Tag: Estados Unidos
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Política externa
Estados Unidos prepara redução de postos diplomáticos no Brasil
24/04/2025Informação que circulava ontem em altos escalões do Itamaraty: o governo Trump sinalizou…

O que precisa ser dito
Quo vadis, Donaldus? II
15/04/2025Jorio Dauster, colaborador especial
O maior risco para a economia dos Estados Unidos reside hoje no crescimento acelerado da dívida pública. Em 1969, a dívida somava US$ 366 bilhões. Em 2000, alcançou US$ 5,6 trilhões. Durante a crise financeira de 2008, saltou para cerca de US$ 10 trilhões. Em 2020, atingiu US$ 27,7 trilhões e, em 2025, estima-se que ultrapasse US$ 35 trilhões, o equivalente a mais de 120% do PIB norte-americano. Esse aumento foi impulsionado por gastos com guerras (como as do Iraque e Afeganistão, além, mais recentemente, a da Ucrânia), programas sociais (Medicare, Social Security), estímulos econômicos (como na crise de 2008 e na pandemia de 2020) e reduções fiscais sem a contrapartida de corte de gastos (como no Brasil). Todos os presidentes, independentemente de sua coloração política, têm contribuído para tal crescimento.
A trajetória ascendente da dívida gera preocupações cada vez maiores com respeito à sua sustentabilidade, em especial porque os juros que incidem sobre ela consomem fração crescente do orçamento federal. Paralelamente, cresce também o risco eventual de um calote e de seus efeitos devastadores sobre a predominância histórica do dólar como moeda de reserva internacional.
Mas será que Trump desconhece problemas de tamanha magnitude? Evidentemente que, malgrado sua ignorância em matéria econômica, o homem de negócios que já pediu várias vezes recuperação judicial para suas empresas sabe que é impossível conviver com uma dívida que se avoluma qual bola de neve. No entanto, como é típico dele, recentemente questionou – sem provas – não apenas o tamanho da dívida federal, mas também os métodos usados para calculá-la, alegando que o DOGE de Elon Musk tinha descoberto fraudes potenciais. Além disso, declarou que o país “agora não é tão rico. Devemos US$ 36 trilhões… porque deixamos todas essas nações se aproveitarem de nós”. Mais uma vez uma distorção extraordinária da realidade e a escolha dos inimigos externos para justificar suas medidas radicais.
No entanto, por trás desse palavreado agressivo, Trump vem efetivamente buscando reduzir a dívida pública de três maneiras.
A primeira consiste em, tomando emprestado a motosserra de Javier Milei, permitir que Musk ataque o déficit orçamentário mediante a amputação de agências governamentais e programas de cunho social, embora já venha crescendo o mal-estar interno com os resultados de tais cortes. Mais significativo é o fato de que, tendo anunciado que eliminaria US$ 1 trilhão do orçamento, Musk há poucos dias admitiu que essa cifra ficaria mais próxima de US$ 150 bilhões, quantia decepcionante à luz da estimativa de US$ 2 trilhões de déficit no ano em curso.
A segunda está implícita em seu suposto papel de “pacificador”, uma vez que os esforços para encerrar os conflitos herdados da administração Biden têm como objetivo real reduzir os brutais gastos militares do país. Nessa linha de raciocínio, Trump tem inovado de forma assustadora para os aliados e clientes do país. Por exemplo, busca receber de uma Ucrânia devastada o pagamento pelas despesas com armamentos incorridas pelos Estados Unidos ao longo do conflito, caracterizando-as como um empréstimo! A outra forma, já sugerida no caso da Coreia do Sul, implica cobrar tais despesas dos países defendidos pelas forças militares dos Estados Unidos, na essência transformando-as em tropas de mercenários quando antes eram o último bastião dos valores ocidentais.
E a terceira é aquela que ganha as manchetes com o vai e vem na área de comércio internacional analisado no artigo anterior. Nesse caso, podemos aqui evitar o debate técnico sobre o eventual vínculo entre déficit orçamentário e déficit comercial, o qual existe, mas depende também de vários outros fatores. O importante é reconhecer que as medidas atabalhoadas de Trump – ao impor tarifas que aumentariam em tese as receitas governamentais e reduziriam os gastos com importações, favorecendo assim a redução da dívida pública –, tiveram um efeito tétrico nas bolsas de valores de todo o mundo e eliminaram de vez a confiança no atual ocupante da Casa Branca.
O que é menos sabido, e mais grave, é que essas incertezas começam a abalar a confiança nos bônus do Tesouro norte-americano e, indiretamente, no dólar. Os chamados “treasuries”, sempre vistos como portos seguros, como os papéis mais livres de risco em todo o planeta, mostram sinais de fraqueza sobretudo diante das indicações de que seus maiores detentores, Japão e China, vêm se desfazendo de parcelas significativas dos títulos mantidos como reserva estratégica. Na medida em que, no corrente ano, o Tesouro deve emitir entre US$ 10 trilhões e US$ 15 trilhões desses títulos para financiar os déficits previstos, a demanda global por eles será crucial a fim de determinar para onde vai o imperador Donaldus. Toda a atenção é pouca!

