lula insiste, com todos os exageros de retórica, o que o BC tem de fazer ou não. Parece não saber que suas declarações mais pressionam a taxa de juros de longo prazo, que é a que importa, do que resultam em um aumento de meio ponto da Selic.  

No seu primeiro mandato, do qual se jacta de ter tido um BC autônomo e não independente, o presidente buscou intervir nas decisões do então titular da autoridade monetária, Henrique Meirelles. A literatura mais recente daquele período revela que Lula fritou Meirelles, ameaçou demiti-lo, mandou recados irritados, tinha até um candidato na manga do colete – o economista Luiz Gonzaga Belluzzo – tudo em função da taxa de juros. Achava que o elevado custo da moeda detonaria com a sua reeleição. Na época, não usou a estratégia do fazer barulho nas mídias:  encomendou a Antônio Palocci que desse um jeito de rifar Meirelles sem as suas digitais. Mas a inflação começou a cair e os juros também. E, quando perguntado nas internas se o tempo de Meirelles já tinha se esgotado, respondeu: “Não me fale mais desse assunto, agora está dando tudo certo”. Essa era a “autonomia” do BC que Lula considerava adequada, sujeita ao vai e vem da circunstância e da sua visão política.   

Lula piorou em relação ao passado ou está enxergando algo que ninguém viu, esbravejando diariamente contra a taxa de juros, o BC independente e a meta de inflação. A novidade é considerar o BC um bunker de Jair Bolsonaro porque o comandante da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, teria sido indicado pelo ex-presidente. Bobagem. Como demonstra o cientista político Alberto Almeida, Campos Neto poderia não ter elevado a taxa de juros pelo menos seis vezes no período relevante de campanha, mas fez o contrário, aumentando recorrentemente a Selic. 

O presidente terá direito a indicar neste ano dois diretores do BC, nas áreas de Fiscalização e Política Monetária – este último talvez o cargo mais importante do colegiado, depois do comandante da instituição. Nem por isso, os técnicos serão espiões do presidente, ou muito menos seus paus mandados. Lula até pode acertar no atacado com a cantilena dos juros altos, mas erra na forma. Todos os seus incômodos na área monetária – juros e meta de inflação – são legítimos e, alguns, até comprováveis empiricamente por acadêmicos.  São o caso dos juros, cuja taxa real da Selic, batendo já os 8,5%, e meta de inflação, fixada em 3%, podem, sim, ser chamadas “politicamente” de inaceitáveis ou inviáveis. 

A Selic é a mais alta do mundo. A taxa de real de 8,5% é o dobro do segundo maior índice real do planeta. Olhando de fora do BC, o nível dos juros não faz o menor sentido. Quanto à meta de inflação, ela parece ser construída para que o Brasil tenha uma taxa de juros nas alturas permanentemente. Como se sabe, o nível de juros no modelo de inflation target é o principal instrumento para levar o índice de preços permanentemente para dentro da meta: em 2024, o centro está fixado em 3%, com uma banda superior de 4,5%. A meta ambiciosa faz com que os juros sejam pouco flexíveis, na medida em que qualquer choquezinho de oferta ou pressão atípica sobre o fiscal, forçam as taxas a saírem de dentro da casca. Um exemplo: no governo Bolsonaro a meta de inflação nunca foi cumprida. 

No caso, curiosamente, Lula estaria alinhado com a discussão atual dos Bancos Centrais europeus, que deliberam sobre a redução do centro da meta para 4% a 4,5%, tendo em vista as previsões de que a inflação estrutural irá aumentar nos próximos anos. Ou seja: o mesmo percentual que o presidente defende para essas bandas. 

  

Mais “indemissível” do que um general 

A questão central é que Lula está misturando vários elementos ao mesmo tempo, repetindo esbravejando em praça pública contra seus novos inimigos figadais: Banco Central independente, meta de inflação, taxa de juros, Roberto Campos Neto, etc. Cabe dar ao presidente, um velho atirador de facas, o benefício de ter visto o que ninguém viu. Nesse caso, estaria mesmo precipitando uma eventual decisão de Campos Neto de não renovar seu mandato no BC, no fim de 2024. Lula quer que ele saia antes. De preferência, já! Deseja um experimento, melhor um invento de política monetária para chamar de seu. Um Plano Real do Banco Central. Mas, parece às vezes, que o presidente está carregando demais na estratégia do throwing in the towel. 

