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Como se não bastasse o avanço do STF, o cerco ao ex-diretor geral, Silvinei Vasques, e a outros ex-integrantes da cúpula da Polícia Rodoviária Federal (PRF) se fecha dentro da própria corporação. A instituição abriu uma investigação interna sobre compra de 14 veículos blindados junto à norte-americana Combat Armor, iniciada em 2020, na gestão de Vasques. O objetivo é averiguar as condições e termos da negociação e também a qualidade técnica dos equipamentos. Além das suspeições que cercam os contratos com a Combat Armor, há indícios de que os blindados não atendem às especificações técnicas necessárias, inclusive com riscos à vida dos próprios agentes.
De acordo com a fonte do RR, os veículos já teriam se mostrado vulneráveis a determinados tipos de munição, razão pela qual sequer foram efetivamente usados em operações policiais. Consultada, a PRF confirmou a averiguação interna sobre os termos em que se deu a aquisição dos equipamentos e também em relação à qualidade dos veículos, inclusive com testes de balística. A corporação disse ao RR que “o estudo que avalia as condições dos blindados adquiridos ainda está em andamento.”
O Ministério Público já havia determinado uma perícia dos blindados, diante dos indícios de que os veículos não têm capacidade para funções operacionais. A investigação interna da PRF dá uma gravidade ainda maior ao caso. Por trás da negociação pode estar um escândalo que atinge o antigo comando da Polícia Rodoviária Federal e, por extensão, o próprio governo Bolsonaro. O responsável pela aprovação dos contratos firmados com a Combat Armor foi Silvinei Vasques, então superintendente regional da corporação no Rio de Janeiro.
A empresa pertence ao empresário norte-americano Daniel Beck, notório apoiador do ex-presidente Donald Trump. Segundo investigações do STF, em fevereiro de 2023, quando Bolsonaro cumpria seu “retiro” nos Estados Unidos, o próprio Vasques enviou uma mensagem ao ex-presidente pedindo que ele recebesse um representante da fabricante de equipamentos bélicos.
O que está em jogo é a blindagem reputacional da própria PRF. As suspeitas em torno da compra dos veículos contaminam ainda mais a imagem da corporação, já abalada pelas acusações de tentativa de interferência no segundo turno da eleição presidencial do ano passado. A atual direção da Polícia Rodoviária Federal tem se empenhado para desvincular a instituição de eventuais malfeitos do passado recente. Há um esforço também para aparar arestas institucionais com o Judiciário, notadamente o STF, que conduz as investigações contra Silvinei Vasques e ex-superintendentes da força policial. Conforme o RR informou, o diretor-geral da PRF, Antônio Fernando Souza Oliveira, enviou ofício ao ministro Alexandre de Moraes, solicitando uma audiência para tratar da possível reformulação da doutrina de uso de armamento letal pela PRF. O tema entrou em voga após a morte da menina Heloisa Santos, de três anos, atingida por tiros disparados por um agente da corporação no Rio.
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