Economia

Making off de Meirelles no BC fala mais sobre o Lula III do que o Lula I

  • 5/07/2024
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Nos jornais, em meio à efeméride de comemorações dos 30 anos do Plano Real, pipoca ali e acolá que o novo regime monetário influenciou Lula a escolher Henrique Meirelles, um nome de agrado do mercado e garantia contra heterodoxias, para a presidência do Banco Central. O mesmo motivo tinha pesado em favor da indicação de Antonio Palocci para a Fazenda. Em relação a Palocci, a assertiva está correta. Lula tinha medo de um ataque especulativo dependendo da equipe econômica a ser anunciada. Na campanha eleitoral contra o candidato de FHC, José Serra, o mote de que Lula acabaria com o Real chegou a ser usado, quando ninguém falava no termo fake news. Mas Palocci, apesar do trânsito com a elite empresarial, não era um escudo suficiente. A blindagem para evitar uma razia especulativa tinha de ser incontestável.
É nesse ponto da história que entra a figura de Meirelles. Só que o enredo do achado é bem diferente do convite protocolar para a titularidade da autoridade monetária. A indicação do então presidente do First Boston para o BC de Lula foi costurada por um trio improvável: o presidente do grupo Brasilinvest, Mário Garnero, o advogado e super lobista Jorge Serpa, e, principalmente, José Dirceu. Curioso o papel relevante do “maior embaixador de Cuba” no Brasil ter sido o de grande articulador junto ao governo norte-americano de um banqueiro brasileiro que operava naquelas plagas. A escolha tinha de ser de um ortodoxo financista puro-sangue, que, a título de comparação, faria do atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, um economista de esquerda. Mais interessante ainda é a aprovação ter sido feita diretamente pelo então vice-presidente dos EUA, Dick Cheney, controverso até a alma, com negócios com a indústria armamentista e a petroleira Halliburton. As conexões de Dirceu com os EUA começam em um almoço confidencial articulado por Garnero, na sede da Brasilinvest, com a embaixadora norte-americana no Brasil, Donna Hrinak.
Nesse encontro, foram combinadas ações conjuntas, entre as quais uma carta de Garnero a Dick Cheney – o empresário tinha em seu conselho o ex-secretário de Estado dos EUA George Shultz, além de várias conexões com autoridades norte-americanas – recomendando um encontro pessoal com Dirceu para um assunto de relevância na política bilateral entre os dois países. Jorge Serpa, que falava com todo mundo e tinha sido, anteriormente, de grande serventia para FHC em “operações complicadas”, foi acionado para “lubrificar” os contatos nos EUA. Acertado o encontro, Dirceu foi conversar com o vice norte-americano. Nessa reunião, foi batido o martelo para a sondagem a Meirelles, que informalmente já tinha sido feita, é claro. O resto da história todos sabem. Os documentos oficiais sobre esses eventos já são públicos. Eles explicam em alguma parte porque o governo Lula I foi tão diferente do atual governo Lula III.

#Banco Central #Henrique Meirelles #Plano Real

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