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O que precisa ser dito

Quo vadis, Donaldus? II

15/04/2025
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Jorio Dauster, colaborador especial

O maior risco para a economia dos Estados Unidos reside hoje no crescimento acelerado da dívida pública. Em 1969, a dívida somava US$ 366 bilhões. Em 2000, alcançou US$ 5,6 trilhões. Durante a crise financeira de 2008, saltou para cerca de US$ 10 trilhões. Em 2020, atingiu US$ 27,7 trilhões e, em 2025, estima-se que ultrapasse US$ 35 trilhões, o equivalente a mais de 120% do PIB norte-americano. Esse aumento foi impulsionado por gastos com guerras (como as do Iraque e Afeganistão, além, mais recentemente, a da Ucrânia), programas sociais (Medicare, Social Security), estímulos econômicos (como na crise de 2008 e na pandemia de 2020) e reduções fiscais sem a contrapartida de corte de gastos (como no Brasil). Todos os presidentes, independentemente de sua coloração política, têm contribuído para tal crescimento.
A trajetória ascendente da dívida gera preocupações cada vez maiores com respeito à sua sustentabilidade, em especial porque os juros que incidem sobre ela consomem fração crescente do orçamento federal. Paralelamente, cresce também o risco eventual de um calote e de seus efeitos devastadores sobre a predominância histórica do dólar como moeda de reserva internacional.
Mas será que Trump desconhece problemas de tamanha magnitude? Evidentemente que, malgrado sua ignorância em matéria econômica, o homem de negócios que já pediu várias vezes recuperação judicial para suas empresas sabe que é impossível conviver com uma dívida que se avoluma qual bola de neve. No entanto, como é típico dele, recentemente questionou – sem provas – não apenas o tamanho da dívida federal, mas também os métodos usados para calculá-la, alegando que o DOGE de Elon Musk tinha descoberto fraudes potenciais. Além disso, declarou que o país “agora não é tão rico. Devemos US$ 36 trilhões… porque deixamos todas essas nações se aproveitarem de nós”. Mais uma vez uma distorção extraordinária da realidade e a escolha dos inimigos externos para justificar suas medidas radicais.
No entanto, por trás desse palavreado agressivo, Trump vem efetivamente buscando reduzir a dívida pública de três maneiras.
A primeira consiste em, tomando emprestado a motosserra de Javier Milei, permitir que Musk ataque o déficit orçamentário mediante a amputação de agências governamentais e programas de cunho social, embora já venha crescendo o mal-estar interno com os resultados de tais cortes. Mais significativo é o fato de que, tendo anunciado que eliminaria US$ 1 trilhão do orçamento, Musk há poucos dias admitiu que essa cifra ficaria mais próxima de US$ 150 bilhões, quantia decepcionante à luz da estimativa de US$ 2 trilhões de déficit no ano em curso.
A segunda está implícita em seu suposto papel de “pacificador”, uma vez que os esforços para encerrar os conflitos herdados da administração Biden têm como objetivo real reduzir os brutais gastos militares do país. Nessa linha de raciocínio, Trump tem inovado de forma assustadora para os aliados e clientes do país. Por exemplo, busca receber de uma Ucrânia devastada o pagamento pelas despesas com armamentos incorridas pelos Estados Unidos ao longo do conflito, caracterizando-as como um empréstimo! A outra forma, já sugerida no caso da Coreia do Sul, implica cobrar tais despesas dos países defendidos pelas forças militares dos Estados Unidos, na essência transformando-as em tropas de mercenários quando antes eram o último bastião dos valores ocidentais.
E a terceira é aquela que ganha as manchetes com o vai e vem na área de comércio internacional analisado no artigo anterior. Nesse caso, podemos aqui evitar o debate técnico sobre o eventual vínculo entre déficit orçamentário e déficit comercial, o qual existe, mas depende também de vários outros fatores. O importante é reconhecer que as medidas atabalhoadas de Trump – ao impor tarifas que aumentariam em tese as receitas governamentais e reduziriam os gastos com importações, favorecendo assim a redução da dívida pública –, tiveram um efeito tétrico nas bolsas de valores de todo o mundo e eliminaram de vez a confiança no atual ocupante da Casa Branca.
O que é menos sabido, e mais grave, é que essas incertezas começam a abalar a confiança nos bônus do Tesouro norte-americano e, indiretamente, no dólar. Os chamados “treasuries”, sempre vistos como portos seguros, como os papéis mais livres de risco em todo o planeta, mostram sinais de fraqueza sobretudo diante das indicações de que seus maiores detentores, Japão e China, vêm se desfazendo de parcelas significativas dos títulos mantidos como reserva estratégica. Na medida em que, no corrente ano, o Tesouro deve emitir entre US$ 10 trilhões e US$ 15 trilhões desses títulos para financiar os déficits previstos, a demanda global por eles será crucial a fim de determinar para onde vai o imperador Donaldus. Toda a atenção é pouca!