O que precisa ser dito
Quo vadis, Donaldus? I
14/04/2025Jorio Dauster, colaborador especial
A frase latina “Quo vadis?” significa “Para onde vais?” e consta de um antiquíssimo relato apócrifo segundo o qual, fugindo da perseguição promovida pelo Imperador Nero, São Paulo encontra Jesus ressuscitado e pergunta para onde ele vai, recebendo como resposta: “Vou a Roma para ser crucificado de novo”. No entanto, com o tempo, a carga religiosa da citação foi se esvaindo e a pergunta passou a ser dirigida a todos aqueles que parecem sem rumo – motivo pelo qual podemos empregá-la nos dias de hoje para indagar aonde quer chegar o imperador Donaldus, que, pelo jeito, mudou seu trono de Roma para Washington.
As dúvidas universais sobre os reais propósitos dessa personificação do presidente norte-americano se tornaram mais agudas em virtude da recente reviravolta ocorrida na questão do tarifaço. Segundo os áulicos de Donald Trump, tratou-se simplesmente de mais uma cartada do mestre, que já obtivera o resultado desejado ao trazer à mesa de negociação dezenas de “ass kissers” (tradução literal vedada para alminhas delicadas), com a óbvia exceção da atônita nação de camponeses que atende pelo nome de China. Mas somente um “imbecil” do porte do czar das tarifas, Pete Navarro, segundo a caracterização pública dele feita por Elon Musk, não veria que o presidente de fato “amarelou” diante dos trilhões de dólares que evaporaram no curso de poucos dias em todas as bolsas de valores do planeta.
E, sem dúvida, quando bilionários como Sam Altman e Musk, embora adversários declarados, vieram a público condenar a festa do Dia da Libertação, não restou alternativa a Trump senão proclamar como vitória uma pausa de 90 dias enquanto aplicava a todos os países uma taxa de 10% (exceção feita, cumpre repetir, do inimigo n° 1). Pior ainda, numa notinha lançada sem fanfarras, uma obscura repartição pública anunciou mais recentemente a eliminação de tarifas sobre celulares e dezenas de outros produtos eletrônicos, incluindo aqueles provenientes da China e com efeito retroativo. Xi Jinping e os tech-bilionários devem ter soltado gargalhadas de abalar os alicerces da Casa Branca!
Não surpreende que os mercados financeiros tenham recuperado ao menos parte do que haviam perdido na semana anterior ao que Tio Sam chama de flip-flop, mas o saldo final está longe de representar um alívio permanente. Em primeiro lugar, porque Trump perdeu definitivamente o que restava de confiança entre amigos e inimigos no mundo todo, mas também no seu próprio país, como já o demonstram as pesquisas de opinião pública. Em segundo lugar, e mais importante, porque a suspensão da aplicação dos tarifaços é, mais uma vez, temporária, permanecendo assim a ameaça mafiosa de que a loja ainda pode ser arrebentada com bastões de beisebol ou decepada a cabeça do cavalo de estimação. Em terceiro lugar, como consequência dos fatores já indicados, porque permanece ou mesmo se agrava o clima generalizado de incerteza que os empresários e financistas odeiam – e que tornam inviável qualquer investimento de peso em qualquer lugar.
Com isso, a reindustrialização dos Estados Unidos pretendida pelo presidente fica ainda mais distante, sendo substituída por ações como aquela tomada pela Apple ao encher enormes aviões de carga na Índia para importar 1,5 milhão de celulares antes da imposição das tarifas que incidiriam sobre aquele país. Imaginem, como é previsível, que outros setores que necessitam de importações maciças façam o mesmo para acumular estoques nesses 90 dias. Só a indústria de roupas importa quase US$ 100 bilhões anualmente de países como Bangladesh, Camboja, Índia, Indonésia e Paquistão, todos mortalmente atingidos pelo tarifaço.
Ora, é bem possível que nesses próximos três meses o valor das compras externas dos Estados Unidos registre um aumento excepcional, mas já podemos também prever qual será a narrativa falsa da Casa Branca: como tais compras terão de pagar o pedágio de 10%, Trump dirá que a receita derivada da aplicação das tarifas teve um crescimento formidável, demonstrando como era correta e brilhante sua estratégia! E não faltarão os aplausos dos vassalos desmiolados.
A chantagem tarifária perturba gravemente todas as cadeias de suprimento em nível global, mas terá impactos de curto prazo na economia real sobretudo dentro dos próprios Estados Unidos devido à suspensão de facto das importações provenientes da China (com as vergonhosas exceções que já surgiram). É óbvio ademais que as incertezas sobre o futuro aumentam a probabilidade de recessão e inflação também em escala planetária. Mas há riscos ainda maiores para os Estados Unidos de que trataremos em outro artigo.

O que precisa ser dito
Eleitores de Trump merecem uma boa dose de schadenfreude?
7/04/2025Jorio Dauster, colaborador especial
Embora eu infelizmente não fale alemão, há uma palavra naquele idioma que sempre me encantou por expressar um sentimento humano que não encontra equivalente em nenhuma outra língua e ao qual talvez só sejam imunes os santos: schadenfreude. Literalmente, a alegria malévola sentida diante do infortúnio sofrido por outrem. Impossível desconhecer que tal sentimento transparece no noticiário sobre as perdas gigantescas sofridas pelas chamadas big techs devido ao derretimento das bolsas norte-americanas provocado pelo tarifaço de Trump.
Esse júbilo maldoso do qual – cumpre confessar – muitos de nós participamos se dirige em particular àqueles bilionários que acorreram sorridentes à posse de Donald Trump no Capitólio, tais como Elon Musk, Mark Zuckerberg e Jeff Bezos, que já viram evaporar algumas dezenas de bilhões de seus patrimônios. Mas, segundo o Índice de Bilionários da Bloomberg, o estrago tem grande amplitude: as perdas no mercado já excedem US$ 200 bilhões para os 500 indivíduos mais ricos do mundo.
No entanto, todos parecem esquecer que os mercados de ações norte-americanos são também um refúgio para investidores de todo o planeta e, em especial, o abrigo antes considerado inexpugnável para a poupança da classe média do país. É difícil encontrar dados sólidos sobre os valores envolvidos, mas basta assinalar que, no ano passado, mais da metade das famílias norte-americanas tinham seus recursos aplicados em fundos mútuos, no valor de US$ 71 bilhões. Não é difícil imaginar quão dolorosas serão para os cidadãos atingidos as perdas já ocorridas e aquelas que ainda podem vir por aí caso sejam mantidas as tarifas em vigor – como Trump acaba de confirmar. Se a isso se somar uma aceleração da inflação e uma recessão econômica, o padrão de vida presente e futuro de boa parte da população do país estará seriamente ameaçado.
E, então, vem a pergunta que não pode ser calada: quantos dos vitimados votaram em Trump sem acreditar que ele faria tudo que proclamava durante a campanha? Esses também merecerão uma boa dose de schadenfreude?

