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A OEA deve ser o próximo alvo da ofensiva do governo Trump contra órgãos multilaterais. Segundo uma fonte do Ministério das Relações Exteriores, as sinalizações provindas da Casa Branca tornam mais do que provável a interpretação de que serão suspensos os repasses financeiros para o Comitê Interamericano Contra o Terrorismo (CICTE) e a Comissão Interamericana para o Controle do Abuso de Drogas (CICAD), vinculados à Organização dos Estados Americanos. As contribuições giram entre US$ 30 milhões e US$ 50 milhões por ano.
De acordo com a mesma fonte ouvida pelo RR, técnicos do CICTE e da CICAD, inclusive, já cancelaram reuniões que estavam marcadas para esta semana, algumas nos Estados Unidos.
No dia de sua posse, Donald Trump anunciou a saída dos Estados Unidos da OMS. Na última terça-feira, decretou a retirada do país do Conselho de Direitos Humanos da ONU. No mesmo dia, confirmou também que fechará a Agência dos Estados Unidos para Desenvolvimento Internacional (USAID, na sigla em inglês).
A rigor, é um estamento interno; na prática, porém, funciona como um organismo multilateral. A USAID é responsável por executar programas de ajuda humanitária em todo o mundo. No caso da OEA, o que está por trás do esvaziamento do CICTE e do CICAD é um projeto de captura. Talvez Trump não consiga anexar a Groelândia.
Muito menos o Canadá. Mas, em relação à OEA, a tarefa é mais simples – mesmo porque 60% do orçamento da entidade são bancados pelos Estados Unidos. Trump pretende usar a entidade como um instrumento de pressão dos Estados Unidos sobre a região. A Casa Branca vai influenciar pesadamente na eleição do próximo secretário-geral da OEA, marcada para este ano.
O candidato de Washington é o chanceler do Paraguai, Rubén Ramírez Lezcano. Em novembro do ano passado, logo após ser eleito, Trump recebeu Lezcano em sua casa em Mar-a-Lago, na Flórida. O economista paraguaio é um nome talhado para os interesses do presidente dos Estados Unidos.
Ao mesmo tempo, é visto como um linha dura e como alguém que será subserviente a Washington. O fechamento das torneiras norte-americanas praticamente inviabiliza a manutenção das atividades da CICTE e da CICAD, altamente dependentes dos recursos dos Estados Unidos – como de resto, toda a OEA. Ou seja: diversas iniciativas relevantes conduzidas pelas entidades estão sob risco.
É o caso do Plano de Ação Hemisférico sobre Drogas (2021-2025), que apoia os estados-membros a colocar indivíduos no centro das políticas e programas sobre drogas. O CICAD até aqui funcionou em estreita colaboração com a ONU, com o Conselho Internacional de Controle de Narcóticos, com a OPAS, com a Comunidade do Caribe e com o Centro Europeu de Monitoramento de Drogas e Dependência Química. Também implementou o Mecanismo de Avaliação Multilateral, que analisa se os países membros da organização vêm atuando bem no combate ao problema.
Já o Comitê de Interamericano contra o Terrorismo, criado pela Assembleia Geral da OEA, em 1999, se reúne anualmente para discutir e avaliar ações para fortalecer a cooperação regional na matéria. Desde então, os países membros adotam um Plano Anual de Trabalho, preparado pela Secretaria-Executiva do Comitê Interamericano contra o Terrorismo (SE-CICTE). Atualmente, o CICTE coordena programas de cooperação em importantes matérias, como defesa cibernética, segurança de fronteiras e prevenção ao terrorismo. Logo após o 11 de setembro, por exemplo, o Comitê recebeu de uma só vez US$ 100 milhões dos Estados Unidos.
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