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O ministro Paulo Guedes aquiesceu ao grito de todas as torcidas organizadas. Vai ter gasto público. Vai ter alguma política anticíclica. Vão ter medidas pró-consumo. Guedes topou soltar o dinheiro, mas em conta-gotas, para não atrapalhar o foco na reforma da Previdência e nem contaminar as futuras reformas tributárias e de transferência dos fundos federativos. Pode-se esperar a liberação de R$ 10 bilhões, R$ 15 bilhões ou R$ 20 bilhões em tranches sempre irregulares. Nenhum programa, pacote ou plano de ações. A operação segue o modelo “rouba montinho”.
O ministro tira dali recursos parafiscais, põe aqui as “despedaladas” e instrumentos híbridos de capital e dívida, repõe acolá com a esperada apropriação dos recursos não sacados das contas do PIS/Pasep e FGTS e complementa arbitrando o resgate da dívida bruta com algum gasto primário. Até o fim do ano, entram ainda na equação fiscal os R$ 100 bilhões do leilão dos excedentes de cessão onerosa. Estica e puxa de um lado e aloca em outro. É a contabilidade engenhosa no lugar da criativa. Mas a tacada de mestre de Guedes foi mesmo na negociação do crédito adicional para o cumprimento da regra de ouro.
Preocupada com o desastre político que qualquer forfait do Congresso poderia provocar, a equipe do ministro fez uma cirurgia bariátrica no buraco orçamentário de R$ 248,9 bilhões. O objetivo da redução era apresentar um valor mais palatável aos parlamentares, lubrificando a aprovação do suplemento orçamentário. Chegaram a baixar o rombo para R$ 90 bilhões. Guedes, acostumado às eletrizantes emoções de “bater e tomar mercado” (compra e venda de ações no intervalo de segundos), não titubeou: bancou o valor cheio de R$ 248,9 bilhões para aprovação do Congresso.
“É melhor que sobre dinheiro e não tenhamos que atravessar novamente essa burocracia”, teria dito. O pedido passou e o dinheiro sobrou. Já na partida, o ministro se comprometeu a pagar um pedágio de R$ 2,8 bilhões com gastos no Minha Casa, Minha Vida, área de educação e bolsas do CNPQ. Com a operação “rouba montinho”, pode ser até que, além das despesas para que a economia não asfixie, Guedes consiga reduzir bem o déficit primário do ano – da ordem de R$ 104 bilhões – sim, aquele que o ministro, no início do governo, prometeu zerar. Com esse bailado fiscal, alguns gastos reanimadores da economia e a aprovação das reformas, talvez 2019 acabe com um tímido sorriso no canto da boca. O paciente estaria respirando melhor. Bom que seja assim. Para 2020, aguarda o enfermo um déficit primário de cerca de R$ 140 bilhões, um salto da dívida mobiliária acima de 80% do PIB e um novo estouro da regra ouro.
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