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Assim como os oráculos buscavam prever o futuro a partir da borra no fundo de xícaras, produtores e traders de café no Brasil tentam vaticinar os próximos passos do governo norte-americano interpretando os sedimentos deixados pela aproximação entre Lula e Donald Trump. O telefonema entre ambos na última segunda-feira tem alimentado informações cruzadas e rumores de um anti-tarifaço.
Segundo uma fonte da área de comércio exterior, o setor já trabalha com a possibilidade de o governo dos Estados Unidos retirar a sobretaxa de 40% imposta ao Brasil ou até mesmo, em uma reviravolta ainda mais radical, zerar a tarifa de 10% que incide sobre todas as importações de café. O gravame passou a ser aplicado no início deste ano, com o retorno de Trump à Casa Branca.
Há enormes pressões internas para que o governo norte-americano volte ao regime de alíquota zero. Grandes grupos de torrefação e redes de cafeteria não estão dispostos a reduzir margens para arcar com os custos de importação do café, notadamente o brasileiro. Tampouco querem – e podem – correr o risco de repassar o imposto ao consumidor, sob ameaça de quem o fizer perder expressiva fatia de mercado.
Um fato em especial aumenta ainda mais a fervura interna por um meia-volta, volver de Trump. Todos os demais países produtores de café, a começar por Vietnã e Colômbia, encontram-se na entressafra. Já o Brasil está exatamente no período pós-colheita. Com disponibilidade de oferta. Ou seja: os maiores compradores de café dos Estados Unidos não têm para onde correr. É comprar no Brasil ou não comprar de ninguém. Ressalte-se que o café brasileiro responde por um terço de todo o consumo no mercado norte-americano (24 milhões de sacas/ano).
Pode até ser que produtores e exportadores brasileiros estejam olhando para os resíduos na xícara com excesso de otimismo. Mas não chega a ser um absurdo a ideia de Donald Trump não apenas voltar atrás no tarifaço ao Brasil, mas na própria taxa de importação do café.
No limite, Trump estaria fazendo um favor a si mesmo. A tributação já causa um estrago nos Estados Unidos. Em setembro, a Starbucks anunciou 900 demissões. Se um gigante com mais de 17 mil cafeterias e receita de US$ 24 bilhões por ano apenas dentro dos EUA começou a cortar cabeças, o que dizer das centenas de pequenas redes existentes no país.
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