Com a apresentação do pacote fiscal pelo ministro da Fazenda, os impactos do efeito inercial dos juros já se manifestando nas expectativas do aumento de preços, e o inevitável reequilíbrio das cadeias de produção mais fragilizadas pela pandemia, a Selic vai baixar, com Campos Neto ou Lara Resende. No caso, Lula poderá ficar enroscado no mesmo enredo da gestão Meirelles: demorou para sacar o seu presidente do BC “autônomo” e foi obrigado a mantê-lo porque os resultados prometidos surgiram, conforme relata Maria Cristina Fernandes, colunista política do Valor Econômico.   

A mesma jornalista chama a atenção de que arrancar de forma autoritária Campos Neto do cargo que constitucionalmente ocupa pode ser mais difícil do que demitir oficiais de alta patente, a exemplo do que Lula fez com o comandante do Exército, general Júlio Cesar de Arruda. Campos Neto tem a claque do mercado financeiro, passagem entre os congressistas, respaldo na Lei e apoio corporativo. 

Lula detesta quem não preste contas. Um bom exemplo do que arrepia o presidente da República é um tecnocrata com a autoridade do professor Octávio Gouvea de Bulhões, presidente da Superintendência de Moeda e Crédito (Sumoc) – o BC dos anos 60 – e titular do Ministério da Fazenda no governo do general Castello Branco. Consta que, durante a fase mais dura do ajuste econômico do primeiro ano do golpe de 1964, Bulhões recebeu uma visita do então maior empreiteiro do país, Sebastião Camargo. O empresário relatou as queixas e mais queixas dos dirigentes do setor privado em relação ao arrocho monetário. Bulhões, que tinha fama de não se alterar jamais, ouviu calado, com sua expressão de monge. Camargo, então, carregou nas tintas. Disse que dezenas de grandes empresas iriam quebrar, a economia iria pifar e os empresários iriam se jogar pela janela, como aconteceu no período do crash da bolsa de Nova York. Ao que Bulhões respondeu, serenamente: “A janela está logo ali”.  Lara Resende, caso ungido, jamais teria uma atitude igual sem conversar com seu ministro ou o presidente. O economista tem o jogo de cintura, aprimorado por passagem bem mais agitada pelo governo no que diz respeito à adoção de teorias monetárias fora da caixa.  

De qualquer forma, um sinal da disposição mudancista do presidente é quando ele lança mão do discurso do “nós contra eles”. Se Lula escalar, não é improvável que ele misture bolsonarismo, militarismo e “independentismo” do BC.  O bordão da hora é “Autonomia, já, independência, nunca mais!” O presidente não quer só o cargo de Campos Neto ou juros mais baixos, mas um inventor na política do Banco Central que possa marcar sua gestão. A medida parece estar encomendada. 

Aguardemos o embate político entre os dois candidatos. André Lara Resende expôs suas ideias há menos de 24 horas, no Programa Canal Livre, da Bandeirantes. Teve espaço para dar uma aula e argumentar, com sua teoria monetária alternativa, que é possível atender tudo o que Lula almeja, mudando o arcabouço do pensamento econômico que hoje rege as decisões do BC. Para Lula deve ter sido uma ópera. 

Hoje, daqui a aproximadamente seis horas, Roberto Campos Neto dará entrevista no ao programa Roda Viva, da TV Cultura. É como se o curto intervalo de tempo tivesse sido combinado pelas partes. Vai servir de verificação da maior ou menor flexibilidade do presidente do BC. Sabe-se que Campos Neto já acena com uma meta menor – ainda que o seu menor seja residual, isto é, a manutenção da taxa de 3,25% deste ano para o ano que vem, contra os 3% fixados pelo Conselho Monetário Nacional. Pode ser que Campos modere o tom e acene com um tempo político mais razoável para a queda da inflação e dos juros. Pode ser. Mas os sinais vindos do entorno de Lula indicam que a preferência por Lara Resende é firme. Se não for agora, 2024 promete. 