Política
Asilo nos Estados Unidos? Tratar com Cristiane Brasil
12/03/2025O 8 de janeiro e afins virou um grande negócio. Cristiane Brasil, filha de Roberto Jefferson, tem aparecido nas redes sociais ofertando consultoria a brasileiros que querem “asilo” nos Estados Unidos. Nos vídeos, a ex-deputada federal e ex-ministra do Trabalho se dirige especialmente a “quem é de direita, assim como eu, e se identifica com essas pautas…” e “tem medo de ser perseguido por suas opiniões ou por fazer parte de algum grupo”. No reclame comercial, Cristiane garante à clientela a obtenção de “work permit” e de “social security”. Ou seja: ao que tudo indica, há um mercado de turismo receptivo para golpistas, foragidos e congêneres.

O que precisa ser dito
A loucura de Trump: uma falácia bem exitosa
11/03/2025Jorio Dauster, colaborador especial
A enxurrada de declarações estapafúrdias e fantasiosas que flui diariamente da Casa Branca, bem como as reviravoltas frequentes nas questões tarifárias, têm levado muitas pessoas a dizer, perplexas: “Esse Trump é doido de pedra!” Doce e ledo engano, estão sendo induzidas a confundir astúcia com demência.
Não há dúvida de que o presidente dos Estados Unidos revela traços de personalidade perturbadores que são objeto de especulação por psiquiatras de todo o mundo. A opinião geral dos especialistas é de que ele apresenta diversos sintomas do transtorno de personalidade narcisista, uma conhecida condição psiquiátrica que se caracteriza pela arrogância, falta de empatia e necessidade de admiração, combinada em seu caso com um espírito vingativo dirigido a todos que supostamente o perseguem. Mas daí à loucura existe uma larga faixa em que Trump vem operando com sucesso há décadas.
Vejamos de início a questão dos pronunciamentos sensacionalistas e carregados de fake news. Com sua experiência de showman na televisão, Trump passou a utilizar as redes sociais em 2009, tendo tuitado cerca de 57 mil vezes nos doze anos seguintes! Desse total assombroso de mensagens, muitas delas de caráter racista e homofóbico ou propagando teorias conspiratórias, aproximadamente oito mil foram postadas durante sua campanha para a presidência nas eleições de 2016 e mais de 25 mil durante os quatro anos de seu primeiro mandato, quando foram suspensas as entrevistas diárias da porta-voz de imprensa da Casa Branca e os tuítes passaram a ser declarados como manifestações oficiais. Não é de admirar que, no momento em que o Twitter (pré-Musk) suspendeu Trump da plataforma em 8 de janeiro de 2021 na esteira do ataque ao Capitólio, ele tinha aproximadamente 90 milhões de seguidores.
A maestria de Trump na manipulação das redes sociais voltou a ficar evidente na campanha em que derrotou uma adversária mais chegada às formas tradicionais de fazer política, sobretudo mediante o uso da televisão. Para dar apenas um exemplo, a narrativa fictícia de que imigrantes haitianos comiam os cachorros e gatos de estimação na cidade de Springfield, Ohio, embora desmentida de forma cabal e reiterada, se transformou numa das principais bandeiras trumpianas na cruzada para deportar os “malignos invasores” do país. Não surpreende, pois, que ele continue a se valer de um recurso valiosíssimo desde que voltou ao poder ao declarar recentemente, por exemplo, que Musk havia descoberto haver “milhões e milhões de pessoas com mais de 100 anos recebendo benefícios previdenciários”.
Mas, para nós brasileiros, o mais interessante, por assim dizer, é que seus métodos foram obedientemente copiados aqui por Jair Bolsonaro e seu gabinete do ódio. conquistando um domínio valiosíssimo das redes sociais. Como toque pessoal, Bolsonaro substituiu as conferências de imprensa pelas comunicações diretas com seus eleitores no famoso “cercadinho” situado em frente ao Palácio da Alvorada. Além das extravagâncias e invencionices proclamadas a cada manhã, o ex-presidente também aproveitava aquelas ocasiões para hostilizar os representantes da imprensa escrita, falada e televisiva que eram contrários a seu governo, tornando o local perigoso para os profissionais que precisavam se misturar aos apoiadores inflamados que compareciam para festejar um mito.
Donald Trump deverá continuar a utilizar uma ferramenta que pode fazê-lo parecer louco, mas que serve de fato a propósitos políticos friamente ponderados e testados ao longo do tempo. O objetivo consiste em criar uma cortina de fumaça, sustentada paradoxalmente pela própria mídia que se vê obrigada a comentar o conceito estrambótico do dia e verificar sua autenticidade, deixando assim de analisar com a devida profundidade as ações e omissões efetivas do governo. E a patuleia que o idolatra acreditará em suas palavras como se tivessem origem divina sem conhecer os questionamentos e desmentidos posteriores.
Já as cambalhotas na área do comércio internacional, parte integral do que chamo de diplomacia da chantagem, são mais fáceis de entender embora também possam parecer tresloucadas à primeira vista. Seu propósito é desequilibrar o “inimigo”, colocando-o numa situação de total incerteza porque se mantém erguida sobre sua cabeça a espada de Dâmocles da aplicação efetiva das tarifas punitivas. Assim, Trump espera obter concessões adicionais ao se aproximar cada data fatal, buscando humilhar os líderes com os quais se defronta quando eles demonstram publicamente o desejo de buscar soluções amigáveis. Esses gestos de “rendição”, por sua vez, minariam o apoio interno de que os chefes de Estado visados necessitam para reagir à altura com medidas retaliatórias.
Há, portanto, uma lógica perversa e poderosa na aparente loucura, mas às vezes o feitiço vira contra o feiticeiro: Pierre Trudeau (que estava nas cordas) e Claudia Sheinbaum, com suas firmes respostas às ameaças de Trump, foram capazes de mostrar que estão prontos a atender a certas exigências do parceiro agressivo sem, contudo, comprometer a soberania de suas nações e sem abandonar a possibilidade de aplicar tarifas retaliatórias. E nunca alcançaram níveis tão altos de popularidade.

