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“Michelle golpista” desponta como uma candidata sob medida para a extrema direita

  • 29/01/2025
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O principal cabo eleitoral da candidatura de Michelle Bolsonaro à Presidência da República é o bolsonarista mais próximo do governo de Donald Trump. Trata-se de Eduardo Bolsonaro. O “03” teria, inclusive, conversado sobre o assunto com o guru político da extrema direita mundial, o marqueteiro Steve Bannon, a quem sabidamente desfruta de acesso direto.

Eduardo não é Jair, que não é Flavio, que não é Carlos. Mas é o que bate mais forte. E deve ganhar maior dimensão com o governo Trump. Melhor para a ex-primeira-dama. Jair Bolsonaro é um grande eleitor, mas não é o melhor personagem para fazer a chancelaria de Michelle no exterior.

Graças a essa circulação conduzida por Eduardo, a percepção é que a candidatura da Sra. Bolsonaro tende a crescer de fora para dentro. Isso no momento em que a ambiência doméstica também lhe é favorável. Michelle, que até o último final de semana era virtual candidata do PL ao Senado Federal ou à vice-Presidência da República, galgou 10 mil degraus em um domingo.

Os novos trechos da delação do tenente-coronel Mauro Cid, publicados pelo colunista Elio Gaspari, mexeram fortemente com o algoritmo político-eleitoral de 2026. A “Michelle golpista” surge para preencher um vazio deixado pela inelegibilidade de Jair Bolsonaro: com ela, o bolsonarismo volta a ter um candidato competitivo à Presidência de extrema direita.

A personagem que emerge da delação de Mauro Cid é uma primeira-dama que participou ativamente das discussões travadas no Palácio do Planalto e no Alvorada após a eleição de Lula e defendeu uma ruptura institucional capaz de assegurar a permanência de Bolsonaro no Poder. No cálculo político bolsonarista, o que menos importa é o risco de criminalização de Michelle.

O que para uns é visto como um escândalo, para outros é uma insígnia. Trata-se de uma construção com forte potencial de turbinar o apelo da ex-primeira-dama junto à parcela mais leal de seguidores do marido.

Nem Romeu Zema nem Ronaldo Caiado trajam de todo o figurino do candidato da extrema direita, apesar de vez por outra se travestirem como tal, mais por pragmatismo do que por essência. O próprio Tarcísio Freitas talvez corresponda ainda menos a esse perfil. Não obstante a proximidade e o sentimento de lealdade em relação a Bolsonaro, o governador de São Paulo está longe do arquétipo de um radical.

Ele pode até ser enquadrado como um conservador, mas não se tem registros de Freitas defendendo intervenção militar, proferindo discursos de ódio contra grupos identitários, desprezando vacinas ou dizendo que o aquecimento global é invencionice. Pelo contrário. Há uma semana, por exemplo, o governador anunciou a criação de um Conselho de Mudanças Climáticas. É uma agenda que não conversa nem um pouco com o eleitorado cativo de Bolsonaro.  

Até então, o nome de Michelle Bolsonaro sempre esteve mais vinculado a uma primeira-dama suave, que colaborava com o marido através da sua inserção religiosa. Os fatos trazidos à tona na delação de Mauro Cid, devidamente reinterpretados pelo eleitorado mais extremista, embaralham essa lógica e aumentam seu status de presidenciável. Michelle parece talhada para defender o legado eleitoral do marido. 

Seu nome já é mencionado com fervor em alguns templos neopentecostais que visita. Além de evangélica “ativista”, identificada com um conservadorismo moral e um discurso de defesa dos valores cristãos e da família, Michelle tem carisma e fala ao eleitorado feminino, no qual sempre houve um bolsão de resistência a Jair Bolsonaro. Não bastasse a revelação das denúncias de Mauro Cid, é importante prestar a atenção a outros movimentos políticos recentes. Juntamente com o próprio Eduardo Bolsonaro, Michelle foi a Washington para a posse de Donald Trump.

O que fica para o seu potencial eleitorado é que ela representou Bolsonaro junto a Trump. É sintomática também uma declaração dada por seu marido em recente entrevista. Perguntado sobre a possibilidade de Michelle disputar a eleição à Presidência, Bolsonaro disse “Não tenho problemas, seria também um bom nome com chances de chegar”. O melhor foi a frase seguinte: “Obviamente, ela me colocando como ministro da Casa Civil”.

Foi uma mensagem nada subliminar ao seu eleitor mais fiel, um recado de que ele, Bolsonaro, teria forte influência no governo caso Michelle assumisse a Presidência da República. Seria a sua volta ao Palácio do Planalto.

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