#André Lara Resende #Banco Central #Lula #Roberto Campos Neto

Economia

Controle fiscal divide equipe econômica e ortodoxos

13/01/2023
  • Share

O repique da inflação e a piora das expectativas sobre o aumento de preços para os próximos dois anos tendem a colocar em lados contrários autoridades do governo e economistas ortodoxos e financistas. A equipe econômica acredita que é necessário o controle fiscal, mas não considera a iniciativa central para reduzir a inflação. Outros fatores explicariam a carestia, tais como o descontrole dos preços agrícolas, a guerra entre Rússia e Ucrânia, a resiliência da quebra das cadeias de produção e os juros elevados. Sim, a área econômica do governo considera que o atual nível de juros é inflacionário. Não é preciso nem dizer o que o mercado financeiro pensa a respeito desse diagnóstico. O receituário dos economistas ortodoxos e financistas é consensual, ou seja, um choque fiscal sem o qual a inflação perdurará durante um tempo imprevisto.  

A maior preocupação da turma da Faria Lima e afins não é somente com um arrefecimento da política monetária, mas com uma eventual desistência de Roberto Campos Neto em cumprir seu mandato no Banco Central independente. O presidente do BC já emitiu sinais reservados de que poderá jogar a toalha e não cumprir os dois anos de gestão frente à autoridade monetária. Campos Neto se tornou referência e darling da grande maioria dos agentes econômicos. Hoje, na visão do mercado, sua presença é um esteio das ações anti-inflacionárias, mesmo que os preços se mantenham no andar de cima com o já longo período de juros elevados.  

Se depender da vontade de Fernando Haddad, Campos Neto fica. Mas, como se sabe, o PT manda um bocado no governo. Foi o Partido que desacreditou o ministro, mantendo, meio que à força, a desoneração do PIS/Pasep e Cofins sobre óleo diesel, biodiesel e gás natural nesse ano. Haddad queria exatamente o contrário. No caso de Campos Neto, espera-se que haja juízo, boa vontade e compreensão do momento histórico do país, ou, melhor dizer, da política monetária e da economia nacional. Fica Campos Neto!

#Banco Central #Fernando Haddad #Roberto Campos Neto #Rússia #Ucrânia

Economia

Até onde irá a coexistencia de Haddad e Campos Neto?

16/12/2022
  • Share

A declaração de Fernando Haddad de que há espaço para o estímulo da economia pelo lado monetário e que existem condições de queda das taxas de juros, em vez de fazer espuma do lado fiscal, menos aliviou do que tensionou. Na verdade, trouxe à tona o pavor de que Roberto Campos Neto pegue mala e cuia e deixe a presidência do BC. Campos Neto, como se sabe, é o último bastião da ortodoxia no governo. Leva a sério sua missão. Nunca cedeu sequer a Paulo Guedes, que o colocou no cargo. O BC é independente. Até que o seu presidente jogue a toalha. Nesse caso, Haddad teria caminho aberto para indicar o seu chefão na autoridade monetária. Teríamos, então, um BC independente, mas dominado. Haddad já conversou com Campos Neto. Não se sabe o teor do papo. Para o bem do próprio Haddad, seria bom que Campos Neto dissesse ao povo que fica.

#Fernando Haddad #Paulo Guedes #Roberto Campos Neto

Acervo RR

Boca fechada

13/09/2022
  • Share

Lula não dá um pio sobre seu presidente do Banco Central independente, Roberto Campos Neto – titular do cargo até 31 de dezembro de 2024, a menos que a Constituição seja alterada. Campos Neto também não menciona Lula em qualquer circunstância. O ex-presidente detestava o avô de Campos Neto. Se os dois permanecerem calados, o mercado agradece.

#Banco Central #Lula #Roberto Campos Neto

PIX do PIX

25/07/2022
  • Share

Roberto Campos Neto divaga sobre a ideia de splitar o PIX e vender uma parte a um consórcio de bancos privados. Seja como for, seria coisa pra depois das eleições. O PIX é um dos cartões postais da gestão Bolsonaro.

#Pix #Roberto Campos Neto

Exposição

19/07/2022
  • Share

Há uma discussão no colegiado do Banco Central sobre a eEde Roberto Campos Neto nesse período eleitoral. A maioria defende que ele se limite a poucas palavras.

