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Embrapa busca adubo financeiro no mercado de venture capital

  • 9/01/2025
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O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, e seus assessores discutem medidas para aumentar a capacidade de investimento da Embrapa. As conversas passam, sobretudo, por um modelo de parcerias com o capital privado, mais precisamente fundos de venture capital e agtechs. A proposta sobre a mesa é buscar sócios para o desenvolvimento e execução de projetos específicos, o que permitiria à estatal montar algo como um ecossistema de SPEs.

A necessidade da empresa de captar recursos extraorçamentários cresce à medida em que seu portfólio de pesquisas avança para áreas mais sofisticadas e dispendiosas. É o caso da produção de bioinsumos, de programas de melhoramento genético vinculados a metas de sustentabilidade e do desenvolvimento de culturas mais resistentes a extremos climáticos.

Fávaro e sua equipe vislumbram a possibilidade de a Embrapa sorver uma parcela dos investimentos de fundos nacionais e estrangeiros em biotecnologia no Brasil. Hoje, a empresa passa praticamente ao largo desse veio de recursos, que vem de nomes cada vez mais graúdos. A suíça Syngenta, uma das maiores fabricantes de sementes do mundo, liderou a maior captação de uma agtech no país em 2024, a rodada de R$ 300 milhões na Agrolend.

A AGCO, gigante global de máquinas agrícolas, lançou um fundo de capital de risco já com ativos no Brasil. Até o ex-Posto Ipiranga está despejando combustível no setor. A Yvy Capital, gestora de Paulo Guedes e do ex-presidente do BNDES, Gustavo Montezano, levantou R$ 300 milhões para investir na Solinftec, startup de agricultura de alta precisão. Nos últimos dois anos, as agtechs brasileiras receberam quase R$ 4 bilhões em aportes, ou o equivalente a 75% dos investimentos de venture capital em agronegócio em toda a América Latina.

Já são mais de duas mil startups do agro no país, segundo dados do Ragar Agtec, produzido pela própria Embrapa, SP Ventures e Homo Ludens.

Na teoria, o projeto de Carlos Fávaro tem lógica. Na prática, é que são elas. Sua execução exigirá uma exaustiva costura política e o convencimento do PT. Ao menos das alas mais radicais, que costumam ver as coisas não como elas são, mas por uma ótica particular e enviesada. Ainda que o modelo de parcerias com fundos de venture capital e agtechs não mexa um porcento sequer no capital da Embrapa, não faltarão vozes no partido se levantando contra a “privatização” da empresa e sua “entrega” para o capital estrangeiro. Assim é se lhe parece.

A estatal, simbolicamente, é vista quase como uma Petrobras do setor agrícola, o que aumenta a reação a qualquer tentativa de aproximação com investidores privados. O fato é que Carlos Fávaro não tem muito para onde correr. Logo que assumiu o Ministério, no início de 2023, Fávaro falou em construir a “Embrapa do futuro”.

Não obstante a empresa ser um orgulho nacional e reconhecidamente um dos maiores lócus de pesquisa e desenvolvimento do Brasil, o ministro ainda não conseguiu dar o impulso esperado à estatal. O grande obstáculo é o de sempre: as amarras orçamentárias. Praticamente 90% das verbas da Embrapa estão comprometidos com o custeio. Ao longo de 2024, a presidente da estatal, Silvia Massruhá, gastou sola de sapato em Brasília na tentativa de destravar cerca de R$ 500 milhões para investimentos. Conseguiu não mais do que um terço desse valor.

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