Economia

Projeções econômicas previam tudo, menos o nó de Lula no mercado

  • 4/07/2024
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O RR sempre achou que as projeções econômicas, principalmente as da área fiscal, partiam do princípio de que deveriam desprezar a velha e boa economia política. Esta última teria uma influência irrelevante nas previsões e, portanto, no seu tempo de alcance. Nos modelos em questão, as projeções sempre são irmanadas, quase unânimes – vide o boletim Focus – e em raras situações  apresentam  considerações  e números de cenários alternativos. As mudanças podem existir ou não, a partir do que está acontecendo naquele exato momento. “Analistas financeiros não jogam pôquer”, é o que se diz no mercado. Correto?
Em grande parte, os cenários realmente independentes da numeralha que os caracteriza, da matemática que determina o porvir, deveriam incluir a ponderação das variáveis da economia política. Cenários são para isso, imagina-se. Alguns exemplos: a flexibilidade das decisões de quem comanda, da avaliação do seu pragmatismo no tempo, do poder concedido aos seus colaboradores, da sua capacidade de ceder, compreender a força dos adversários, fazer o improvável (avaliação do comportamento histórico). Não há nada de errado em dar prioridade aos modelos econométricos e análises gráficas. As projeções têm de partir de algum ponto e, então, derivar, tendo em vista a conjuntura do momento e suas alternativas mais prováveis com base no presente, que é de onde emana o futuro.
A virada de mesa de Lula em relação à política fiscal deveria constar dos diversos modelos que predizem o futuro, como se nada pudesse ser feito, trazendo o amanhã longínquo para as decisões do  presentes. Há algo de estática nessas modelagens. É mais ou menos o que temos na análise macroeconômica hegemônica. Como diz a letra de Arnaldo Antunes: “Que não é, o que não pode ser, que não é o que não pode ser, que não é” . No caso atual, ninguém colocou em algum cenário que Lula é contraditório, capaz de se desdizer e deu a maior prova disso ao assinar a Carra ao Povo Brasileiro, no seu primeiro mandato, voltando atrás em tudo o que ele e seu partido pregavam historicamente. Talvez não haja maior lição para aqueles que consideram o fiscal inamovível – o RR nunca entrou nessa – e não sujeito às condições históricas.
O Presidente da República sempre foi um “populista pragmático”. Lula diz e se desdiz. E agora jantou o mercado, com sua campanha contra Campos Neto, os juros e o corte de gastos. O que vai dizer Gleisi Hoffmann dessa meia volta? Nada. Ela conhece o chefe. E deve saber quando ele fala para os seus e quando ele recuará. Se os analistas previram, nos quesitos não divulgados, que ele está velho, frágil e incapaz de ler a economia com base nos seus fundamentos, a resposta foi dada ontem com as decisões sobre a redução de gastos e o compromisso com o arcabouço fiscal. Lula continua lúcido. E é a maior raposa política do país.

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