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Os muitos contras que separam Alckmin do Ministério da Defesa

  • 14/01/2025
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O nome do vice-presidente, Geraldo Alckmin, que está no centro das especulações para ocupar o cargo do ministro da Defesa, Jose Mucio, provoca um sentimento de que “não é bem isso” no comandante do Exército, Tomás Ribeiro Paiva. Não que tenham ocorrido com Alckmin animosidades no passado ou desgastes no presente. O vice nunca ergueu a voz para criticar os militares.

Pelo contrário! Prestigia o estamento sempre que cabe na situação. Há ainda outras aproximações não transparentes. O vice-presidente é membro da Opus Dei, da qual fazem parte vários generais. Mas o momento não é bom para a indicação de Alckmin devido ao efeito de comparação.

O ministro José Múcio está no topo da aprovação pelos comandantes militares.  Durante todo o período recente de extrema fricção entre os Poderes e a corporação, Múcio foi um algodão entre os cristais. Alckmin é igualmente discreto e maleável. No entanto, não tem o mesmo aval conquistado junto às Forças Armadas por Múcio graças a um trabalho diuturno de esfriamento dos ânimos.

O atual ministro da Defesa já foi testado. Alckmin, por sua vez, assumiria em uma conjuntura mais tensa, com o risco de antecipação da campanha eleitoral, recrudescimento da polarização do país e mesmo uma pontinha de dúvida se a saúde de Lula é a mesma de antes.

A questão do orçamento também provoca coceiras no ouvido do general Tomás. Com José Múcio, aos trancos e barrancos, os recursos para as Forças aumentaram. Pouco, mas aumentaram. O vice não tem tido muito êxito em arrancar dinheiro para a sua pasta do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. O Ministério funciona mais como uma embaixada do que um efetivo órgão de Executivo. E o momento, por si só, já é um convite à austeridade.

Não faltam tecnoburocratas e políticos propondo tirar das FAs um quinhão para o ajuste fiscal. Dependendo do timing da Justiça, é provável também que Alckmin assumisse em meio a julgamentos, sentenciamentos e prisões de oficiais de alta patente. Um ambiente tenso por definição. Múcio já mapeou o caminho das pedras.

O atual ministro da Defesa é considerado entre os comandantes como o melhor “carteiro” que já passou pela Pasta. Tudo que falam chega ao conhecimento do presidente Lula. É uma linha direta que atropela qualquer outra instância, seja o Gabinete Civil, o GSI, o órgão que for. O comparecimento dos três comandantes das Forças Armadas mais o chefe do Estado Maior das FAs no evento do 8 de janeiro, ocasião em que os Poderes civis demonstraram descaso com a convocação de Lula – nenhum dos seus altos representantes esteve presente, – foi interpretado nas internas não somente como uma demonstração da liderança pacificadora do general Tomás, mas como uma condecoração ao ministro da Defesa.

Lula, com seu poder de convencimento, tentará atar e desatar todos os nós para que Múcio estenda o prazo de três meses que estipulou para deixar a Pasta. Ele parece irredutível. Se não houver lábia capaz de dissuadir o ministro da Defesa, no íntimo Lula gostaria que o próprio general Tomás fosse alçado ao cargo. Seria um justo prêmio para quem teve um notável papel de contenção dos comandos durante a fase golpista no fim do governo Bolsonaro.

Mas apenas gostaria. E olhe lá. Colocar novamente um militar no comando da Defesa, ainda mais com o episódio recente do general Braga Neto no posto, seria um tiro político no pé.

#Geraldo Alckmin #José Múcio #Ministério da Defesa

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