Acervo RR

Naquela mesa está faltando Antônio Ermírio

  • 28/11/2012
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Os olhos esmaecidos de Antônio Ermírio de Moraes não enxergam mais o Grupo Votorantim. O conglomerado industrial que tanto afagou sua autoestima dorme em algum lugar do passado. O Votorantim, símbolo do apogeu da empresa privada nacional, grandioso, afortunado, tornou-se um clone da espécie que tanto o aterrorizava em pesadelos: um balaio de gatos fabris enroscados em um avestruz financeiro. Antônio não se identificaria nadando em um mar de prejuízos, desprovido de um norte estratégico e sofrendo de tibieza gerencial. Isso não é o Votorantim. Antônio Ermírio não construiu Roma sozinho. Tinha o irmão, José, como alterego. Portanto, enquanto Antônio labutava nas fábricas e fazia o marketing do “lavora che ti fa bene”, Zé circulava entre a Fiesp e o BNDES. Mario Henrique Simonsen dizia que maior do que os negócios dos Ermírio de Moraes só os pedidos recorrentemente feitos pelos irmãos ao governo. Verdade seja dita: o saldo da colheita era uma safra de grandes indústrias e não uma touceira de títulos financeiros daninhos. Se estivesse no comando, Antônio Ermírio nunca teria deixado a aventura do Banco Votorantim chegar aonde chegou. Diria que o DNA do grupo não era o de financista. Na ocasião em que os herdeiros decidiram criar uma instituição financeira, foi voto vencido. Já não dava todas as cartas. Antônio Ermírio, no esplendor da sua maturidade, na década de 70, tratava bancos como quem caça ratos. Nesse período, uma pesquisa realizada pelo cientista político José Luis Mello, ouvindo a opinião dos empresários do setor real da economia a respeito dos banqueiros, deixou para a posteridade todo o desamor que ele tinha pelos “emprestadores do vil metal.” Depois da bonança, vieram os herdeiros e mais herdeiros, que já caminham para uma centena. Vale a ressalva de que essa plêiade interveniente foi se multiplicando sob a regência de José Roberto Ermírio de Moraes. Não se trata de procurar responsáveis. De alguma forma, todos fizeram o melhor e o pior pelo Votorantim. Mas os números teimam em afirmar que naquela mesa está faltando o comando dele. As cifras ofendem a biografia da família, a começar pelo desdentado Banco Votorantim. No início, até parecia um bom negócio. O banco galgou posições sucessivas no ranking. Mas Antônio Ermírio tinha razão. Entre janeiro e setembro, o prejuízo acumulado passa de R$ 1,6 bilhão. Somando- se o resultado de 2011, o buraco vai a R$ 2,1 bilhões. A Votorantim Industrial, xodó da família, também não escapou. Entre janeiro e setembro, teve lucro de R$ 198 milhões, uma queda brutal se comparado ao ganho de R$ 1,2 bilhão no mesmo período em 2011. Só a Fibria despejou nesta conta um prejuízo de R$ 750 milhões. O Votorantim continua sendo um portento e tudo indica que assim prosseguirá. Mas, se perguntassem a José Ermírio, irmão de Antônio, o que é bom, ele diria: “Cimento”, lembrando que o grupo já foi monopolista. E o que diria o próprio Antônio? “Alumínio.” Pode ser até que ele, cabeça de engenheiro, enxergasse o futuro em biotecnologia. Mas essa empresa, no caso a Canavialis, já foi vendida pelos herdeiros. A boa novidade é que a atual geração dos Ermírio de Moraes se conscientizou de que gestão não é sinônimo de consanguinidade. Está oxigenando o grupo com quadros de primeira linha. O RR tem informações de que o Votorantim promete dias de fartura para as empresas de head hunter.

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