Petrobras vai na contramão da energia renovável

  • 19/05/2021
    • Share

Se depender do general Joaquim Silva e Luna, a preocupação da Petrobras com energia renovável será ainda mais tímida, segundo informações provenientes de setores da empresa. Silva e Luna deverá acentuar o distanciamento entre a companhia e a agenda ambiental. A administração anterior, de Roberto Castello Branco, já vinha cortando
os investimentos da Petrobras em novas fontes de geração. Quase ao fim da gestão, Castello deu uma guinada, anunciando aportes na área de pesquisa e desenvolvimento em energia verde. O então presidente da estatal já estava meio que convencido da necessidade de retomada de investimentos em fontes renováveis. Não deu tempo. Agora, especulase na companhia que o volume de recursos destinado às atividades de P&D poderá ser revisto.

Dentro da Petrobras, não há qualquer disposição de que o tema venha a ser tratado com algum destaque. O Plano Estratégico da companhia para o período 2021-2025 prevê um desembolso da ordem de US$ 1 bilhão em compromissos ambientais. A estatal, ressalte-se, divide esses investimentos em três rubricas – Inovação nas Operações, BioRefino e Competências para o Futuro -, mas não abre o valor discriminado por área. Nos corredores da empresa, a expectativa é de que a projeção total de gastos não será cumprida. O processo de alienação da Petrobras Biocombustível, em curso desde o ano passado, e as vendas de participações no segmento de energia eólica justificariam os novos cortes de recursos. Consultada sobre a possibilidade de revisão dos investimentos previstos no Plano Estratégico 2021 2025 para P&D em energia renovável, low carbon, bioprodutos e projetos compensatórios, a Petrobras não quis comentar. A estatal informou que sua estratégia é “maximizar valor por meio do gerenciamento ativo de portfólio, mantendo os investimentos em pesquisa e desenvolvimento de energia renovável”. Diz ainda que, “para investir nessas áreas no futuro”, planeja aportar “US$ 70 milhões/ ano em P&D para descarbonização e energias renováveis”. Trata-se exatamente do valor anunciado pela gestão Castello Branco em abril de 2020. Ou seja: a estatal continua onde estava há pouco mais de um ano como se o mundo não tivesse mudado – ou como se Joe Biden ainda não tivesse nascido.

Para muitos dentro da companhia, o general Joaquim Silva e Luna estaria refletindo a visão do presidente Jair Bolsonaro. Nessa toada, o governo está desperdiçando a oportunidade de criar uma Petrobras Energia, leia-se uma empresa com largura estratégica, presença nos mais diversos segmentos e, sobretudo, guiada por uma forte visão de futuro. Quando todos os grandes players do petróleo no mundo – entre os quais Total, Shell, BP – buscam diversificar seus negócios e olham para a energia verde, a estatal caminha na contramão. Não basta só descarbonizar. É preciso gerar novas fontes de riqueza. Ressalte que a Petrobras tem conseguido antecipar as suas metas de redução do passivo – somente entre março de 2020 e março de 2021, a dívida bruta caiu US$ 18,2 bilhões. A desalavancagem acima do previsto permitiria que algum quinhão fosse reinvestido em energia renovável.

#Petrobras

Leia Também

Todos os direitos reservados 1966-2024.