#Banco Central #Roberto Campos Neto

BC empurra para os bancos a conta do PIX

18/07/2022
  • Share

Entre os grandes bancos, há um incômodo e preocupação com a manifesta disposição do Banco Central de terceirizar a responsabilidade pelos golpes aplicados com o PIX. O próprio presidente do BC, Roberto Campos Neto, já disse que as instituições financeiras devem ser “apertadas” pelas fraudes. O curioso é que o PIX é uma iniciativa do Banco Central.

Os bancos, especialmente os grandes, sempre foram contrários, devido aos riscos de segurança. Mas são eles que estão pagando a conta, e de forma duplicada. Tribunais de Justiça vêm aplicando seguidamente sentenças contra instituições financeiras em situações de golpes digitais contra seus clientes. Além disso, os bancos têm sido obrigados a aumentar investimentos em segurança cibernética na esteira do PIX. As instituições financeiras já desembolsam anualmente mais de R$ 1,5 bilhão com despesas voltadas para a proteção de dados.

Os fatos têm mostrado que a apreensão dos bancos em relação ao advento do PIX tinha de razão de ser. As fraudes já somam, em média, R$ 300 milhões por mês e começam a impactar negativamente o maior predicado do PIX: a confiança dos usuários. As ameaças só se multiplicam. As 400 milhões de chaves cadastradas no sistema estão na mira de hackers. Os vazamentos de dados do PIX são cada vez mais frequentes. Já existe uma espécie de mercado secundário para a compra a venda desses dados entre ciber-criminosos.

#Banco Central #Pix #Roberto Campos Neto

As cartas dadas e não dadas da política monetária

27/06/2022
  • Share

Está dado: o Banco Central não buscará o centro da meta de inflação de 3,50% em 2022, não por decisão de política monetária, mas porque é quase impossível. Está dado também que ele não mudará a meta de 3,25%, do próximo ano, caminhando para 3% em 2024. Roberto Campos Neto anunciou que buscará uma inflação pouco abaixo de 4%, em 2023. Portanto, circunscreveu, em parte, a política monetária ao acertar mais ou menos 0,1 ou 0,2 ponto percentual, digamos, em relação ao centro da meta.

Bem, está igualmente dado que os juros irão ficar em 13,75%, no mínimo, até o final de 2023. A Selic vitaminada tem como objetivo levar a inflação à meta aproximada de cerca 4% e não à onírica de 3,25%, no final do próximo ano, e mesmo de 3%, em 2024. Está dado da mesma forma que essa política monetária levará a um crescimento residual do PIB (entre 0% e 1%) ou mesmo a uma recessão (entre -1% a -1,5%), em 2023, preço da teimosia de não alterar o target de 4% a 4,5%, com bandas de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo.

Não está dado no balanço de riscos do BC que a antipolítica fiscal do governo Bolsonaro nesse final de mandato e na disputa eleitoral pode mandar às favas toda a estratégia monetária da instituição. Bolsonaro deve deixar um legado maior de desequilíbrio nas contas públicas, maltratando os bons números conseguidos na área fiscal até o primeiro trimestre. Não está dado no mesmo balanço de riscos que o teto de gastos, pelo menos com a atual arquitetura que conhecemos, está morto, mortinho, mortíssimo.

Não está dado, conforme as declarações de Roberto Campos Neto, que, em um eventual governo Lula, a independência do BC poderá depender da autoridade monetária cumprir seu duplo mandato, ou seja, controlar a inflação e cuidar do nível de emprego. Coisa que não está acontecendo. A PEC que concede a independência é a mesma que a retira. Não está dado que o eventual governo Lula terá dois integrantes no Conselho Monetário Nacional – o ministro da Economia, o secretário especial de Fazenda (o terceiro é o presidente do BC) – e poderá alterar a meta na hora que lhe aprouver. Melhor, portanto, mudar o target agora, com parcimônia e o manche na mão. Não está dado se Roberto Campos Neto está mais para Alexandre Tombini ou Ilan Goldfajn. As duas hipóteses não chegam a ser alvissareiras. Em breve, a história responderá essa e outras questões.

