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Regime de metas de inflação volta à pauta para a redução dos juros indecentes

12/12/2024
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O choque de juros aplicado ontem pelo Copom – a Selic foi a 12,25% – é só a metade da laranja. Como o efeito da medida tem um prazo para redução do IPCA que pode chegar a seis meses, a inflação somente caminharia para a banda mais alta da meta em meados de 2025. É um tempo razoável para o presidente Lula esbravejar contra a queda do desempenho econômico e do emprego e um patamar de juros que contradiz todas as cobras e lagartos vomitadas sobre Roberto Campos Neto.

A outra metade da laranja, com o condão de acalmar o presidente e – quem sabe? – fazer uma correção de rota na política monetária há muito defendida por influentes economistas, somente vigoraria a partir de janeiro de 2026, salvo alguma guinada do BC. Um paper científico defendendo a mudança da meta de inflação, que vem sendo discutido intramuros no Banco Central, parece ter convencido o corpo técnico da instituição. Os argumentos já permearam a diretoria. A correção do regime de metas não só teria um embasamento sólido, como, por tabela, atenderia objetivos políticos do governo.

O trabalho que pode mudar as regras do jogo é intitulado “Inflation Targeting Under Fiscal Fragility”. É assinado pelos economistas da FGV e do IMPA Vitor Costa, Paulo Lins, Rafael Santos e Serge Valk, com a coordenação de Aloisio Araujo, um economista matemático que já é considerado uma legenda na academia. O documento vem sendo motivo de um intenso debate no BC desde agosto, quando o paper foi concluído.

Se o trabalho tivesse chegado ao BC antes de junho, quando o Conselho Monetário Nacional anunciou o novo regime de meta contínua, talvez a história da política monetária fosse outra. E os juros pudessem ter parado na faixa de 9% ou 10%. No final, a meta de inflação contínua somente mudou o ano calendário de aferição.

O centro e as bandas da meta permaneceram no mesmo lugar (3%, com piso e teto de 1,5% para mais ou para menos) no período 2024/2025, passando a ser contínua a partir do último ano mencionado. Contudo, há uma brechinha deixada pelo CMN. Trata-se da inclusão do termo “horizonte relevante” na regulamentação. A princípio, o horizonte é de 24 meses, quando a meta de 3% efetivamente seria permanente.

Mas a meta não é um artigo constitucional e pode ser mudada pelo CMN a qualquer momento e sem empecilho. É o que está posto em diversos outros trabalhos que já circulavam no meio acadêmico e no mercado.  O estudo que está abalando o sistema de metas, em síntese, é um documento de 67 páginas, que chama a atenção para um ponto relevante: o Brasil tem um déficit fiscal estrutural, portanto a definição da meta de inflação deve considerar sua tipicidade.

Ou seja: o “nível ótimo” de inflação depende de especificidades de cada país, tais como o grau de flexibilidade no mercado de trabalho e nível de fragilidade fiscal, dentre outros fatores. Essa mesma conclusão foi considerada pelos economistas Braulio Borges e Ricardo Barbosa, em artigo publicado no portal do IBRE/FGV, denominado “O debate sobre as metas de inflação no Brasil”.  Logo na partida, Borges e Barbosa mostram a que veio seu trabalho: “A definição de metas de inflação no Brasil nunca levou em conta estudos mais técnicos, envolvendo a chamada ‘Inflação ótima’ e avaliação crítica do desempenho de outros países emergentes com metas semelhantes”.

As armadilhas são muitas: uma delas é não dissociar o conjuntural do longo prazo, além de ignorar o déficit estrutural do país. Nessas condições, a meta deveria ser mais baixa, e, de qualquer forma, ser resultado de uma análise científica para sua definição. No atual modelo, ela criaria uma espiral permanente de juros altos, dívida pública crescente, atividade produtiva em descenso e inflação, mesmo no “horizonte relevante”, com o risco permanente de correr por fora da meta.

Não custa lembrar, que durante os quatro anos em que perdurou o teto de gastos, um regime de contenção inflacionária considerado draconiano, o Brasil não cumpriu a meta de inflação, mesmo ela sendo mais alta – primeiro de 4,5%, até 2018, e depois de 4,25% a partir de 2019. O paper que alicerça a provável mudança do regime de metas, segundou apurou o RR, é tido como inatacável e dá sustentação técnica para que o futuro presidente do BC, Gabriel Galípolo, se libere do engessamento à prática de juros altos. Para trazer os juros reais a um nível ainda alto, mas não indecente, seria necessário o equacionamento do déficit estrutural, o que é praticamente impossível fora de um prazo mais longo, dissociado do ditame conjuntural. No momento não há mais jeito a não ser engolir, possivelmente por mais alguns meses, o batráquio de juros de até 14% para alcançar uma meta ficcional de 3%.

O centro da meta sugerido não é nenhuma extravagância, mas um retorno ao 4,5% e 4,25% já praticados antes, podendo chegar a 6% se for considerada a banda de 1,5% para cima. O trabalho de Borges e Barbosa – e não o documento seminal que estaria sobre a mesa de Galípolo, um emaranhado de equações de matemática não linear – aponta que os 6% ainda seria uma inflação baixa para os padrões brasileiros. O IPCA médio de 1999-2022 foi de 6,4%, levemente fora da meta proposta.

