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Martin Barrington rasgou as duas últimas páginas do seu caderno moleskine de anotações. Na primeira folha, amarrotada com raiva, estava escrito em grafia miúda: “Memória de uma estrondosa vitória com gosto de derrota”. O que poderia ser chamado do negócio do século, Barrington, chairman e CEO da Altria – controladora da Phillip Morris e acionista da SAB Miller – lamentava como extra money lost. Desde setembro, com uma tática de concordar e discordar alternadamente do valor do negócio, vinha forçando “Paul Lemann” a bidar seus lances pela cervejeira. O pedido da Altria era de US$ 123 bilhões, ou seja, estimava o valor da companhia acima dos US$ 200 bilhões precisamente, bem mais do que o US$ 1 a mais por ação, aliás, a libra furada, que “Jorge Paul” metaforicamente jogou aos seus pés para que se abaixasse, derrotado. Dar a volta em Barrington não é pouca coisa. Foi preciso que Lemann viesse com seus homens de frente, “Albert” Sicupira e Marcel Telles, trazendo junto seu esquadrão Panzer, composto de financistas barra-pesada como Mr. Buffet, além da adesão final de Alejandro Santo Domingo, líder do clã colombiano Santo Domingo, sócio “muy amigo” no controle da SAB Miller. “Marty” pensava no comunicado final da Altria apoiando o negócio com a AB InBev. Foi como se, no teatro, ele interpretasse o orgulhoso líder gaulês Vercingentórix depondo suas armas aos pés de Julio César. Havia uma diferença marcante entre ele e “Paul”. Se considerava um profit hunter. Já o conquistador da SAB Miller era um business shark. Por trás da grife de sucesso financeiro carregava entre outros aparelhos cirúrgicos um bisturisocial. Barrington está longe de ser um progressista, mas até para ele Paul era um exaggerated killer job. Pobre Alan Clark, CEO da SAB Miller, que certamente seria rifado por Carlos Brito, executivo símbolo da AB InBev. Na África do Sul, berço da cervejeira, as notícias eram de que o dia foi de tristeza e cantos de lamento. Um rasgo no coração seria ver a sede da SAB ser transferida de Londres para Manhattan, onde reinavam os “garotos mórmons” de “Paul Lemann”. Barrington já tinha sido avisado que a barra era pesada. “Paul Lemann” passou anos inventando um personagem para seduzir o presidente da Brahma, Hubert Gregg, a vender a companhia. Seguiu em frente e aliciou o presidente da Fundação Antártica, Vitório De Marchi. O executivo engoliu o Conselho da Fundação, em um caso de traição clássica, permitiu que ela fosse incorporada à preço de cerveja choca e foi gastar seus muitos milhões. Com a ajuda do empresário Mauro Salles, criador do nome AmBev, “Paul”, “Albert” e Marcel foram celebrar a parceria no Palácio do Planalto. A construção da InBev foi um movimento de xadrez típico de Lemann. Começou menor no capital, mas por dentro do bloco de controle foi se apoderando da companhia e assumindo a totalidade da gestão. Daí, para adicionar as duas vogais AB no nome da InBev, a passada, ainda que larga, foi mais fácil. “Paul Lemann” já tinha virado o Donald Trump da cerveja, com uma tropa de financistas gulliverianos a reboque. Nada mais o pararia. Quanto a “Marty”, o que mais lhe incomodou foi aquela moeda de uma libra por ação, que mais parecia um óbolo. O copo de cerveja de US$ 103 bilhões era para ter sido tomado mais cheio.
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