#Banco Central #Lula #Roberto Campos Neto #Selic

A política monetária de dois gumes do BC

5/04/2022
  • Share

O presidente do BC, Roberto Campos Neto, pode bater com o pé no chão, gesticular, esbravejar, desmentir, mas a verdade é que a política monetária está voltada mais para o câmbio do que para a inflação. O que, na atual circunstância, não chega a ser um crime de lesa macroeconomia, e, sim, uma reedição do enigma galináceo de quem nasceu antes: o ovo ou a galinha. O BC diz que só mira a inflação e não o câmbio, que desabou para R$ 4,60.

Dois motivos teriam impactado o dólar: os preços das commodities e a astronômica taxa de juros real, que namora os 7% – a expectativa de instituições financeiras, como o Barclays, é de que a Selic alcance 13,75% em junho. O BC não tem influência sobre os preços das commodities. Mas manda e desmanda nos juros. A priori o que se diz é que os juros elevados são para baixar a carestia. Pode ser. Mas é curioso o remédio de juros altos quando a economia rasteja, há uma quebra das cadeias de produção e não se identifica pressão de demanda.

Só se o BC considerar que os auxílios dados por Jair Bolsonaro provocarão algum frenesi sobre o consumo, principalmente nos bens de primeira necessidade. Parece difícil. Há quem diga que o BC faz uma política de dois gumes. Combate a inflação através do câmbio, o que ajudaria também a reduzir a transmissão das cotações das commodities para os preços internos. De quebra, a autoridade monetária afastaria o risco de histerese provocado por uma insegurança crescente em relação às contas públicas. Lembrando que histerese é quando juros altos deixam de ter efeito na inflação.

Mas não deixam de ter no câmbio, pois o fluxo de moeda segue como uma manada para os países que oferecem taxas mais altas. Os únicos juros no planeta mais altos do que no Brasil são as taxas praticadas na Rússia. Mas aí não conta, pois o país está em guerra e sofrendo sanções de toda a ordem, inclusive o congelamento das suas reservas em bancos estrangeiros. Com o real fortalecido, as importações tendem a aumentar, e os preços a cair.

Tudo muito bom, tudo muito bem. No entanto, a cadeia de transmissão dos juros, câmbio e inflação, mesmo dando certo, também deixa mortos no caminho: a atividade produtiva e o emprego. Sob esse aspecto vamos mal, com projeções de um PIB inferior a 1% e um desemprego de 12%. A festa é só para o baronato das commodities, com rentabilidade superior a até 300%. Talvez fosse a hora de instituir um imposto sobre o setor, como fazem vários países do mundo, transferindo dinheiro para o combate à pobreza, investimentos em obras públicas e o próprio ajuste fiscal.

#Banco Central #Jair Bolsonaro #PIB #Roberto Campos Neto

Palavra do ministro da Economia

24/03/2022
  • Share

Paulo Guedes tem dito, em suas conversas com interlocutores do mercado, que quem apostar em um dólar acima de R$ 5,10 a R$ 5,20 vai perder dinheiro. Segundo o ministro da Economia, com mais de US$ 350 bilhões em reservas e a tropa de choque de operadores da mesa de câmbio do Banco Central, pilotados por Roberto Campos Neto, pode vir a terceira guerra mundial que o dólar não dispara.

#Banco Central #Paulo Guedes #Roberto Campos Neto

Independência

2/09/2021
  • Share

Lula quer conversar com Roberto Campos Neto. Tudo bem. O presidente do Banco Central é independente.

#Lula #Roberto Campos Neto

A independência e a independência do BC

30/07/2021
  • Share

A autonomia do Banco Central tem dois caminhos ainda a serem trilhados. Um é a independência de direito – como se sabe, o STF ainda julga a constitucionalidade ou não da lei que estabeleceu a autonomia do BC. A outra é a soberania de fato. Com algumas casas bancárias prevendo a resiliência da inflação – com estimativa de um IPCA de 8% em 2021 e de 5% em 2022 -, Roberto Campos Neto vai ter de caprichar na elevação da taxa de juros. Ocorre que a combinação juros elevados e campanha eleitoral é algo parecido com fogo e álcool. A ver se a independência do BC, que demorou 30 anos para ser sancionada, suportará a provável pressão de Jair Bolsonaro para que as taxas não atravessem 2022 prejudicando o ambiente de negócios e a geração de empregos. O RR torce para que a autonomia do BC não demore outras três décadas.

