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Totvs enfrenta um doce dilema societário

  • 11/06/2010
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Laércio Cosentino, controlador da Totvs, vive uma angústia que todo o empresário gostaria de sentir. De um lado, a opção de seguir como acionista majoritário da principal companhia de TI do país; do outro, a possibilidade de encher a bolsa com um caminhão de dinheiro e virar sócio minoritário de um negócio de proporções globais. Esta segunda hipótese é alimentada pelo crescente assédio da SAP e da Tata Consultancy Services (TCS), braço de tecnologia do grupo indiano. Ambas estão fechando o cerco a  Totvs na tentativa de selar uma associação. O modelo traçado pelas duas multinacionais é similar. Prevê a criação de uma nova empresa no Brasil, englobando os ativos da Totvs. Cosentino passaria a ter uma participação minoritária e seguiria a  frente da gestão executiva. A SAP tem mostrado um apetite maior. Não deixa de ser sintomático que, há cerca de duas semanas, em entrevista a jornalistas brasileiros, o CEO mundial do grupo norte-americano, Bill McDermott, tenha falado do interesse em firmar parcerias ou associações com empresas brasileiras de TI. McDermott falou no plural, mas pensava no singular. A olho nu, Cosentino está em uma posição privilegiada. A Totvs detém mais de um terço do mercado de TI e segue com sua política de aquisições de pequenas e médias empresas ? na semana passada, fechou a compra do controle total da TQTVD Software, da qual já detinha 55%. No entanto, em grande parte, o atual status da companhia é resultado de um cenário antigo, sem uma presença mais firme das grandes multinacionais. Além da própria SAP e da Oracle, que já estão há mais tempo no Brasil, nos últimos anos diversos pesos-pesados desembarcaram no país. É o caso justamente das empresas indianas, como Tata, Infosys e Wipro. Resultado: a Totvs, que já teve mais de 45% de market share, hoje gira em torno dos 35%. Cosentino vê crescer no retrovisor a própria SAP, com 26% do mercado. O pragmatismo de Laércio Cosentino não o deixa ter dúvida de que no final do túnel provavelmente estarão a SAP ou a Tata. Ao se unir a um gigante internacional, Cosentino blindará a posição da Totvs na liderança do setor. Na hipótese de uma associação com a SAP, por exemplo, passaria a ser acionista de uma empresa com faturamento anual de R$ 2 bilhões no Brasil, quase 60% de market share em alguns segmentos de atuação e mais de seis mil funcionários. Ao mesmo tempo, ganharia musculatura não apenas para comprar companhias de maior porte no país, mas também para disputar aquisições no exterior. Por outro lado, o apelo de ser o fundador do negócio o impele a ficar onde está. Cosentino nunca foi de rasgar dinheiro, mas quem resiste a um título nobiliárquico de empresário nacional emblemático. A possibilidade de ser conhecido como um barão da área de TI é um refresco para a auto-estima. O status de consolidador empresarial e de acionista majoritário tem lhe garantido portas abertas no governo e a promessa de muito estímulo financeiro. Não custa lembrar que o BNDES é acionista da Totvs, com cerca de 6% do capital. Em suma: em qualquer das hipóteses, Cosentino sai vitorioso. Se permanecer como majoritário de uma empresa nacional, receberá os louros da escolha. Caso decida se bandear para o lado dos gringos, ganhará os frutos da globalização.

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