O que precisa ser dito
Estados Unidos ou Lojas Americanas?
6/03/2025Jorio Dauster, colaborador especial
Muitos acadêmicos e comentaristas buscam encontrar paralelos históricos ou enquadramentos doutrinários a fim de explicar as ações de Donald Trump no seu primeiro mês e meio na Casa Branca. Mas um bom número deles já entendeu que a explicação básica é surpreendentemente comezinha: Mr. Donald age como o gerente de uma cadeia de lojas que, a seu ver, encontrou o negócio em situação pré-falimentar devido aos erros do antecessor e deve, por isso, executar as medidas de recuperação que se encontram em qualquer manual para empresários encrencados: cortar gastos fechando lojas menos eficientes e/ou despedindo parte significativa da força de trabalho; renegociar aluguéis e o custo dos serviços; obrigar os grandes fornecedores a baixar o preço de seus produtos ou oferecer maiores prazos de pagamento – e por aí vai.
E ele entende bem disso. Embora nunca tenha pedido falência pessoal, Trump recorreu à recuperação judicial (o chamado Chapter 11 nos Estados Unidos) para quatro de seus negócios: Taj Mahal, em 1991; Trump Plaza Hotel, em 1992; Trump Hotels and Casinos Resorts, em 2004; e Trump Entertainment Resorts, em 2009 – sem dúvida, deixando uma legião de credores e investidores bem infelizes. Nesses casos, as empresas – essencialmente cassinos em Atlantic City – se mantêm vivas, mas a participação de Trump passou a ser irrelevante.
No entanto, uma tentativa fracassada de recuperação judicial leva a empresa à falência por várias razões: falta de planejamento competente para lidar com a crise, dispensa de funcionários estratégicos, reação dos supridores às exigências agressivas em matéria de preços, escolha errada das lojas a permanecerem abertas etc. – fatores que, na ponta, se refletem na deterioração da qualidade do serviço oferecido aos fregueses.
Acontece que um país – sobretudo a maior potência mundial nos últimos cem anos – não pode ser administrado como um simples negócio. Ao longo dos últimos séculos foi sendo construída a chamada “ordem internacional”, um complexo conjunto de regras, instituições e acordos capazes de disciplinar as interações entre nações soberanas cujo objetivo final consiste em evitar conflitos e proteger os direitos humanos. Significativamente, parte importante dessa estrutura foi criada desde a Segunda Grande Guerra por inspiração dos Estados Unidos para garantir sua posição hegemônica no mundo. E essas conquistas da humanidade, que ultrapassam de muito o horizonte de um gerente de lojas, estão sendo hoje desprezadas por Trump, como demonstrado pela retirada do país da OMS e do Acordo de Paris.
Na área do comércio internacional, relevante elemento da ordem global, a diplomacia da chantagem instituída por Trump escolheu como arma predileta a imposição de tarifas. Ignora, assim, que dois séculos e meio atrás o próprio Adam Smith já caracterizava essas tentativas de substituir a demanda de importações pelo aumento da produção interna como uma forma de “beggar thy neighbor” (ou, em tradução vulgar, “que se dane meu vizinho”). Como esses vizinhos não estão dispostos a serem empobrecidos em favor do parceiro agressivo, a tendência é que se trave uma guerra tarifária como aquela vista com trágicos resultados durante a Grande Depressão da década de 1930. E, em última instância, semelhantemente ao que acontece com os fregueses numa cadeia de lojas mal administrada, são os cidadãos do país que terminarão pagando mais caro por produtos essenciais de consumo.
Como já vimos que reina o caos na mente e na administração de Trump, com mudanças de postura a cada 24 horas, devemos aguardar para ver o que, de toda a algaravia produzida na Casa Branca, é mera bazófia ou se reflete em medidas concretas. Até lá, a única certeza é que nos meios políticos e econômicos mundiais já se instalou um clima de grande incerteza, senão de pânico, que afeta negativamente todas as decisões públicas e privadas. Para os amantes da distopia, é recomendável a leitura (ou releitura) de “Admirável mundo novo”, de Aldous Huxley, “1984”, de George Orwell, e “Fahrenheit 451”, de Ray Bradbury.

