Lula quer um PIB de 5% em 2026. A que custo?

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Lula quer um PIB de 5% em 2026. A que custo?

  • 7/10/2024
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Um PIB de 5% em 2026, seu último ano de governo, é a encomenda de Lula ao seu ministro da Fazenda, Fernando Haddad, segundo fonte da Secretaria de Política Econômica. Apesar da indisposição colaborativa do Congresso, do “fogo amigo”, do stress na economia mundial, guerras, juros elevados, um déficit público que colou no corpo da macroeconomia como tatuagem, além das declarações desastradas do próximo presidente da República, o ministro acha que consegue.

Difícil, é o mínimo que se pode dizer dessa missão. Para começar, Haddad precisa amansar a política monetária. O Boletim Focus da última segunda-feira estima que o piso da Selic até 2026 será de 9,50%, passeando no meio do caminho pelo 11,75% projetado para este ano. Em nenhuma data desse calendário pré-eleitoral, o Focus prevê uma Selic caminhando em linha com a inflação no centro da meta. Mas digamos que o IPCA deslizasse das franjas para o centro da meta. Ainda assim, a taxa de juros real não desceria abaixo de 6%. Um PIB de 5% só pode ser explicado por alguma carta na manga do governo ou por um estrago de caráter eleitoreiro que sustente o voo da galinha até dezembro de 2026.

Não faltam fatores para dificultar esse objetivo. A começar pela previsão de juros reais em 7% no fim de 2026 – a estimativa deve estar subestimada porque o BC inevitavelmente puxará a taxa nesse período. Há ainda os indicadores fiscais em ritmo de piora. Some-se o fato de que a própria autoridade monetária prevê um teto de 2,5% para o PIB potencial, ou seja, a taxa de crescimento da economia sem pressionar a inflação. Por fim, o processo eleitoral aumentará a imprevisibilidade do ambiente econômico, atingindo todos os agentes. Nessas circunstâncias, os investidores tiram o pé do acelerador para ver o que vai sair das urnas.

Um PIB superior a 5% comparado com um possível crescimento entre 3% e 3,5% neste ano é uma enormidade. A “carta na manga” de Haddad passaria novamente pelo eterno desejo de mudar a meta de inflação, para algo assim 4% e 4,5%. E a tal da credibilidade da política monetária? Para subir a meta, a título de “correção”, a Fazenda teria de emplacar, paralelamente, uma série de medidas diversionistas, mas na direção certa das micro e macroeconomia.

Coloque-se na lista completar a reforma tributária, a realização de mais uma reforma estruturante – poderia ser a administrativa, meio remendada e empurrando a regulamentação para depois de 2026 -, a implementação de uma agenda extensa de microrreformas – aliás, foram anunciadas, no ano passado, 17 microrreformas, que ninguém sabe ninguém viu -, e o corte de gastos fiscais notoriamente ruins. Com essas iniciativas, acompanhadas pelo corte de juros propiciado pela mudança da meta de inflação, a economia poderia dar um salto, até porque a produtividade implícita aumentaria também com as mudanças nos fatores. Bonito é. Mas quem é quem que consegue emplacar essas medidas? Portanto, a carta malocada na manga seria mais um capítulo do livro “Poliana Moça” do que qualquer outra coisa.

O outro artefato – ou artifício – para chegar ao PIB de 5% é bem mais simples. Basta sujar o fiscal, tirando recursos do orçamento, aumentando os gastos parafiscais etc. Verdade seja dita, não chega a ser uma política original. Em menor ou maior intensidade, financiar a eleição sujando o fiscal é algo já feito desde o paleozoico. Mas é o cenário mais provável. De qualquer forma, um PIB de 5% não viria com qualquer dessas combinações. Está mais para uma antevisão do Dr. Pangloss, personagem hiperotimista do Candide, de Voltaire, do que um laivo de realidade.  Corrija-se o sujeito: o PIB de 5% em dezembro de 2026 está mais para um delírio de Lula do que uma premissa racional. É o que temos.

#Economia #Fernando Haddad #Lula

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