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MRV bate de frente com seu “sócio majoritário”

  • 6/02/2013
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Talvez seja exagero dizer que a casa começou a cair. Mas Rubem Menin, dono da MRV, terá de recorrer a uma enorme engenharia institucional para evitar o desmoronamento da viga mestra de seus negócios: o relacionamento com o governo, notadamente a Caixa Econômica Federal, que se tornou uma espécie de sócia majoritária sem ações da empresa. A recente decisão da Caixa, acompanhada pelo BB, de suspender temporariamente os empréstimos a  companhia por conta das denúncias de trabalho escravo é apenas a parte mais visível deste processo de erosão. No altocomando da Caixa, a começar pelo próprio presidente, Jorge Hereda, há uma crescente dose de irritação e má vontade em relação a Menin e a  MRV. A ordem é não facilitar a vida da construtora. O motivo são os constantes atrasos na entrega de imóveis financiados no âmbito do “Minha Casa, Minha Vida”, potencializados pelas críticas do empresário ao governo. O desgaste nas relações entre a Caixa e a MRV teriam se acentuado desde meados do ano passado, quando o número de projetos em atraso começou a crescer. Há obras vinculadas ao “Minha Casa, Minha Vida” que já teriam excedido o cronograma em mais de dois anos. O problema se alastra por diversas regiões. Em São Paulo, a MRV se tornou uma das três construtoras com maior número de queixas registradas no Procon. No Rio Grande do Norte, a companhia foi condenada a pagar uma indenização de R$ 21 milhões a cerca de 700 clientes por atrasos na entrega de dois condomínios residenciais em Nova Parnamirim. A direção da Caixa tem feito pressão para que a MRV apresente um plano de medidas capaz de amenizar os atrasos e ajustar o cronograma das obras. Mas, até agora, nada. A insatisfação do comando da Caixa Econômica é proporcional ao peso da MRV no “Minha Casa, Minha Vida”. A empresa mineira é uma espécie de Atlas do projeto. Carrega sobre os ombros quase 400 empreendimentos. São R$ 6 bilhões em carteira. Significa dizer que, sozinha, a MRV responde por quase metade da soma dos contratos firmados pelas dez maiores construtoras participantes do programa habitacional. Mérito de Rubem Menin, que, além de sua competência técnica, soube se aproveitar das muitas estradas que pavimentou junto ao governo federal, especialmente a Caixa. Estradas que, agora, estão bastante esburacadas. Os atrasos no “Minha Casa, Minha Vida” não são exclusividade da MRV. Há construtoras participantes do programa em situação bem mais delicada. No entanto, além do peso da companhia no programa, outro fator tem ajudado a inflar o estado de exasperação da Caixa: a postura de Rubem Menin. Há meses, o empresário vem cobrando, em praça pública, a revisão da tabela de preços dos imóveis do “Minha Casa, Minha Vida”. Diante do seu comportamento, há uma pergunta que não quer calar em Brasília: “Logo ele, dono de uma construtora que, em alguns meses, chega a ter quase 90% da receita lastreados em obras com financiamento público, sobretudo no âmbito do “Minha Casa, Minha Vida”? Em tempos em que a memória da Delta vai tão recente, performance como essa da MRV, sem querer fazer comparações, merece uma lupa; justamente o que o governo está fazendo. Consultada pelo RR, a MRV informou que mantém “boa e longínqua relação com os órgãos do governo, sobretudo a Caixa Econômica”.Garantiu que “os atrasos que porventura ocorrem são pontuais e já estão todos endereçados”.

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