O que precisa ser dito
Gold Card: uma oportunidade de ouro para a bandidagem internacional
27/02/2025Jorio Dauster, colaborador especial
Seria ridículo se não fosse um risco imenso para os Estados Unidos e para o resto do mundo: enquanto expulsa do seu território os “soldados” dos cartéis, gangues de assaltantes e organizações terroristas, Donald Trump anuncia que concederá a cidadania norte-americana a seus chefes em todo o planeta pela irrisória quantia de US$ 5 milhões, quando esses senhores do crime comandam atividades variadas que rendem anualmente bilhões e bilhões de dólares.
Evidente que será implementado algum sistema de triagem para as centenas de milhares de candidatos a esse precioso cartão, mas as incursões da dupla Trump-Musk contra o FBI, a CIA e outras agências de inteligência já prejudicarão esse esforço. Além das fraudes facilitadas pela IA, sem dúvida há milhões de bandidos nos quatro continentes não fichados que buscarão para sempre a proteção da cidadania norte-americana.
Assim, não se surpreendam até mesmo se, em breve, a polícia do Rio de Janeiro tiver de enfrentar “americanos” nas vielas das comunidades que margeiam a Avenida Brasil e a Linha Amarela.

Destaque
Governo Lula tenta adoçar um pouco mais as relações comerciais com os Estados Unidos
5/09/2024Jair Bolsonaro tentou e não conseguiu; agora é a vez de Lula encarar uma complexa pauta bilateral. O RR apurou que o Brasil retomou negociações com o governo norte-americano com o objetivo de ampliar sua cota para exportações de açúcar aos Estados Unidos.
A missão mobiliza a cúpula da diplomacia brasileira – o chanceler Mauro Vieira e a embaixadora brasileira em Washington, Maria Luiza Viotti – e a Pasta da Agricultura, notadamente o ministro Carlos Fávaro e o secretário de Comércio e Relações Internacionais, Roberto Perosa.
Anualmente, os embarques brasileiros com direito a alíquota reduzida ou isenção tributária oscilam entre 150 mil e 170 mil toneladas por ano. O número corresponde a apenas 5% de todas as vendas de açúcar do país para o exterior. Os produtores brasileiros querem subir esse sarrafo para algo próximo de 230 mil toneladas.
Seria o suficiente para o Brasil se tornar o maior entre os “menores” exportadores de açúcar para os Estados Unidos, superando a República Dominicana (190 mil toneladas por safra) – o “maior entre os maiores” é o México, que, sob o manto do Nafta, exporta mais de um milhão de toneladas para o Grande Irmão do Norte.
Ocorre que as tratativas entre o Brasil e os Estados Unidos estão enroscadas em um nó difícil de desatar. Há informações de que o governo brasileiro aceita diminuir a alíquota para a importação de etanol, hoje de 18%, uma exigência dos norte-americanos.
O complicado, nesse caso, é dobrar a resistência interna do agronegócio, nesse caso específico uma hidra de duas cabeças. Com o chapéu de produtor de açúcar, os usineiros reivindicam maior espaço no mercado norte-americano; já com o chapéu de produtor de etanol, colocam o governo contra a parede e rechaçam a possibilidade de redução das barreiras tributárias para a importação do biocombustível.
No governo Lula, há um certo clima de “Ou vai ou racha”. A negociação está, desde já, indexada ao resultado das eleições norte-americanas. Se a democrata Kamala Harris vencer, o Brasil terá espaço, ao menos, para seguir com as tratativas, por mais intrincadas que elas seja. Mas se o protecionista Donald Trump voltar à Casa Branca, esquece!
É muito pouco provável que a diplomacia brasileira consiga levar o assunto adiante. Nem mesmo Bolsonaro, um confessor bajulador de Trump, teve sucesso. Entre 2019 e 2020, o então presidente brasileiro concedeu todas as benesses para a entrada do etanol norte-americano no Brasil – em 2019, o país comprou do Tio Sam mais de 1,1 bilhão de litros, ou 90% das importações totais.
Bolsonaro estava convicto de que seria uma via de mão dupla, abrindo caminho para o aumento das exportações de açúcar aos Estados Unidos. Ficou a ver navios. O máximo que conseguiu foi uma esmola glicosada – uma cota adicional para a venda de 80 mil toneladas de açúcar aos Estados Unidos em 2020.
O governo Lula, por sua vez, retomou as conversas com os norte-americanos em um cenário bem mais desafiador. Há uma superoferta de açúcar no mundo. Segundo o próprio Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) a produção global em 2024 atingirá um recorde de 186 milhões de toneladas.
A própria safra norte-americana deverá alcançar a maior marca da sua história, com 9,5 milhões de toneladas. No país, há pressão da American Sugar Coalition, a poderosa associação dos produtores locais, para que o governo reduza até mesmo as importações do México.

