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Dentro da própria Petrobras, existem mais dúvidas do que certezas em relação à continuidade de um de principais projetos da companhia na área internacional: a exploração e produção de gás em San Telmo Norte, na Bolívia, região com reservas avaliadas em mais de US$ 6 bilhões. Há informações de que a empresa estaria reavaliando sua participação no negócio – um investimento superior a US$ 1 bilhão em parceria com a estatal local YPFB. Existe uma conjunção de fatores com potencial para arrefecer o interesse da estatal pela operação.
Para começar, guardadas as devidas proporções, San Telmo Norte é uma espécie de “Margem Equatorial” boliviana. Existe uma forte de pressão de ambientalistas, ONGs e comunidades locais contra o projeto. A área está localizada dentro da Reserva Nacional de Flora e Fauna de Tariquía. Uma amostra das dificuldades enfrentadas pela Petrobras: há cerca de duas semanas, por questões de segurança, a companhia foi forçada a retirar do local equipes que trabalhavam na coleta de informações ambientais e hidrológicas do poço DMO-X3.
A decisão se deu por conta da organização de um protesto contra o empreendimento, com a paralisação de estradas da região. Em conversa com o RR, a Petrobras confirmou que “Considerando os bloqueios realizados por um grupo de membros da comunidade, a Petrobras Bolívia decidiu interromper a atividade de coleta de informações.” Segundo ela, “a atividade será retomada assim que as condições de acesso forem estabelecidas.”
A empresa ressalta ainda que, desde agosto de 2023, mantém “um diálogo permanente com lideranças e moradores das cidades localizadas na área de influência para socializar o projeto e seu escopo, destacando que, em estrito respeito à legislação ambiental boliviana, nenhuma atividade de construção e/ou perfuração será realizada antes da obtenção da Licença Ambiental.”
Perguntada especificamente se os conflitos locais podem pesar na decisão de continuidade ou não do investimento, a Petrobras não se manifestou. Outro fator que pode concorrer para uma eventual saída da Petrobras do projeto é o redirecionamento estratégico da companhia vinculado à chegada de Magda Chambriard à presidência.
A executiva já disse publicamente que a empresa precisa dar prioridade a investimentos no Brasil. Some-se a isso uma variável importante: a reserva de Vaca Muerta, na Argentina, com potencial de reordenar a geoeconomia do gás na América do Sul. A estatal argentina Enarsa já iniciou o processo de licitação para as obras de reversão do fluxo do Gasoduto Norte. A virada de chave permitirá que o gás de Vaca Muerta chegue ao Brasil, o que poderá reduzir significativamente a dependência do país em relação ao combustível boliviano. Com isso, o investimento da Petrobras em San Telmo Norte, uma estratégia pensada em outro momento e outra circunstância, perderia muito do seu sentido. A ver.
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