Buscar
Destaque
Quase uma década após a Lava Jato e a CPI dos Fundos de Pensão, a grave crise do Postalis, na esteira de um rombo de R$ 15 bilhões, vem à tona em um momento sensível para o governo. Assessores mais próximos de Lula, notadamente o ministro da Casa Civil, Rui Costa, têm alertado para o risco de o caso ser instrumentalizado politicamente, jogar foco sobre os fundos de pensão e criar uma ambiência desfavorável à retomada dos investimentos dessas entidades em infraestrutura.
Existem motivos concretos para esse receio. Segundo o RR apurou, parlamentares da oposição estão se mobilizando para acionar o TCU, questionando o plano de equacionamento aprovado pelos Correios. A estatal, de um lado, e seus trabalhadores e aposentados, do outro, terão de desembolsar R$ 7,5 bilhões cada um para cobrir o rombo atuarial do Postalis. Isso no momento em que os Correios acumulam um prejuízo de quase R$ 2 bilhões apenas nos últimos 18 meses, sendo R$ 1,3 bilhão no primeiro semestre deste ano.
Alguns congressistas já começam a se mexer para a instauração de uma nova CPI. Um dos principais artífices da ideia é o senador Ciro Nogueira (PP-PI), ministro da Casa Civil do governo Bolsonaro. Em seus cálculos, para começo de conversa, Nogueira já contabiliza como certo o apoio em peso do PL – com seus 92 deputados e seus 14 senadores – ao requerimento de abertura da Comissão Parlamentar.
É aquela velha história das CPIs: sabe-se como começa, mas nunca como termina. O governo não quer pagar para ver e já está empenhado em matar essa eventual serpente ainda no ovo.
Ressalte-se que o déficit atuarial do Postalis se deve, em grande parte, a fatos pregressos, investimentos, digamos, heterodoxos feitos pela entidade entre 2011 e 2016, muitos deles já investigados pela CPI dos Fundos de Pensão. Do ponto de vista da narrativa política, isso é um mero detalhe.
O atual déficit do Postalis e a necessidade dos Correios e dos seus “velhinhos” pagarem a conta já são um prato cheio para a oposição subir o tom e lançar suspeições contra os governos do PT – não é difícil colar nas gestões Lula e Dilma os mandos e desmandos nos fundos de pensão. Para não falar de aliados.
Um exemplo: o senador Renan Calheiros, bastante próximo ao presidente Lula, é alvo de um inquérito do STF que investiga sua suposta participação em um esquema de corrupção no Postalis. O próprio Ciro Nogueira já deu um spoiler do que pode vir a ser o slogan da eventual CPI: em recente entrevista, afirmou que o aporte dos Correios e dos funcionários e aposentados “é a prova de que, com o PT, o crime não apenas compensa, como recompensa”.
Se não inviabiliza, esse script criará embaraços para o governo Lula levar adiante o projeto de usar os fundos de pensão das estatais para turbinar os investimentos em infraestrutura, notadamente no âmbito do PAC. O presidente tem discutido a ideia com os ministros Rui Costa e Fernando Haddad. E já teve ao menos uma reunião formal com os presidentes da Previ. Petros, Funcef e do próprio Postalis para tratar do assunto.
Todos os direitos reservados 1966-2025.