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Militares lançam a “Operação, Fora Lula”

  • 4/08/2021
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Cada linha da nota conjunta publicada pelo Clube Militar, Clube da Aeronáutica e Clube Naval na última segunda-feira poderia ser reescrita com apenas oito letras: “Fora, Lula!” O gesto marca – ou reforça – o ingresso explícito das Forças Armadas na campanha eleitoral de 2022. O comunicado tripartite é uma demonstração cabal da unicidade entre militares da ativa e da reserva em prol da reeleição de Jair Bolsonaro e contra o “outubro vermelho”, como diz a referida nota. A “Operação Fora Lula” consiste em notas dúbias, que deixam no ar ameaças à própria democracia, e o endosso a teses de cunho eleitoral do governo, por mais deslocadas da realidade que elas possam ser.

É o caso da discussão em torno do sistema de votação. Em nome da reação ao “risco Lula”, o posicionamento conjunto dos clubes militares estabelece um cenário maniqueísta: voto impresso ou fraude na eleição e a consequente ocupação do Brasil pelo comunismo. Trata-se de uma premissa construída sobre areia. Como o voto impresso é uma nulidade, a esquerda, ao menos da forma como é vista e dita pelos militares, não existe, e o Lula “comunista” também não existe, só resta o golpe. Mas o golpe também não existe, a não ser no campo da retórica.

Os recentes comunicados da área de Defesa, tanto da ativa quanto da reserva, são meros instrumentos de dissuasão e de pouca efetividade (ver RR de 26 de julho). Podem, inclusive, ter um efeito contrário, ou seja, enfraquecer a imagem das Forças Armadas. No entanto, o que interessa aos militares neste momento é manter acesa a chama contra a volta de Lula. Ainda que de maneira informal, essas iniciativas são lideradas pelo próprio Bolsonaro, responsável por forjar discursos que, posteriormente, se espraiam e são repetidos pela cadeia de comando das Forças Armadas. Essa sintonia entre governo e os militares ficou transparente também na nota conjunta do dia 7 de julho, assinada pelo ministro Braga Netto e pelos comandantes das três Forças.

O comunicado, uma resposta a declarações do senador Omar Aziz, chamou a atenção pelo seu tom intimidador: “As Forças Armadas não aceitarão qualquer ataque leviano às Instituições que defendem a democracia e a liberdade do povo brasileiro.” Essa mesma afinação entre militares e governo pode ser vista na nota divulgada pelo ministro da Defesa, general Braga Netto, no último dia 22 de julho, quando o oficial fez uma desinibida apologia do veto impresso: “Acredito que todo cidadão deseja a maior transparência e legitimidade no processo de escolha de seus representantes no Executivo e no Legislativo em todas as instâncias”. De certa forma, é como se os comandos da ativa, por meio do ministro da Defesa, a quem são subordinados, tivessem se antecipado à posição dos clubes militares sobre o assunto.

Tudo com incontestável sonância. Segundo o RR apurou, a nota da última segunda-feira teria sido levada ao conhecimento dos comandantes militares antes da sua publicação, o que, aliás, é um procedimento absolutamente previsível, dada a importância do gesto e os vasos comunicantes entre oficiais da ativa e da reserva. Essa harmonia, ao que tudo indica, se aplica tanto à hora de vir a público quanto à de ficar em silêncio. O RR enviou uma série de perguntas ao Ministério da Defesa, ao comando das três Forças e aos clubes militares, mas nenhuma das instituições se pronunciou até o fechamento desta edição.

A posição anti-Lula das Forças Armadas é algo preocupante. A capacidade de interlocução entre o líder das pesquisas eleitorais e os militares parece cada vez mais difícil. Antes mesmo de encontrar seu ministro da Economia, Lula talvez devesse buscar um general para estar do seu lado e lubrificar o diálogo com as Forças Armadas. Ontem, em entrevista à jornalista Miriam Leitão, na Globonews, o general Santos Cruz se colocou à disposição para participar do processo político-eleitoral em 2022. Talvez fosse um bom nome para ministro da Defesa ou mesmo vice-presidente na chapa de Lula. Para a missão, somente um comandante para valer, que trocou tiros para libertar Goma, cidade do Congo, e teve seu helicóptero alvejado diversas vezes enquanto se deslocava pela região.

#Forças Armadas #Lula

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