Mas a mediana da inflação no mesmo período ficou em 5,9% a.a. Um dado curioso é que, segundo a metodologia de Korenok, adaptada pela MCM Consultores – um sistema que permite inferir a taxa de inflação causadora de maior ímpeto para indexação, sobretudo a gregoriana -, o IPCA seria da ordem de 3,7%, mais próximo de 4% do que da meta de 3%. Por enquanto, a política monetária é essa que temos. Mas já se vislumbra uma saída fora do túnel dos juros siderais

#Banco Central #Copom #Economia

Economia

A resposta mais importante sobre a política monetária não está na ata do Copom

7/08/2024
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A ata da última reunião do Copom – com um recado duro de que “caso julgue apropriado não hesitará em elevar a taxa de juros para assegurar a convergência da inflação à meta”, além da avaliação natural de que o cenário de risco para inflação mudou – traz interrogações sobre como será o comportamento do futuro presidente do Banco Central e a efetiva autonomia que o mandatário terá à frente da autoridade monetária. Entenda-se autonomia como a redução das pressões do partido do governo, seus satélites e do próprio presidente da República, que se dedicaram a influir na condução da política de juros atacando duramente o atual presidente do BC, Roberto Campos Neto. Não resta dúvida que este último abusou da sua independência, politizando sua função e desafiando gregos e troianos em relação a sua força no cargo. Campos Neto foi sendo minado por sua arrogância e por ser considerado um resquício do “bolsonarismo” no governo. Mas ele já é uma carta fora do baralho. Todos os olhos agora miram sobre quem será o nome do futuro titular do BC, que já pode emplacar antecipadamente em setembro, caso Campos Neto decida jogar a toalha antes do prazo estipulado para o fim do seu mandato, às vésperas do Ano Novo.

O placar para o futuro sucessor de Campos Neto está em 90% a favor do atual diretor de política monetária, Gabriel Galípolo, que já posa como presidente do BC, participando de reuniões na alta cúpula do governo. Em junho, encontrou-se com Lula, Fernando Haddad e a secretária executiva do Gabinete Civil, Miriam Belchior, para uma conversa sem agenda previa. Campos Neto nunca teve essa regalia. Mas tudo isso são prolegômenos. A interrogação que se alevanta é até que ponto Galípolo será um “Henrique Meirelles” ou um “Alexandre Tombini”, o presidente frágil da gestão Dilma Rousseff. Caso venha a ter a autonomia de Meirelles, o que é difícil na versão Lula III, Galípolo receberá carta branca para exercer a autoridade monetária sem tomar pitos do chefe da Nação, e do próprio ministro da Fazenda. Verdade seja dita que Haddad reclama de Campos Netto com fala mansa, mais por estar obrigatoriamente alinhado com Lula. De qualquer forma persiste a dúvida: Galípolo terá a prerrogativa de ser um hawkish ou um dovish, com decisões mais técnicas, ou será um títere a serviço do interesse político do Planalto? O que também não é improvável.

Dos tempos de Henrique Meirelles, nos governos de Lula I e II, muita coisa mudou. A começar pela garantia de permanência de Meirelles no cargo dada junto ao governo norte-americano, conforme é público e sabido, devido às negociações em missivas trocadas entre o empresário Mário Garnero e o então vice-presidente dos EUA, Dick Cheney. A reunião articulada para que fosse escolhido um presidente do BC com a benção norte-americana foi conduzida por José Dirceu. Está tudo documentado. Desse encontro saiu confirmado o novo titular da autoridade monetária: o primeiro CEO brasileiro de uma instituição bancária dos EUA, Henrique Meirelles, então à frente do First Boston. Meirelles atravessou os dois governos Lula com liberdade para o manejo da Selic, sob o silêncio de seu chefe. Ganhou todas as paradas, a exemplo dos adversários Carlos Lessa, presidente do BNDES, Guido Mantega, ministro da Fazenda, e Dilma Rousseff, em sua passagem pela Casa Civil. É verdade que havia um risco iminente de ataque especulativo, e Meirelles serviu, no mínimo, para mitigar essa situação. Mas e Galípolo?

O candidato mais bem situado para exercer a presidência do BC, por enquanto, é uma falsa incógnita. Ele sai da cota direta de Fernando Haddad, o que já é um hedge em relação ao fogo cruzado que aos poucos foi encurralando Campos Neto. Os primeiros movimentos de Galípolo nas reuniões do Copom foram um passo para lá e dois para cá. Logo na entrada, divergiu da maioria do Colegiado e apoiou um ciclo de redução das taxas de juros. Nas duas últimas, mudou de opinião, já como virtual presidente do BC, votando com o colegiado para a suspensão desse mesmo ciclo. Lula parece ter arrefecido sabendo que as pancadas sobre Campos Neto já eram letra morta. A Selic estava de novo pronta para subir. A decisão do Colegiado é que a política monetária está há um triz de endurecer. A inflação bate na porta, e todos sabem disso. A tese que circula dentro do próprio Banco Central é que a elevação dos juros teria um impacto menor sob as eleições municipais – essa variável não dita certamente está no balanço de riscos do BC -, uma vez que o desaquecimento da economia somente se daria cerca de seis meses após o aumento da Selic. Ou seja: em 2025. Fora o fato de que a economia estar bombando com um PIB mais alto do que as previsões do mercado já estar encomendado. Até aí nada de novo.

