Comunicação da Vale esconde Fabio Schvartsman

  • 14/02/2019
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A orientação da área de comunicação da Vale ao presidente Fábio Schvartsman é “vamos submergir”. A ideia da companhia é ser mais reativa do que proativa nas notícias sobre Brumadinho, esconder-se dentro de si mesmo como um caracol. A Vale tentou a mesma estratégia quando da calamidade de Mariana. Não conseguiu porque a mídia e a sociedade não deixaram. Na ocasião, as ações de responsabilidade social foram acompanhadas com intensidade. Mas elas deixam como ensino que não basta atenção aos reparos do acidente. A temeridade está no não ocorrido, no desastre encoberto no porvir, em um outro Brumadinho.

O esboroamento da barragem da Vale superou a supertempestade Sandy, no oitavo lugar no ranking dos maiores acidentes por perdas de vida. Sandy, que devastou a Costa Leste americana, em 2012, deixou mais de 100 mortes. Brumadinho praticamente dobrou esses números. É preciso que se cobre a divulgação de cada detalhe do que a companhia está refazendo e ainda mais do que está prevenindo. Um site com o status diário das demais barragens não seria mal. A mineradora chegou a criar um portal exclusivo com a justificativa de atualizar as informações sobre Brumadinho e seus outros reservatórios. No entanto, o que se vê é pura advocacia de tese, notícias e vídeos postados pela companhia com o objetivo prioritário de promover sua autodefesa.

Não há menção às condições das demais barragens, muito menos a medidas que estejam sendo tomadas para evitar novos problemas, mas apenas uma compilação de dados genéricos extraídos de alguma apresentação institucional. O que se esperaria da Vale seria a realização de uma auditoria independente dirigida ao caso e aos riscos de sua repetição em outras barragens. Um benchmarking é a Petrobras. Por ocasião do rompimento do oleoduto n Baía de Guanabara, a estatal contratou a PwC para um projeto de quatro mil ações profiláticas, ao custo de US$ 4 bilhões, com o objetivo não só de pagar  uma dívida, mas de tornar-se uma referência para o mundo.

Um comparativo com a Petrobras: a Vale fez questão de divulgar como uma grande ação a montagem de um call center, com 60 profissionais de comunicação, a maior parte terceirizados, a título de gestão de crise. Serviu a quem faturou pelo trabalho de atender telefonemas e enviar mensagens prontas por computador. A Vale, por enquanto, não passa de um modelo de corporação especializada em desastres em barragens. Nas suas costas pesam mais de 180 mortes, computadas as duas tragédias. Cabe a ela dar garantias sobre o futuro. A Vale tem de falar muito, mas muito ainda. E é bom que melhore a gestão de barragens e a sua comunicação. O RR procurou a empresa em busca de um posicionamento. A assessoria da Vale informou que estava atendendo a várias demandas e que, portanto, não teria tempo de retornar. Apesar dos seus 60 atendentes de plantão.

#Fabio Schvartsman #Vale

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