RR Destaques
G20 e Congresso
21/02/2024Ainda que o tema de Israel permaneça muito forte na mídia e nas redes – e que continue a estar no foco de Lula e do Itamaraty – o governo dá sinais de que, salvo novas movimentações, avalia que já “colheu” o que buscava e, a partir de agora:
1) Não tem interesse em escalar o conflito, ainda mais porque lê como muito positiva a reunião entre o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, e Lula.
A ausência de qualquer menção de Blinken ao caso seria, de acordo com essa leitura, uma confirmação de que não haverá desgaste com os EUA. E de que os norte americanos, ainda que apoiem decisivamente Israel, também tem divergências com Netanyahu, particularmente porque defendem a constituição de um estado palestino.
Para Biden, o foco seria evitar o alinhamento do Brasil com Russia e China e poder se apoiar no país como forma de conter as pretensões da Venezuela na Guiana, sem um envolvimento direto. O Planalto está disposto a cumprir esse papel e que usar o G20 para projetar liderança. Para tanto, quer evoluir da Palestina para o debate da ordem global – como faz hoje o ministro Mauro Vieira.
2) Vai se voltar novamente para a agenda econômica e as negociações no Congresso, que continuarão a ter como pano de fundo à sucessão nas presidências da Câmara e do Senado.
É esse o sentido do “ressurgimento” de Haddad no noticiário e nos bastidores políticos, retomando as negociações acerca das reonerações e das emendas parlamentares.
Nesse campo, o acordo está muito mais próximo com Rodrigo Pacheco (que criticou as falas de Lula) do que com Arthur Lira, que não deu tanta atenção ao tema, até o momento (a não ser como “mediador” de embates no púlpito da Câmara).
Os próximos passos nesse jogo mostrarão em que pé está a base parlamentar do governo, após uma série de atritos recentes (mas também concessões) e como funcionará a “linha direta” entre Lula e Lira. Outro ponto a ser observado são as movimentações sucessórias.
O incomodo de Bolsonaro com a possibilidade de que o nome do deputado Marcos Pereira (Republicanos) ganhe tração confirma que ele seria, mesmo, o candidato preferido do Planalto. A questão é se vai ser possível uma composição com Lira, nesse sentido.
Outro fator que fica nítido hoje é a dualidade inerente ao governo – que se manterá. Enquanto Lula faz um “gol” com sua base social (apesar do desgaste e da polêmica gerados), Haddad aborda o déficit da previdência, um tema quase “tabu” na esquerda.
Indicadores internacionais
Destaque amanhã, no exterior, para os PMIs Industrial e de Serviços de fevereiro e para os Pedidos Iniciais de Seguro Desemprego, todos relativos aos EUA, bem como para o IPC de janeiro na zona do Euro.

Finanças
Banco Inter tem novas aquisições na mira nos Estados Unidos
30/01/2024O Banco Inter, de Rubens Menin, está garimpando novas fintechs nos Estados Unidos. Na mira, startups das áreas de crédito e pagamentos. As tratativas são conduzidas a partir de Miami por Felipe Bottino, principal executivo da operação norte-americana do banco. O Inter já cravou duas aquisições nos Estados Unidos. Em 2021, comprou a Usend, especializada em câmbio e remessa de recursos; em 2023, foi a vez da YellowFi, originadora de crédito imobiliário. Procurado, o Banco Inter não se manifestou.

Destaque
Estados Unidos e México cobram do Brasil medidas para estancar imigrantes ilegais
17/10/2023Um tema espinhoso está ganhando peso na pauta diplomática entre Brasil, Estados Unidos e México. Segundo uma alta fonte do Itamaraty, o governo mexicano articula uma reunião entre autoridades dos três países para tratar do problema da imigração ilegal na América do Norte. O encontro deverá ocorrer ainda neste mês na Cidade do México.
O Brasil vai para a discussão em uma posição razoavelmente desconfortável. De acordo com informações filtradas do Ministério das Relações Exteriores, Estados Unidos e México têm cobrado do governo Lula ações mais efetivas para conter o fluxo de imigrantes brasileiros que tentam atravessar clandestinamente a fronteira entre os dois países. Há pressão, sobretudo do departamento de estado norte-americano, para que as autoridades brasileiras arranquem o mal pela raiz, ou seja, combatam quadrilhas que atuam em território nacional. Existem grupos criminosos no Brasil que chegam a cobrar US$ 15 mil por pessoa com a promessa de entrada nos Estados Unidos.
Além disso, Washington quer que o governo Lula mantenha iniciativas severas implementadas na gestão de Jair Bolsonaro que facilitam e agilizam a deportação de imigrantes ilegais. Assessores do presidente para a área de política externa, a começar pelo mais influente de todos, o embaixador Celso Amorim, já cogitaram a possibilidade de revogação de acordos diplomáticos assinados entre Brasil e Estados Unidos em 2019, logo no primeiro mandato de Bolsonaro.
A principal medida é a possibilidade brasileiros serem deportados apenas com atestado de nacionalidade emitido pelo Consulado, sem a necessidade de confecção de um novo passaporte ou identidade – a maior parte dos imigrantes detidos ilegalmente não porta documentos pessoais.
Este é um tema de razoável recorrência na agenda do Brasil com Estados Unidos e México. Nos últimos meses, no entanto, a questão tomou uma dimensão maior. A área de Investigações de Segurança Interna do Immigration and Customs Enforcement’s (ICE), o serviço de imigração norte-americano, e o Instituto Nacional de Migración, seu congênere mexicano, desbarataram uma grande quadrilha responsável por levar brasileiros ilegalmente para os Estados Unidos.
As autoridades descobriram também o uso de duas novas rotas a partir do estado de Yucatán, no Golfo do México, até a região de Nova Laredo, na divisa com o Texas, um trecho de mais de 2,2 mil km. De acordo com números do ICE reportados ao Ministério das Relações Exteriores, mais de 25 mil brasileiros foram presos entre janeiro e agosto tentando entrar clandestinamente em território norte-americano. Trata-se de um volume 18% maior do que o registrado em igual período no ano passado.
A elevação do fluxo de brasileiros se dá justamente no momento em que o governo de Joe Biden implementou mudanças na sua política de imigração, acelerando a deportação dos estrangeiros detidos tentando entrar ilegalmente em território norte-americano. Além disso, Estados Unidos e México também assinaram um novo acordo.
O governo mexicano – que, historicamente atua como um backing vocal da Casa Branca na questão da imigração ilegal – se comprometeu a “despressurizar” as cidades na área de fronteira, agilizando a identificação e deportação de imigrantes ilegais ainda detidos dentro do país.

