Agronegócio se une para impedir que o Cerrado seja a nova Amazônia

  • 4/09/2019
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O Ministério da Agricultura e grandes grupos do agronegócio estão  se unindo para evitar que a tentativa de colonização da Amazônia se repita em outro importante bioma brasileiro. Há uma mobilização para rechaçar a pressão internacional pela assinatura da “Moratória da Soja do Cerrado”. Trata-se de uma extensão do pacto firmado em 2006 por meio do qual as empresas signatárias se comprometeram a não comprar soja cultivada em áreas desmatadas.

Entidades da área ambiental e corporações internacionais de diferentes setores, que vão do McDonald ´s à Unilever, passando por Walmart e Tesco, cobram das tradings agrícolas um acordo similar para a aquisição de grãos produzidos na Região Centro-Oeste e no cinturão conhecido como “Mapitoba” (Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia). A imposição encontra uma forte resistência, que junta a ministra Tereza Cristina, os ruralistas e os grandes grupos que atuam na originação e na exportação da soja. Todos são ferrenhamente contra a “Moratória”. A avaliação é que o Cerrado não precisa de tal proteção, uma vez que as condições de preservação do bioma local seriam incomparavelmente melhores do que na Amazônia.

Além disso, há um receio de que uma iniciativa como esta coloque risco a economicidade da região responsável por mais de metade da produção brasileira de soja. No entendimento das autoridades do setor e da cadeia do agribusiness, em vez de funcionar como um atestado de boas práticas ambientais, a simples assinatura da “Moratória” já seria vista como uma mácula para o agronegócio do Cerrado, uma confissão ao mundo de que há problemas de maior dimensão na preservação do bioma local. O alarido em torno do Cerrado tende a crescer, no rastro do desvario que cerca a questão da Amazônia.

Além disso, recente estudo produzido por pesquisadores do Brasil, Estados Unidos, Áustria, França e Bélgica aumentou o frenesi em relação à região. Segundo o trabalho, publicado recentemente na revista Science Advances, sem a “Moratória da Soja no Cerrado”, cerca de 3,6 milhões de hectares de vegetação nativa da região serão devastados e transformados em área de cultivo de grãos ao longo dos próximos trinta anos. A ministra Tereza Cristina tem um papel fundamental neste enredo, não apenas como uma barreira às pressões externas, mas também como um algodão entre cristais no próprio agronegócio.

Vide o episódio recente protagonizado pela Cargill. Embora totalmente alinhada aos ruralistas contra a “Moratória do Cerrado”, a empresa causou polêmica recentemente ao anunciar a doação de US$ 30 milhões para a preservação da região. Acabou atiçando ONGs e entidades internacionais que se aproveitaram do fato para questionar as condições ambientais do bioma. A reação interna foi dura. Em um manifesto público, a Associação Brasileira dos Produtores de Soja recusou a “ajuda”, afirmando “não encontrar motivos que justifiquem a decisão”. Disse não haver qualquer ameaça ao bioma da região. A ministra Tereza Cristina interce- deu e evitou que o episódio ganhasse maior proporção.

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