Política

Campos Neto e Aras são dois servidores em busca do seu “Dia do Fico”

  • 3/08/2023
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O que não são 24 horas na vida de um servidor público. A reunião do Copom, realizada ontem, com a redução de 0,5 ponto percentual na taxa básica pode ter redimido Roberto Campos Neto junto a Lula, Fernando Haddad e parte do PT, inclusive alguns dos seus membros mais raivosos. O imaginário slogan “Bota fé no Campos Neto, que ele passa para o lado de cá” teria um correspondente no “engavetador mor”, Augusto Aras, que tem “prestado serviços” a Lula, limpando sua barra até com o PT. Aras vem recebendo apoio a sua permanência de próceres, como Jaques Wagner e Rui Costa. O procurador geral da República tem detonado as bases da Lava Jato e acossado Jair Bolsonaro por todos os lados. São ações que calam fundo em Lula. Não há nada que tenha recebido o pollice verso do pragmático presidente como a dupla Lava Jato e Bolsonaro: estão condenados à “morte”. Aras tem pouco menos de dois meses para ser reconduzido ao cargo, período em que vence o seu mandato. Já Campos Neto tem 19 meses para criar fatos que o mantenham no posto.  

Ontem, Campos Neto foi um dos membros do Copom que deram a maioria apertada para que a Selic descesse em 0,5 ponto percentual – cerca dois terços do mercado apostavam em um corte de 0,25 pp –, votando em uma queda maior da juros. E mais: o Comitê deixou praticamente cravado que o ciclo de afrouxamento da política monetária já está decidido e que podem ser esperadas recorrentes reduções de 0,5 pp na Selic. Haddad já afirmou que gostaria de 10 quedas sucessivas de 0,5 pp nas próximas reuniões do Copom, de forma a chegar uma taxa neutra dos juros de 5%, obtendo sucesso em colocar a inflação no centro da meta de 3% ou mesmo pouquinho acima. O ministro da Fazenda falou, meio que assim sem motivo, que esse prazo de derrubada da Selic culminaria com o período de saída ou recondução de Campos Neto do comando do BC. O que quis dizer com essa associação é ambiguidade pura.  

Por um ângulo mais controverso, foi o “Campos Neto de Bolsonaro” que fez o “trabalho sujo” na política monetária para que Lula, com seis meses de governo, pudesse faturar a deflação e uma garantia de declínio firme da taxa de juros. Em agosto de 2021, o BC iniciou o seu longevo ciclo de aumento da Selic. O patamar de 13,75% durou de março de 2022 a junho de 2023. Foram 16 meses com os juros mais altos do mundo. Campos Neto enfrentou uma “inflação de pandemia”. Em um período de 12 meses desde o início da tragedia do coronavírus, o preço dos alimentos subiu 15% no país. Em São Paulo, o valor da cesta básica aumentou 29% devido aos efeitos nefastos do vírus assassino na economia. Com um afrouxo fiscal obrigatório devido à acidentalidade pandêmica, sobrou para segurar a inflação a política monetária, já que o câmbio sofreu pressão inclemente dos resultados excepcionais da exportação das commodities. Fazer o que nessa situação? – ribombava eufórica a Faria Lima.  

A crítica maior que se faz ao presidente do BC, que na verdade não deveria ser feita só a ele, mas democratizada entre os 11 membros do colegiado da autoridade monetária, conforme tem insistido o RR, foi manter por tempo demais os juros em 13,75%, segurando o PIB por mais tempo do que o necessário. Talvez vá colher uma deflação maior do que a recomendável, digamos assim, e a inflação negativa contrai o crescimento econômico. Há controvérsias em relação ao erro, porque o PIB deste ano, ainda sob o impacto do arrocho da política monetária na economia, vai crescer acima das expectativas.  

A especulação pró-Campos Neto e Aras é boa. Mas, contra a manutenção da dupla, contudo, há um trem petista vindo na direção oposta. Lula já demonstrou sobejamente que, se puder aparelhar os principais cargos da economia, fará as mexidas animadamente. Por outro lado, o próximo presidente do BC já está encomendado: Gabriel Galípolo, principal assessor de Haddad, foi conduzido a diretoria de Política Monetária – segundo cargo mais importante depois da presidência da instituição – com o intuito de substituir Campos Neto no final do seu mandato, em novembro de 2024. Mas se o BC entregar uma Selic de menos 0,75%, com voto favorável do atual comandante da instituição? E se houver uma composição para que Galípolo ocupe um outro cargo estratégico dentro do governo? E se votar pró-governo em outras decisões relevantes. E se a inflação ficar abaixo do centro da meta? Haddad disse que “o Brasil acordou mais aliviado com a queda da Selic”. Campos Netto também deve ter acordado melhor. Se 24 horas podem ser o tempo absoluto para um funcionário público, o que se diria de 570 dias.

#Augusto Aras #Roberto Campos Neto

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