#Donad Trump #Estados Unidos #Jorio Dauster

O que precisa ser dito

Bye, bye, Elon Musk

4/04/2025
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Jorio Dauster, colaborador especial

Avolumam-se em Washington os rumores de que Elon Musk deverá abandonar sua participação direta no governo de Donald Trump dentro de algumas semanas. Contrariando a expectativa de muitos observadores em todo o mundo, esse “divórcio” não resulta de um choque entre dois ególatras arrogantes, pois o presidente, além de ter feito o papel ridículo de garoto-propaganda ao comprar um veículo da Tesla nos jardins da Casa Branca, continua a louvar publicamente e em reuniões ministeriais o grande financiador de sua campanha eleitoral.
Como sói acontecer, já vão sendo montadas nos bastidores duas narrativas para justificar tal fato de forma positiva. A primeira tem a ver com a circunstância de que Musk, cujo nome suscitaria fortes resistências caso precisasse ser levado ao Senado por conta de uma nomeação formal, vem comandando o DOGE (Departamento de Eficiência Governamental) e executando sua razzia na administração federal como “empregado especial do governo”. E essa condição esdrúxula tem um prazo-limite de 130 dias, que vence em fins de maio ou começo de junho. No passado, fontes ligadas à Casa Branca diziam que a restrição seria contornada, mas agora essas bazófias parecem estar sendo esquecidas.
A outra versão risonha é dada pelo próprio Musk, que afirmou à FOX News já haver praticamente encerrado a missão de cortar US$ 1 trilhão do déficit governamental. Assim, ele e Trump poderão dizer que o grande general venceu a guerra em tempo recorde e se retira triunfante do campo de batalha.
Mas a realidade é bem mais complexa. Entre os ministros de Trump, auxiliares mais próximos na Casa Branca e líderes do Partido Republicano já vinha crescendo há algum tempo a preocupação com a imprevisibilidade e independência decisória de Musk até na eliminação de agências governamentais. Na população em geral, mesmo antes do tarifaço, as pesquisas de opinião pública também mostravam uma queda na aprovação de Trump e de Musk, porém muito mais acentuada no caso do bilionário, que já conta com uma alta percentagem de entrevistados insatisfeitos com as cruéis medidas que implementou. Essa insatisfação tem reflexos contundentes nos atos de vandalismo contra os carros da Tesla, seus revendedores e até postos de recarga das baterias, sem falar no boicote que se propaga no Canadá e na Europa.
No entanto, a ideia de que Musk é um perigo para o Partido Republicano só se cristalizou no dia 1º de abril, quando a juíza Susan M. Crawford foi eleita para a Suprema Corte de Wisconsin e manteve no órgão uma maioria liberal de 4 a 3. Acontece que Musk participou de forma intensíssima na campanha de seu adversário, não com uma inédita doação de US$ 25 milhões, mas postando frequentes mensagens na conta do X e fazendo numerosas aparições públicas em que previa horrores para aquela unidade da federação caso seu candidato perdesse. A vantagem de 10 pontos percentuais da vencedora foi vista como um alerta para os republicanos em todo o país.
No mesmo dia, dois republicanos ganharam as eleições especiais na Flórida para a Câmara de Deputados, mas em distritos conservadores onde Trump vencera com uma margem de mais de 30%. As maiorias agora registradas foram, surpreendentemente, inferiores a 20%, acendendo de vez o sinal vermelho nas hostes trumpistas e novas esperanças num combalido Partido Democrata.
Mas tudo isso são apenas as primeiras escaramuças numa guerra que tem dia marcado para ocorrer: em 3 de novembro de 2026, daqui a somente um ano e meio, um total de 468 assentos no Congresso (33 no Senado e todos os 435 na Câmara de Deputados) estarão sendo disputados nas urnas de todo o país. Nesse momento será definido o êxito ou fracasso da administração Trump – e as primeiras fichas já começam a aparecer na mesa, inclusive mediante a oportuna despedida de Musk.

