Eletronuclear é um urânio empobrecido

  • 25/09/2015
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O governo está dando uma aula de como dispersar capital intelectual e desarticular um núcleo de excelência técnica em uma área estratégica para o país: o segmento de energia nuclear. Do ponto de vista financeiro, o Plano de Demissão Incentivada (PDI) em curso na Eletronuclear cumprirá o seu propósito: calcula-se que a estatal reduzirá sua folha salarial em até 20%. Em contrapartida, em alguns poucos meses a companhia perderá parte expressiva de um cluster de conhecimento que começou a ser montado ainda na década de 1980, e, o que é pior, sem perspectiva de reposição à altura no médio prazo. O pano de fundo deste enredo é a delicada situação financeira da Eletronuclear, agravada pelos cortes de 18% no orçamento do Sistema Eletrobras. Até dezembro, quando se encerrar o PDI aberto em março do ano passado, 623 funcionários terão deixado a Eletronuclear – número confirmado pela própria empresa. Significa dizer que a estatal perderá algo em torno de 25% do seu efetivo, um índice superior à média dos desligamentos já concluídos nas demais empresas do Sistema Eletrobras – 16%. A situação mais crítica está concentrada na diretoria técnica. Consultada pelo RR, a Eletronuclear confirmou que 175 dos 424 funcionários da área aderiram ao PDI, ou seja, 41%. Segundo fontes próximas à estatal, o setor de engenharia técnica, que contava com cerca de 230 profissionais, deverá ser reduzido à metade. Trata-se de uma área fulcral da companhia, responsável pelo planejamento, condução e controle das obras de Angra 3. A julgar pelas circunstâncias, vai ser difícil a Eletronuclear repor um quadro técnico similar. Com as torneiras fechadas, a estatal tem reduzido sucessivamente as verbas para custeio de cursos de especialização. Os pedidos de bolsa de estudo estariam levando não menos do que dois anos para serem aprovados – fato negado pela companhia. É o assassinato cultural em nome do ajuste fiscal.

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