Os analistas de mercado já esquartejaram o assunto post factum. Há um ponto que faz diferença: no próximo ano, o colegiado do BC será quase inteiramente de Lula. Portanto, as decisões de Galípolo serão ainda mais concentradas na sua pessoa. De antemão, pode-se prever que a comunicação do BC vai mudar, com empenho para que o mercado compre a meta contínua de inflação, que vigorará a partir de 2025. A medida relativiza o calendário mensal de aferição da meta de inflação. O verdadeiro índice somente será apurado em 24 meses ou 36 meses – ainda em discussão – a partir de janeiro do próximo ano. Galípolo já deu sinais de que não mexerá na meta permanente de 3% de inflação. Defendeu a medida no passado, mas as circunstâncias mudaram. Alterar a meta seria um choque de falta de credibilidade logo na partida.

Galípolo entrará no BC com muito mais facilidades do que Campos Neto desde a aurora da gestão Lula III. Mas para ser um Meirelles faltam ainda demonstrações efetivas de independência. A começar por como administrar politicamente – o BC inteiramente técnico é balela – a preferência de Lula quando o trade off de juros altos ou atividade econômica bombando for a decisão da vez. A voz rouca da ata do Copom insinua que isso pode acontecer bem mais rapidamente do que se esperava nesses últimos seis meses de Campos Neto como presidente do BC.

#Banco Central do Brasil #Campos Neto #Copom

Economia

Declaração de Lula cria uma unanimidade de festim no Copom

20/06/2024
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O voto consensual do colegiado do Copom foi mais de ordem psicológica do que por convicção monetária. Os membros do Comitê deram uma prova de que nem toda a unanimidade é burra, como dizia Nelson Rodrigues. O empurrão de Lula, com sua fala desembestada contra Roberto Campos Neto na última terça-feira, criou uma situação reversa a sua pregação. A instituição Banco Central, segundo um alto funcionário ouvido pelo RR, se sentiu ofendida como um todo. O mercado, por sua vez, tornou-se uma biruta de aeroporto, submetida aos ventos da especulação. Ontem, em um determinado momento do dia, dava-se como certo que Campos Neto pediria o boné antes do fim do seu mandato. No ápice do mau senso, cogitou-se que os nomes de Aloizio Mercadante, Guido Mantega, e, pasmem, Gleisi Hoffmann, substituiriam o atual presidente do BC, ou, o que é menos pior, mas igualmente ruim, que Mantega ganharia pelo menos uma diretoria do banco, logo mais à frente. Falou-se também em André Lara Resende e Persio Arida para a titularidade do cargo – como o RR informou ontem à tarde. Enfim, o mercado tornou-se uma sopa pedaçuda, no estilo português, com um monte de legumes, cortados de forma disforme e boiando no caldo.
A decisão unânime de manter a Selic no atual patamar não foi liderada por Campos Neto, mas pelos indicados pelo governo do PT. Todos concordaram em passar por cima do seu pensamento teórico sabendo que uma nova divisão do colegiado botaria fogo no mercado. A julgar pela manhã de hoje, essa “pax monetária” circunstancial surtiu efeito. O dólar é negociado a R$ 5,42, queda de 0,24%. Por sua vez, a taxa do contrato de DI para janeiro de 2025 está em 10,61%, contra 10,67% no fechamento de ontem.
Nesse cenário, a conclusão é que ou Lula é um disparatado que mete seu bedelho em tudo ou é um gênio da psicologia. Fala uma coisa com a qual não concorda para que seus dizeres façam ela vingar ou erra mesmo por falar pelos cotovelos. Os juros ficaram onde estavam. Mas isso não quer dizer que essa unanimidade não possa ser efêmera. Aguardemos a próxima reunião do Copom.

#Banco Central #Copom #Lula

Destaque

Tensão do mercado às vésperas do Copom está exageradamente “inflacionada”

18/06/2024
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A reunião do Copom, hoje e amanhã, terá como som de fundo o vozerio do mercado em favor da interrupção do ciclo de queda da Selic. A percepção, no entanto, é que os agentes financeiros estão contaminados por um estado de aflição exagerado. Além do frenesi com o resultado primário – que, conforme o RR já disse, se sair da meta, será por poucas casas decimais -, o gatilho da vez é o receio de um repique inflacionário.

Um temor que parecer ter um componente psicológico maior do que os fundamentos. De janeiro até o momento, a projeção do Boletim Focus para o IPCA jamais ultrapassou o intervalo de tolerância da meta fixado para este ano, de 4,5%. Na edição mais recente, divulgada ontem, em meio ao pessimismo que assola o mercado, a estimativa é de um índice de 3,96% neste ano. Nas últimas quatro semanas, já com todo o nervosismo provocado pela catástrofe do Rio Grande do Sul e seu potencial de pressão sobre os preços, a previsão do Focus para o IPCA deste ano subiu apenas 0,16 ponto percentual. E as instituições financeiras estão longe de poder evocar para si a prerrogativa da infalibilidade quando o assunto são projeções econômicas.

