Economia

Câmbio sobrevalorizado tem segredos que interessa a poucos desvendar

  • 25/07/2024
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Dois dos novos diretores indicados por Lula para cadeiras no colegiado no BC nutrem severas discordâncias em relação à política monetária na gestão Campos Neto. Ainda que a política fiscal tenha tido, e teve, algum impacto na inflação, os juros de 14% na média da atual gestão do BC não se justificariam com uma inflação de pouco mais de 3%.

Vale refletir se a Selic monstro teve, do ponto de vista da ancoragem inflacionária, um benefício relativo maior em termos de desinvestimento, piora do saldo da conta de capitais e principalmente um câmbio mais civilizado, com menos irradiações inflacionárias. Ao menos no seu custo marginal. 

O que se tem de mais concreto é uma previsão de Campos Neto de que dificilmente conseguiremos reduzir a taxa de juros para um digito até o fim de 2025, diante da expectativa de uma inflação de costas para o centro da meta ao final do próximo ano.

Lula não estava de todo errado ao afirmar que Roberto Campos Neto agia mais a serviço de interesses políticos do que de suas funções técnicas e que o câmbio não poderia se manter tão resiliente no patamar acima de R$ 5,00 durante todo o seu governo, uma vez que há fundamentos para mudar essa correlação de forças. Lula acertou, em tese, nas suas reclamações.

O câmbio tende a ficar acomodado acima de R$ 5,00 mesmo com uma taxa Selic extravagante de 10,25%. Isso já contando com o maior conforto da meta de inflação contínua. Os formadores de expectativa do mercado já vaticinaram que a Selic não pode descer, a inflação não vai cair para o centro da meta e o câmbio vai ficar entre R$ 5,00 e R$ 5,20. Nesse cenário, um target de inflação consistente na casa dos 3% é uma missão hercúlea. Portanto, provavelmente os próximos 17 meses do governo Lula, do ponto de vista da macroeconomia, já viraram um passado medíocre. 

Na gestão Campos Neto, iniciada em fevereiro de 2019, a taxa Selic saiu de 6,50% e chegou ao pico de 13,75%. Se Lula acertou no diagnóstico, ainda que de forma intuitiva, errou por dar trela a Roberto Campos Neto, falando do que não entende e dando munição ao tecnocrata bolsonarista. O presidente, com sua parlapatice, piorou as expectativas para a Selic, o fiscal e o câmbio.

Nos jovens ocupantes do BC, há, sim, a compreensão de que existe algo de podre no reino do câmbio. Não descartam que o país está sofrendo um ataque especulativo. E, diante do diagnóstico, queixam-se todos da incipiente comunicação. É realmente um feito espetacular que um país que tenha US$ 1,2 trilhão entre reservas cambiais e recursos de brasileiros legalmente investidos no exterior – e pelo menos uns US$ 150 bilhões mantidos ilegalmente no estrangeiro – não consiga desmontar essa armadilha de captura do Estado e não traga essa dinheirama toda para puxar o dólar pelo menos à casa de R$ 4.

E, além disso, não seja capaz de fazer alguma arbitragem para mitigar o risco fiscal e estimular, mesmo que de forma heterodoxa, que esse dinheiro sem função dos hiperbilionários, parado no exterior, venha para algum projeto de construção nacional. Talvez esteja faltando mesmo o Plano Real do Lula.

#BC #Lula

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