#Banco Central #IPCA #Roberto Campos Neto

Campos Neto vai precisar de muita autonomia

1/07/2021
  • Share

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, trabalha intensamente nos bastidores do Congresso com o objetivo de desbastar o caminho para que a autoridade monetária seja independente. Por enquanto, a lei da autonomia do BC está parada no STF, cujo julgamento, previsto para o último dia 25, foi adiado sine die. A preocupação de Campos Neto é que ele terá que brandir o chicote dos juros de forma mais violenta. Com as metas de inflação sendo fixadas cada vez mais para baixo pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), há um consenso de que o BC vai meter a ripa na política monetária. Para 2023, o CMN estabeleceu o target de 3,25%. Para chegar nesse ponto, com uma inflação beirando a casa dos 6,5% neste e no próximo ano, a Selic deve correr na faixa de 7%, no barato. Sem a aprovação da autonomia do BC, Campos Neto acha que a política de juros pode ser abortada pela política eleitoral. Em 2024, a meta da carestia é de 3%. Para que isso, gente? Nos EUA, ela é de 2%. O BC Europeu também pôs seu target em 2%, mas, na realidade, tem sua meta em 2,5%. Nas internas, sabe-se que Campos Neto ficou um tanto amuado com as decisões do CMN. Porém, como é muito político, deixou como está para ver como é que fica. Resta correr para blindar o BC.

#Banco Central #CMN #Roberto Campos Neto

Causa e efeito

8/01/2021
  • Share

É grande a torcida para que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, aguente as pressões e mantenha a taxa Selic na faixa de 2% pelo menos até meados do ano. A Selic mais baixa teve um papel importante na melhoria do ambiente de negócios e na redução da dívida interna bruta em relação ao PIB no ano de 2020. O índice ficou em 89% no mês de novembro e muito provavelmente fechará o ano de 2020 próximo dos 90%. Será, portanto, um indicador bem mais confortável dos que os 100% de dívida interna bruta sobre o PIB que vinham sendo projetados pelas casas bancárias. Se o PIB de 2021 crescer em torno de 5%, como projeta o economista Affonso Pastore, cai mais ainda.

#Banco Central #PIB #Roberto Campos Neto

Uma espiada por dentro do Banco Central

26/11/2020
  • Share

Há uma torcida dentro de casa, ou seja, entre os próprios funcionários graduados do Banco Central, para que Roberto Campos Neto não ceda e mantenha a taxa de juros nos 2%. A premissa é que a inflação deste ano não passa de 4% e, nessas condições, com a Selic preservada, um bocado de dinheiro vai sair das aplicações para o consumo. A ver.

 Ainda por dentro do BC, segue o debate sobre a decisão do CMN de baixar a meta de inflação até 2023. Pelo Conselho saímos neste ano dos 4% para 3,75% (2021), 3,5% (2022) e 3,25% (2023). Há pouco ganho e mais risco com as medidas. Basta um repique da inflação e olha aí o BC sendo pressionado a aumentar os juros. Mas há tempo de sobra para recuar na medida.

#Banco Central #Roberto Campos Neto

Gabigol

23/11/2020
  • Share

Palavras de um assessor da equipe econômica com um nome esquisito: “Demorou para o Roberto Campos Neto se livrar da influência do Ilan Goldfajn. Mas agora ele está um craque.” O RR assina embaixo.

#Roberto Campos Neto

Os recados do Fed para o Banco Central

1/09/2020
  • Share

O posicionamento do Federal Reserve (Fed) em relação à fantasia de uma “inflação ótima” emitiu um sinal para o BC de que não há uma política monetária ortodoxa única. Ou seja: a ortodoxia tem também suas subdivisões. A posição do Fed é de que a autoridade monetária deve buscar não somente a queda da taxa de inflação, mas também o pleno emprego, além de suportar uma carestia mais alta se essa variável for uma condicionante para o alcance da meta dupla (o índice dos preços controlado e a taxa de ocupação de mão de obra elevada). Um recado sob medida para o BC de Roberto Campos Neto, que não fala uma vírgula sobre desemprego no seu forward guindance.

