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O governo, por meio de ações fiscais e parafiscais a rodo, está mandando para as calendas a ameaça de recessão, em 2025 e 2026. O PIB negativo fica para quem jogar a peteca em 2027, mesmo que seja o próprio Lula. Bom e mau.
Com a política fiscal em frangalhos e a monetária algemada pela inflação, uma brigando com a outra, a projeção de um crescimento negativo, que pairou sobre o mercado no fim do ano passado, foi para o espaço. O RR usou da ferramenta Knewin para medir a temperatura do mercado nos cinco primeiros meses do ano. O parâmetro foi aleatório: o intervalo entre 31 de dezembro de 2024, dia da posse de Gabriel Galípolo na presidência do BC, e 25 de maio.
Nesse período, já sob a batuta de Galípolo, o Copom elevou a Selic em 2,50 pontos percentuais, sem viés de baixa. No início deste ano, ainda havia quem pensasse em recessão em 2025, mesmo que fosse uma recessão técnica. O RR foi checar o motivo de tanta dispersão nas expectativas.
Por meio da citada ferramenta, varreu os 80 veículos jornalísticos de maior audiência do país. Desde 31 de dezembro, foram registradas 5.303 citações associando as palavras juros e recessão. Os empresários, analistas e economistas preditores dos diversos cenários foram devidamente separados.
Pegando-se o período entre janeiro e maio, a média é de 38,7 menções por dia. No entanto, quando se analisa exclusivamente o mês de maio, essa média de citações a juros e recessão cai para 13,4 por dia.
O levantamento, por si só, não quer dizer muita coisa, já que o intervalo de tempo, ainda que exíguo, contém um mar de fatos imprevisíveis mesmo para as pitonisas top 5 do Focus. Não bastasse isso, uma pesquisa recente feita pelo portal UOL apontou que o mercado financeiro errou 95% das previsões econômicas realizadas nos últimos anos no Brasil. Querem mais: o Boletim Focus falhou em suas estimativas para a Selic em 16 dos últimos 21 anos.
O resultado da pesquisa do RR traz um dado surpreendente. Mesmo com a desconfiança de que Galípolo era um pau mandado de Lula e encerraria o ciclo de alta da Selic bem antes do que anunciava, a mediana de 45,8% dos analistas previa uma recessão, em dezembro; no mesmo período, 54,15% apostavam em um resultado contrário. O que causa ainda mais espécie é que, no mês de maio isoladamente, em apenas 9% da amostragem os analistas apontam para uma recessão.
Ou seja: em cinco meses, a percepção de desaquecimento da economia praticamente se dissipou. O resultado confirma a tese de que a Selic, sozinha, já não tem o mesmo efeito para conter a atividade econômica. Talvez estejamos entrando no que os economistas chamam de dominância fiscal, quando os juros altos são insuficientes para reduzir a inflação.
O governo já mostrou com provas cabais que vai sustentar o crescimento do PIB através de medidas populistas, não estruturantes e voltadas para o aumento da renda da população. Não há limite previsível do gasto, já que o centro da meta de inflação derivou para o seu intervalo superior, de 4,5%, e ninguém acredita que nem neste ano e muito menos no calendário eleitoral de 2026, o governo vá refrear as despesas.
E mesmo o arcabouço fiscal parece estar se tornando uma âncora de papel, frente a fúria gastadora de Lula. Conforme informação dada pela colunista Lu Aiko Otta, do jornal Valor Econômico, estão no forno linhas de crédito para melhorar moradias precárias e para trocar motocicletas. A tarifa social nas contas de luz deve ser ampliada, assim como o vale-gás.
O presidente também anunciou uma nova linha para reforma de casas com a “menor taxa de juros possível”, e um programa que dará acesso a especialidades médicas. Há também a intenção – no ano eleitoral, é claro – de elevar o benefício do Bolsa-Família de R$ 600 para R$ 700. O mesmo se aplica ao aumento dos recursos para o programa Pé-de-Meia.
Nada disso são previsões, mas medidas já em implementação ou anunciadas. E quem vai financiar isso tudo? Os juros só subtraem da economia. O estímulo fiscal em algum momento terá de parar. Ganhou uma bolada quem apostou no aumento da inflação.
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