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RHI ergue sua fábrica em terreno pantanoso

  • 14/09/2011
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Bem que o CEO mundial da RHI, Franz Struzl, poderia aproveitar sua visita ao Rio de Janeiro amanhã, quando anunciará oficialmente a construção de uma fábrica de refratários no município de Queimados, para explicar os pontos nebulosos que envolvem o empreendimento. O projeto já nasce envolto por um espesso fog, notadamente no que diz respeito a  compra do terreno onde ficará a planta industrial. O RR teve acesso a ampla documentação que revela excêntricos procedimentos nas negociações conduzidas pelos executivos da RHI no Brasil. No dia 4 de novembro de 2010, a propriedade, que pertencia aos espólios de José Augusto Vereza e de Laerte da Silva, foi vendida a  Jogasus Construções e Serviços, empresa com sede em Duque de Caxias, por R$ 2,5 milhões. A transferência foi registrada no 5º Ofício de Notas, Livro 3.738, Folhas nos 0109/0111. Em 9 de novembro, o mesmo terreno foi revendido pela Jogasus a  RHI por R$ 11,760 milhões. A operação foi lavrada no 15º Ofício de Notas, Livro 2.460, Folha 146. Ou seja: em apenas cinco dias, o imóvel valorizou 370%. Por que razão o grupo austríaco pagaria tanto por um terreno na Baixada Fluminense vendido poucos dias antes por quase um quinto do valor? Procurada pelo RR, a RHI informou que – no mercado imobiliário é praticamente uma regra que o valor da terra seja baixo quando o terreno é dividido em muitos lotes. Uma vez que ele se torne um único terreno, esse valor aumenta significativamente, especialmente se uma empresa requer uma área tão extensa para sua produção -. Pode até ser. Mas o fato é que, na moeda de interesse dos austríacos, o overprice em menos de uma semana foi de quase 4 milhões de euros. Das duas uma: ou o mercado imobiliário de Queimados tornouse o melhor investimento do mundo ou a direção da RHI não tem cuidado do dinheiro de seus acionistas com o devido zelo. Em tempo: o enevoado processo de construção da fábrica no Brasil coincide com a troca no comando mundial da RHI. Recentemente, o então CEO, Henning Jensen – que, inclusive, estava escalado para vir ao Rio anunciar o projeto -, deixou o cargo. De acordo com a teoria dos seis graus, desenvolvida nos Estados Unidos na década de 60, todas as pessoas do mundo estão ligadas umas as outras por, no máximo, seis laços de amizade. No caso da RHI e da Jogasus, bastou apenas um elo: a Prefeitura de Queimados. Em 7 de dezembro de 2009, a Jogasus firmou contrato com o município para a reforma, manutenção e pintura da Escola Metodista de Queimados. Segundo informações filtradas junto ao Tribunal de Contas do Estado, só o segundo termo aditivo do acordo foi fixado em R$ 649.906,29. A mesma Prefeitura, por sua vez, concedeu significativos benefícios fiscais para que a RHI instalasse sua fábrica na cidade. Em meio a  forte serração que cerca o projeto, a construção da fábrica de Queimados é considerada pela RHI um movimento crucial do ponto de vista geoeconômico. Ao invadir o território da Magnesita, a RHI pretende afastar o rótulo de que hoje é uma presa potencial para uma investida da própria empresa brasileira. Não é de hoje que Ronaldo Iabrudi, presidente da companhia, vem conversando com o BNDES em busca de apoio para o projeto de criação de uma grande multinacional brasileira da área de refratários. Se depender das lambanças dos gestores da RHI no Brasil, a fábrica de Queimados terá na entrada não o nome do grupo, mas sim uma placa com a marca da Magnesita. E a conta dessas inclassificáveis negociações vai para o bolso dos austríacos.

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