Buscar
Destaque
A criação de uma distribuidora de títulos e valores mobiliários a partir de uma costela do Banco do Nordeste (BNB) é apenas o início de um experimento potencialmente maior. Nos tubos de ensaio do governo fervilham propostas para ampliar o escopo e consequentemente o poder de fogo dos bancos de fomento federais, mais precisamente o próprio BNB e o Banco da Amazônia (Basa). Em uma primeira etapa, o Banco do Nordeste usaria sua DTVM para distribuir cotas de fundos de investimento de terceiros.
Nas discussões travadas no Ministério da Fazenda, há quem defenda, como passo seguinte, que a instituição financeira monte uma gestora de recursos. Com isso, o BNB passaria a ter um instrumento para captar dinheiro no mercado e constituir fundos próprios. Viraria um híbrido de banco de fomento e de investimento. Outra hipótese sobre a mesa: a criação de um braço de participações no Banco do Nordeste, sob o regime de Sociedade Anônima, nos moldes da BNDESPar.
Essa “BNBPar” permitiria ao banco injetar capital em projetos ou mesmo empresas na região mediante operações de equity. Trata-se de uma hipótese menos provável. Para isso, o BNB não precisaria abrir um caminhão de agências na região. Vento que venta no Banco do Nordeste sopra também no Banco da Amazônia. No laboratório de ideias da Fazenda, toda essa engrenagem poderia ser replicada no Basa.
O projeto de lei encaminhado pelo governo ao Congresso – já aprovado pela Câmara e à espera de votação no Senado – traz um spoiler sobre as intenções da Fazenda. A proposta autoriza o Banco do Nordeste a construir subsidiárias, no plural. Ou seja: nos planos da Fazenda, a criação de uma DTVM é apenas o ponto de partida.
A ideia é dar ao BNB – e, posteriormente, vestir o Basa com o mesmo figurino – uma roupagem de banco de investimento, ainda que sem alterar a essência das duas instituições. No fim das contas, todos os futuros tentáculos teriam como finalidade aumentar a capacidade financeira do Banco do Nordeste e do Banco da Amazônia de promover fomento regional. A abertura de novos mecanismos de captação seria uma forma de reduzir a dependência do Tesouro.
Um exemplo: quase 80% do funding para as operações de crédito do BNB vêm do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE). Ainda que o crédito ao desenvolvimento seja a premissa por trás de toda essa química, o que a Fazenda está combinando em suas pipetas é uma fórmula híbrida. BNB e Basa passariam a ter partículas de bancos de investimento misturadas as suas moléculas originais, de agência de fomento.
Na prática, guardadas as devidas proporções, o governo teria mais duas instituições financeiras federais operando ativamente no mercado de capitais, a exemplo do BNDES. Ou ofertando fundos de investimento, como o BB e a Caixa. Não deixa de ser curioso. No fim do século passado, notadamente no governo FHC, teve início o desmonte da pirâmide de bancos públicos, com a privatizações estaduais. Ficaram apenas três espécimes para contar a história: Banrisul, BRB e Banestes.
Agora, ainda que pontuais, surgem movimentos capazes de dar maior poder de competição a bancos públicos. É o caso da própria associação entre o BRB e o Master, assim como da alquimia que está sendo preparada pelo governo para o BNB e o Basa.
Todos os direitos reservados 1966-2025.