Destaque

Fundos de pensão tentam ficar o mais longe possível dos canteiros do PAC

  • 30/10/2024
    • Share

Há um clima de tensão entre os dirigentes dos grandes fundos de pensão do país. O motivo são os planos do governo de usar as fundações de previdência privada para bancar projetos do PAC. Representantes da Previ, Petros, Funcef e Fapes têm mantido contatos com a Casa Civil, mais precisamente com a secretária executiva, Miriam Belchior, em relação ao assunto.

Os executivos já levaram à no 2 da Pasta a preocupação com a eventual imposição de que os fundos aportem recursos em obras de infraestrutura. A apreensão dos dirigentes é alimentada pelas pressões que eles próprios vêm recebendo interna corporis, dos respectivos beneficiários. Em agosto, participantes da Previ, Petros, Funcef e Postalis lançaram um manifesto contra a possibilidade de investimentos em obras do PAC.

Trabalhadores e aposentados temem que a medida traga de volta velhos fantasmas: interferências políticas na gestão do patrimônio dos fundos, investimentos em projetos sem qualquer garantia de retorno, prejuízos e, sobretudo, malfeitos financeiros. Trata-se de um combo que os fundos de pensão conhecem como poucos.

As maiores fundações do Brasil até têm buscado junto à Previc alforria para determinados investimentos.

Tentam, por exemplo, derrubar a proibição para aplicações diretas em imóveis – pela norma em vigor, as entidades têm de vender todos os seus ativos imobiliários até 2030. Negociam também a possibilidade de voltar a aportar recursos em Fundos de Investimento em Participações (FIPs). Mas tudo tem limite. No caso do PAC, há um receio generalizado devido à dimensão do programa e às incertezas que cercam a maioria dos projetos. No que dependesse dos gestores de Previ, Petros, Funcef e Fapes, os fundos de pensão não passariam nem perto desses canteiros. Ao menos, não antes de equacionar suas próprias contas.

A Petros, por exemplo, acumula um déficit atuarial da ordem de R$ 30 bilhões desde meados da década passada. O Postalis tem um rombo de R$ 15 bilhões. No entanto, acima dos fundos de pensão há uma vontade maior. O governo está catando recursos de tudo é lado para viabilizar o PAC, com suas quase sete mil obras e um investimento total de R$ 1,8 trilhão.

Vai ser difícil escapar dessa “Operação Trator”. Nesse cenário, os dirigentes das fundações buscam junto à Casa Civil mecanismos e garantias capazes de mitigar os riscos com os eventuais investimentos no PAC. Do outro lado da mesa, no entanto, têm se deparado com um osso duro duríssimo de roer. Até porque Miriam Belchior, que comandou o Ministério do Planejamento na gestão de Dilma Rousseff, é uma das principais vozes no governo favoráveis à utilização de recursos dos fundos de pensão para financiar as obras do PAC. Trata-se de um “Fort Knox” – somente Previ, Petros e Funcef somam um patrimônio próximo de meio trilhão de reais.

Ao longo do tempo, as fundações ligadas às maiores estatais do país já sofreram variados tipos de tortura financeira. Nos anos 80, mais precisamente em 1987, tiveram de investir compulsoriamente em Obrigações do Fundo Nacional de Desenvolvimento (OFND), o que resultou em uma batalha jurídica contra a própria União de mais de três décadas. Somente neste ano as fundações foram ressarcidas de parte das perdas que sofreram – a Previ recebeu cerca de R$ 3,4 bilhões; a Funcef, R$ 493 milhões.

No governo FHC, os fundos de pensão entraram a fórceps nas privatizações, percebendo que eram subtraídos em tenebrosas transações. Nas gestões petistas, por sua vez, Previ, Petros, Funcef e cia. foram convocadas para erguer estranhas catedrais, vide a Sete Brasil. A ameaça é que a entrada no PAC seja um programa ao vivo com ares de reprise.

#Funcef #PAC #Petros #Previ

Leia Também

Todos os direitos reservados 1966-2024.

Rolar para cima