#Elon Musk #Jorio Dauster

O que precisa ser dito

Gold Card: uma oportunidade de ouro para a bandidagem internacional

27/02/2025
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Jorio Dauster, colaborador especial

Seria ridículo se não fosse um risco imenso para os Estados Unidos e para o resto do mundo: enquanto expulsa do seu território os “soldados” dos cartéis, gangues de assaltantes e organizações terroristas, Donald Trump anuncia que concederá a cidadania norte-americana a seus chefes em todo o planeta pela irrisória quantia de US$ 5 milhões, quando esses senhores do crime comandam atividades variadas que rendem anualmente bilhões e bilhões de dólares.

Evidente que será implementado algum sistema de triagem para as centenas de milhares de candidatos a esse precioso cartão, mas as incursões da dupla Trump-Musk contra o FBI, a CIA e outras agências de inteligência já prejudicarão esse esforço. Além das fraudes facilitadas pela IA, sem dúvida há milhões de bandidos nos quatro continentes não fichados que buscarão para sempre a proteção da cidadania norte-americana.

Assim, não se surpreendam até mesmo se, em breve, a polícia do Rio de Janeiro tiver de enfrentar “americanos” nas vielas das comunidades que margeiam a Avenida Brasil e a Linha Amarela.

#Donald Trump #Estados Unidos #Jorio Dauster

O que precisa ser dito

Uma limpeza racial na Faixa de Gaza

11/02/2025
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JORIO DAUSTER, COLABORADOR ESPECIAL

 

Como a Jordânia e o Egito recebem bilhões de dólares de assistência anualmente dos Estados Unidos, supostamente em troca das bases militares mantidas nesses países, Donald Trump os tem, como dizem os de lá, “by the balls” e exercerá ao máximo o que já chamei de diplomacia da chantagem. Difícil crer que seus dirigentes possam ceder diante da importância que os árabes dão historicamente à solução dos dois Estados, dos imensos problemas internos de cunho político, econômico e social que adviriam da absorção por ambos de dois e meio milhões de palestinos e pela resistência de seus próprios povos a tal imposição imperialista dos Estados Unidos. Porém a ameaça de suspensão total e imediata das “mesadas” pode ser um golpe mortal para esses dirigentes. Teremos de ver se eles sustentam as negativas já feitas. No entanto, o que parece impensável é o uso das Forças Armadas dos Estados Unidos, certamente com o apoio das israelenses, para impor violentamente a saída de Gaza dessa imensa população composta por tantas mulheres e crianças. Na história moderna, isso só encontra paralelo no deslocamento de milhões de judeus pelos nazistas como parte do que as vítimas não sabiam ser uma solução final. O que Trump está proclamando, com o endosso alegre de “Bibi” Netanyahu e da ultradireita de Israel, é uma limpeza racial e o extermínio de um povo.

