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Enquanto Jair Bolsonaro e Paulo Guedes insistem em dizer que gostariam de privatizar a Petrobras, dentro do Palácio do Planalto estaria sendo urdida uma nova intervenção na estatal. A ingerência da vez seria usar a empresa na tentativa de reduzir o déficit de fertilizantes no país. Ou seja: a Petrobras seria forçada a voltar ao passado e retornar ao setor, na contramão de todo o seu planejamento estratégico.
A manobra do governo Bolsonaro se daria no âmbito do novo Plano Nacional de Fertilizantes, que está sendo elaborado sob coordenação da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência e deve ser apresentado até o fim do ano. Em termos práticos, nesse contexto muito provavelmente a Petrobras seria obrigada a retomar a construção da Unidade de Fertilizantes Nitrogenados (UFN3), em Três Lagoas (MS), paralisada desde 2014, e a reabrir a fábrica de nitrogenados de Araucária (PR), em hibernação desde o início de 2020. Ambos os ativos estão à venda há mais de um ano. Procurados, a Presidência da República e a própria Petrobras não quiseram se pronunciar. A recriação dessa espécie de Petrofértil não interessa ao núcleo técnico da Petrobras.
Mesmo o presidente da estatal, o general Joaquim Silva e Luna, sabidamente alinhado com Bolsonaro, já teria se manifestado internamente contrário à ideia. A proposta seria uma extravagância além do compreensível até mesmo para os padrões do governo Bolsonaro. Uma coisa é a empresa ser utilizada pelo Palácio do Planalto para disponibilizar R$ 300 milhões em subsídio para a população de baixa renda comprar gás. Ainda que esta tenha sido uma decisão imposta de fora para dentro, ao arrepio da governança da empresa, trata-se de uma ação que pode ser justificada pelo seu mérito social.
Não seria o caso do anacrônico regresso da estatal à área de fertilizantes. Pelo contrário. Um movimento como este só causaria dispersão em relação a outros assuntos de real interesse estratégico para a Petrobras, a começar por energia renovável, segmento no qual a empresa está perdendo a corrida para suas congêneres. A única razão para a medida seria uma visão militar paranoica, quase de guerra, sobre o tema. É como se certos setores do governo estivessem temerosos quanto ao risco de um eventual boicote internacional ao Brasil, por questões de ordem ambiental, com a consequente suspensão do suprimento de adubo. O próprio Bolsonaro já falou publicamente “que vamos ter problemas de abastecimento de fertilizantes no ano que vem”, sem explicar muito bem ao que estava se referindo.
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