O cenário econômico do país tropeçou um pouco após a análise bastante otimista do RR (https://relatorioreservado.com.br/noticias/as-razoes-para-a-melhora-economica-do-brasil-chegam-a-ser-obvias/). Mas continua mais para in do que para out. Para melhor situar as razões do pequeno declínio na conjuntura, decidimos fazer o nosso “rating” dos motivos pelos quais o ambiente sofreu um ligeiro downgrade, mais por fatores políticos do que estritamente macroeconômicos. Abaixo damos notas para algumas das variáveis que afetaram o ambiente da economia brasileira e diversas projeções para o ano de 2023. Os vetores são classificados da seguinte forma: Cenário favorável (A), Cenário neutro (B), Cenário ruim (C), Cenário muito ruim (D).  

Nas 12 variáveis consideradas fundamentais para avaliação dos cenários, o país somente teve uma nota D(muito ruim). No restante foram notas A e B,sendo a primeira majoritária. Os motivos influenciadores do “rating” são tratados de forma bastante simplificada, pois consideramos que esse não seria o espaço para maiores digressões: 

  • Balança comercial: Não há muito o que dizer sobre o tema. A balança mantém excelentes superávits, mesmo com uma provável apreciação do real e gradual aumento das importações.A
  • Fluxo de recursos externos/ transações correntes: Prossegue em banho maria, mais para quente do que para frio. Talvez entre um pouco mais de recursos. Mas o balanço de pagamentos, que já foi a saúva do Brasil, parece ter saído do mapa. Os superávits estruturais da balança comercial pagam a maior parte da conta. B
  • Câmbio: O dólar segue de olho nas decisões do Congresso, do efetivo corte da taxa de juros, da oscilação das cotações no mercado internacional, das decisões do FED em relação aos juros dos FED funds, do desaquecimento da economia global e sua influência, especialmente no preço das commodities. Apesar das expectativas duvidosas do mercado em relação a uma repetida queda de 0,5 pp da Selic. Ou mesmo um movimento mais dovish do Copom, chegando a projeções de 0,75 pp. O RR corrige pouco sua previsão, para um dólar entre R$ 4,50 e R$ 4,70 no mês de dezembro, dependendo da animação do Investimento Direto Privado (IDP) e do impacto da “psicologia comportamental da economia”, levantando o clima para negócios. O RR considera que o ciclo do aumento dos juros nos EUA não será tão longo e o pico não será tão alto a ponto de reduzirem significativamente o diferencial de taxas favorável à Selic (operações de arbitragem). Mesmo que o Brasil chegasse a taxa neutra de inflação de juros de 5%, nossa Selic ainda seria bem mais rentável do que os títulos americanos. Com uma diferença expressiva em relação ao passado: somos credores líquidos em dólar. Com o reservatório de reservas cambiais do país, virou pó o risco de insolvência externa. Com menorconsequência, viria algum sucesso da performance externa do presidente Lula na atração de investimentos multilaterais e bilaterais.B
  • Inflação: Em queda. É o que basta dizer. Pelo menos por enquanto. O top five do Focus (instituições que mais acertam suas previsões) aposta em uma inflação ainda acima da banda alta da meta, de 4,85%. Parece pouco compreensível. A pancada mais forte na redução da Selic real sinalizada pelo comunicado do BC pós-Copom revela que a autoridade monetária já acredita em um IPCA dentro da meta, em dezembroA
  • Juros: Já está dado que a Selic vai cair. A questão é para quanto. O RR pratica um chutômetro de uma taxa entre 7,5% a 8% em novembro de 2024 – quando se encerra o atual mandato de Campos Neto no BC. Corresponde a um juro real na faixa de 2,5%. Agora, não se sabe de onde o Focus extraiu sua projeção de uma taxa básica de 12% no final do ano. Escalafobético. Teria que haver um repique inflacionario absolutamente fora do radar. Nota 0,1 para o Focus. A
  • Panorama fiscal: O cenário  está indefinido. Os dados mais positivos são a aprovação de um sistema de regras que permite a previsibilidade e a garantia da reforma tributária. A indexação do resultado primário à receita traz ônus e bônus. Por enquanto, os dados da arrecadação não estão bem definidos. É tudo feeling e jogo político. E parece que o governo não quer mesmo detalhar suas expectativas de arrecadação tributária para não divulgar quedas da receita estão em processo de recomposição. O governo tem uma meta ambiciosa: empurrar o déficit primário para 0,5% do PIB. Fala-se de uma correção para 1% ou mais. Provavelmente, o crescimento da economia vai ser maior, e o governo terá um ganho fiscal nesse aumento. Se não atingir o patamar mínimo para a meta de resultado primário a ser fixada pela Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), o governo terá de adotar medidas de contenção de gastos. Além disso, contará com um percentual menor (50%) do crescimento da despesa para o orçamento do segundo ano subsequente. É uma espécie de fura-teto. Tudo o que Lula não quer no seu primeiro ano de governo. Mas o RR aposta em uma arrecadação maior do que as previsões das casas bancárias. Se for igual a 2003, Lula fará o mal de uma vez, e logo no primeiro ano de mandato. B  
  • PIB: O RR mantém sua previsão anterior de um crescimento de 3% em 2023, podendo ser um pouquinho maior. Ressaltamos que todas as casas bancárias, assim como o Boletim Focus, estão elevando sua projeção do PIB já neste início de segundo semestre. O governo tem de onde tirar dinheiro para jogar na economia, a exemplo da ampliação do Minha Casa, Minha Vida. Além disso, o setor rural continua dando uma relevante contribuição para o Produto Interno. A
  • Emprego: O desemprego está caindo. Poderá chegar ao auspicioso índice de 7%, em dezembro. A
  • Investimento: Vai ficar andando de lado. Pouco acima, pouco abaixo dos números de 2021 e 2022 – respectivamente 18,9% e 18,8% do PIB. No primeiro trimestre deste ano, o crescimento chegou a 17,7% do PIB.  Não é uma sinalização segura de performance. A taxa de juros e as restrições creditícias, além das grandes  imprevisibilidades dos primeiros 200 dias de governo de Lula, são fatores negativos. Mas a indústria da construção civil, bombada pelos programas do governo, ajuda no crescimento da formação bruta de capital fixo. Um dado que merece registro: o Brasil foi o quarto país que mais cresceu no mundo no primeiro trimestre do ano, com todas as incertezas fiscais e juros siderais. O carry over de concessões deixado por Jair Bolsonaro e o fato de importantes dúvidas, notadamente no arcabouço e na reforma tributária, estarem sendo dissipadas contribuem para uma melhora do cenário. Mas, no momento, a água morna é a temperatura para os investimentos.  B
  • Indústria: O cenário é de estagnação ou de pequena queda, mesmo com alguns incentivos já aprovados – a exemplo do estímulo à venda de carros populares e outros previsíveis da parte do BNDES – e a redução dos gravames sobre o segmento, com a aprovação da reforma tributária. Sem dinheiro oficial e desvalorização do real, não parece haver mais nada no horizonte para levantar o setor secundário do país . D
  • Serviços: Trata-se do setor que está bombando junto com a agropecuária e de onde se espera uma importante contribuição para o crescimento do PIB e queda do desemprego. A
  • Agrobusiness: Não há o que falar além do que já foi dito. O Brasil voltou a ser um país rural. Na atual circunstância, com muito orgulho. A