As líquidas convicções de Paulo Guedes

  • 29/11/2019
    • Share

O ministro Paulo Guedes, “caso as labaredas do continente cheguem ao Brasil”, conforme os dizeres da jornalista Maria Cristina Fernandes, no jornal Valor, de ontem, pode muito bem bater continência ao capitão Jair Bolsonaro e dar um cavalo de pau na política econômica. Compartilhada por muitos, a aposta que Guedes não é pragmático e irá até a morte com esta política econômica é equivocada e desconhece a essência do personagem.
Nos episódios passados de aquisição do Ibmec do ex-ministro João Paulo dos Reis Velloso – uma história à procura de um bom narrador – e da saída do Banco Pactual, Guedes mostrou malemolência e jogo de corpo. O ministro da Economia é, sim, um liberal convicto, mas, antes de tudo, é maquiavélico e não abre mão de poder. Guedes se preparou a vida toda para implementar no governo um experimento liberal. Está tentando. Mas já demonstrou que é capaz de engolir sapos para ficar onde está. Ou mesmo fazer atalhos que a sua igreja condena, tal qual estipular um teto mensal
para o juro do cheque especial. É liberal sim, pero no mucho se es necesario, así lo exige.

É bem provável que variáveis sociais resilientes, como o desemprego, combinadas com a agenda de uma eleição atrás da outra, e vá lá, o fogaréu de protestos nos países hermanos, levem o Capitão a ordenar a Guedes um meia volta volver na política econômica. Seria, então, procurada uma Ilhas Malvinas ou qualquer coisa que valha, quer dizer uma externalidade onde depositar o motivo da mudança. A guerra comercial entre os EUA e China,
que está comendo as exportações do Brasil, é um bom exemplo. Em nome da situação excepcional e da crise social decorrente, e ancorado nas suas “grandes conquistas”, o ministro poderia decretar uma pausa na política de ajuste e irrigar o social com recursos orçamentários e extraorçamentários.
Afinal, como gosta de dizer Guedes, citando seu grande ídolo Karl Popper, só é irrefutável aquilo que é dogma. E ele – quem foi que disse? – não é dogmático.

Seria, então, a hora de Guedes seguir o seu maior desafeto intelectual, John Maynard Keynes: “Se a realidade muda, eu mudo”, recitaria o ministro, ressalvando que é um liberal convicto, o momento é passageiro e logo à frente retornaria à ortodoxia que vinha salvando o país. Ao contrário do que vaticinou Maria Cristina Fernandes, que provavelmente não conhece o economista, a opção do Capitão não está restrita à repressão ou à demissão do ministro, caso o continente pegue fogo. Ambos já mostraram que sabem voltar atrás. Guedes, apesar das frases de efeito mostrando desapego ao cargo, não quer largar o osso de jeito nenhum. Basta perguntar a qualquer um que o conheça bem. O RR, por exemplo.

#Paulo Guedes

Leia Também

Todos os direitos reservados 1966-2024.