A primeira edição do Boletim Focus de 2023,  por exemplo, projetava um crescimento do PIB de 0,78%. O resultado foi “apenas” 2,9%. As projeções para o IPCA também já foram motivo de picos e vales, dependendo do humor das instituições financeiras. O dado curioso é que na grande maioria das vezes, o coeficiente de dispersão é mínimo. É como se todos os agentes do mercado, os disseminadores das intituladas expectativas racionais, pensassem de forma igual naquele momento.

Sempre haverá a alegação de que o mercado trabalha estritamente com o centro da meta, de 3%, sem margem de tolerância. Pode ser. Mas o descumprimento do target está longe de significar o fim do mundo. Até porque, se significasse, o mundo já teria sido “extinto” diversas vezes. Desde que o sistema foi implantado pelo Banco Central, em 1999, ou seja, em 25 anos, a inflação rompeu o intervalo de tolerância em sete anos – 2001, 2002, 2003, 2015, 2017, 2021 e 2022. Nesse quarto de século em que o inflation target está em vigor, o centro da meta somente foi atingido seis vezes, três delas nos governos Lula. Em alguns casos, o teto não foi furado; foi demolido.

Em 2002, por exemplo, último ano de mandato de FHC, o IPCA bateu em 12,53%, sete pontos acima do limite máximo de 5,5%. Em 2015, primeiro e último ano completo do Dilma II, a inflação chegou a 10,67%, para um índice de tolerância de 6,5%.

Em relação a 2024, a Fazenda e o Banco Central ainda teriam uma carta-trunfo para usar, se necessário: o expurgo da catástrofe gaúcha do IPCA – conforme o RR noticiou ontem. Mas, a não ser que as chuvas do Sul atinjam a autoridade monetária, é uma carta na manga que vai continuar na manga. Seria mais fácil Roberto Campos Neto deixar o BC antes do fim do seu mandato.

#Copom #IPCA #Lula

RR Destaques

Apostas e consequências do Copom

7/05/2024
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No que tange às expectativas econômicas, todos os olhos estarão voltados, amanhã, para o resultado da reunião do Copom.

 

É a primeira vez, desde o início da queda na Selic, em que a decisão do BC parece tão em aberto – e com apostas oscilando.

 

Levando-se em conta a curva de inflação no Brasil, os últimos dados dos EUA, e certa estabilidade – até onde isso é possível, no cenário atual – no que se refere aos conflitos geopolíticos, um novo recuo de 0,5pp parece muito plausível.

 

Influenciaria esse horizonte, também, a possibilidade de acenar mais claramente para uma desaceleração, daqui para a frente, ao mesmo tempo:

 

Evitando um novo embate com o governo, de imediato, e dando tempo para os planos de Haddad;

 

Indicando atenção e monitoramento da situação e, nesse sentido, “escalonando” o movimento sem deixar as mãos amarradas até frente à necessidade de ações mais bruscas.

 

Essa projeção, entretanto, está longe de ser uma certeza. Um corte de 0,25pp também está – e muito – no radar. Representaria uma demonstração – ou assim seria interpretada- de insegurança com a situação internacional, sim, mas inevitavelmente associada a preocupações fiscais.

 

O resultado político? Especialmente em uma decisão dividida, de novo round com o Planalto e o PT, e abertura definitiva de especulações sobre o substituto de Campos Neto.

Os próximos passos no Sul

 

 

Em meio ao aprofundamento da calamidade no Rio Grande do Sul, o governo federal mantém reação que contém seu desgaste – inclusive nas redes.
Mas a transição do modo emergência para a busca por culpados, na mídia e no mundo político, avançará a passos largos nos próximos dias.

Indicadores

 

Saem amanhã, no Brasil, a Pesquisa Mensal de Comércio de março (IBGE); o IGP-DI de abril e o IPC-S 1a quadrissemana de maio.

#Copom #Selic

Economia

Haddad ataca os juros com violência porque vê risco de resiliência no Copom

31/07/2023
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Entende-se a mais nova e aguda pressão do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre o Banco Central – e não só sobre Roberto Campos Neto –, defendendo uma queda da taxa Selic de 0,5 ponto percentual em cada reunião do Copom, até o final do mandato do presidente do BC, em novembro de 2024. Essa repetição corresponderia a 11 reuniões seguidas de revisão da Selic em 0,5 pp – ou algumas com menos e outras com 0,75 pp. A cobrança sobre Campos Neto diminuiu, porque ele tinha um significado simbólico maior – vinha do governo Bolsonaro. Haddad sabe que quem fixa os juros é o colegiado de 11 membros do Copom. O Comitê, aliás, se reúne nesta quarta-feira. Provavelmente já com a presença de um diretor de política monetária (segundo cargo mais importante do BC) de inteira confiança do governo.  O colosso de Rhodes da redução dos juros que o ministro defende é uma queda consecutiva da taxa neutra da Selic, aquela que mantem a inflação na meta, em 0,5 pp a cada mês durante 10 meses. 