Destaque
Brasil e Estados Unidos negociam acordo contra o terrorismo
27/06/2023O Ministério da Justiça está discutindo com o seu congênere norte-americano, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, um acordo de cooperação voltado especificamente ao combate à chamada criminalidade complexa. Entram nesse rol, entre outras modalidades, os crimes cibernéticos, a lavagem de dinheiro e o terrorismo. Este último é justamente o ponto mais sensível para os norte-americanos. Os Estados Unidos miram, sobretudo, na Tríplice Fronteira, entre Brasil, Argentina e Paraguai. Já há algum tempo investigações internacionais apontam a atuação de células ligadas a grupos terroristas na região. Segundo a fonte do RR, os norte-americanos querem intensificar o monitoramento nessa área, incluindo a presença de integrantes do Bureau of Counterterrorism – agência de combate ao terrorismo no exterior. Procurado pelo RR, o Ministério da Justiça não se pronunciou.
O assunto ainda é tratado em uma esfera muito restrita dentro da Pasta da Justiça. O próprio ministro, Flavio Dino, está diretamente envolvido nas discussões com o governo norte-americano, em conjunto com o Itamaraty. Em 2019, não custa lembrar, o então ministro da Justiça, Sergio Moro, firmou convênios com o próprio FBI e o Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos (Homeland Security – DHS) para o compartilhamento de informações sobre o crime organizado. Para Dino e sua equipe, não passou de espuma, com poucos efeitos práticos. A ideia agora é que, além da Polícia Federal e do FBI, a atuação conjunta envolva também o Ministério Público e o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras).

Crime organizado
PF e autoridades norte-americanas descobrem novo esquema de imigrantes ilegais nos EUA
31/05/2023O RR apurou que a Polícia Federal e o serviço de imigração norte-americano desbarataram, na semana passada, uma quadrilha especializada na entrada ilegal de brasileiros nos Estados Unidos, a maior parte proveniente de Minas Gerais. As investigações apontam a participação de um comerciante mineiro que foi candidato a deputado federal pelo Avante, nas eleições de 2022. De acordo com uma fonte da PF, ele foi flagrado tentando atravessar a fronteira entre Belize e México com um grupo de seis brasileiros, entre eles uma criança de seis anos. Conforme o RR já noticiou, a divisa entre Belize e México tornou-se umas das principais rotas de passagem de imigrantes ilegais pela América Central. Dali, eles atravessam o território mexicano pela faixa leste e chegam ao Texas.

Destaque
Imigração ilegal vira uma prioridade na agenda entre Estados Unidos e Brasil
11/05/2023A imigração tornou-se uma pauta razoavelmente sensível na agenda entre os governos Lula e Joe Biden. Segundo uma fonte do Itamaraty, Brasil e Estados Unidos têm discutido medidas conjuntas para apertar o cerco à entrada ilegal de cidadãos brasileiros em território norte-americano. Washington tem solicitado das autoridades do Brasil maior agilidade na identificação e no processo de deportação dos imigrantes clandestinos. O governo Lula, por sua vez, já emitiu sinais de cooperação. Um dos principais gestos nesse sentido tem sido a manutenção dos procedimentos mais severos implantados pela gestão Bolsonaro a partir de 2019. Um exemplo: contra todas as apostas de que a medida seria rapidamente derrubada, o consulado brasileiro permanece encaminhando ao governo norte-americano documentos de brasileiros deportáveis à revelia. Imigrantes clandestinos costumam destruir passaporte ou mesmo carteira de identidade para retardar o processo de deportação.
As discussões diplomáticas vêm ganhando mais tração nos últimos meses, à luz de fatos novos. De acordo com as informações apuradas pelo RR, é o caso do “fator Belize”. Autoridades norte-americanas identificaram um novo esquema de “tráfico” de imigrantes a partir do país da América Central. Segundo as investigações, compartilhadas com o Ministério das Relações Exteriores, cerca de 80 brasileiros foram presos pelo serviço de imigração dos Estados Unidos nos últimos três meses após usarem essa nova rota, que parte de Belize, atravessa o México pela faixa leste e chega ao Texas, em regiões próximas à cidade de Laredo. Segundo um diplomata em conversa com o RR, o grupo em questão partiu de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. A logística é complexa e envolve múltiplas conexões. Além de mexicanos e de belizenhos, há indícios da participação de haitianos no esquema, que se valeriam das ligações com parentes no Brasil. Estima-se que mais de 130 mil cidadãos do Haiti vivam em território brasileiro.
Em 2021, já sob a presidência de Joe Biden, os Estados Unidos solicitaram ao governo Bolsonaro ajuda para conter a entrada de brasileiros clandestinos em território norte-americano. Na ocasião, o secretário de Estado dos EUA, Anthony Blinken, chegou a tratar diretamente do assunto com o então ministro das Relações Exteriores, Carlos França. Naquele momento, por conta da grave crise econômica decorrente da pandemia, o fluxo de imigrantes bateu recordes históricos. Em 12 meses, mais de 47 mil brasileiros foram presos pela guarda de fronteira norte-americana.

Finanças
Estados Unidos “volta” ao mapa do Banco do Brasil
17/04/2023O RR apurou que o Banco do Brasil estuda abrir três escritórios nos Estados Unidos – um deles em Nova York. A ideia é prioritariamente atender brasileiros que moram em território norte-americano. Trata-se de um passo a mais na estratégia de fortalecimento da operação do BB nos EUA. O primeiro movimento nesse sentido foi a recém-anunciada fusão entre o BB Americas e o BB Miami, que funcionavam como duas unidades de negócio distintas e distantes. Curiosamente, a associação, que saiu do papel na gestão da nova presidente do BB, Tarciana Medeiros, era um projeto de seu antecessor, Fausto Ribeiro. Só que com finalidade diferente: Ribeiro queria vender a operação do banco nos Estados Unidos. Só não foi adiante porque não apareceu uma proposta satisfatória.

