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As manobras do Palácio do Planalto para fincar Guido Mantega na presidência da Vale encontram resistências dentro da diretoria da Previ. Maior acionista individual da mineradora, com 8,7%, o fundo de pensão pode até dar seu aval à mudança no comando da empresa. No entanto, segundo o RR apurou, será um voto a fórceps, à revelia das suas próprias convicções e das advertências feitas pela área técnica da entidade.
Não faltam motivos para a posição contrária da fundação, a começar por uma boa dose de pragmatismo e cálculo patrimonial. A Vale é um dos maiores ativos da carteira de renda variável da Previ. Tomando-se como base o market cap da companhia, sua participação valia no fechamento de ontem algo em torno de R$ 27 bilhões, aproximadamente 10% do patrimônio total da fundação.
Nos últimos 30 dias, em meio ao intenso noticiário sobre a movimentação do governo para emplacar Mantega no cargo de CEO, a mineradora perdeu quase 10% do seu valor de mercado. Caso a troca na gestão da companhia se confirme, é de se esperar que o papel caia mais. Por mais esdrúxula que seja a ingerência do Palácio do Planalto sobre a Vale, o comando da Previ está em uma situação delicada.
Para o presidente da entidade, João Luiz Fukunaga, uma recusa à indicação de Guido Mantega nessas circunstâncias seria muito complicada. No limite, é o seu próprio cargo que está em jogo. Fukunaga tem mandato até maio de 2026. Mas é apenas para inglês ver. O governo muda o comando da Previ, assim como o de outros fundos de pensão de estatais, na hora que quiser.
Mas os prejuízos da intervenção do governo em uma companhia privada, com o uso explícito do nome do presidente, têm potência para mais estragos. No mercado, os analistas associam o incômodo à Nova Política Industrial. Estão previstos R$ 300 bilhões que, de uma forma ou de outra, sofrerão a influência do governo na alocação ou mesmo escolha dos players beneficiados, ainda que a distribuição dos recursos seja feita de forma horizontal, como anunciou o vice-presidente Geraldo Alckmin. Ou seja: a participação do governo nas empresas estaria sempre sob o risco de captura da gestão pelo governo. Tudo errado. O simples fato de Lula ter uma dívida de gratidão com um antigo colaborador fiel não poderia jamais chegar ao ponto de transtornar as expectativas econômicas e colocar em dúvida a própria sensatez do presidente da República.
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