Economia

Arcabouço fiscal não cai no gosto do Banco Central

  • 26/05/2023
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O que os panos da diplomacia política de Roberto Campos Neto encobrem é a indisposição da grande maioria da diretoria do BC com o arcabouço fiscal. Os acenos simpáticos feitos por Campos Neto, ao dizer que a medida já representa um avanço, são salamaleques circunstanciais. Campos Neto e o colegiado rezam no altar de que a inflação é de demanda. O ajuste fiscal pelo lado do aumento da receita e com expansão permanente da despesa não resolve. Os “donos do BC” queriam um ajuste “colaborativo” através do corte de gastos. A contribuição do arcabouço nesse aspecto vai meio que na direção inversa do pensamento do colegiado da autoridade monetária.  

É claro que ninguém no BC acha ruim o fator previsibilidade, calcado em regras e compromissos. Mas pelo menos, por enquanto, a visão é de que a política monetária vai para um lado e a fiscal para outro. É o que o ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore chama de dominância fiscal. Ou seja: quando a Selic sobe, a inflação não cai, e o endividamento aumenta. O diacho de toda essa engenharia teórica é achar o ótimo das diversas metas: qual é a inflação “ideal”? Qual é o efetivo juro neutro? Qual é a relação dívida bruta/PIB que não afeta a percepção de solvência? Qual é o limite razoável para que os créditos direcionados não retirem a potência da política anti-inflacionária do BC? Qual é o ajuste fiscal colaborativo com a política monetária e vice-versa? Por isso, além das questões políticas, fica tão difícil baixar os juros. O maior nó do problema pode ser resumido em um axioma: a gestalt do BC é uma e a da Fazenda é outra. Nenhum dos dois concorda um com o outro.

#Roberto Campos Neto

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