Destaque
Brasil vai pleitear aos EUA reabertura de regime especial para importações
3/03/2023O RR apurou que o governo Lula pretende liderar uma negociação junto aos Estados Unidos para a reabertura do Sistema Geral de Preferências (SPG). Trata-se do regime tributário especial que permite o acesso de produtos de nações em desenvolvimento ao mercado norte-americano com isenção tarifária. De acordo com informações filtradas do Itamaraty, o Brasil estará à frente de um bloco composto por mais de 20 países da América Latina, mobilizados em torno do tema. Segundo a mesma fonte, há cerca de dez dias a Embaixada Argentina em Washington chegou a promover uma teleconferência com diplomatas não apenas da região, mas de outras economias em desenvolvimento – como Filipinas, Paquistão, Tunísia e Tailândia – em torno da questão. O SPG, que precisa ser renovado anualmente pelo Congresso dos Estados Unidos, está suspenso desde 2020. Naquele ano, o Brasil foi um dos três maiores beneficiados pelo regime especial, atrás apenas da Tailândia e da Indonésia. Na ocasião, as exportações brasileiras pelo SPG atingiram US$ 2,2 bilhões. Essa cifra, ressalte-se, foi achatada pelo impacto da pandemia e o consequente colapso na economia mundial. Estimativas do Ministério das Relações Exteriores e da Camex indicam um potencial para que esse valor chegue a US$ 5 bilhões a partir de 2024.
O governo Lula pretende usar do seu prestígio junto à gestão de Joe Biden para vocalizar o interesse desse bloco latino-americano. Trata-se, no entanto, de uma missão intrincada. As negociação passam não apenas pela Casa Branca, mas, sobretudo, pelo Congresso dos Estados Unidos. Mais precisamente pela Câmara dos Representantes, hoje de maioria republicana, sabidamente mais protecionista e hostil à flexibilização de barreiras comerciais. Em contrapartida, a reativação do SPG pode ser uma moeda de troca dos Estados Unidos para impor aos países beneficiados uma redução do comércio com a China.

Destaque
Estados Unidos pretendem garimpar metais estratégicos no Brasil
24/02/2023A agenda bilateral com os Estados Unidos, impulsionada pela recente visita de Lula a Washington, vai passar pelo subsolo brasileiro. Segundo informações filtradas do Itamaraty, os dois países estão alinhavando um acordo na área mineral. As tratativas envolvem, notadamente, níquel, cobalto e lítio. Em relação a este último, a Casa Branca já teria manifestado a disposição de financiar a atuação de mineradoras norte-americanas no Brasil – o país reúne cerca de 8% das reservas de lítio conhecidas do mundo. No caso do níquel e do estanho, o caminho já está mais bem desenhado. Trata-se de uma operação triangular, cujo terceiro vértice é a mineradora inglesa TechMet. Em novembro do ano passado, o governo norte-americano anunciou a liberação de aproximadamente US$ 30 milhões para financiar operações da companhia no Piauí. Foi apenas a primeira tranche. Na Embaixada brasileira em Washington, já se fala em um segundo aporte, desta vez na casa dos US$ 100 milhões.
Fundada pelo sul-africano Brian Menell, a TechMet é um istmo do Departamento de Estado norte-americano. Um dos seus principais acionistas é o DFC (Development Finance Corporation), a agência de desenvolvimento do governo dos Estados Unidos. O presidente do Conselho Consultivo é o almirante Mike Mullen, ex-comandante do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas norte-americanas e principal conselheiro militar dos presidentes George W. Bush e Barack Obama. A TechMet atua como uma espécie de ponta de lança na iniciativa privada dos interesses geoeconômicos dos Estados Unidos na área de mineração.
Trata-se de um acordo ganha-ganha. Ao montar uma cabeça de ponte mineral no Brasil, financiando projetos no setor mediante a garantia de suprimento, os Estados Unidos fazem mais um movimento no tabuleiro global para reduzir sua dependência de cadeias de valor dominadas pela China. Foi o que motivou o presidente Joe Biden a anunciar no ano passado a liberação de US$ 2,8 bilhões para estimular a produção de minerais estratégicos e a fabricação de baterias de veículos elétricos, uma forma de conter a excessiva presença chinesa nesses dois setores dentro dos Estados Unidos. Por sua vez, o Brasil passa a ter um aliado na produção de metais estratégicos na transição para um futuro de baixo carbono. Projeções da Agência Internacional de Energia indicam que a demanda por lítio deve crescer 40 vezes até 2040; e a procura por cobalto e níquel, entre 20 e 25 vezes.

Internacional
Casa Branca em dose dupla na posse de Lula
8/12/2022O esquema de segurança que está sendo preparado para a posse de Lula passou a contemplar a participação tanto da vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, quanto do secretário de Estado norte-americano Anthony Blinken. No encontro que teve com o presidente eleito na última segunda-feira, em Brasília, conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Jake Sullivan, praticamente confirmou a presença de ambos. Kamala e Blinken chegariam ao Brasil no dia 31 de dezembro e voltariam a Washington na tarde do dia 1º de janeiro, logo após a cerimônia de posse.
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Cabo eleitoral
22/06/2022O presidente Jair Bolsonaro discute com seus assessores a possibilidade de viajar aos Estados Unidos para celebrar o acordo com a SpaceX, de Elon Musk, que acena com investimentos em internet gratuita na Amazônia. A principal motivação para Bolsonaro é o alarido que a recente reunião com Musk, no Brasil, provocou nas redes sociais.