Economia

O Banco Central precisa mesmo de tanto “disclosure”?

  • 10/05/2023
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Há uma máxima que qualifica o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto: ele é tão melhor quanto mais calado fica. O mesmo deveria valer para a diretoria do BC. O sempre agudo ex-economista chefe do Credit Suisse Nilson Teixeira chama a atenção sobre a quantidade de ruídos que as reuniões fechadas do colegiado com instituições financeiras cria, inevitavelmente, para mais ou para menos, na política monetária. Esse ano já foram 80 reuniões. Esses encontros são realizados a título de esclarecimento das decisões ou mesmo da visão prospectiva do BC. Mas não deixam de ser episódios desabridos de marketing dos bancos anfitriões dessas exibições e de trocas de informações entre a turma do BC, o dono da casa e os catadores das raspas e restos de tudo que foi dito. Atenção, não se trata de insider information, já que os dados e análises são democratizados junto a um grupo representativo do setor. Mas não deixam de ser “dicas” para uma casta que detém o monopólio da venda e compra dos ativos disponíveis no mercado.  

A tese de Teixeira é que a autonomia do Banco Central não coaduna com esse disclosure exclusivo para o sistema financeiro. Aliás, não carece de ter disclosure para ninguém. O RR tratou desse assunto no passado, fazendo um chiste sobre a euforia de André Esteves, o mais ativo dos banqueiros anfitriões, talvez só comparável ao banqueteiro João Doria, presidente da “empresa de relacionamento” Lide (https://relatorioreservado.com.br/noticias/andre-esteves-faz-suas-aproximacoes-sucessivas-com-o-governo-lula/). A banca, no fundo, está fazendo o seu papel: fuçar informações relevantes para precificar corretamente os seus ativos. Que talvez esteja fora do figurino é o pessoal do BC, que transformou o primado da política monetária em show off particulares em casas bancárias. Isso tudo atrapalha a boa discussão sobre o mérito do BC independente.

#Roberto Campos Neto

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