IBGE é algo muito sério para viver em estado de conflagração

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IBGE é algo muito sério para viver em estado de conflagração

  • 20/01/2025
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Segue a todo o vapor o “presidenticídio” do prócer do IBGE. O Assibge-SN, sindicato dos servidores da autarquia, promete não descansar. Enquanto Marcio Pochmann, presidente do instituto, não for devidamente rifado, ocorrerão greves e eventuais atrasos na apuração de dados. Segundo a fonte do RR, os insurgentes têm razão por um lado, e Pochmann por outro.

A tradição dos funcionários em atrasar resultados de pesquisas em situações similares é inadmissível. Já aconteceu. Pochmann, por sua vez, tem veia de autocrata, que toma decisões sem consultar ninguém, inclusive a diretoria. O fato é que a sua gestão rachou o IBGE da forma mais negativa.

Uma parte do corpo de funcionários considera a defesa de Pochmann sobre as “mentiras” do Assibge-SN, uma manobra diversionista, já que o trabalho do órgão não é o alvo do mar de críticas, mas, sim, o autoritarismo do seu presidente. Outra corrente, por sua vez, defende que Pochmann não fala mais em nome do IBGE e que seus dizeres institucionais serão desconsiderados daqui para frente pelos quadros e sindicatos da autarquia.

O Assibge-SN, segundo fonte do RR, rememora que somente Jair Bolsonaro usou a palavra “mentira” referindo-se aos dados levantados pelo IBGE. Parece tudo muito radical. O pior é que é mesmo.

Marcio Pochmann, desde o seu período acadêmico na Unicamp, sempre foi considerado duro, brigão e intransigente, em parte devido ao seu firme engajamento ideológico. Mas suas declarações sobre mudanças na gestão da autarquia provocaram protestos desde a primeira hora em que assumiu o cargo. Pochmann canta de galo porque carrega a vantagem de ter acesso direto a Lula. Essa conversa de compadres, entretanto, não sensibiliza os funcionários, que não veem essa antiga relação petista se reverter em vantagem para a instituição.

O presidente do IBGE reclama ao presidente da República que querem desestabilizá-lo justamente por suas raízes petistas. Lula contemporiza e garante seu apoio. Mas quem conhece bem o presidente sabe quanto vale seu apoio. Independentemente da opinião do Palácio do Planalto, ou ainda menos da ministra do Planejamento, Simone Tebet, a quem o IBGE é subordinado, há um enorme paradoxo nas queixas de Pochmann de que o corpo funcional da instituição tende bem mais para a esquerda.

As suas posições corporativas e greves têm muito mais a ver com condições de trabalho, metodologias das pesquisas, concurso de funcionários públicos e aumentos salariais. Portanto, o reclame não tem base ideológica.

Pochmann talvez não saiba que o pessoal do IBGE é barra pesada. Recebeu Dilma Rousseff, no primeiro mandato, direto com uma paralisia. Quando fazem greve, os funcionários do instituto demoram meses e atrasam a feitura das contas públicas.

Em 2012, não foram trabalhar durante 60 dias. Em 2014, a paralisação alcançou 79 dias. Provavelmente só a Petrobras tem um time de funcionários mais brigão. Agora mesmo, os servidores já deram uma prévia ao presidente com a suspensão dos trabalhos por um dia. Uma descoberta tem levado os funcionários à loucura: a fundação IBGE+, entidade de apoio de direito privado, foi criada de forma reservada ao longo de onze meses e sem diálogo com os trabalhadores.

A entidade foi anunciada dois meses após ser oficializada em cartório, e há dúvidas sobre sua finalidade e independência técnica e administrativa do instituto. Pochmann respondeu soltando um comunicado oficial sugerindo que a fundação IBGE+ é “alvo de forte campanha de desinformação”. Os funcionários reagiram pedindo a demissão do presidente. E enxergam a intenção de criar uma parceria com o setor privado, meio caminho para a privatização.

Parece até que nunca ouviram Lula discorrer sobre seu desapreço sobre qualquer iniciativa de desestatização. A única coisa irrefutável nessa história é que os dois bicudos querem se bicar. A questão é que o IBGE é algo sério demais para estar envolvido em briga de rua. No passado, ainda no regime militar, o órgão foi motivo de uma denúncia.

Mais precisamente do falecido ex-ministro Mario Henrique Simonsen, que acusou o então ministro Delfim Neto de manipular os índices de inflação. Na verdade, Delfim fazia das suas. Colhia os preços nos lugares em que eles estavam mais baratos, em função das safras. O então czar da economia justificava dizendo que os critérios eram corretos e o levantamento não podia ser feito de outra forma.

Depois confessou que havia um “truquezinho” na apuração. Mas as aleivosias com os índices de inflação pipocaram no regime militar. Simonsen, em sua gestão, atribuiu o salto da carestia à elevação do preço do chuchu. Delfim, posteriormente, criou a “inflação do barbeiro”, atribuindo seu crescimento ao aumento do preço nos cortes de cabelo e barba. São exemplos do passado, mas ilustram o que não pode, não deve e nunca mais deverá acontecer.

A imagem do IBGE é um assunto de segurança pública. Talvez fossem ideias a serem consideradas uma atenção maior aos reclames “técnicos” do IBGE, uma auditoria especial e periódica do TCU na autarquia e uma aula de etiqueta e boas maneiras ao presidente da instituição.

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