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Que lama está guardada para o debate de hoje?

  • 28/10/2022
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Até ontem, no início da noite, assessores de Jair Bolsonaro discutiam o lançamento de uma “granada” contra Lula no debate de hoje à noite. Sob a ótica do comitê de Bolsonaro, o artefato em questão teria o efeito de um “grande finale” para a campanha. O presidente acusaria Lula de “molestador”. O ataque – de longe o mais venal da mais venal das disputais eleitorais brasileiras – seria feito com base em declarações do cientista político Cesar Benjamin, conhecido como “Cesinha”, em artigo publicado na Folha de S. Paulo em 27 de novembro de 2009. A referida matéria remete à prisão de Lula, então líder sindical, em 1980. O suposto episódio, que daria origem à acusação no debate de hoje, é tratado com riqueza de detalhes na versão de “Cesinha”, um dos fundadores do PT. O caso é kafkiano, bem ao feitio da atual campanha. No artigo, o cientista político afirma, inclusive, que, em 1994, conversou com o próprio Lula sobre o assunto. Esse diálogo, no entanto, foi desmentido pelo publicitário Paulo de Tarso, que, segundo “Cesinha”, estava presente ao encontro.

A acusação seria um contraponto, praticamente na mesma moeda, ao uso político feito pelo PT em cima do “pintou um clima”, leia-se a declaração de Bolsonaro sobre as jovens venezuelanas. O episódio, explorado pela campanha petista, rendeu ao presidente da República a pecha de “pedófilo”. Segundo uma fonte do comitê de Bolsonaro, no staff de campanha o ataque moral guardado no bolso do colete para hoje à noite recebeu o codinome de “Lurian 2”. Para quem não se lembra, em 1989, o programa eleitoral de Fernando Collor exibiu um depoimento de Miriam Cordeiro, ex-namorada de Lula, acusando o petista de ter lhe proposto aborto e de não assumir a paternidade da filha de ambos, Lurian Cordeiro.

Até ontem, a campanha de Jair Bolsonaro ainda discutia sobre a conveniência de descarregar ou não o episódio no debate de hoje. Seria um tiro de calibre tão ou mais alto do que as suspeições sobre fraude na eleição que certamente vão ser despejadas por Bolsonaro, sobretudo depois dos acontecimentos desta semana. Nesse contexto, a “Operação Lurian 2” estaria vinculada ao próprio andamento do programa, lembrando que, nos intervalos comerciais, assessores aconselham o candidato em relação à abordagem de determinados temas no bloco seguinte. Mas nem só de tresloucados vive o ringue eleitoral. No staff de Bolsonaro, há um temor de que o ataque possa se voltar contra o presidente em razão da virulência e da irresponsabilidade da “revelação”. Por muito menos, Bolsonaro refugou no debate da Globo do dia 29 de setembro. Na ocasião, ele perguntou à candidata Simone Tebet sobre a morte do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel. Tebet desarmou o artefato, recusando-se a levantar a bola de volta para Bolsonaro e recomendando que ele fizesse a pergunta diretamente a Lula. Jair Bolsonaro, o “imbrochável”, brochou em repetir a pergunta face a face com o petista.

Vento que venta lá venta cá. Por sua vez, na campanha de Bolsonaro há um receio com as informações que assessores de Lula estão reunindo para hoje à noite, com o objetivo de escancarar a proximidade entre o presidente e Roberto Jefferson. Não faltam laços a uni-los. No último sábado, por exemplo, o Padre Kelmon, uma espécie de “candidato laranja” do PTB à Presidência, esteve com Bolsonaro em um ato de campanha, em Guarulhos (SP) – na véspera, Michelle Bolsonaro referiu-se a Kelmon como o “padre mais amado do Brasil”. No dia seguinte, lá estava Padre Kelmon no condomínio de Jefferson, na cidade de Comendador Levy Gasparian, a mais de duas horas de carro do Rio de Janeiro, para “negociar” a prisão do correligionário. Para além de fatos mais recentes, a relação entre Bolsonaro e Jefferson vem de outros carnavais. Em 2003, Eduardo Bolsonaro, então um jovem estudante de direito de 19 anos, ocupou um cargo na liderança do PTB, comandado por Jefferson. Em maio de 2020, o petebista postou uma foto nas redes sociais empunhando um fuzil e manifestando apoio a Bolsonaro para combater o “comunismo”. São fatos a serem potencialmente explorados por Lula para manter o caso Jefferson em evidência no debate de hoje – a história acabou sendo convenientemente eclipsada pela campanha de Bolsonaro com as denúncias de suposta fraude na veiculação de propagandas eleitorais. Tanto de um lado quanto de outro, nunca se viu um emporcalhamento tão grande em uma disputa eleitoral.

 

 

Brasil x União Soviética

Vai ver é só paranoia. Mas ontem, no comitê de campanha de Lula, houve quem aventasse a hipótese de Jair Bolsonaro levar uma camisa da seleção brasileira para o debate de hoje, a título de provocação contra o oponente. Seria uma batalha a mais na guerra dos símbolos, na qual o bolsonarismo se apropriou da bandeira nacional contra o vermelho “comunista” do PT. De repente, em uma campanha repleta de traquinagens, até faz sentido mesmo.

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