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O presidente da Kroton, Rodrigo Galindo, chamaria o padre Merrin, o “Exorcista”, para extirpar a Estácio da sua vida caso tivesse o condão de transformar ficção em realidade. A empresa carioca demoniza a trajetória profissional de Galindo, rebaixado de cardeal para diácono devido a uma série de equívocos – e infortúnios, vamos admitir – desde que a instituição atravessou o seu caminho. O outrora bem-sucedido executivo tem sido visto como “incapacitado” – palavra de um dos acionistas – para conduzir com êxito a aquisição da empresa.
O adjetivo “incapacitado” não diz respeito a uma única voz. Galindo encontra-se sem apoio da maior parte dos controladores – leia-se os fundos Oppenheimer e Coronation. Galindo, que deitou na fama com a compra da Anhanguera, quis replicar a fórmula com a Estácio. Na primeira aquisição, apresentou uma defesa no Cade que continha dribles razoáveis sobre a acusação da Kroton tornar-se acintosamente dominadora do setor.
Galindo se apoiava em números bem menores de concentração do mercado e previa a venda de ativos de ensino a distância. Segundo fonte do Cade, estão na mesa duas hipóteses mefistofélicas para a Kroton: ou o Conselho desaprova a junção, o que é bastante provável, ou impõe restrições que inviabilizam o acordo, o que é mais provável ainda. Este último ponto tem um complemento: se a perda de receita com a venda de ativos for superior a 15%, qualquer uma das partes pode rescindir a operação sem pagamento de multa.
Galindo ganhou também a maldição de Walfrido dos Mares Guia, um dos controladores da Kroton. Quem conhece o ex-ministro sabe que ele é jeitoso, se relaciona bem. Com Galindo, Walfrido foi duro e deixou claro que é ele quem vai tratar do imbróglio Estácio/Cade. O ex-ministro aposta nas articulações políticas em Brasília para neutralizar a ação de grupos concorrentes, como a Ser Educacional e a Anima. Estes dois visitaram ministros e parlamentares para mostrar que a fusão da Kroton com a Estácio está criando um monstro monopolista.
A Superintendência Geral do Cade deu parecer recomendando pesadas restrições à fusão, o que deverá precipitar a decisão dos conselheiros. Até mesmo o preenchimento das duas vagas abertas na autarquia é uma incógnita. Não há nomes definidos e nem prazo para escolhê-los. Dependendo de quem entrar, poderia haver uma compreensão diferente do caso. Com os cinco conselheiros atuais, o jogo está praticamente perdido. Resta ver se Walfrido reencarna o Padre Merrin e exorciza o atual Cade. Galindo que cuide da sua própria sorte.
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