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Era só o que faltava, o câmbio virar um problema. A carreira desabalada do dólar e a falta de atenção do governo ao fato de que os fundamentos da economia não são favoráveis ao câmbio no curto prazo – que pode se tornar longo a depender do cenário internacional – estão levando a equipe econômica a revirar o baú de velhas ideias e projetos nessa área. Uma dessas medidas seria a realização de uma nova e urgente repatriação do dólar, em condições mais atrativas do que a efetuada em 2016, na gestão do então ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.
À época, a repatriação gerou uma atração de R$ 169 bilhões, com uma arrecadação fiscal para o governo de R$ 59 bilhões. Essa dinheirama não existe mais no exterior. Mas estima-se que algo equivalente a 30% desse valor ainda resistam bravamente nos paraísos fiscais. É bem verdade que a segunda fase de repatriação feita também na gestão Temer/Meirelles frustrou o governo, com a arrecadação de apenas R$ 1,6 bilhão. Agora, além do aperto dos órgãos de controle e fiscalização financeira internacionais, haveria outro estímulo para o retorno do vil metal ao Brasil.
Para a nova repatriação, caso ocorra, estuda-se imposto e multa bem abaixo dos 30% cobrados no governo Temer ou mesmo um parcelamento generoso do pagamento. Acredita-se que o simples anúncio da medida teria algum impacto de baixa sobre a cotação do dólar. A repatriação, entretanto, está longe de resolver o problema do câmbio, que depende do manejo das políticas fiscal e monetária; da atitude firme do governo na busca de capital estrangeiro; da ousadia de irrigar a economia física com recursos extraorçamentários – inclusive como isca para o investidor externo –; e da moderação, ou melhor, do silêncio do ministro da Economia. A equipe econômica tem que trabalhar com afinco para não ser obrigada a obrar uma das bravatas mais arriscadas de Paulo Guedes: vender um caminhão de reservas. Um dos dilemas do lastro cambial é se ele existe para ser usado ou para ser guardado. Tirar a teima agora não parece ser um bom negócio.
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