Campos Neto está pensando dentro de uma caixinha: meta de inflação mais baixa, juros mais baixos, curva de juros longos represada e o resto entregue a Deus e ao ajuste fiscal. Não é que o conjunto da obra esteja errado. Mas não quer dizer que não haja outra forma de pensar a política monetária. A meta de inflação poderia estar mais alta, na faixa de 4,75%, conforme defende o “pai do sistema de metas”, Sérgio Werlang, ex-diretor do BC. Hoje a meta se encontra em 4%, mas, irá cair para 3,75% no próximo ano, estreitando o espaço para o manejo da política monetária.

Outra lição do Fed: se há meta para inflação, tem de se ter também uma meta explícita para o emprego, e são ambos que devem regular a política da autoridade monetária. Apesar de toda a sofisticação dos modelos econométricos, há muito do “assim é se lhe parece” na política de metas. Um exemplo é o cálculo da inflação que interessa ao sistema de metas. Em agosto, por exemplo, o Índice Geral de Preços – Mercado (IGPM) voltou a ganhar tração, subindo no mês 2,74%.

Passou a acumular alta de 13,02% em 12 meses e de 9,64% em 2020. O IPCA de agosto ainda não foi divulgado, mas os números conhecidos apontam um índice de 0,36% para o mês de julho, com um acumulado de 2,31% em 12 meses. Em julho de 2019, a taxa havia ficado em 0,19%. Há índice para todos os gostos. Como diria Max Planck, “tudo é relativo”. Não é o caso de se dizer que o BC esteja errado. Mas nada impossibilita que ele siga o exemplo das autoridades monetárias de países centrais. É provável que acerte mais. Afinal, se juros baixos não estimulam investimento em nações desenvolvidas, que venha a pressão pela demanda com pleno emprego e pelo aumento de salários, o que pode ajudar a puxar a inflação e colaborar com o fiscal.

#BC #Roberto Campos Neto

Delay

8/07/2019
  • Share

A título de chiste: o governo Bolsonaro ainda não deu posse a Roberto Campos Neto no Banco Central. Ao menos não no site do Palácio do Planalto, onde Campos Neto ainda aparece apenas como presidente indicado do BC.

#Jair Bolsonaro #Roberto Campos Neto

Economia

Confissão de culpa?

8/02/2019
  • Share

Roberto Campos Neto está em campanha. Na última quarta-feira, um dia após o Planalto, finalmente, enviar ao Senado sua indicação para a presidência do Banco Central, Campos Neto passou a tarde no Congresso Nacional. Conversou com mais de uma dezena de parlamentares. O que mais chamou a atenção foi a curiosidade dos congressistas em relação a seus planos no BC para o combate a crimes financeiros.

#Roberto Campos Neto

Enigma de “Bob Neto” ameaça devorar o mercado

19/11/2018
  • Share

Apesar das saudações protocolares de primeira hora, o mercado ainda não decifrou o que vem sendo chamado de “enigma Roberto Campos Neto”. Ou, para os mais íntimos, enigma “Bob Neto”. Ou, para os ainda mais íntimos, “ROC Jr” – uma alusão à distribuidora de valores com o mesmo nome, pertencente ao pai do novo presidente do BC. Até então, a gestão Ilan Goldfajn buscava a sinalização dos juros dentro do sistema de metas. Era um BC que dava informações tendo por objetivo minimizar as distorções e ruídos provenientes do mercado para reduzir as flutuações do PIB. Um BC clássico do modelo inflation target. Há suspeita de que os planos da dupla Bob Neto e Paulo Guedes passem pela mudança da política operacional do BC. O perfil de Bob Neto é de treasury, ou seja, de alguém que é especialista em arbitragem; que opera as lacunas de informações diárias. Esse modelo seria o mais compatível com o maneira “PG de ser”. O ministro da Economia gosta de ser o formulador para que seu sniper no BC execute. A fórmula não é nada nova, pelo contrário. A maior parte dos presidentes do BC sempre operou em dobradinha com os ministros da Fazenda. O que não quer dizer que tenha dado certo.

#Roberto Campos Neto

Todos os direitos reservados 1966-2024.