#Faixa de Gaza #Jorio Dauster

O que precisa ser dito

Donald Trump e a “diplomacia” da chantagem

5/02/2025
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A partir de hoje o RR passa a contar com as análises de um “colaborador especial”: o embaixador Jorio Dauster. Jorio é diplomata de carreira. Foi secretário do consulado brasileiro em Montreal e nas embaixadas de Praga e Londres . Também na capital inglesa, chefiou o escritório do então poderoso Instituto Brasileiro do Café, do qual viria a ser presidente. Jorio foi ainda negociador-chefe da dívida externa, no governo Collor, e embaixador do Brasil junto à União Europeia, em Bruxelas. Ocupou também a presidência da Vale. Em sua coluna de estreia, Jorio desconstrói o uso da chantagem como instrumento “diplomático, expediente que está no centro a política externa de Donald Trump no espocar do seu segundo mandato.

 

Jorio Dauster

Nenhum país pode impunemente fazer política externa chantageando seus aliados. Depois do que aconteceu com México e Canadá, de que vale um acordo comercial negociado com os Estados Unidos e aprovado pelos congressos dos três países como o USMCA, sucessor do NAFTA? Quem acreditará em qualquer outro acerto com Trump se as normas internacionais, desenvolvidas ao longo de séculos para oferecerem certa segurança no relacionamento entre nações independentes, podem ser rasgadas ao bel-prazer de um suposto estadista que, no dia seguinte, trombeteia publicamente a humilhação imposta a seus vizinhos? Mas é preciso ficar claro que não se trata de gestos ocasionais ou tresloucados. Trump assumiu a presidência com o propósito declarado de torpedear um arranjo internacional que fora promovido pelos próprios Estados Unidos quando era de longe o país hegemônico a fim de substituí-lo por uma (des)ordem internacional em que aquilo que resta de poder norte-americano possa ser explorado sem amarras formais. A saída do Acordo de Paris e da Organização Mundial de Saúde, bem como o desmonte da USAID (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional), são outros sinais do que vem pela frente. E a Europa já sabe que será o próximo alvo.

#Donald Trump #Jorio Dauster

Análise

Será que vale toda essa obsessão com a União Europeia?

6/12/2024
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Do embaixador Jorio Dauster em conversa com o RR: “Como eu conduzi os primeiríssimos entendimentos sobre um acordo comercial entre a União Europeia e o recém-criado Mercosul quando era embaixador em Bruxelas na década de 1990, vejo agora sem grande interesse as notícias conflitantes de que o Acordo está prestes a ser assinado ou vai fracassar definitivamente. O fato relevante é que, durante essas décadas de negociações infrutíferas, a importância geopolítica da Europa desabou e a ascensão meteórica da China e de vários países asiáticos deslocou nossos maiores interesses comerciais para aquele novo centro de gravidade no cenário mundial. Com a crise política e econômica na Alemanha e na França, as locomotivas do grupo, e vários países adotando posições crescentemente centrífugas nos moldes da Hungria, o que se vê hoje é que a própria existência da União Europeia passa a ficar ameaçada. Em suma, se não sair o acordo nas próximas semanas, sugiro que joguemos o projeto na lixeira da História.”

#Jorio Dauster #União Europeia

Análise

Do embaixador Jorio Dauster: “Pablo Marçal é bem pior do que Jair Bolsonaro”

28/08/2024
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Comentário, certeiro como sempre, do embaixador Jorio Dauster: “Pablo Marçal é bem pior do que Jair Bolsonaro. Na visão dele próprio, Marçal é muito mais inteligente do que aquele a quem chama sarcasticamente de ‘capitão’ o tempo todo. Marçal tem o domínio de técnicas que Bolsonaro nem sabem existirem. Tem as habilidades de comunicação de Silvio Santos na TV dirigidas para um novo meio, as redes sociais, ainda mais amplo e poderoso. Marçal está convencido de que chegará à Presidência da República tendo como trampolim a prefeitura de São Paulo. No caminho até lá, está cuidando de destruir a família Bolsonaro, pois já dá seu chefe como carta fora do baralho.”

#Bolsonaro #Jorio Dauster #Pablo Marçal

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