Haddad pressiona porque está pressionado pelo novo arcabouço fiscal, ainda não aprovado pelo Senado. E na eventual resiliência do Copom em reduzir a taxa residualmente (de acordo com pesquisa do jornal Valor Econômico de hoje, 64% das instituições financeiras em uma mostra de 84 casas bancárias, projetam um corte da Selic de apenas 0,25%). Cabe lembrar que, nas últimas 182 reuniões do Copom, desde 2022, só houve um máximo de 3% de divergência nos votos da diretoria para fixação da taxa. E mais: o Boletim Focus, em sua última edição, ainda cravava uma Selic de 12% em dezembro deste ano. Um espanto! 

Com juros altos, a economia tende a arrefecer o ritmo de crescimento. Com um crescimento menor, a arrecadação cai. Se não arrecadar, Haddad não gasta o limite que está previsto nova regra fiscal. E se não gastar o que está previsto, não atinge, exceto fatores atípicos ou acidentalidades, um PIB maior, principal variável que lhe permitirá um ciclo virtuoso da economia, até 2026. Não custa rememorar o imbricamento entre o resultado primário, a liberdade de gastos e o PIB.  

Segue a cartilha: “O resultado primário agora tem de estar contido dentro da banda de 0,6% e 2,5%. Sempre que ele crescer dentro da banda estabelecida, ano seguinte, o crescimento real da despesa será igual a 70% do crescimento real da receita primária, acumulada em 12 meses até junho. Se, por acaso, o resultado primário ficar abaixo da banda inferior da meta, o crescimento do teto no ano seguinte ficará limitado a 50% do crescimento da receita, também limitado a um crescimento real mínimo de 0,6% ao ano e máximo de 2,5% ao ano. Para concluir, suponha que o crescimento real da receita foi de 2,5%. Caso cumprida a meta de superavit primário, o aumento real da despesa poderá ser no máximo 1,75%. Se o superavit não for cumprido, o governo poderá gastar no máximo 1,25% a mais que a despesa do ano anterior”. São dados extraídos do PLP 93/203, substitutivo aprovado pela Câmara dos Deputados.  

Mas voltemos à noite dos desesperados. Haddad sabe que entramos em um regime de deflação e que se os juros, causadores desse regime, caírem de forma expressiva comprimirão a atividade produtiva em 2024, provavelmente jogando o PIB de 2% já contratado para este ano (o Focus prevê 2,24%; a maioria das casas bancárias já projeta de 2,5% para um pouco acima; e o FMI já crava 3%) para aquém de resultados até mais auspiciosos. 

Não há dúvida que trabalhar com projeções é dançar no escuro. O Banco Mundial, por exemplo aposta em um PIB de 1,2%, neste ano e 1,4%, em 2024. O Copom, que previu 0,02% para o índice do Produto, já subiu para 1,3% do PIB. Ainda há casas bancárias que acreditam em um PIB inferior a 1%. Vá lá que entre os pessimistas lúgubres e os otimistas que querem ser mais felizes que todos, haja um intervalo razoável. Mas alguma estimativa sempre surge e, mal ou bem, é necessária como balizador. É como se fossem as marés. O RR se sente confortável em manter sua previsão de pouco acima de 3%, tendo em vista que há mais de 45 dias previu que, em 2023, um PIB de 3% já estava no radar.  

Em 2024, contudo, o buraco pode ser bem mais embaixo. O longo período de juros na faixa de 13,75% deve se demonstrar na sua plenitude a partir do segundo semestre do ano, invadindo 2024. O estágio de deflação em que o país se encontra é um motivo para preocupação em relação a atividade produtiva. A deflação é sempre uma antessala de queda do Produto. Lula quer esfregar na cada da oposição que os números positivos de 2023 não são obra da captura do último ano da gestão Bolsonaro, ou, seja lá, Paulo Guedes. E o presidente não quer a mesma folha de jornal do último ano de Bolsonaro para esfregar na sua própria cara se o resultado de 2024 for a metade, para dizer o mínimo, da performance de 2023.

Neste ano, praticamente todos os indicadores serão superiores à média do governo Bolsonaro (é claro que tem de se levar a consideração os efeitos da pandemia). Nesse caso a recuperação deste ano, poderia se dever mesmo à política acertada de Bolsonaro em 2022, um ano de aperto que teria deixado “uma herança positiva”, de assunção dos sacrifícios que antecedem a bonança. De uma forma ou de outra, Lula está meio que recuperando um conceito criado pelo falecido e saudoso Raphael de Almeida Magalhães, em artigo na antiga do Conselho Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CBDES): o development target. Ou seja: o PIB seria o sol.  De acordo com o atual arcabouço fiscal, depende do maior ou menor crescimento do PIB a maior ou menor arrecadação fiscal, que permitirá o maior ou menor gasto, que, por sua vez, permitirá ao Brasil ingressar em um ciclo virtuoso de expansão da atividade econômica com inflação baixa. Esta última, é claro, se não tivermos novamente um BC tétrico, verdade seja dita, com uma política fiscal que não conseguiu cumprir sua meta de compressão dos gastos uma única vez.

