As cartas dadas e não dadas da política monetária

  • 27/06/2022
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Está dado: o Banco Central não buscará o centro da meta de inflação de 3,50% em 2022, não por decisão de política monetária, mas porque é quase impossível. Está dado também que ele não mudará a meta de 3,25%, do próximo ano, caminhando para 3% em 2024. Roberto Campos Neto anunciou que buscará uma inflação pouco abaixo de 4%, em 2023. Portanto, circunscreveu, em parte, a política monetária ao acertar mais ou menos 0,1 ou 0,2 ponto percentual, digamos, em relação ao centro da meta.

Bem, está igualmente dado que os juros irão ficar em 13,75%, no mínimo, até o final de 2023. A Selic vitaminada tem como objetivo levar a inflação à meta aproximada de cerca 4% e não à onírica de 3,25%, no final do próximo ano, e mesmo de 3%, em 2024. Está dado da mesma forma que essa política monetária levará a um crescimento residual do PIB (entre 0% e 1%) ou mesmo a uma recessão (entre -1% a -1,5%), em 2023, preço da teimosia de não alterar o target de 4% a 4,5%, com bandas de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo.

Não está dado no balanço de riscos do BC que a antipolítica fiscal do governo Bolsonaro nesse final de mandato e na disputa eleitoral pode mandar às favas toda a estratégia monetária da instituição. Bolsonaro deve deixar um legado maior de desequilíbrio nas contas públicas, maltratando os bons números conseguidos na área fiscal até o primeiro trimestre. Não está dado no mesmo balanço de riscos que o teto de gastos, pelo menos com a atual arquitetura que conhecemos, está morto, mortinho, mortíssimo.

Não está dado, conforme as declarações de Roberto Campos Neto, que, em um eventual governo Lula, a independência do BC poderá depender da autoridade monetária cumprir seu duplo mandato, ou seja, controlar a inflação e cuidar do nível de emprego. Coisa que não está acontecendo. A PEC que concede a independência é a mesma que a retira. Não está dado que o eventual governo Lula terá dois integrantes no Conselho Monetário Nacional – o ministro da Economia, o secretário especial de Fazenda (o terceiro é o presidente do BC) – e poderá alterar a meta na hora que lhe aprouver. Melhor, portanto, mudar o target agora, com parcimônia e o manche na mão. Não está dado se Roberto Campos Neto está mais para Alexandre Tombini ou Ilan Goldfajn. As duas hipóteses não chegam a ser alvissareiras. Em breve, a história responderá essa e outras questões.

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