Saúde é a gota d ´água no copo cheio de Bolsonaro

  • 18/05/2020
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A última sexta-feira foi o dia D da conspiração. Segundo o RR apurou em conversas reservadas, a demissão de Nelson Teich e todo o contexto que cercou sua saída do governo foram tratados pelos principais atores institucionais como o estouro da panela da pressão. Quando “todo o país” – palavras de um líder partidário – critica, indignado, o presidente, é um sinal de que algo está para acontecer.” Foi um dia de gritos e sussurros. A leitura é que o próprio Jair Bolsonaro está criando as condições para algum tipo de conflagração social e política – risco abordado pela newsletter na edição de 22 de abril (“Até quando a democracia resiste à estupidez?”).

Nas palavras de um senador, “alguma trava de contenção terá de ser acionada”. A saída de Teich foi um tiro no pé do governo Bolsonaro. Ela repercutiu muito mal junto ao próprio bloco de seguidores do presidente, sob certo aspecto gerando uma reação que nem mesmo as demissões de Luiz Henrique Mandetta e de Sergio Moro provocaram. Bolsonaristas de farda e civis discordaram da fritura de Teich, sobretudo pela alta dose de irresponsabilidade que envolve todo o processo. Se alguém ainda tinha alguma dúvida a respeito do comportamento de Bolsonaro, este episódio é um exemplo didático de que o presidente é incontrolável em seus desvarios. Trata-se do segundo ministro da Saúde que deixa o cargo em menos de um mês, em meio à pandemia, por conta das idiossincrasias de Bolsonaro.

De antemão, a segunda substituição já queimou a terceira: quem quer que entre no Ministério da Saúde já chegará desqualificado, previamente desmentido pelo presidente da República em assuntos científicos. Jair Bolsonaro terá de demonstrar um talento ainda maior para amainar o impacto da demissão de Teich e consequentemente conter o aumento da temperatura institucional. Até o momento, Bolsonaro tem sido razoavelmente bem sucedido na sua estratégia de atropelar, passar por cima, criar fatos e lançar mão de declarações que, por mais estapafúrdias que possam soar, são habitualmente reinterpretadas de forma positiva pelos seus.

Ocorre que, desta vez, até mesmos suas hostes sentiram o golpe, o que, inclusive, faz crescer a expectativa em torno da próxima pesquisa de popularidade. Há mais do que motivos para que as sondagens sejam antecipadas. Até porque, na atual circunstância, essa medição ganha ainda mais importância. O termômetro da aprovação ou – neste caso – da reprovação de Bolsonaro pode ser determinante para eventuais decisões e movimentos no tabuleiro da República.

#Jair Bolsonaro #Ministério da Saúde #Nelson Teich

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