#Banco Central #Copom #Fernando Haddad #PIB

Destaque

Copom: contagem regressiva para a queda da Selic

25/07/2023
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Ai, ai, ai, ai, está chegando a hora… A marchinha bem que poderia ser trilha sonora de Roberto Campos Neto, nesses momentos de muitas críticas e poucos elogios. Ainda mais agora com a proximidade da reunião do Copom da próxima semana, quando é praticamente certa a decisão de baixar a taxa Selic. O mercado apostava em uma queda de 0,25 p.p. Depois, seguiu a onda da pressão baixista, com as estocadas violentas do Planalto e da Fazenda, mudou o eixo e ajustou o sarrafo para uma redução de 0,50 p.p. O que deve vir mesmo, talvez com viés de baixa. Ontem, já não eram poucos os que apostavam em uma queda de 0,75 p.p. Ora, o declínio não será tão alto nem que a vaca tussa. Primeiro, porque, se desabar a taxa dessa forma, Campos Neto vai assinar o recibo de que o BC é independente para a torcida do Flamengo, mas não para Lula. Segundo, porque estaria praticamente confirmando que vem uma recessão pela frente. Terceiro, porque não fazem parte da cartilha do BC movimentos tão bruscos que deem margem a segundas interpretações muito além das declarações e atas do banco.  

Campos Neto é uma espécie de Alexandre Tombini às avessas. Tombini jogou a Selic para as profundezas dos 2% e manteve o que não deveria ter executado mais tempo do que devia. Campos sofre do mesmo mal com sinal contrário: mandou a Selic para a estratosfera dos 13,75% e hibernou em cima da taxa. O RR já disse que, no fundo, no fundo, Campos Neto não tem toda essa culpa. Na fixação da Selic, vale a decisão de cada um dos nove diretores do colegiado do Copom. Todos os votos têm o mesmo peso, todos os diretores são indemissíveis, todos aprovados pelo Congresso Nacional. Sabe-se oficialmente que quase não há divergências nas tantas reuniões do Copom na fase Campos Neto. Mas o RR desde já sorri com a crescente possibilidade de uma Selic na faixa de 11% ou menos em dezembro. Cravou a taxa quando todo mercado duvidava. O Boletim Focus ainda insiste em uma Selic de 12%. Só não desdenhamos porque entendemos a lógica cheia de hedge das instituições financeiras e o regime do inflation target. Mas nosso “departamento de research mega heterodoxo” é afiado. 

#Banco Central #Copom #Lula #Roberto Campos Neto #Selic

Economia

O jeito vai ser mexer na meta de inflação

4/05/2023
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A manutenção da taxa Selic em 13,75%, na reunião do Copom ontem, deixou a equipe econômica e os próceres do PT em estado de ebulição. Havia a expectativa de que, com o anúncio do arcabouço fiscal, o BC reduzisse a Selic, ao menos, em 0,25 ponto percentual. Seria uma sinalização não só de ajuste fino na política monetária, mas também de harmonia entre as diversas áreas da gestão econômica. Mas o comandante da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, permaneceu resiliente na manutenção dos juros nas alturas. O argumento de Neto é o clássico: a inflação está empinada e o balanço de riscos permanece preocupante. Ontem, no dia do encontro do Copom, o Fed aumentou em 0,5 ponto os juros, o que representa a maior majoração em 22 anos. A medida colocou fermento da decisão do BC em manter a Selic nas alturas. O Boletim Focus da última terça-feira acusou um pequeno crescimento da estimativa para a inflação de 6,4% para 6,5%. Uma projeção que não ajuda a redução da taxa básica.

A questão, contudo, é que a equipe econômica considera a Selic de 13,75% mais tóxica à atividade produtiva do que eficiente no combate da inflação. Ou seja: em um horizonte longo, capaz de prejudicar a evolução do PIB, a inflação não caberia dentro da meta. O limite inferior da meta é de 1,75% e o superior, 4,75%. Segundo o BC, a chance de a inflação oficial superar o teto da meta em 2023 é de 83%. A projeção do mercado para a inflação de 2024 também está acima do centro da meta prevista, fixada em 3%, mas ainda dentro do intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual. O tira-teima será em junho, na reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN). Se o BC continuar jogando duro, Fernando Haddad e Simone Tebet, que formam a maioria do CMN, deverão aumentar a meta para 4% a 4,5%, mantendo a banda de 1,5% para cima e para baixo. Aí os juros caberão no intervalo ampliado. E quem sabe a inflação começará a cair ainda em decorrência da inercia do aperto monetário.

#Copom #PIB #Roberto Campos Neto #Selic

Economia

Enquanto isso, a economia não ata nem desata 

28/03/2023
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A ata do Copom justificando a manutenção da Selic devido a uma inflação resiliente de demanda vai contra o diagnóstico do governo Lula e do PT. Não há um ministro que concorde com a política monetária. O comportamento de Roberto Campos Neto, por sua vez, demonstra que ele prefere cair atirando. É como se o Brasil tivesse virado massa de manobra dos dois grupos. O governo está rubro de raiva com a conclusão da Ata de que não há relação direta entre a redução da inflação e a mudança da nova regra fiscal. Ora, até agora o que se dizia é que o novo arcabouço teria impacto sobre as expectativas inflacionárias. A Selic em si – seja 0,25 ponto para lá ou para cá – não é o que fará diferença nessa contenda. Da parte do governo, ela é o motivo encontrado para detonar Campos Neto, uma escolha de Paulo Guedes na aurora da gestão Bolsonaro. Mas Lula, nas internas, está menos preocupado com o resquício bolsonarista. Toda a pressão contra Campos Neto gira em torno da realização de uma política monetária rebelde.

