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Há uma contradição em termos entre o que se diz, notadamente no mercado financeiro – que repete, em público, o mantra de uma economia pautada pela imprevisibilidade e pela inevitável hecatombe fiscal -, e o discurso do empresariado fora dos holofotes, que aposta em uma melhoria firme do cenário econômico. Se a tese de que o mercado antecipa os fatos for realmente científica, há pelo menos uma dualidade a partir desse primado.
São dois mercados: um que projeta a catástrofe e o outro que acredita na bonança. O primeiro faz alarido. O segundo se mantém na moita. De acordo com o Índice de Confiança Empresarial (ICE) calculado pela Fundação Getúlio Vargas, os agentes econômicos estão mais confiantes do que nunca. O índice subiu 0,3 ponto em agosto ante julho, para 97,9 pontos, maior nível desde setembro de 2022.
O índice acumula uma alta de 4,3 pontos em seis meses consecutivos de avanços. A FGV acha que o ICE pode bater em 100 pontos neste ano, o que somente ocorreu em agosto de 2021, com o catártico fim da pandemia. O prazo para que os 100 pontos sejam alcançados pode ser, inclusive, antes das eleições municipais.
Há sempre a hipótese de que o ambiente positivo seja efêmero, porque não foram tomadas ainda medidas estruturantes da economia, as tais reformas. Seriam elas que permitiriam transformar a racionalidade dos “dois mercados” em uma só. Porém, pode ser que “um dos mercados” jogue somente a seu favor, criando narrativas bem formuladas para a construção das expectativas negativas.
Mas o uso de IA e de ferramenta de monitoramento das mídias confirma a discrepância, conforme levantamento realizado pelo RR. Quando são consideradas as expressões-chave “risco fiscal”, “má gestão da economia” e “expectativas negativas” vinculadas a opiniões de empresários, o número de menções levantadas em 2023 foi de 30.788. Entre janeiro e agosto deste ano, a quantidade de menções cai pouco, para 18.997 – o que daria, em uma “conta anualizada”, 28.495 registros.
No entanto, quando as expressões-chave são “cumprimento da meta fiscal”, “boa gestão da economia” e “expectativas positivas”, todas relacionadas a empresários, acreditem quem quiser, o somatório em 2023 foi de apenas 90 citações com essa combinação de termos. Entre janeiro e agosto deste ano, são somente 12 menções. Parece surreal. Talvez com outras permutações de palavras, o resultado venha a ser diferente. Mas não fugirá muito aos dados encontrados. Ou alguém tem visto por aí empresários aos montes falando bem da economia? Há algo de muito estranho nessa geringonça.
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