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Governo Lula quer retomar fabricação de chips. Só não sabe como

  • 26/07/2023
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A China está gastando mais de US$ 140 bilhões para ser autossuficiente em semicondutores. A União Europeia lançou um programa de investimentos de 43 bilhões de euros para dobrar sua produção de chips até 2030. Enquanto isso, no Brasil… o governo Lula quebra a cabeça em busca de uma saída para o Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec), fabricante de semicondutores localizada no Rio Grande do Sul. A ministra da Ciência e Tecnologia, Luciana Santos (PC do B), defende a retomada das atividades da Ceitec. Com base em estudos da área técnica da Pasta, prega ainda um upgrade da empresa. Por upgrade entenda-se o desenvolvimento de uma tecnologia mais avançada para a produção de chips de 350 a 180 nanômetros, segmento que atende a um mercado consumidor maior. A estatal foi concebida originalmente para fabricar insumos de 600 a 350 nanômetros. Quanto menor a medida, maior a capacidade de processamento. A mudança exigiria um investimento significativo para a modernização da planta. Um exemplo: os atuais equipamentos da Ceitec não permitem a filtragem de partículas das tecnologias de 350 a 180 nanômetros. 

A questão é: de onde virá o dinheiro para a conversão da fábrica da Ceitec se não há orçamento previsto sequer para a retomada das atividades da estatal? Esse é um ponto central das discussões travadas dentro da comissão interministerial criado com o objetivo de estudar soluções para a estatal. Esse grupo de trabalho tem até o dia 14 de agosto para apresentar um relatório. Mas as conversas comumente esbarram nas cifras. Estima-se que a empresa precise de algo em torno de R$ 1 bilhão para se tornar um centro de produção competitivo – praticamente o mesmo valor que recebeu entre 2008 e 2020, quando o governo Bolsonaro freou os aportes e incluiu a empresa no programa de privatizações. A estatal, ressalte-se, é historicamente deficitária. Seu primeiro lucro foi registrado apenas em 2021 – R$ 1,7 milhão, resultante em sua maior parte devido aos cortes draconianos que Bolsonaro fez no seu orçamento. Seu recorde de faturamento foi registrado em 2019 – R$ 155 milhões.  

O Brasil, diga-se de passagem, simplesmente não fabrica semicondutores avançados. Existem 11 empresas produzindo chips, mas todas concentradas no chamada backend, que é algo parecido com as “maquilas” ou montadoras – que fazem teste, afinamento e corte de componentes e não livram o país de uma dependência quase absoluta das importações. O país não atua no frontend, etapa que compreende a fabricação do componente. Como há um déficit global de chips, o Brasil fica refém da escassez global dos semicondutores. Recentemente, a Volkswagen anunciou que ia parar suas fábricas no país por falta de chips.  

Segundo informação apurada pelo RR, dentro do grupo interministerial, uma das propostas discutidas para aumentar a receita da Ceitec é ampliar seu escopo de atuação. Uma das ideias é entrar no desenvolvimento de tecnologias e equipamentos para a médica. Não é necessariamente um segmento estranho para a Ceitec. A empresa desenvolveu projetos de7 pesquisa no setor de saúde, para a detecção precoce de câncer.  

Outra hipótese sobre a mesa é buscar parcerias internacionais para financiar o “grande salto” da Ceitec. Pelas circunstâncias, o caminho mais óbvio é a China. Em abril, os presidentes Lula e Xi Jinping assinaram um acordo de cooperação para pesquisas e transferência de tecnologia na área de semicondutores. Na ocasião, em entrevista à Reuters, Celso Amorim, principal assessor de política externa do governo Lula, disse textualmente que o Brasil não se oporia “à instalação de uma fábrica chinesa de chips em solo nacional”. Talvez ela já exista e fique no Rio Grande do Sul. 

De toda a forma, a retomada da Ceitec é um trabalho hercúleo. Nos dois últimos anos do governo Bolsonaro, a estatal perdeu mais de 90% dos seus projetistas de chips – exatamente a alma do negócio. Projetos e pesquisas foram suspensos por falta de verbas

#Ceitec #China #Lula

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