O senhor das armas dessa nova política monetária e obsessão de Lula chama-se André Lara Resende. O presidente quer um “Plano Real para os juros”. Já Campos Neto segue a cartilha ortodoxa avalizada pela mercado, sua âncora no BC. Não há meio termo nessa disputa. Cada um está enxergando o que quer ver e não a realidade dos fatos. A verdade é que esse contencioso somente atrapalha a formação de expectativas. A redução dos juros não está isolada na pauta. O argumento que Campos Neto não toma decisões sozinho, mas junto a um colegiado de nove técnicos, não cola. O presidente do BC obviamente tem uma enorme influência sobre o veredito em relação ao movimento da Selic. O centro da questão é se a cabeça da autoridade monetária vai rolar. E quando. E como. Até lá os juros alimentam a picuinha.

#Copom #Selic

Vai ser muito difícil o Copom resistir

24/08/2021
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O governo está sendo vítima de um ataque especulativo. O mercado tem pressionado de todas as formas para elevar a taxa de juros a níveis não previstos pelo Copom ou pelo próprio boletim Focus. As previsões de que a Selic terá um aumento de 0,75 ponto percentual ou de um ponto percentual na próxima reunião do Comitê, em 21 e 22 de setembro, estão sofrendo uma verdadeira avalanche de avaliações negativas da conjuntura, que indicam o objetivo de uma correção da taxa básica em 1,25 ou 1,5 ponto percentual. Os números da economia pioraram, mas nem tanto assim.

O déficit fiscal no próximo ano será bem menor e ficará em pouco menos da metade da meta original. A arrecadação vai continuar subindo ou, pelo menos, se manterá em níveis altos. Apesar das variantes do coronavírus e dos temores de uma nova onda de contágios, a pandemia vai arrefecer até o fim de 2021 ou no mínimo o início de 2022. Os ventos lá de fora podem não ser os melhores, mas a economia mundial continua crescendo. A sinalização do BC é de que ele recolocará o IPCA na meta em 2022. As instituições financeiras não acreditam na autoridade monetária, cuja gestão era considerada próxima do estado da arte. E enxergam o IPCA fora da meta neste e no próximo ano.

O PIB vai cair um pouco em relação ao previsto. Mas, no máximo, encolhe para 2% em 2022, um número que já era tolerado pelas casas bancárias antes do pequeno apocalipse. Quanto às reformas, as dificuldades já eram previstas. E não existe nada tão horroroso quanto o auge da pandemia. O que pode se argumentar é que os precatórios de Paulo Guedes, as diatribes de Jair Bolsonaro e a percepção de crescimento eleitoral de Lula estão excitando o mercado. Tudo bem. Mas, esses fatos não sustentam um cenário desastroso para os fundamentos econômicos. Barbeiragem foi lá atrás, quando o BC reduziu as metas de inflação, dificultando seu alcance em um previsível ambiente conturbado. Agora, o neoliberalismo engaiolado pelo mercado vai sofrer com a histeria por juros lá nas alturas. Até a próxima reunião do Copom, os vocalizadores das instituições financeiras falarão sem parar sobre a falta de fôlego fiscal, inflação fora de controle e a “política monetária dovish” do Banco Central. Na prática, é bem menos do que dizem.

#Copom #Paulo Guedes #PIB #Selic

“Juros quebrados” podem ser a novidade na régua do Copom

22/10/2019
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O Banco Central pode baixar um tantinho a mais a taxa Selic nas reuniões do Copom de 29 e 30 de outubro e 10 e 11 de dezembro. O BC está diante da chance de criar em definitivo um novo ambiente da política monetária, no qual a taxa  básica de juros passa a ter uma influência mais vigorosa na formação de expectativas. Esse tantinho a mais na variação dos juros sinalizaria também um novo padrão de correção da Selic, com percentuais menores em vez de números “redondos” – 0,25, 0,50, 0,75 e 1 ponto percentual.

Inflações baixas requerem variações com “números quebrados”, ou seja, correções com frações menores, seja para cima ou para baixo. A última vez que o BC corrigiu a taxa com “número quebrado” – digamos assim – foi em 19 de março de 1997, reduzindo a Selic de 1,62% para 1,58%. Esta taxa foi mantida pelas seis reuniões seguintes do Copom, até que, em 22 de outubro daquele ano, caiu para 1%. O BC poderia fixar a Selic de dezembro em 4,3% ou 4,2%, ou seja, reduzi-la em mais 0,2 ou 0,3 ponto percentual, enquanto a mediana do mercado, segundo o boletim Focus, é quase unânime na previsão de uma taxa de 4,5%.

As condições para uma redução da taxa de mais 0,2 ou 0,3 pp, em termos do balanço de risco, são as mesmas, mas o impacto do tantinho sobre a formação de expectativas seria bastante expressivo, além de reforçar o discurso positivo do governo. Com a nova previsão do boletim Focus para o IPCA em dezembro (3,25 %), caso a Selic fosse reduzida para 4,3% em dezembro, por exemplo, a taxa de juros real cairia para 1,05%. Do ponto de vista do efeito sobre a dívida pública bruta, a redução em 0,3 ponto percentual significaria um abatimento de cerca de R$ 7 bilhões se a taxa fosse mantida por 12 meses, em valores correntes. Nada mau por um tantinho a menos de taxa de juros.

#Banco Central #Copom #Selic

BC mira juros reais de 1% no fim deste ano

17/09/2019
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A reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que tem início hoje, promete surpresa. Segundo o informante do RR, ao contrário da aposta do mercado, que está lacrando uma redução de 0,5 ponto percentual para a taxa Selic, o Banco Central baixaria os juros em 0,75 ponto. A medida seria tomada apesar das incertezas globais causadas pelo ataque a instalações de processamento de petróleo da Aramco na Arábia Saudita. Dessa forma, o BC reduziria a pressão sobre reuniões futuras do Comitê, antecipando, desde já, um corte maior da taxa.

A meta seria levar a taxa de juros real a 1% nos encontros de outubro e dezembro. Trata-se de um feito em termos de política monetária, mesmo levando-se em consideração que a conjuntura deixa poucas alternativas a não ser acelerar a queda do juro real. O aumento da aversão ao risco decorrente das rusgas entre Estados Unidos e China, a decisão do BCE de aprofundar a política de estímulo monetário, a situação dramática da Argentina, a resiliência das projeções do PIB em baixa e o efeito antecipado da disputa pela presidência em 2022 contrário a uma postura “hawkish” são algumas das peças do tabuleiro da política monetária. Existe no mercado, inclusive, quem acredite em uma taxa real de zero no início do ano que vem, medida draconiana que tanto pode ser compreendida com o propósito de estímulo monetário, como o de antever uma crise de grande proporção.

Neste ano, a meta de inflação é 4,25%, com intervalo de tolerância entre 2,75% e 5,75%. Em julho, a Selic caiu para o patamar de 6%, o mais baixo da sua história. Até o final do ano, os juros desceriam em 1,25 ponto, com a Selic chegando a 4,75%, o que corresponderia a uma taxa real de 1,2%, no fim deste ano, e de 0,93%, no término de 2020, confirmadas as previsões do Copom para um IPCA, respectivamente, de 3,54% e 3,82%. Se for confirmada a aterrisagem bem mais suave do BC, duas boas notícias podem ser dadas simultaneamente. A primeira seria o fim da era do “ilanismo” – neologismo alusivo ao ex-presidente do BC Ilan Goldfajn, que define uma política monetária com atraso para redução das taxas de juros. Ao mesmo tempo, o mago da ortodoxia, Paulo Guedes, que paira como um espectro sobre todas as áreas da política econômica, ressurgiria como a versão “dovish” da Escola de Chicago, ceifando os juros, por trás do biombo do BC autônomo.

#Aramco #Banco Central #Copom

Covardia monetária

30/07/2019
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O RR fez uma consulta ao seu “mini Focus” acerca da provável decisão sobre a Selic na reunião do Copom, que começa hoje. A maioria (60%) prevê uma queda de 0,25 ponto percentual. Outros 20% estimam que a taxa cairá meio ponto. E o restante, que ela ficará como está. Se o “Mini Focus” lacrar, será mais uma decepção com a política monetária. Há preços cadentes, capacidade ociosa e desemprego de sobra para que os juros caírem um ponto, dando uma sinalização vigorosa de busca do aquecimento econômico. O “Mini Focus” do RR é composto por 10 especialistas de instituições financeiras. Três deles são batata: dificílimos de errar.

#Copom #Selic

Copom cenográfico

18/09/2018
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A diretoria do BC pode combinar de fazer um piquenique no Lago Sul ou bater uma bola no Brasília Tênis Clube, hoje e amanhã. Nessas datas ocorrerá a reunião do Copom, que o mercado está chamando de “não evento”. Em meio aos folguedos poderiam liberar mais uma fatia dos depósitos compulsórios para mitigar a inadimplência.

#BC #Copom

BC dá ou desce?

29/05/2017
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No mercado, fala-se que o escândalo Temer colocou novamente em xeque a independência do BC. A piadinha é pesada: se o BC reduzir os juros até 1%, é autônomo; mais do que isso, é uma casa de cômodos da Presidência da República. O Planalto vazou nas mídias que Michel Temer pretende incluir no seu saco de bondades um corte da Selic de 1,25%, a ser aprovada na reunião do Copom, nos próximos dias 30 e 31.

#Copom #Michel Temer

Até onde o Copom irá?

22/02/2017
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O presidente Michel Temer, a maioria dos seus ministros e a quase totalidade da base aliada têm conspirado para que o Copom surpreenda a previsão de queda de 0,75 ponto percentual e reduza a Selic em um ponto, na reunião que termina hoje. É a única notícia, no curto prazo, capaz de iluminar um pouquinho o cenário sombrio que assola o país. Se o Copom não ceder, é prova de que não há nada que altere a lentidão da política monetária. Talvez Deus.

#Copom #Michel Temer

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